Esmeraldas

Olhos de Esmeraldas


150 anos. 150 anos preso no quarto onde fui assassinado. Tempo o suficiente para me acostumar com a solidão, com as pessoas me atravessando, me ignorando, não me vendo. Acostumei-me com tudo isso, menos uma coisa... A saudade da minha família, de minhas cinco irmãs, minha mãe, e, claro, de meu pai.

Mas é Lógico que não passei um século e meio lamentando a minha “terrível vida pós-morte”. Não. Com certeza não. Passei um século e meio observando a Califórnia progredir. Eu presenciei toda a evolução da tecnologia, os carros, TVs, rádios, telefone, Enfim eu vi tudo que foi inventado se espalhar por ai. E acho que devo admitir que eu não fosse de ficar feliz se tudo isso não existisse. Estava refletindo sobre isso enquanto vários homens de uniforme azul iam entrando no meu quarto com grandes malas pretas nas mãos. Começaram a fazer coisas estranhas, Abriram um buraco na parede, abriram também vários caminhos pelas paredes que pareciam minhocas gigantes, aumentaram o tamanho da varanda onde eu estava encostado vendo o mar e a vista perfeita das colinas.

Uma cara no auge de seus 40 e poucos anos encostou ao meu lado e ficou olhando a vista – não que ele pudesse me ver, claro- deu um suspiro profundo e se virou para a bagunça que estava o quarto. Ele parecia deprimido talvez porque estavam destruindo o quarto. Meu quarto. Mas não, com toda a certeza aquele suspiro fora um suspiro apaixonado. Isso mesmo. Apaixonado. Eu estava morto há tanto tempo que nem me lembro como era sentir amor.

- Vamos lá, nós temos que terminar de reformar este quarto em menos de uma semana!- o homem que estava ao meu lado a menos de dois minutos já estava no meio do quarto gritando tão alto que por um instante achei que teria outro terremoto- só falta este quarto e nós só temos uma semana!

Só falta este quarto? Andei até a porta de entrada e desci a escada do primeiro andar até a sala central. O que havia acontecido aqui? As paredes estavam pintadas de amarelo, laranja e azul. Estas cores faziam as paredes do “hotel” parecer muito mais alegres do que nos últimos anos. Mudaram o Piso e colocaram uma lareira, sem falar dos pontos brilhantes no teto.

Voltei para o quarto. Estavam enfiando uns fios nas minhocas da parede. Não sei o que estavam fazendo, mas não gostei nem um pouco. Admito que eu estava- somente por um momento- feliz por não ter que me mudar caso destruíssem a casa. O cara que estivera gritando a pouco agora conversava com outro homem:

- Mas porque toda essa pressa, Andy?- o homem que falava era acima do peso com um bigode bem branco por causa da idade- quem vai morar neste quarto?

Andy? Este era o nome do homem apaixonado? Pelo que Parecia era. -Não estou com pressa, Mike. E quem vai morar aqui é a Suze, filha da minha nova mulher. -Ah, mais isso é maravilhoso- Mike e Andy iam andando até a porta e foram saindo- quando ela se muda para a Califórnia?

Espera ai. Filha? Uma Garota ia Morar no meu quarto? Não. Não iria permitir isso. Bom, pelos menos na minha época os homens e as mulheres não dormião no mesmo quarto. Quer dizer, pelo menos antes do casamento. E eu sinceramente não me lembro de ter me casado ultimamente...

Como ela seria? A Suze. Este nome me soa um tanto vulgar. Qual seria a sua idade? Passaram três semanas e eu ainda estava pensando nestas questões. A família já tinha se mudado e meu quarto, agora com as paredes pintadas de um rosa tão claro que dava para confundir com branco, já estava reformado. Eu tinha uma Semana para pensar no que fazer. Não sei por que não tinha pensado num jeito de fazer com que ela mude de quarto antes do tempo se encurtar assim. Acho que fique pensando como ela era por tempo demais. Acho? Não. Tenho certeza. Eles eram cinco, a família quero dizer. O homem, Andy, a mulher – cuja qual o nome eu ainda não descobrira – e três garotos, Jake, Brad e David. Jake aparentava ter 17 ou 18 anos de idade, Brad tinha 16 anos e David 12 anos.

Eu tinha um plano. Iria assustá-la. Isso certamente não era não cavalheiro. Mas era isso ou ter uma garota morando no meu quarto. Estava descendo as escadas para a sala principal. Eles não estavam em casa. Andy e a mulher tinham ido trabalhar. E os garotos estavam na escola. Na parede próxima a sala de jantar tinha várias pinturas estranhas. Não eram feitas com tinta. Pelo menos era o que parecia. Aproximei-me de vagar. Alias, Porque ir rápido? Eu estava morto. Tinha todo o tempo que eu quisesse. Tinhas pinturas de todos da família. Mas espera. Tinha uma garota também. Parecia ter uns dez anos e tinha um chapéu estranho na cabeça. Estava sorrindo. Um sorriso forçado e engraçado em que estava faltando os dois dentes da frente. Tinha cabelos da cor marrom, mas um marrom tão escuro que por um momento achei que era preto. E os olhos era de um verde tão lindo que pareciam esmeraldas. Voltei para o quarto. Sentei no Banco que estava perto da janela. Fiquei olhando as ondas, lembrando dos olhos verdes da garota Suze. Perdi toda a coragem de assustá-la. Não tinha como assustar a garota dos olhos tristes e sorriso forçado.

Era hoje. Meu tempo tinha passado e eu não tinha um novo plano. A família já tinha ido buscar a garota. “Agora são questão de horas. Logo ela chega.” Eu ficava pensando isso a toda hora, andando de um lado pro outro no meu quarto. Sentei-me no banco da janela para tentar relaxar.

Ela chegou. O carro deles parou na garagem e todos saíram. A garota que eu vi pela janela não parecia ter 10 anos de idade. Com certeza era mais que 10 anos. Eu não sabia mais o que fazer. Mas com certeza eu não iria assustá-la. Não queria. Essa Decisão não foi baseada em eu ser um cavalheiro que respeita as damas. Não. Mas sim na hora em que vi aqueles olhos... Não que estivesse apaixonado. Isso não,díos. O sorrisopodia ser o mais estranho e engraçado do mundo. Mas aqueles olhos de esmeralda. Não. Eu não podia me apaixonar. Pelo menos não por uma pintura. Além do mais eu sou um fantasma. E sempre serei. Até o fim dos tempos e por mais tempo se possível.

E eles estavam subindo as escadas...