Esteja Onde Estiver

Anahi: Capítulo 1


Uma vez, uma amiga me disse que devemos viver cada dia como se fosse o último, sem nos preocupar com o amanhã. E que dos momentos ruins, absorvermos somente o melhor. Devemos escrever nossa história hoje, porque amanhã ela será lida. Há muito tempo venho escrevendo a minha sem olhar para o futuro, arriscando cada dia da minha vida, ainda que no fundo eu sinta o medo de estar fazendo a coisa errada. Mas é só no fundo. Minha decisão foi tomada anos atrás.

Sempre que acordo eu tento convencer a mim mesma que aquele dia vai ser diferente e tudo vai fazer valer a pena.

Sonhos... Eu deixei de sonhar como eu costumava fazer. Hoje já não tenho motivos para isso. O importante é viver. E é isso que tento fazer todos os dias.

Mas o conceito que eu tinha pela palavra viver mudou, também. Antes eu vivia de outra forma. Eu saia com meus amigos para as baladas, bebia, falava besteiras e ria sem razão alguma só pelo fato de estar contente. Adorava cantar, dançar, ligar para uma amiga e ficar horas ao telefone. Hoje eu acordo e faço algumas coisas rotineiras durante o dia e à noite me deito e me despeço daquele dia, para no dia seguinte fazer tudo outra vez. Mas de alguma forma eu sou feliz. Afinal, eu escolhi essa vida. Bem, eu teria escolhido outra, mas nem tudo que queremos está ao nosso alcance.

Naquele dia eu despertei, mas como em todas as manhãs, tardava um tempo deitada quietinha antes de abrir os olhos. Eu estava deitada de bruços com os braços embaixo do travesseiro. O lençol branco cobria apenas do meio das costas até os joelhos. Algumas mechas dos meus cabelos, hoje em castanho, caiam sobre meu rosto enquanto o restante se espalhava pelo colchão. De repente senti o colchão se mover com um peso sobre ele, e logo em seguida senti uma pele gelada sobre minha bochecha. Continuei como estava sem vontade de me mover.

Senti quando as mechas eram afastadas do meu rosto para em seguida eu sentir um beijo gelado ali. Aquele cheiro de colônia já tão conhecido se infiltrou pelas minhas narinas, causando uma náusea repentina, fazendo-me torcer o nariz. Ouvi um risinho baixo e outro beijo no mesmo local. Resmunguei um suspiro alto enquanto me mexia virando-me no colchão, ficando de barriga para cima. Cocei meus olhos, apertando-os em seguida quando tentei abri-los e fui atingida pela claridade do quarto.

"Bom dia, dorminhoca" - Ele disse com um sorriso.

O olhei e notei que havia feito a barba. Por isso aquele cheiro da colônia pós-barba. Ele estava de calça jeans e sem camisa, com algumas gotículas de água sobre o peito e tórax. Os cabelos molhados e desgrenhados. Ele colocou a mão sobre minha barriga e acariciou ali sobre minha blusa branca, para depois mergulhar os dedos para dentro dela entrando em contato com minha pele. Desejei no fundo da alma que ele não quisesse fazer nada do que me veio em mente. Ele abaixou seu rosto até o meu depositando um beijo rápido sobre meus lábios imóveis e se afastou novamente, sorrindo.

"Não queria te acordar, mas também não queria viajar sem me despedir" - disse sorrindo. Lembrei-me de repente da viagem dele e sentei-me na cama.

"A viajem" – eu disse, jogando algumas mechas de cabelo do rosto para trás - "Eu me arrumo rapidinho para te levar ao aeroporto" - disse ao mesmo tempo em que já me levantava para ir tomar banho.

"Espere, querida" - ele segurou meu braço - "Você não vai me levar" - o olhei confusa.

"Vai de taxi?" - me sentei novamente.

"Lucas vai me levar" - Lucas era um grande amigo dele.

"Rodri, você fez o Lucas acordar cedo para te levar?"

"Claro que não" - disse sorrindo - "Vou ajudar ele com uma coisa antes, então ele se ofereceu para me levar depois"

"Mas tão cedo? Você não vai se atrasar?"

"Tranquila" - disse acariciando minha face - "Vai dar tempo" - assenti, aliviada - "Prepare o jantar que amanhã estarei aqui" - beijou minha testa e se levantou.

"Dá tempo de tomarmos café?" - ele me olhou enquanto vestia a blusa social e abotoava os botões.

"Não.. vou tomar no aeroporto, ou então como alguma coisa no avião" - eu assenti com uma expressão mais contente do que deveria estar.

Senti uma alegria e uma disposição repentina brotando no meu peito. Prendi o sorriso e me levantei para me refugiar no banheiro. Ao fechar a porta, me olhei no espelho e sorri abertamente. Ao ver meu reflexo, abri bem os olhos surpresa e tampei meu sorriso com as duas mãos. Mas ainda assim, ele estava estampado em meus olhos. Eu tinha que admitir, eu estava feliz porque meu marido estaria fora por dois dias.

"Annie, preciso ir" - o ouvi falar pelo outro lado da porta – “Lucas já chegou”

"Já estou saindo" - respondi.

Prendi meus cabelos em um coque mal feito e me abaixei para jogar água no rosto. Após escovar os dentes, voltei para o quarto. Ele já colocava a bolsa do notebook sobre o ombro e pegava a mala. Peguei meu robe ao pé da cama e o vesti. Ele me abraçou pelo ombro e descemos assim. Minha expectativa crescendo a cada segundo. Repetia mentalmente que me sentir assim não era pecado. Paramos na porta da frente e ele me deu um beijo rápido nos lábios. Sorrimos um para o outro, enquanto eu ajeitava a gola da camisa dele.

"Boa viagem"

Estou casada com Rodrigo há cinco anos. No início era tudo muito perfeito. Quase igual aos sonhos que sempre tive de um casamento. Só faltava mesmo um bebê, mas a gente queria curtir os primeiros anos somente nós dois. Hoje vejo que foi melhor assim. Um pouco depois de completarmos um ano de casamento, ele conseguiu expandir seus negócios com sua rede de boates pelo país. Fiquei muito feliz com a notícia, comemoramos juntos e me senti orgulhosa dele, talvez até um pouco mais tranquila também.

Rodrigo é muito machista e ainda que ele seja filho de um grande empresário e sempre tenha gozado de boa vida, o fato de eu possuir mais que ele o incomodava. Eu também sempre fora filha de pais com boa situação financeira, mas era filha de uma pessoa pública. Minha mãe era artista, fez sucesso por muitos anos e vivi com isso toda minha infância. O fato de minha mãe possuir tanto dinheiro nunca incomodou meu pai, pelo contrário, ele gostava que ela fosse independente.

Mais tarde eu também entrei para a fama, e com os anos que passei na RBD, minha conta bancária cresceu muito. Isso me fez ainda mais independente dos meus pais, e eu gostava disso, ainda que eles sempre me lembrassem de que tudo que eles tinham, seria meu e da minha irmã um dia. Rodrigo não gostava disso. Ele queria que eu dependesse dele. Queria bancar todos os gastos da casa e até dos meus cartões de crédito. No inicio do casamento eu encarei isso como um mimo de marido e aceitei feliz, ainda que quase não o usasse. Ele percebeu depois de alguns meses e me questionou. A partir daí vieram muitas discussões, e coincidentemente mais viagens. Às vezes, momentaneamente, penso que ele também almeja alguns dias longe de mim, e que nos acomodamos neste casamento. Mas depois mudo de ideia, quando ele chega daquele jeito das viagens.

O ruim dessas viagens foi que desde que começaram Rodrigo mudou muito. Ele começou a sentir um ciúme que nunca sentira. Tornou-se um Rodrigo que eu não conhecia. Na ausência dele eu não podia sair com meus amigos. Eu aceitei, ainda que discordasse desse absurdo por dentro. Tudo pela paz da nossa união. Mas quando ele estava em casa e eu o chamava para ir a uma de suas boates ou ir a um bar só nós dois ou com um grupo de amigos, ele estava sempre cansado depois de um dia de trabalho, ou tinha que terminar algum trabalho no computador.

Os meses foram passando, se tornando anos e eu fui perdendo a vontade de me divertir. Tornei-me alguém que eu nunca imaginei que me tornaria com essa idade. Monótona, desanimada, robótica... e triste.

"Comporte-se" - ele piscou para mim.

"Claro que não" - sorri e recebi outro beijo. Ele colocou sua língua dentro na minha boca por um breve momento, em seguida apertou seus lábios aos meus - "Quando chegar me liga, sim?!"

Ele assentiu antes de seguir até o carro. Encostei-me ao batente da porta, puxei o robe juntando-o mais ao meu corpo, e fiquei o olhando entrar no carro. Seu amigo Lucas acenou para mim em seu lugar na frente do volante e eu retribuí. O carro se aproximou do portão, e em seguida enquanto esperava o portão se abrir, Rodri me olhou e colocou os óculos escuros. Eu dei um último aceno com a mão para ele, antes que o carro saísse e se perdesse das minhas vistas.

Entrei e fechei a porta sorrindo.

"Conchita" - gritei, enquanto ia até a cozinha.

Ao chegar à cozinha, encontrei minha simpática e companheira secretária do lar de costas, fazendo algo no balcão ao lado da pia. Conchita é uma senhora de meia idade, baixinha e gordinha. Seus cabelos já estavam quase grisalhos por completo e ela os mantinha sempre em um impecável coque, protegido por uma redinha. Seu trabalho na casa nunca fora muito. A princípio ela fora encarregada apenas de cozinhar. Mas ao passar do tempo se mostrou eficiente para cuidar pessoalmente e cuidadosamente de mim e das minhas coisas. Hoje, além de cozinhar, ela também arruma meu quarto deixando-o do jeito que me agrada, além de outras coisas que aparecem vez ou outra. Mas acima de tudo, Conchita é uma grande amiga; conselheira e companheira dos meus dias.

"Buenos dias, niña" — ela girou a cabeça um breve instante para me olhar - "Está contente" - ela disse afirmando mais que perguntando.

"Sim" - respondi enquanto me sentava na banqueta, onde costumo me sentar para conversarmos enquanto ela cozinha. Ela assentiu sem nada dizer. Não precisava, ela sabia o porquê - "Quero tomar café lá fora hoje. Sentir o sol da manhã com esse ventinho gostoso e admirar o dia lindo de céu azul que está fazendo"

"Estou preparando suas torradas. E enquanto isso eu estou picando o mamão. Sua vitamina já está pronta na geladeira"

"Mm.. Hoje preciso de dois copões. Estou com uma disposição para malhar.." - ela riu baixinho - "Vou subir e tomar banho" - disse me levantando.

Sai da cozinha e enquanto caminhava até meu quarto, me perguntava por que fico tão mais disposta quando Rodrigo viaja. Ainda que eu sempre passe os dias sozinha enquanto ele trabalha, quando ele está viajando me sinto mais leve. É como se quanto mais longe ele estiver, mais livre eu me sentisse. Ao abrir a porta do meu quarto, olhei para a cama e a noite anterior apareceu diante dos meus olhos em flash's de memória.

Eu não queria. Disse a ele que não estava disposta naquele momento. Quando ele chegou do trabalho no inicio da noite daquele jeito, eu já imaginei que ele desejava algo para aquela noite. Tentei persuadi-lo indiretamente durante todo o jantar de que eu estava indisposta e gostaria de dormir cedo. Mas não adiantou. Mais tarde, subi para me deitar, enquanto ele fechava as portas, janelas, e ligava o alarme. Quando entrou no quarto, ainda de olhos fechados, o ouvi tirar a roupa e senti quando ele se aproximou de mim me beijando. Senti uma vontade de gritar e empurra-lo crescendo no peito, mas me acovardei e não correspondi aos seus beijos e carícias. Ele sentiu minha frieza e se afastou o suficiente para me olhar e dizer que iria viajar na manhã seguinte e queria se despedir da esposa dele. Mordi meu lábio inferior lutando contra o sentimento de culpa que queria me invadir. Ele sorriu e voltou a distribuir beijos por toda a minha face, enquanto eu pensava sobre isso. Ele afastou a alça da minha blusa e começou um jogo de beijos e carícias sensuais nos meus ombros e colo. Perdi a resistência e decidi viver sem lamentações e tentar aproveitar, enfim.

Sacudi minha cabeça, entrei no quarto e fechei a porta. Fui até o closet e escolhi uma roupa para malhar. Deixei-a sobre a cama e fui para o banheiro tomar banho. Depois de pronta desci para tomar meu café. Quando cheguei à área externa, vi Conchita terminando de arrumar a mesa.

"Mm.. Estou morrendo de fome" - disse enquanto me sentava. Peguei o copo já servido com minha vitamina de laranja, cenoura e beterraba e levei uma pequena quantidade à boca - "Mm.."

"Está bom de açúcar?"

"Perfeito, na dose certa como sempre" - pisquei para ela.

Quando Conchita saiu me deixando sozinha, fechei os olhos e inspirei uma boa quantidade de ar fresco. Em seguida olhei para o céu azul, terminando minha mirada no azul da piscina à minha frente. O dia estava tão lindo, seria bom pegar uma piscina depois de malhar. Peguei a xícara de café ao lado do suco, e solvi um pouco.

"Menina, é sua irmã" - Conchita voltou com o telefone na mão. Devolvi a xícara ao lugar e peguei o aparelho na mão dela.

"Fala, Neni"

"Não esqueceu que é para pegar a fantasia da Ana Pau hoje, verdade?" — eu estava espetando um cubo de mamão com um garfo neste momento, mas interrompi minha ação ao me dar conta.

"Não, claro que não" - menti sorrindo nervosamente.

"Está com o endereço do atelier?"

"Sim, anotadinho" - espetei o mamão em fim - "Não se preocupe, nossa sereia ficará linda" - disse e então coloquei o mamão na boca.

"Passo aí hoje depois do trabalho para pegar, como havíamos combinado"

"Mm-hm" - confirmei, enquanto mastigava.

Não demorei muito para terminar meu café, como sempre. Enquanto esperava meu personal trainer, achei que seria bom eu ler um pouco do jornal e me manter informada, enquanto meu organismo trabalhava na minha digestão. Ouvi vozes se aproximando. Levantei minha mirada e conferi as horas no meu relógio de pulso. Sorri, dobrei o jornal e o deixei sobre a mesa, para me levantar em seguida.

"Julian, pontual como sempre" - me aproximei abraçando-o.

"Devo ser assim. Se eu me atrasar um minuto, tenho certeza que será motivo suficiente para que você desista da aula" - ele disse sorrindo, enquanto caminhávamos para a academia, aos fundos.

"E se eu disser que hoje você pode ser mal comigo?!" - ele me olhou com o cenho franzido, o que me fez rir - "Estou super bem disposta hoje. Quero malhar 'pra valer' para começar ainda melhor meu dia" - ele assentiu.

"Muito bem" - zombou de mim - "Adoro alunos corajosos em me desafiar" - o olhei desconfiada, enquanto subia na esteira.

"O que quis dizer com isso?" - ele estava programando a esteira pra mim, mas parou para me olhar. Manteve o olhar sério por alguns segundos antes de dar uma viva gargalhada.

"É brincadeira" - piscou para mim.

Julian é meu personal há uns dois anos. Eu estava muito sedentária na época, e a academia precisava ser usada, já que eu nunca a usava e Rodri também. Julian é um homem muito alto e forte, mas apesar de toda a aparência assustadora, ele é uma pessoa maravilhosa; doce, gentil e atencioso com seu trabalho. E por incrível que pareça, Rodri nunca reclamou dele, nunca sentiu ciúmes e até já fez uma aula com ele e elogiou seu trabalho. Menos um problema para mim. Portanto, nunca troquei Julian e nem penso em fazê-lo. Além de me exercitar, eu me divirto muito com ele. Ele sempre me conta historias hilárias sobre suas outras alunas de idades tão diferentes, além de me contar histórias que a esposa dele conta para ele. A esposa dele também é personal.

"E Rodrigo como está?"

"Bem.." - respondi - "Ele viajou hoje mais cedo"

"Por isso está tão disposta para malhar? Quer esquecer o máximo que puder a saudade que vai sentir?!"

"Não.." - eu tentei ri enquanto corria - "Ele voltará logo. Nem terei tempo para sentir saudade"

"Você não imagina a história que tenho para te contar hoje" - ele disse depois de alguns segundos - "Uma das minhas alunas ontem não sabia se malhava ou se chorava"

"Chorava? Por quê?"

"Desconfia que o marido esteja traindo ela" - eu ri mais da cara dele empolgado enquanto contava do que da própria história.

Após uma hora de malhação, me despedi de Julian e entrei em casa. Enquanto passava minha toalhinha sobre o rosto, pescoço, ombros e colo, fui andando para a cozinha.

"Conchita, me dá um copo de suco bem gelado, por favor?"

"Tem de limão e de laranja"

"Quero de limão, estou com muita sede"

"Malhou muito?" - ela me perguntou enquanto pegava o suco na geladeira.

"Demais" - disse sorrindo - "Sabe o que esse cansaço e suor estão me fazendo lembrar?" - ela ergueu as sobrancelhas de maneira questionável, enquanto colocava meu copo de suco na minha frente na bancada - "De quando eu era da banda RBD" - me sentei na banqueta e fiquei brincando com a borda do copo com a ponta do dedo indicador, circulando-o em sentido horário e anti-horário - "Durante os shows, e até mesmo os ensaios, eu me entregava de tal maneira que nem sei explicar, sabe?! É como se eu viajasse e só meu corpo estivesse ali transmitindo tudo o que eu estava sentindo. Eu cantava com a alma, dançava com o coração. E no fim, eu estava assim, ou quase assim" - me corrigi rindo - "Eu reclamava muito porque não gostava de me sentir suada e suja, mas ao mesmo tempo eu me sentia bem daquele jeito... Assim" - completei apontando para mim - "É legal" - fiz uma careta - "Sentimento de dever cumprido"

"Você devia voltar a fazer o que te deixa feliz" - Conchita disse acariciando minha mão sobre a bancada.

"Eu disse um dia que quando eu me casasse, eu me entregaria cem por cento ao casamento, à minha família e deixaria a vida artística no passado. Rodrigo levou isso mais a serio que eu, você sabe" - Fiz uma careta entediada - "Não me quer na boca do povo, posando para revistas, e todas essas coisas" - ela ia falar algo, mas interrompi antes que aquele assunto arruinasse o meu dia - "Agora vou subir e tomar um banho fresco. Não precisa fazer almoço para mim, almoçarei na rua" - disse me levantando.

"Não vá comer porcarias" - ela me repreendeu antes que eu saísse por completo da cozinha.

Antes de subir, o telefone tocou e atendi. Era Rodri avisando que já havia chegado ao hotel. Cheguei ao meu quarto e tirei o tênis de uma vez, deixando-os num canto. Fui ao closet separar uma roupa para vestir. Optei por um vestido azul marinho que bate nos joelhos. Ele é tomara-que-caia com renda nos ombros, justo no busto e desce soltinho abaixo dos seios. Peguei um sapato vermelho sangue de verniz com salto médio, e ia deixar a bolsa para pegar quando estivesse saindo, mas achei melhor escolher de uma vez. Passei os olhos por todas as minhas bolsas, mas nenhuma me agradou. Eu não tinha ideia de qual estava procurando, de qual queria, mas aquelas que via na minha frente pareciam não me agradar. Encostei-me ao armário do Rodri atrás de mim e fiquei olhando para frente, para minhas bolsas. Desci minha mirada por um instante, o suficiente para que eu visse um pedaço de uma bolsa. E então me lembrei de qual era e confirmei de que é aquela que eu quero usar.

Abaixei e a puxei para fora. É uma bolsa grande vermelha da cor do sapato que vou usar e também de verniz. Ficaria legal a combinação. Eu já ia me levantar quando notei algo lá no fundo. Uma caixa preta. Meu coração acelerou ao me dar conta do que é. Deixei a bolsa ao lado e me sentei ali no carpete, após puxar a caixa para fora e colocá-la na minha frente.