-Mamãe?

-Mas é claro._A mulher revirou os olhos._Meu filho esta no hospital e ninguém tem a decência de me avisar. Por que não me ligou?

-Não se preocupe senhora Sant’Anna, o Miguel já está sendo atendido._Juliana interferiu e se arrependeu assim que viu o olhar furioso da mulher sobre si.

-Não sei por que, mas toda vez que encontro com você, um dos meus filhos está machucado... Preciso dizer que isso me incomoda?

Juliana a encarou perplexa e Gabriel arregalou os olhos já prevendo o que viria.

-Vou relevar suas palavras senhora Sant’Anna, já que posso imaginar o tamanho da sua preocupação com seu filho._Ela disse olhando seriamente para a mais velha._Mande noticias do Miguel, Gabriel.

Ao dizer isso Juliana passou por eles em direção a porta, deixando os outros três para trás com expressões diferentes.

-Posso saber o motivo disso mamãe?_Gabriel perguntou encarando a mãe com um misto de confusão e descrença._Ela só estava tentando ajudar.

-Está defendendo ela Gabriel?_a mulher disse com um drama exagerado na voz.

-Não seja dramática Marieta, seu ciúmes não justificam sua falta de educação com a moça._ Carlos Sant’Anna repreendeu a mulher que o olhou com cara de poucos amigos.

-Não estou com ciúmes de ninguém..._ela disse e Gabriel a olhou descrente.

-Ciúmes? Como assim ciúmes?_O rapaz perguntou e viu o pai sorrir largamente.

-Não entendeu ainda Gabriel?_Ele perguntou aumentando a risada ainda mais._Sua mãe está com ciúmes de como essa moça fica bem com você, e de como você parece confortável ao lado dela. Imagina se agora ela ganha o Miguel também. Sua mãe esta simplesmente com medo de aceitar que vocês estão crescendo.

Gabriel olhou para a mãe por uns instantes e sorriu para si mesmo. O pai o olhava com cara de obvio, e ainda segurava a risada.

-Não se preocupe mamãe, a tampinha nunca vai roubar seu lugar._Ele disse abraçando a mulher de lado.

-Tampinha?_Ela disse e o olhou curiosa._nenhum aluno meu costuma me colocar apelidos assim tão carinhosos.

Gabriel corou até a raiz dos cabelos e viu o pai soltar a risada que tanto escondia.

-O Miguel está com a perna quebrada em uma sala lá dentro e vocês aqui fora falando besteiras._Ele disse e até a mãe foi obrigada a sorrir. Nesse momento um homem de meia idade adentrou a sala e os olhou por alguns instantes antes de se pronunciar.

-Desculpem, mas vocês seriam a família do Miguel Sant’Anna?_Ele perguntou e viu todos assentirem._Eu arriscaria dizer, que você é irmão dele, já que se parecem bastante._Ele disse a Gabriel e esse sorriu simpático.

-E ele é realmente. Mas como ele está doutor?_Gabriel perguntou um tanto preocupado.

-Seu irmão está bem. Na verdade aos meus olhos já se parece pronto para outra._Ele disse e todos suspiraram aliviados._Mas claro que ele vai ter que esperar até retirar o gesso da perna.

-Podemos ir vê-lo?_Marieta perguntou já esperando o momento em que iria querer saber exatamente o que aconteceu com seu menino mais novo.

-Na verdade, acho que ele já está liberado. Podem conversar em casa se preferirem.

-Claro. Será melhor assim. Muito obrigado doutor._Carlos assentiu e logo foi com Gabriel até onde o medico indicou que estaria o filho mais novo.

-Papai, vamos obrigar o Miguel a fazer um regime._Gabriel disse enquanto apoiava mais uma vez o irmão nos ombros.

-Pare de reclamar cara... Parece uma garotinha chorona._Miguel reclamou e Gabriel ameaçou largá-lo sozinho._ Aposto que não tira do chão nem mesmo a tampinha.

-A meu Deus, mas um dos meus filhos..._Marieta reclamou assim que se aproximou dos três._Você também Miguel? Você também?

-Do que é que ela ta falando?_O rapaz perguntou e o pai sorriu.

-Sua mãe está na menopausa, hormônios a flor da pele._O pai respondeu e recebeu um tapa furioso da mulher.

-Cale a boca._Ela disse assim que entraram todos no carro.

A viagem correu calmamente, assim que Miguel conseguiu convencer a mãe de que foi um “acidente”, e a culpa não foi realmente dele.

-Pai, me empresta seu telefone?_Gabriel pediu assim que chegou em casa.

-O que houve com o seu?_ O homem perguntou e viu o rapaz assumir um tom engraçado de vermelho outra vez.

-Ficou no carro da Juliana._Ele sussurrou no intuito de sua mãe não ouvir.

O mais velho riu e jogou o aparelho para o filho que rapidamente discou seu próprio numero. Depois de duas tentativas alguém atendeu do outro lado.

-Alo..._A voz de Juliana soou baixa do outro lado da linha.

-Sabia que é feio atender ao telefone dos outros?_Gabriel disse e ouviu a risada dela do outro lado da linha.

-Seu troque é irritante e alto, e você estava insistindo tanto..._Ela disse e foi a vez dele sorrir.

-Eu queria me desculpar com você._Ele disse e ela demorou um pouco a responder.

-Se desculpar por quê?

-O que minha mãe fez no hospital foi ridículo._Ele disse e ela não respondeu nada.

-Papai disse que ela estava com ciúmes de nós..._Ele disse baixo e foi ela quem sorriu do outro lado.

-Ciúmes?_Ela perguntou e ouviu um “hum hum” do outro lado da linha._Por que ela ficaria com ciúmes?

-Segundo papai, é por que nós ficamos “confortáveis” juntos, e ela não quer aceitar que eu e Miguel estamos “crescendo”._Ele disse e ela poderia imaginar a careta que ele estaria fazendo.

-Não tem importância Gabriel, espero que minha resposta na tenha soado rude._Ela disse e foi ele quem sorriu agora.

-Nem se você quisesse tampinha._Ele disse e ela sorriu.

-Nos vemos amanhã?_Ela perguntou depois de uns segundos de silencio e ele assentiu.

-Claro que sim... Nos veríamos mesmo que não quiséssemos._Ele disse e foi a vez dela sorrir e assentir.

-Quer seu celular de volta?_Ela brincou e ele riu.

-Claro... Tem números importantes por aí..._ele disse e ouviu ela bufar.

-Isso significa que você se importaria se eu deletasse alguns desses contatos?

-Na verdade não...Contando que adicione seu numero logo depois.

-Feito. Nos vemos amanhã garoto.

-Nos vemos.

Gabriel desligou o telefone e ouviu uma risada alta próxima de si. Olhou para trás e notou o pai sentado na varanda sorrindo sacana para ele.

-“Contando que adicione seu numero logo depois”_Carlos disse e viu Gabriel perder a cor do rosto e em seguida adquirir um vermelho quase roxo na região das bochechas.

O rapaz correu para dentro de casa com um sorriso envergonhado no rosto.

Próximo dali uma jovem sorriu sonhadoramente segurando um telefone qualquer na mão. A foto do papel de parede lhe sorriu ingenuamente e naquele momento o sorriso dela não estava diferente.

Definitivamente, Marieta Sant’Anna começava a ter motivos para ficar com ciúmes.

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