Era Uma Vez... Uma Ilusão
35. É preferível ser um covarde vivo, que um herói morto!
06|01|1807 Niedersieg...
Na margem do Inn, uma considerável brigada franco-bávaro marcha rumo a Niedersieg, que já começa a aparecer no horizonte junto do sol. Estão perfeitamente alinhados, impecavelmente vestidos e inteiramente armados. Logo atrás dos soldados, mas pouco antes dos oficiais, canhões são carregados.
A guerra não domina apenas no leste, mas também no centro. À medida que marcham, tambores e flautas são tocados ininterruptamente... Muito contrastante com a velha Niedersieg, cujo silêncio domina nas ruas praticamente desertas.
Os últimos remanescentes são os voluntários reunidos atrás de barricadas nas mais estratégicas ruas da cidade. São um grande e inepto tampão humano entre o inimigo e a treinada Guarda do Príncipe na Siegesbrücke, a única ponte poupada das explosões.
Por volta das 07h o idoso general Mildenburg chega na Siegesbrücke. Montado num cavalo negro e usando uma couraça, Mildenburg é a personificação do general de Maria Theresa, usando até o uniforme da Maria-Theresien-Orden. Mas os soldados mostram respeito, isso que importa.
— Sejam fortes, homens! — o general exclama, buscando encorajar seus homens. — Essa não é uma ocupação como a de 1759, mas uma invasão visando a anexação! Os bávaros não serão misericordiosos, não serão gentis... não terão pena! Seus desejos são nefastos e tirânicos! Lutem! Lutem pelo nosso povo... Pelo nosso príncipe!
Assim que o general acaba os sinos da Igreja de St. Paul ecoam pelo Noblerstadtteil, chamando o povo para a missa... No mesmo momento que um foguete explode do céu e..
— Os bávaros chegaram! — Canhões e tiros começam da cidade velha.
Gritos de horror e medo começam na Igreja de St. Paul, embora o padre continue a missa; alguns entram em pânico nas ruas do Noblerstadtteil; enquanto os abrigados nos palacetes da nobreza pegam qualquer coisa como arma.
É um terror como nunca visto antes, mesmo que os franco-bávaros tenham apenas entrado em Niedersieg. É de uma profundeza que domina até as entranhas do Schloss Niedersieg, onde o gabinete do príncipe se refugia.
— Ehreschöne rendeu-se ao amanhecer do dia 04; Smaragdberg abriu seus portões ao entardecer e Königsstadt caiu ontem após três horas de combate. — Niedersieg foi totalmente cercado pelos bávaros. O barão von Frieden então declara, convicto: — Precisamos evacuar; é vital para nossa sobrevivência.
O barão, junto dos outros ministros, volta-se a Neipperhard, sentado estoico na frente do mapa de Niedersieg. Todos esperam por algo; uma ordem, uma ação que acaba com esse impasse. Mas o tempo parece ter parado desde a madrugada.
— Fugir é para os covardes e isso não sou — o chanceler sussurra, encarando com fúria von Frieden e os outros. — Afundarei com Niedersieg nas águas do Inn!
— Pois afunde! — Todos olham com horror para o barão Leopold von Eden, que não se vacila. — Mas digo que é preferível ser um covarde vivo, que um herói morto!
— Niedersieg está caindo de nossas mãos, Neipperhard, e isso não permitiremos — von Frieden acrescenta, recebendo assentimentos. — Minha família lutou muito por esse principado, então faça algo!
Mas o chanceler não faz, não agora, ele apenas levanta e segue para uma janela com vista para a cidade. A fumaça dos canhões, bem como de prédios em chamas, torna-se cada vez mais forte à medida que os franco-bávaros avançam... o que fazem com rapidez.
É só quando os bávaros chegam no meio da cidade velha que Neipperhard toma uma ação. Não há possibilidade alguma dele vencer; dos niedersiegers continuarem livres...
— Sou o principal ministro do príncipe, não posso deixar a capital. — Os outros negam a Neipperhard, que volta-se para trás e fala: — Vá para Londres, von Frieden, e leve com você os mais jovens e capazes. Defenda nossa causa junto ao príncipe.
O silêncio, somado à perplexidade, instaura-se entre os ministros, sendo quebrado apenas pelos tremores dos canhões. Mas von Frieden assente...
O bombardeio a Niedersieg continua com toda a força, bem como o avanço dos franco-bávaros. Até que ao meio-dia eles finalmente chegam na Siegesbrücke, onde começa um violento confronto com a Guarda do Príncipe.
Por volta das 14h às forças franco-bávaras entram no Noblerstadtteil, encontrando apenas medo e caos. Por fim, a bandeira e os emblemas reais da Baviera substituem a bandeira e os estandartes do príncipe. Niedersieg retrocede a Idade Média.
Enquanto isso, Karl Leopold Neipperhard e Barbara Sibylla Neipperhard, junto de suas cinco crianças, são colocados numa carruagem e enviados para Salzburg. É o mesmo destino do grupo de von Frieden... só que muito mais avançado.
*****
01|02|1807 Palácio de Goldenhall, Bristol
Em quase todas as ruas, prédios e casas de Bristol há lanternas especiais iluminando a cidade, que desde o dia 30 está mergulhada num incomum espírito de festa. Inúmeras pessoas reúnem-se em Queen Square, College Green e Brandon Hill para festas, comidas e diversões não vistas desde 1721.
O marquês até mesmo abriu Bristol House e os Elysian Gardens para o "público educado". Afinal é o octogésimo sexto aniversário dos Tudor-Habsburg, 86 anos de história, e isso não pode ficar em branco, principalmente em Goldenhall...
— Para onde vamos? — Porém, enquanto casais ofegantes dançam no Grande Salão Grego e damas aristocráticas analisam os lustres de cristais, Cathrine é puxada pelos corredores de Goldenhall. — Espero que seja lindo.
Tal como Goldenhall, que nesses três últimos dias mostrou-se um verdadeiro palácio barroco, sediando desde óperas alemãs até máscaras venezianas, e agora um grandioso baile, sem contar nos jantares, claro. Tudo extremamente lindo, talvez até por isso que Richard sorri arrogantemente para ela.
— Não tanto quanto eu, isso garanto. — A única reação de Cathrine é rir. Mas logo eles chegam numa decorada porta branca, onde o sorriso dele aumenta. — Será mais que lindo, será perfeito!
Richard então abre levemente a porta e puxa Cathrine para dentro... Milhares de pequenos e grandes espelhos venezianos refletem a luz da lua que entra pelas muitas sacadas do corredor, iluminando William e Catherine; Anne e Frederik; Alfred e Elizabeth, Katherine e Wilhelm... Richard e Cathrine...
É a Great Marble Gallery, a galeria ancestral dos Tudor-Habsburg onde estão pinturas de todos os marqueses e consortes. Novamente, tudo é muito belo, desde os retratos até o claríssimo piso de mármore; as velas são quase desnecessárias.
— É impressionante, Richard! — exclama Cathrine, olhando para tudo não encantada que mal olha onde pisa. — Pergunto-me o quão caro foi construí-lo.
— Ficamos só um pouquinho mais pobres. — Cathrine franze o cenho para Richard, que nega sorrindo e segue para uma das portas de vidro. — Mas a surpresa é por aqui.
Na sacada? Cathrine franze confusamente o cenho para Richard, que estende a mão. Mas Cathrine aceita e vai para a sacada com Richard. Está frio e ventoso, como é próprio para uma noite de inverno, e no horizonte está Bristol, brilhando como uma estrela.
— Essa é sua surpresa? — ela pergunta, sorrindo docemente para Richard, mas ele nega.
— Daqui a alguns segundos será meia-noite, sabia? — Levemente surpresa, Cathrine nega; parece mais tarde do que realmente é. Richard sorri com expectativa. — Sabe o que isso significa?
— Que tudo isso é um belo sonho que logo vai acabar? — Com eles retornando a condição de soberanos com um filho só. Mas a reação de Richard é rir. — Não faça eu me sentir uma tola!
Mas, ainda rindo, Richard a abraça pelos ombros e aponta para Bristol. E então chega e meia-noite e, junto dela, uma solitária faísca explode no céu, faísca essa que logo se torna explosões douradas de fogos de artifício.
Logo todas as janelas e sacadas do palácio são ocupadas por nobres e criados desejando assistir o show. A viúva Lady Pembroke até mesmo acorda Adam para assistir também. Afinal é algo muito belo; como uma grande chuva de luz que separa-se em estrelas e belos círculos.
Um grande espetáculo que dura cinco mágicos minutos. Minutos de uma mágica tão intensa que a sensação de sonhar continua muito além da "meia-noite e cinco". Nesse êxtase, Cathrine abraça fortemente Richard, que acaricia a bochecha dela e, encarando-a fixamente, beija ternamente nos lábios.
— Amei sua surpresa. — Quebrando o beijo, Cathrine fecha os olhos e... suspira.
— Pois amará mais ainda — promete Richard, beijando-a no pescoço e... encarando-a lascivamente. — Já viu os Apartamentos Carmim?
— Minhas últimas duas noites foram passadas lá — Cathrine responde e, acariciando o peito de Richard, sussurra: — Mas não dessa maneira.
Rindo com expectativa, Richard toma a mão de Cathrine e volta a puxá-la, primeiro para a galeria e depois... Aos mais ansiosos beijos, Richard e Cathrine entram nos aposentos do marquês, onde trancam a porta e começam a despir-se...
Quando se dá por si, Cathrine abraça fortemente o corpo nu de Richard, enquanto ele luta gloriosamente no interior dela... Até que a luta chega ao mais profundo ápice, cujo nome é orgasmo...
*****
02|02|1807 Palácio de Goldenhall, Bristol
A luz do sol ilumina fracamente os aposentos dos Kendal, que continuam deitados, mas não dormindo. Sophia está acordada, muito bem acordada, e acaricia pacificamente os longos cabelos do sonolento Robert. O silêncio é profundo, porém calmo e necessário... Até que Robert acorda.
— Achou! — brinca Sophia, recebendo um largo sorriso de Robert. — Você parece até um anjinho quando dorme, sabia?
— Você é o anjo, Sophia, eu sou... pecaminoso. — Um verdadeiro demônio. Sophia apenas ri, enquanto Robert aproxima-se dos lábios dela e sussurra: — Sou muito bonito, extremamente belo e... sensual.
— Estou sem vontade agora —Sophia vira o rosto, mais que provocativa, fazendo Robert gemer frustrado. — Estou ficando velha e a noite foi muito cansativa. Você não cansa, por acaso?
— Sou um poço de vitalidade e sexo — Robert responde petulante e beija o ombro nu dela... passando ao pescoço. — Quero senti-la...
— Não. — É o bastante para ele parar e deitar novamente, sempre sorrindo petulante.
Robert e Sophia ficam, então, em silêncio, apenas observando o decorado teto de estuque branco do quarto. Isso até que uma sombra atinge o centro do teto. Já deve ser por volta do meio-dia...
— Onde está meu relógio, hein? — Sophia dá os ombros para Robert, que suspira e olha para ela. — Chamei Petty para praticarmos um pouco de boxe depois do café da manhã, mas logo será hora do chá.
— É com socos e ofensas que vocês discutem a emancipação católica e a abolição do comércio de escravos? — Robert franze o cenho com as palavras de Sophia, mas ela ainda zomba: — Que métodos curiosos; eles funcionam?
Uma carranca surge no rosto dele, fazendo Sophia ri divertida e volta a brincar com o cabelo de Robert. Não é uma crítica, e ele sabe disso, mas o rei jamais aceitará católicos como oficiais do exército e marinha. Quanto ao tráfico...
— Pelo menos estou fazendo algo, muito diferente de alguns — Robert fala, claramente alfinetando a família real, mas Sophia não se ofende. — Logo os lords votarão e depois o tráfico de escravos finalmente chegará ao fim.
— Mas não a escravidão — ela lembra, recebendo um lento assentimento de Robert. Sophia suspira: — É um avanço, de qualquer forma.
— É o primeiro passo. Não tardará para a escravidão ser totalmente abolida. — Em todos os territórios e domínios do Império Britânico. O silêncio retorna, mas... — Sabe... eu estou nu e... ficando excitado.
— Quando você não acorda nu e excitado? — Ele volta a sorrir petulante, mostrando claramente o que deseja. Sophia respira fundo... e sorri. — Se formos rápidos e satisfeitos talvez possamos...
Bem cumprido a primeira parte, Robert toma um beijo de Sophia, cuja surpresa torna-se rapidamente o mais puro desejo. Robert, ainda coberto pelos lençóis, abraça Sophia e, beijando-a, a pressiona na cama...
— Houve uma emergência! — Lady Holles entra abruptamente no quarto.
Instantaneamente o casal se separa e, cobrindo-se, encara com o horror a baronesa, que adentra mais ainda no quarto com Priscilla Nathan, a baronesa Norton. A única ação de Robert é abraçar protetoramente Sophia, que exclama:
— Lady Holles, mas o que significa...!?
— Não temos tempo, minha princesa! É um horror! — exclama Lady Norton, aumentando mais ainda a confusão deles. — Os enviados de Niedersieg exigem uma reunião com o príncipe!
Enviados de... Niedersieg!? É o bastante para alarmá-los, tanto que a princesa rapidamente deixa a cama e, enquanto é ajudada a vestir uma negligée, o príncipe veste a camisa e calça da noite anterior. Na pressa, os sapatos são até preteridos em favor de botas.
Não tarda muito e os Kendal entram nos Apartamentos Carmim, sendo imediatamente recebidos por oito desconhecidos — e desgrenhados — cavalheiros... bem como "sons estranhos" no dormitório do marquês.
— A realeza de verdade, graças a Deus! — O líder deles, levemente mais velho que Richard, aproximando-se numa mesura. — Sou Anton von Frieden, o barão von Frieden, e esses são os ministros...
— Um minuto, por favor! — interrompe Robert, franzindo o cenho em total confusão. — Como assim ministros? E por que estão aqui? E... Que gritaria é essa!?
Nenhum dos alemães responde e os cavalheiros ingleses ficam em silêncio. A única ação vem do barão von Frieden, que sinaliza para o dormitório. Robert aproxima-se e gradativamente começa a distinguir os gritos... Richard!? Ele imediatamente abre a porta e... arregala os olhos.
O quarto é uma cena de destruição, onde a marquesa é mantida aos prantos na cama pelo conde de Wilmington... Enquanto Richard soluça cabisbaixo na frente de uma espelho quebrado. Robert adentra no lugar, até que para...
— Eles cumpriram...! Cumpriram suas ameaças, Robert! — murmura Richard, voltando-se aos irmãos com os olhos cheios de lágrimas. — Não existe mais príncipe! Nem governo! E nem... NÃO EXISTE MAIS NIEDERSIEG!
Os olhos de Robert arregalam, não pelo povo ou Niedersieg, mas por presenciar a dor de Richard e vê-lo deitar no chão, abraçando o próprio corpo.
*****
Schloss Leonberg, Leonberg
O Pomeranzengarten está frio, "morto" e silencioso, porém não um silêncio causado pelo inverno, mas sim porque as crianças estão estudando. É no caramanchão, de fato, mas a quietude delas é intensa. O que não inclui Anne, caminhando com Anton Belgärd pelo jardim.
— Enviaram alguma notícia sobre a guerra? — ela pergunta e, aceitando o braço de Anton, suspira cansada. — Sinto que tudo perdeu o sentido após Jena-Auerstedt e a captura de Berlim.
— Onde o bloqueio foi emitido. — O Bloqueio Continental... Anne fecha dolorosamente os olhos e nega. Anton dá os ombros: — As últimas notícias foram sobre Mohrungen.
— A derrota em Mohrungen, você quer dizer — ela corrige, negando com uma grande carranca no rosto. — Que decepção essa guerra. A Saxônia trocou de lado, a Prússia foi humilhada e a Rússia está cada vez mais apertada!
E quantas vitórias a Coalizão teve até agora? Uma vitória, mas que em nada impediu as mortes do duque de Brunswick e do príncipe Ludwig Ferdinand da Prússia; a prima Maria Josepha escreveu desolada com a morte do cunhado. E ainda há o bloqueio...
— Devemos agradecer a Deus que Württemberg ainda não se envolveu na guerra — Anton fala, assim que eles chegam na sacada do jardim.
— Mas logo será, é um dos termos da maldita Confederação do Reno — Anne suspira cansada e encara tristemente Anton. — A rainha não mandou sequer uma carta da Inglaterra?
Para a infelicidade dela, Anton nega. Há meses Anne não recebe resposta alguma... Tudo por culpa do bloqueio! Os navios não entram e nem saem, a Grã-Bretanha foi isolada do resto da Europa... O usurpador realmente acha que isso prejudicará a Inglaterra?
Quem está sendo prejudicado, na verdade, é o continente. Anne encara tristemente o pomar do Pomeranzengarten, totalmente em silêncio... Até que Anton pega a mão dela e aperta.
— Elas logo chegarão, madame, seus irmãos certamente acharão um meio de fazê-las passar pelo bloqueio. — Anne fica em silêncio com as palavras de Anton, que traz o rosto dela na direção dele e sussurra: — Eu prometo.
Pelo Cristo! Corando fortemente, Anne vira o rosto e se afasta de Anton, cujo rosto é tomado pela dor. Não é da vontade dela uma coisa dessas.
— Pergunto-me como Richard governará Niedersieg nessas condições — comenta Anne, tentando esquecer... disso. — Como as ordens dele chegarão com a Inglaterra isolada?
— É bem simples, Anne, — Essa voz... A princesa volta-se à entrada do jardim, onde Fritz entra. — elas não chegam e ele não governa.
Qualquer alegria em Anne desaparece com essa chegada, principalmente quando Charlotte e Anna vem correndo na direção do pai. Mas a única ação dela é aceitar novamente o braço de Anton e sair...
— Desejo falar com você, Anne — Parando, ela franze o cenho para Fritz, que acrescenta: — Em particular; é um assunto delicado... para você.
— Para mim? Do que se trata? — Ele não responde, apenas estende a mão. Anne suspira e revira os olhos. — Siga-me... E que não seja uma de suas enganações!
— Eu nunca mentiria sobre um assunto desses. — O tom dele é sério, o que preocupa Anne.
Enquanto eles seguem para um local isolado, as meninas retornam ao caramanchão e Anton vai junto, mas sempre observando a conversa do príncipe e da princesa. Tudo parece normal, até que os olhos de Anne arregalam e, aparentemente ficando tonta, ela cai nos braços de Fritz.
É o bastante para criar um imenso alarde. Até que todo o Leonberg descobre o motivo: o país da princesa herdeira deixou de existir.
*****
03|02|1807 Palácio de Goldenhall, Bristol
Após deixarem Salzburg e Linz, o grupo de ministros cruzou a Boêmia até Praga e desceu o Elba pela Saxônia, Anhalt, Brandenburg e Hamburg, onde seguiram pelo domínio do duque de Oldenburg em Holstein e embarcaram em Scharbeutz rumo a sueca Malmö.
E agora cá estão eles, sentados na sala dourada junto de Cathrine. Oito desconfiados homens alemães na frente de uma tímida princesa dinamarquesa... Qual a possibilidade disso dar certo?
— De fato, uma viagem muito difícil. — Com palavras simples e nada confiantes, Cathrine traz a atenção deles. — Mas como os cavalheiros passaram pelos franceses na Saxônia e Brandenburg?
— Passaportes falsos, madame — o barão Leopold von Eden responde, dando os ombros. — Eles são os maiores aliados de fugitivos.
— E a maioria dos oficiais também não sabe quem ou como somos — acrescenta o jovem Eduard Carrelli.
— E, mesmo se soubessem, dificilmente resistiriam ao suborno. — Cathrine franze o cenho para o germano-irlandês Andreas O'Ryen, o conde O'Ryen, que calmamente sorri. — O lema deles é Liberté, Égalité e Fraternité, não honnêteté.
Tentando concordar, Cathrine assente ao conde e volta-se para frente, focando na cadeira vazia pertencente a Richard e no barão von Frieden, cujo olhar... Também não é agradável para Cathrine!
— Garanto aos cavalheiros que nossas propriedades estarão disponíveis aos senhores e suas...
— Qual o estado do príncipe, madame? — von Frieden pergunta, visivelmente impaciente. — Desculpe a honestidade, mas precisamos de alguém mentalmente saudável para nos liderar.
Mentalmente saudável? Cathrine franze o cenho; mas o que esse homem deseja dizer com isso!? Richard não está louco, e nem perturbado da cabeça. Não é próprio para os Habsburg serem melancólicos!? Cathrine abre a boca e...
— O príncipe está cansado — ela sussurra, focando num ponto qualquer na mesa.
— Cansado!? Nós estamos cansados, madame! — Cathrine quase fecha os olhos com as palavras de von Frieden, que ainda acrescenta: — Tivemos que fugir do nosso próprio país!
— País esse que meu irmão reina desde os quatro meses de idade. — Agora Cathrine realmente fecha os olhos e suspira de alívio; Robert chegou. — Vejamos qual pesará mais se colocarmos numa balança?
— Isso não faz desaparecer a nossa necessidade — retruca o coronel Karinberg, vindo da Suécia com os outros.
— Sim, mas servirá para lembrá-los da necessária paciência. — Parando ao lado do lugar de Richard, Robert então declara: — O príncipe precisa descansar... não é, minha princesa?
E a atenção retorna para Cathrine. Está muito bem claro para Cathrine quem deve tomar as rédeas do governo por agora. Falta nela toda a ambição política do pai, irmão e avó. Mas Cathrine sabe muito bem cumprir seu papel simbólico, então ela assente.
— Ninguém espera uma reação imediata da nossa parte.
— O povo de Niedersieg espera, madame — responde calmamente von Eden, atingindo o âmago dela. — Lembre-se que a senhora é regente...
— Sou princesa consorte e nada além disso! — exclama Cathrine, num incomum momento de fúria... Mas que logo acaba. Olhando para baixo, ela gagueja: — Consideraremos ilegal a... anexação bávara de Niedersieg.
As palavras dela saem hesitantes, excessivamente baixas. E o silêncio instaura-se entre os ministros do príncipe, que encaram a princesa numa mistura de pena, desdém, ironia e tédio. Não é surpreendente; pode parecer frívolo, mas Cathrine limitaria os próprios poderes caso fosse soberana.
Mas o silêncio, bem como os olhares dos alemães, torna-se insuportável para a princesa, que assente para Robert, que dá um passo para frente e apoia as mãos na mesa
— Nossa melhor arma é a diplomacia, senhores. — Robert encara então cada um dos ministros. — Em 1730, Theodor Harold buscou legitimar as morganáticas Wasserstrich enviando diplomatas às cortes europeias. Nós faremos o mesmo; manteremos nossos diplomatas nas cortes aliadas, a fim de garantir...
O máximo de apoio possível a independência de Niedersieg... Pois bem, Cathrine levanta da sua cadeira e caminha rumo a saída. Como muito bem frisando antes, Cathrine é completamente inadequada para a política... Então, planos foram feitos para evitar qualquer desastre.
— E então? — Imediatamente após deixar a sala, Cathrine é abordada por Sophia, que franze o cenho. — Mas eles ainda... Por que você...?
— Sou inepta como estadista. — Bem como líder social e, aparentemente, genitora. Cathrine fecha os olhos e nega: — Deixarei isso com Robert e depois apenas consentirei.
— Está desistindo? — questiona Sophia, fazendo Cathrine franzir o cenho.
— Estou sendo sábia. É humilde reconhecer suas próprias fraquezas, sabia? — Sophia não responde, apenas desvia o olhar. Cathrine novamente nega. — Vou ver como Richard está.
Nisso pelo menos ela é razoavelmente boa, junto com o ofício de mãe. Cathrine então vai embora, permitindo assim que Sophia entre na sala.
*****
Schloss Leonberg, Leonberg
Nos aposentos da princesa herdeira, as criadas ascendem cuidadosamente as velas nos candelabros e luminárias, iluminando gradativamente o quarto e revelando uma ansiosa Anne, andando sem rumo pelo recinto.
— Não sei nem o que dizer... Como reagir... — Anton Belgärd e a condessa Verweyen permanecem calados, fazendo-a encará-los. — O que sou agora!? Que importância tenho no mundo!? Sou princesa de onde..!?
— De Württemberg! A princesa herdeira de Württemberg! — assegura Anton, pegando as mãos de Anne e encarando-a fixamente. — Não fique excessivamente preocupada com isso.
— Sabemos como é, minha princesa — Luise acrescenta, fechando dolorosamente os olhos. — Tivemos que fugir de Mömpelgard e...
— Não compare sua situação à minha! — É o bastante para assustar Luise. Enquanto Anne afasta-se de Anton. — Minha posição acabou de ficar mais frágil. Não existe mais base para minha realeza!
Onde reside agora a importância dela? Na Áustria? Inglaterra? A primeira está cada vez mais insignificante, enquanto a segunda... Sem palavras! As criadas acabam com as velas e, fazendo uma mesura, deixam o quarto. Nesse mesmo momento, porém, Fritz entra.
— Mas o que você ainda faz aqui!? — Anton imediatamente avança na direção de Fritz. — Sua presença já não foi dispensada!?
— Só deixarei Leonberg quando tiver total certeza que minha esposa está bem — responde Fritz, frisando bastante o "minha esposa". — São ordens da rainha.
É o bastante para calar Anton, que continua impondo-se a Fritz. Suspirando, Anne apenas nega para esse exibicionismo masculino e, caminhando rumo à cama, sinaliza para todos irem embora. Ela não tem ânimo para discussões. A ordem dela é obedecida, porém...
— Belgärd parece um cachorrinho atrás de você. — Fritz continua no quarto, aproximando-se da cama. — Ele está realmente apaixonado ou... faz parte do show?
— Isso não lhe diz respeito — responde Anne, de costas ao príncipe.
— Claro que diz. — O tom dele é tão simples e natural, mas fica pior: — Você ainda é minha...
— Não sou de ninguém! Meu único dono deixou de existir! — Agora ela volta a encará-lo, primeiro com fúria e depois... Anne sorri. — Mas isso lhe é benéfico, não?
Depois de gerar uma imperatriz russa e quase uma santa imperatriz, bem como casar com princesas de Brunswick e da Grã-Bretanha, uma ninguém torna-se profundamente humilhante. O silêncio domina entre os dois, até que ele fala:
— Quero que dispense Anton Belgärd. — Anne franze o cenho com as sérias palavras de Fritz, que dá as costas. — É impróprio para a princesa herdeira ser tão próxima de um homem.
E não foi mais impróprio, escandaloso até, Fritz abandoná-la por uma prostituta grávida!? Mas Anne mantém-se calma... e sorri com ironia.
— Está com ciúmes?
— Como nunca antes — Fritz responde numa risada. — O bom é que... Bem, posso extravasá-lo em qualquer vagabunda, muito diferente de você.
— Está tentando me fazer sentir ciúmes? — questiona Anne, rindo mais irônica ainda. — Não sinto falta de você...
— É mentira! — Voltando-se para trás, Fritz aproxima-se tanto dela que Anne recua. — Que mulher rejeita o prazer do amor após senti-lo em sua totalidade?
— Eu. — Anne encara fixamente Fritz, que aproxima-se mais ainda.
— Pois prove — desafia Fritz, embora não o suficiente para fazê-la parar de sorrir. — Diga em alta voz que...
Fazendo-o calar a boca, Anne agarra o rosto de Fritz e o beija violentamente nos lábios. Ele arregala os olhos, fica sem reação... Até que abraça fortemente Anne, retribuindo o beijo. Dura um... quase dois minutos...
— Agora chega! — Mas Anne logo se afasta e dá um forte tapa em Fritz, cujos olhos arregalam. — Vá embora antes que eu grite!
Tamanha fúria deixa Fritz profundamente confuso, mas ele faz uma mesura a esposa e deixa o quarto. Ficando para trás, Anne respira fundo... e começa a rir.
*****
Fevereiro|1807 Carlton House, Londres
O inconveniente das multidões há muito se dissiparam de Carlton House ou Montagu House. O que também não significou o fim da Delicada Investigação, sendo justamente por isso que o príncipe de Gales entra agora na Blue Velvet Room...
— Agradeço pela rapidez, Lord Grenville. — O primeiro-ministro curva-se imediatamente ao príncipe, que simplesmente segue para a adega. — Sei que tem muitos assuntos para tratar, principalmente em relação a escravidão, mas garanto que serei breve.
— Eu agradeceria muito, Sua Alteza Real. — O príncipe oferece whisky ao primeiro-ministro, que nega e acrescenta: — A escravidão é algo a ser debatido com muito cuidado. Não é apenas uma questão moral, mas também econômica.
— Infelizmente; não vejo a hora dessa barbárie chegar ao fim — o príncipe suspira afetado e bebe do whisky. — Justamente por isso convoquei o milorde: desejo tirar um peso dos seus ombros.
— Peso? O senhor refere-se a...
— Caroline, naturalmente. Desejo acabar o mais breve possível com essa investigação, que já se estendeu bastante, por sinal. — Talvez por conta da guerra ou da morte de Fox. — Mas agora que a culpa de Caroline tornou-se inegável, devemos preparar o divórcio.
E talvez mandá-la para bem longe do Reino Unido. Brunswick está fora de questão, bem como praticamente o resto da Europa. Talvez as Americanas ou uma ilha no meio do Atlântico... Santa Helena...?
— Divórcio? — Lord Grenville, porém, questiona e franze o cenho. — O que faz o príncipe pensar que haverá um divórcio?
— Por que não haveria? Todas as testemunhas já foram ouvidas e o veredicto mais aceitável é de culpada. — Mas o primeiro-ministro não responde, fazendo o príncipe semicerrar os olhos. — Não estou certo?
O relato de Sir John e Lady Douglas são provas claras o suficiente para George, e agravadas pelo bastardinho William Austin. O olhar do príncipe torna-se cada vez mais fixo em Grenville, à medida que ele avança na direção do primeiro-ministro, que finalmente fala:
— Ouvimos muitas pessoas, meu príncipe, desde George Canning e Thomas Lawrence até os criados de Montagu House e Sophia Austin. — Exatamente, todos os que provas a culpa de Caroline... Não? — Foram muitos meses perdidos nessa investigação e nosso veredicto é um só: inocente.
Os olhos do príncipe arregalam, sendo imediatamente dominados pela raiva e descontentamento. Caroline... inocente...?
— Como assim inocente!? Caroline é tudo menos inocente! — exclama George, tão furioso que joga o copo de whisky na parede. — Por acaso não viram as amizades dela com esses homens...!?
— Flertes inocentes. A princesa de Gales é inocente, meu príncipe. — Mas Grenville não recua, sequer mostra medo, tanto que acrescenta: — E garanto que, mesmo se não fosse, ainda assim seria.
Dito isso, o primeiro-ministro curva-se ao príncipe e deixa a sala. Sozinho, o príncipe de Gales fecha os olhos e grita furioso. Caroline não pode ser inocente!? Ele não pode continuar preso a ela! Isso... Haverá vingança!
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23|02|1807 Palácio de Westminster, Londres
— De hoje não passa; é a prova de fogo, como alguns dizem! — exclama Lord Henry Petty, cruzando apressadamente o Westminster Hall com Lord Althorp... e o duque de Kendal. — Se aprovada, será o começo do fim para a escravidão; se recusada...
— Dificilmente será rejeitada, Petty — garante Robert, sorrindo confiante. — Há quase 20 anos William Wilberforce e Thomas Clarkson lutam pelo fim da escravidão, e agora chegou o momento da vitória.
— Deus queira que sim! — o visconde Althorp concorda, mesmo suando de ansiedade. — Somos a maioria nos comuns, mas isso não nos garante uma vitória fácil.
É uma verdade. A Lei do Comércio de Escravos foi aprovada com ampla margem de votos pelos lords, de fato, mas nada garante que o mesmo acontecerá entre os comuns. Alguns deles são proprietários de terras e têm amplos interesses nas Índias Ocidentais...
Mas Robert logo nega consigo mesmo. Ele confia na competência de Petty e Howick, bem como no próprio William Wilberforce. Porém, pouco antes de deixar o Westminster Hall, Robert encontra três dos ministros niedersiegers... apreciando o telhado do salão.
— É uma obra-prima, Sua Alteza Sereníssima! — Liderados por Eden, Carrelli e O'Ryen aproximam-se do príncipe, que franze o cenho. — Qual dos seus ancestrais ingleses construiu?
— Richard II, mas ele não é um ancestral meu... nenhum dos três Richard's é.
— Mas, em contrapartida, todos os três Robert's escoceses são. — Olhando dessa forma... Robert assente ao sério Carrelli, que explica: — Viemos assistir a votação.
— E também conhecer o famoso parlamento britânico — o conde O'Ryen acrescenta, exibindo um largo sorriso para tudo. — Meu pai falava com um certo desdém desse lugar, mas... achei interessantíssimo!
O olhar do príncipe nos ministros é profundo, mais desconfiado até do que ele gostaria, embora necessário. Normalmente políticos estrangeiros ficam bem longe de Westminster, ainda mais quando detêm tanto poder quanto os alemães.
— É sim, principalmente porque não existe, ou existia, nada igual em Niedersieg. — Mas Robert sorri... e franze o cenho. — O que acho estranho, afinal sempre fomos fiéis defensores do parlamentarismo.
— Um parlamento dificilmente funcionaria no Santo Império, meu príncipe — Eden explica, olhando para os companheiros e sorrindo de lado. — Mas num estado soberano já é outra história.
Essa conversa está tomando um rumo, no mínimo, curioso. Qual seria o interesse desses homens? Pode parecer um pouco exagerado, mas uma das características de um estadista é justamente a desconfiança.
— Um governo constitucional e liberal atraí os senhores? — Todos os três assentem, fazendo Robert semicerrar os olhos. — O príncipe e von Frieden têm conhecimento desse... interesse?
— É algo pessoal, não há necessidade alguma deles saberem — Carrelli responde, finalmente colocando um sorrisinho no rosto. — Mas gostaríamos de saber mais um pouco dessa... lei da escravidão.
— Nunca tivemos escravos em Niedersieg, mas o assunto nos interessa — O'Ryen acrescenta, trocando olhares com os outros.
— Mais até que a independência de Niedersieg? — Todos os três franzem o cenho para Robert... que sorri divertido. — Os senhores deram sorte, o parlamento hoje está em total ação.
Com certeza foi premeditado... Mas Robert não vê nada de perigoso nesses alemães... por enquanto. Enquanto seguem para a Capela de St. Stephen's, onde se reúne a Câmara dos Comuns, Robert explica aos ministros a situação da lei. Até que os debates começam... pelas próximas dez horas...
*****
Março|1807 St. Ives Bay, Cornwall
Junto dos netos da viúva Lady Pembroke, Adam foge aos risos das pequenas ondas que atingem a praia. É o tipo de diversão que Adam necessita, nada muito cansativo e longe de qualquer ar impuro da cidade. E ele gosta disso, afinal não para de rir.
— Por que passamos tão pouco tempo em Ocenia, hein? — questiona-se Cathrine numa risada, virando-se para Richard. — Prefiro aqui a Plymouth. Acredita que Adam perguntou lá se podia servir na Marinha Real?
A única reação dela naquele momento foi rir e negar ao filho. Mas agora Cathrine espera uma reação de Richard, cujo olhar no mar é mais do que perdido. Não seria surpreendente se a água ficasse gelada.
— A saúde dele não permitiria — Richard enfim responde, ainda fitando o mar. — E os Tudor-Habsburg não lutam, os outros que lutam por nós... Se bem que...
Calando-se, Richard fecha dolorosamente os olhos e nega. Cathrine sabe qual o motivo disso, há dias ele está assim, tanto que sequer a aprovação da Lei do Comércio de Escravos o alegrou. Mas ainda assim ela tenta:
— Está sentindo algo, Richard? — Ele franze o cenho para Cathrine, que abaixa a cabeça. — Perdão.
— Não peça perdão, você não é a culpada. — Há um misto de ironia e descontentamento nessas palavras. Mas torna-se pior. — Sinto-me péssimo, mas como não poderia? Meu único propósito nessa vida foi perdido!
— Logo encontraremos uma solução — garante Cathrine, pegando a mão dele e apertando fortemente. — Esqueça disso por agora, Richard! Markson receitou descanso...
— Markson me acha mais louco até que o rei! — responde bruscamente Richard, soltando-se dela e negando veemente. — Esquecer, não fazer nada... Foi assim que eu perdi Niedersieg!
— Mamãe! Papai! Vejam, eu encontrei uma concha! — Adam grita, erguendo uma grande concha nas mãos.
É o bastante para fazer Cathrine sorrir e assentir ao filho, enquanto Richard apenas desvia o olhar. Logo, porém, Adam entrega a concha para uma criada e volta a brincar. Muito bem; Cathrine respira fundo e encara Richard.
— Robert e von Frieden já estão cuidando muito bem dessa questão. — Mas Richard nega, profundamente irônico, fazendo-a acrescenta: — Confie em Robert, por favor, ele sabe o que faz!
— Mas o príncipe sou eu, não ele...! — Richard retruca, sendo imediatamente dominado pela tristeza. — Ou, pelo menos, era.
Apoiando as costas no rochedo onde eles descansam, Richard fecha os olhos e fica em silêncio. E a compaixão domina Cathrine. Poucas foram as vezes que ela viu Richard tão... desolado. De fato, a perda de Niedersieg está sendo profundamente difícil.
— Por que você não vai nadar com Adam? — sugere docemente Cathrine, apoiando a cabeça no ombro dele e sussurrando: — Ele gosta tanto do mar.
— Tem mulheres demais aqui — mas Richard recusa, sequer olhando para ela —, e também não quero o povo desse lugar comentando sobre minha modéstia.
Sorrindo fracamente, Cathrine assente e se afasta de Richard. É melhor deixá-lo pensar sozinho. O silêncio entre o marquês e a marquesa instaura-se profundamente, com cada um focando no que bem lhe convém.
— Ostrołęka... Mais uma derrota russa. — Até que Lord Wilmington traz um jornal para Richard, que nega. — Não vejo mais futuro algum nessa guerra; será apenas outra coalizão perdida.
Mais uma coalizão cujas consequências serão, e já estão sendo, profundamente terríveis. A queda de Berlim, o Bloqueio Continental e a anexação de Niedersieg... O que virá depois?
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