O gosto era bom. Era como sentir o sabor de nuvens de algodão doce. Juliana sentia todos os seus sentidos irem de encontro aos dele. Ela sentia o rapaz a apertar contra si e na sua mente nada parecia mais certo. O jeito com o eles pareciam magicamente ligados juntos. Como se nada no mundo pudesse ser mais certo. Mas ela sabia no fundo que estava errada. Que aquele momento era errado. Que Gabriel era a personificação do erro, e tudo aquilo era errado ao extremo.

– Não. – Ela falou ofegante afastando rapidamente Gabriel de si.

Gabriel a encarava com um olhar confuso. Era impossível identificar qual era o sentimento predominante em meio ao azul dos seus olhos.

–Por quê? – Ele perguntou quebrando silencio, mas não o contato visual.

–Por quê? Como assim por que Gabriel? Você não devia ter feito isso. – Juliana respondeu e viu ele sorrir no instante seguinte. Mas não era o costumeiro sorriso que enfeitava seus lábios. Era um sorriso diferente.

– Eu não devia ter feito isso? Acho que você nem se quer pensou em reclamar uns minutinhos atrás. – Ele falou mantendo aquele sorriso sacana no rosto e Juliana teve vontade de socá-lo.

–Não se trata disso. – Ela falou brava e ele apenas sorriu mais.

–Se trata de que então? – Gabriel tornou a falar agora um pouco mais sério. – Se você conseguir me explicar do que exatamente se trata a sua negativa, eu vou poder entender melhor.

–Você quer explicações? – Ela tornou a responder mais alto. – Então você as terá. Eu posso te dar mil e um motivos, mas vou citar alguns dos principais então. Eu sou sete anos mais velha do que você, tenho uma carreira que acabou de começar e eu não posso nem sonhar em perder. Tenho um emprego que não posso ser demitida. Tenho uma família que confia em mim e espere algo de mim. Eu tenho responsabilidades Gabriel.- Ela disse tudo em um fôlego só e no final ele a encarava de olhos arregalados, e qualquer vestígio de sorriso em seu rosto desapareceu completamente.

Juliana o devolveu o olhar, Por fora, firma, porém sentia que em todas as enumerações que havia feito, tinha se esquecido de enumerar uma única coisa. E algo lhe dizia que essa, devia ter sido a mais importante delas.

– Tudo bem. Eu deveria ter pensado que seria assim. Me desculpe. Eu não devia ter feito o que fiz e nem ter colocado tudo aquilo que você mais valoriza em risco. Mas eu só vou te dizer mais uma coisa Juliana, e depois você tem a minha palavra de que não vou mais me dirigir a você de outra forma que não seja como a minha respeitável professora.

–Gabriel, eu não quis... – Ela começou, mas ele a olhou de forma firme que a fez se calar no mesmo instante.

Não sei o que você quis. – Ele começou taxativo. – Mas entendi exatamente o que você disse. Você se preocupa com tudo aquilo que considera importante para você. Enumerou mil e uma prioridades e em nenhuma delas você colocou algo que realmente fizesse a diferença. Se você considera seu emprego e sua imagem, algo mais importante do que o seu coração, assim seja. Não vou mais gastar o seu tempo.

Dizendo isso o rapaz deu as costas e se pôs a caminho da porta da biblioteca.

– Gabriel, por favor, nós ainda não terminamos a aula. – Juliana chamou a atenção dele, mas ele apenasse limitou a continuar andando antes de dar uma resposta vaga.

– Não se preocupe professora, por hoje, nós já terminamos. – Dizendo isso, ele simplesmente passou pela porta deixando a moça entregue aos seus pensamentos.

Juliana mantinha a cabeça baixa e revisava mentalmente cada palavra do que dissera. Em sua mente, ela havia feito o que era certo, mas em seu coração, a única coisa levada em consideração eram as batidas frenéticas proporcionadas pelos lábios do rapaz indo de encontro aos seus. Parecia tão certo, mas ela sabia que era errado. Ele devia entender. Não devia ser cruel com ela. Mas quem havia sido mais cruel? Ela nem se quer havia medido suas palavras. Mas como o faria com o coração quase saindo pela boca e borboletas frenéticas revirando o seu estomago. Foi como uma espécie de auto defesa, mas naquele momento ela encarava aquilo mais como uma espécie bizarra de auto depreciação.

Gabriel andava pelos corredores com o coração a mil. Sua mente parecia uma montanha russa e a cada segundo a raiva dentro de si parecia crescer. Ele não estava zangado por ser “rejeitado”. Ele estava furioso por que no momento em que a beijou teve a certeza de que ela estava entregue a ele. Seu coração era dele. Mas no momento seguinte ele percebeu que a razão a atacou levando consigo suas esperanças. Ele estava furioso pela covardia dela e não pela recusa. Ele estava ciente de que havia sido injusto com ela. Talvez rude de mais. Mas ela não pensou assim quando o deixou de fora de qualquer coisa que pudesse ser considerada importante na vida dela. Gabriel estava furioso com ela e ainda mais consigo mesmo.

Mas que pode culpar a razão por ir contra os anseios do coração?