Após Mike ter saído, fiquei sentada por um tempo tentado raciocinar o que tinha acontecido. Não conseguia acreditar... Tudo ao meu redor parecia mais escuro e assustador que o normal, como um pesadelo interminável. Sentia-me como uma criança medrosa no escuro gritando por ajuda, só que diferente de uma criança, meus pais não estavam mais lá para me acudir. Fiquei assim por quase quarenta e cinco minutos e o que me voltou à realidade foram batidas na porta. Instantaneamente me levantei, mas imediatamente senti minha mente e meu corpo travarem. A tranca da porta se quebra e as portas abrem-se abruptamente. Mike entra correndo e recolhe todas as coisas jogadas em um canto no chão:

– O que foi?

– Temos que sair daqui, e rápido. Vamos!

– Mas... O que aconteceu?

– Não temos tempo para isso. Não pode acabar, não aqui. Preciso voltar... Voltar para ela.

Fui a sua direção e segurei fortemente em seus ombros, percebi que estava tremendo:

– Onde está Luke?!- Não pude impedir a raiva e medo em minha voz.

– Vamos!

Mike me segura pelo braço e me puxa fortemente para fora da cabana, me obrigando a correr também. Durante o caminho Mike tenta me explicar algo sobre ir com ele a um avião para os Estados Unidos, que aqui não era seguro e que eu morreria aqui. Tentei discutir, parecia absurdo, até louco ajudar alguém que não conhece, no entanto no meio do caminho algo me chama a atenção. Mike tenta me convencer de que não é nada, mas eu me solto dele e corro até o incidente. O que vi fez meu coração parar por um segundo. Na minha frente se encontram uma montanha de corpos de soldados nazistas, porem meus olhos vagam para o corpo manchando a recente neve que começava a cair na minha frente com sangue. Seus cabelos loiros, seus olhos azuis que agora estavam sem brilho...:

– Não... Não pode ser. – Despenquei no chão na frente do corpo- Luke... Luke!

Senti as lágrimas descendo no meu rosto e uma mão em meu ombro. Era Mike:

– Callie, eu sei que você está passando por muitas coisas agora, mas temos que sair daqui! Você sabe que ainda tem soldados nos procurando!

Não me mexi. Todos meus extintos gritavam para eu correr e abandonar tudo aquilo, porem não consegui me mexer. Tudo ficou enevoado e as únicas coisas que sentia era a neve, minhas lágrimas e a voz de Mike gritando algo que não entendia. Então uma culpa em meu íntimo começa a gritar. Eu não devia ter o deixado ir. Eu podia ter o parado. Eu não devia ter o deixado ir. Eu não devia...

Perdi tudo... Não tinha pelo que viver. Qual era o ponto de fugir dali? Pelo que viveria? Qual seria meu rumo? Então uma sensação me tirou de meu transe. Um movimento... Uma contração quase imperceptível em circunstâncias normais. Minha mão foi involuntariamente para meu colar e o apertou. Continuei olhando fixamente para o corpo de Luke:

– Callie, Callie!- Mike começou a me balançar- Vamos! Eu sei que deve ser doloroso, mas não desista assim!

– Mike... – Finalmente consegui falar algo. Olhei para ele com meus olhos cheios de lágrimas- Você não entende...

Abaixei minha cabeça e voltei meu olhar para Luke. Olhei para o fundo da paisagem, percebi que era o lugar que Luke tinha me levado para fazer o piquenique. O lugar que ele mais adorava. Olhei para um lugar especifico e vi o lago onde as tartarugas nadavam alegremente, ignorando o inverno que vinha. Voltei os olhos ao corpo e pressionei fortemente minha barriga:

– Mike... Acho que... Estou grávida.