Uma semana. Duas semanas. Três semanas e o mesmo clima chato. Juliana mal encarava Gabriel durante as aulas e os reforços depois do horário estavam cada vez mais escassos. Nada de contato fora do profissional. Nada intimo ou amigável. Apenas uma professora e um aluno. Ela sofria com isso, porém tentava reprimir cada traço de sentimento que habitava dentro de si, e a tentava forçar sentia alguma coisa por aquele garoto que agora ela se proibia de dizer o nome. Gabriel sentia que deveria se afastar. Havia se mantido distante até o momento. Estava tentando se concentrar na matéria e fazer algo além de pensar em Juliana. Mas estava sendo de certa forma inútil. Ambos estavam beirando ao desespero assim que se lembraram de que o “baile” que eles deveriam organizar juntos estava cada vez mais próximo.

- Filha, se continuar dormindo desse jeito, vou achar que está com anemia. – A mãe de Juliana disse entrando no quarto da filha.

- Mamãe, eu não estava dormindo. Estava estudando – Juliana disse ainda deitada na cama.

- Sim, você estava estudando como um ser humano consegue vegetar assim por tanto tempo. –A mulher disse revirando os olhos e ela se encolheu.

- Pode deixar. Vou levar o Douggie para passear um pouco. – Juliana falou e a mulher sorriu largo. – Feliz agora? Vou me locomover.

Juliana chamou Douggie e logo o animal abanava a calda de forma frenética a sua frente. Ela sorriu e saiu de casa disposta a se concentrar na caminhada e esquecer que estava entre a vida e a morte. Na verdade ela não estava realmente. Mas garotas dramatizam.

- Veja Douggie. Estamos mais uma vez passeando assim, e dessa vez você nem vai esbarrar em um pirralho gostoso e o fazer parar no hospital. – Ela começou a falar baixo para o cachorro assim que notou que a praia na qual passeava não estava muito cheia àquela hora da tarde. – E depois eu não vou ter que bancar a babá e nem vou ser obrigada e dormir na casa dele e por conta disso acordar vestindo a camisa dele. Não Douggie um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. – Ela falou e o cachorro a encarou com um olhar brincalhão.

- Não me olhe assim Douggie. Não é hora de rir agora. Estou tendo uma crise existencial, você é meu amigo deveria me ajudar. – Ela falou e riu em seguida. – Não acredito que estou conversando com um cachorro. Não Douggie, não se ofenda. Nada pessoal contra você. É que digamos, eu não pareço muito normal fazendo isso. – Ela falou e se abaixou para alisar o cão. – Digamos que eu não venho agindo normalmente a bastante tempo.

- Pelo menos agora eu sei que não sou o único. – Uma voz que com certeza não veio de Douggie fez Juliana quase perder o ar.

- O que faz aqui Gabriel? – Ela perguntou na defensiva e ele riu baixo.

- Que eu me lembre a praia é publica. – Ele falou rindo mais e ela se lembrou de como odiava aquele sorriso.

Juliana deu as costas para ele, que naquele momento decidiu ignorar tudo o que havia tentando fazer nas ultimas três semanas.

- Douggie! – Ele chamou e o cachorro se virou alegre em sua direção. – O que acha de um biscoito rapaz? – Ele perguntou e Juliana retesou.

- Não faça isso garoto. – Ela falou e ele lhe enviou um olhar desafiador.

- Não fazer o que? – Ele falou levantando um pacote e biscoitos que segurava. – Isso?

A pergunta de Gabriel veio seguida de uma atitude. Ele pegou um dos biscoitos e apontou para o cachorro que apenas o encarou engraçado antes de correr desesperadamente na sua direção. Juliana sentiu a força que o animal fazia, e como a corrente estava embolada entre os seus dedos ela não conseguiu se soltar a tempo. Se viu obrigada a correr junto com o cão e assim que o animal se aproximou de Gabriel deu alguns pulinhos pegando o biscoito e rodando em volta dele em seguida fazendo ela esbarrar contra o peito do rapaz.

- Pare com isso agora Douggie. – Ela urrou e o animal se sentou em seguida como se fosse realmente inocente.

- Me solte. – Ela gritou pra Gabriel tentando se soltar dele, mas a corrente do cachorro os prendia,

- Não sei se percebeu, mas a culpa foi do Douggie. – Ele falou tentando ficar serio, mas achando a careta de raiva dela muito engraçada.

- Ele não teria feito isso se você não tivesse provocado ele com biscoitinhos. – Ela levantou o rosto para falar encarando os olhos do rapaz. Seu primeiro erro.

- Ele não teria vindo correndo buscar, se você desse comida a ele. – Ele falou abaixando o rosto para devolver o olhar ameaçador a ela. O segundo erro.

- Fique longe de mim. – Ela falou entre dentes e ele riu de leve.

- É isso mesmo que você quer? – Ele perguntou baixinho próximo ao ouvido dela. Ela assentiu devagar, tentando controlar as batidas frenéticas do seu coração descompassado. – Então me obrigue a fazer isso. – Ele falou e ela pôs as mãos espalmadas no peito dele. – E esse foi o terceiro e ultimo erro dos dois.

Assim que ela fez isso, ele direcionou o olhar a ela. Ela fechou as mãos contra o tecido fino que os separava em uma ultima tentativa de resistir. Desistiu assim que sentiu os dedos dele se fecharem no emaranhado de fios do seu cabelo e sua outra mão a segurar firme pela cintura. Era uma batalha desigual. Era o azul no marrom, duelando por poder. Mas foi uma batalha perdida. Ambos se renderam. Dessa vez ela quem tomou a atitude. Ele fechou os olhos e ela sentiu falta do calor que via neles. E na tentativa desesperada de se sentir quente outra vez ela o tocou com seus lábios. Tocou os seus lábios frios na pele quente dos lábios dele. E foi definitivo. Não tinha mais volta. O coração estava no controle. A razão havia perdido espaço.

- Eu senti tanto a sua falta. – Foi a ultima frase que saiu dos lábios dos dois antes de mais uma vez se lançarem ao amor. Era uma praia. O sol estava se pondo. Era o cenário perfeito, para o amor imperfeito deles. \"\"