O tempo estava nublado, todavia não estava tão frio quanto na Polônia. Olhei fixamente para as nuvens, cinzas e sem forma, se aglomerando em um monte, escondendo o sol e dando ao mundo sua escuridão e tristeza inexplicável. Para mim, não estava diferente de qualquer dia desde a morte de todas as pessoas que já amei e as mais importantes de minha vida.

Olhei para frente e vi Mike tentando desesperadamente explicar para o motorista a localização de alguma casa. Segundo o que tinha me dito era a casa de uma mulher chamada Kate, no entanto não tinha certeza, afinal, não tenho prestado muita atenção no que Mike me conta. Já estava muito preocupada com meus problemas.

Depois de algum tempo chegamos ao local. Tudo que se encontrava era uma estrutura em cinzas totalmente destruída. Mike sai do carro e olha indignado para a construção. Lembrei-me de quando vi o corpo de Luke ensanguentado no chão, Mike devia estar se sentindo assim. Saio do carro e, enquanto o motorista ia embora, parei ao lado de Mike. Notei que estava ofegante. Ele então vagueia os olhos no chão e algo o chama a atenção. Ele cai e começa a escavar em meio aos escombros. Depois de algum tempo vejo que tira um pequeno e chamuscado papel rosa do chão. Ele abaixa a cabeça enquanto lê e me impede de ver sua expressão. Aproximei-me e me agachei ao seu lado. Só então que consegui perceber que estava chorando. Olho para a carta em sua mão e resolvo lê-la. O que vi tirou meu folego. Uma letra feminina que dizia:

“Pai, eu estou grávida, Kate.”

Parei por um momento e reli a carta. Só então quando parei para pensar que entendi a situação. Esse devia ser... O filho dele? Olhei preocupada para Mike. Ele tinha uma família e perdeu tudo. Assim como eu. Talvez seja por isso que tenha me ajudado tanto até agora. Mas o que poderia fazer por ele? Sei que só lhe daria mais problemas, no entanto sinto que se o deixasse agora, se ele ficasse sem ninguém, enlouqueceria. Aproximo-me de Mike e lentamente o abraço. Ele se aproxima e apoia a cabeça em meu ombro, só então se permite a chorar mais forte.

Ficamos assim por um tempo até que um homem velho de cara rabugento com olhos verdes que nos observava me chama atenção. Aproximei-me do ouvido de Mike:

– Mike- sussurrei- Tem um homem aqui nos observando.

Mike se virou e sua expressão mudou de tristeza e pesar para perplexidade, raiva e até esperança. Nós nos levantamos mesmo que Mike tenha precisado de ajuda, pois estava tremendo e cambaleante:

– Sr, Erik? O quê... O que está fazendo aqui? Kate... A Kate, ela está bem? Está viva?

– Por que você se importa? Vejo que até já deve tê-la esquecido. – Então faz um sinal para mim com um sorriso malicioso. Quase imediatamente Mike corre até ele com toda sua fúria e o pressiona contra um muro que tinha conseguido se sustentar. Fiquei impressionada com sua mudança repentina, talvez já tivesse essa raiva em seu íntimo há um bom tempo:

– Estamos só entre nós dois. Vamos resolver isso como homens. – Mike o pressiona mais forte e soca o rosto do homem. Eu tento ir até ele e convence-lo para que parasse, todavia Mike só me empurra levemente para trás com seu braço livre:

– Callie, se afaste! Vou resolver isso em um segundo. – Depois de vira para o Sr. Erik e continua – Onde está a Kate?!

– Não é obvio, seu incompetente burro?!- tentava gritar o Sr. Erik enquanto um pouco de sangue lhe descia pela boca- Ela está morta!

– Mentiroso! – Então bateu com a carta de Kate na parede próximo a cabeça de Sr. Erik- E está carta?!

– A carta é a última lembrança que terá de Kate, porque ela está morta! Junto com esse maldito bastardo!

Isso foi à gota para Mike estourar. Ele soca o Sr. Erik até ele cair no chão. Então pula em cima do homem e continua a o socar, mesmo que o velho já esteja sangrando e inconsciente:

– Mike! Pare com isso! – Corro para seu lado e o puxo. Coloco-me em sua frente e o abraço para impedir que continue – Pare. Eu sei que é difícil de acreditar, mas não vale a pena. – Então o solto e olho para seus olhos – Ele não vale seus esforços e não vale seu pesar. – Mike me olha atentamente respirando fundo. Só quando vejo seu olhar se acalmar é que abaixo o meu e seguro fortemente sua mão – Você me ajudou quando perdi minha família, agora estou aqui para você.

Mike continua me olhando por um tempo, impassível, então acalma sua tensão e se aproxima lentamente de mim e me abraça. Consigo sentir que está chorando de novo e o abraço mais forte. Ele aproxima-se de meu ouvido e sussurra com a voz rouca e ainda tensa:

– Vamos embora.