Juliana sabia que seu estado estava mesmo preocupante. As tais borboletas deviam ainda estar tentando achar comida no seu estomago. Acordou se sentindo ainda mais ansiosa que no dia anterior. Levantou e correu para um banho, na tentativa de arrancar das próprias bochechas o rubor que já estava ali desde ontem. Onde ela estava com a cabeça quando decidiu atender ao pedido dele e de bom grado lhe dar o numero de telefone? Ela devia ter dito a ele que era sua professora e que eles não poderiam se tratar assim. Ela devia ter mostrado a ele seu verdadeiro lugar. Mas e depois que ela o fizesse quem diria a ela o que fazer? Quem a ensinaria a lidar com o que estava sentindo. Talvez ela fosse mesmo uma péssima profissional. Ou talvez fosse culpa daqueles olhos incrivelmente azuis e daquele sorriso as vezes inocente e tão encantador. Talvez fosse culpa o jeito maroto e distraído dele, ou talvez fosse culpa apenas daquele corpo escultural Mas Juliana sabia que na realidade a culpa não era somente dele. A culpa pertencia também aquele coração sacana que ela guardava dentro do peito.

Gabriel acordou sorrindo. Levantou da cama sem atrasos e se arrumou preguiçosamente. Na face exibia um sorriso brincalhão e no dentro de si sentia uma ansiedade gostosa. Nunca havia sentido tanta vontade assim de chegar logo na escola. Aquela professora havia definitivamente quebrado muitas regras de sua mente. Mas o problema maior foi que ela quebrou também as regras de seu coração. Ela o invadiu sem nem pedir licença, e agora ele sabia o quão ferrado estava. Mas ele não podia fazer mais nada. A baixinha chata que falava inglês os obrigando a entender ao menos um pouco mais a cada aula, agora o estava ensinando uma outra coisa...Talvez, só talvez, ela o estivesse ensinando a sentir. Ensinando a amar.

Ele desceu as escadas sorrindo e encontrou apenas a mãe preparando o café de todos. Sorriu ao perceber a distração da mulher e de surpresa a ergueu em um caloroso abraço.

–Que pensa que está fazendo Gabriel?_A mulher disse após um gritinho de susto e se ver colocada no chão. Pelo filho mais velho.

–Te dando Bom dia mamãe, não posso?_Ele disse ainda com um sorriso bobo no rosto.

–Acordou cedo? Está doente?_Ela perguntou se aproximando para checar a temperatura dele._Passou mal durante a noite? Tomou muito café antes de dormir? Ah meu Deus, você está sonâmbulo?

A mulher encheu o filho de perguntas e logo viu o rapaz dar uma gargalhada alta.

–Não mamãe... Eu não to’ doente, nem passei mal ontem, e você sabe que não gosto de café e muito menos ando dormindo._Ele disse e ela o encarou séria.

–Ok. Sempre tem uma outra opção, mas vou esperar mais um tempo para ter certeza..._Ela disse vagamente e ele a encarou sem entender muito.

Antes que ele pudesse perguntar, viu o pai descendo com dificuldade as escadas apoiando o filho mais novo. Miguel reclamava e o homem parecia a ponto de rolar escada a baixo com o rapaz.

–Precisando de ajuda papai?_Ele perguntou se aproximando da ponta da escada e fazendo quase com que ambos caíssem com o susto.

–Gabriel?_Miguel perguntou assim que viu o irmão._Que merda você esta fazendo acordado à uma hora dessas?

–Que eu me lembre ainda tenho que ir a escola._Ele respondeu revirando os olhos enquanto subia as escadas e auxiliava o pai com o irmão.

–Certeza de que está tudo bem?_O pai perguntou curioso._O que sua mãe acha disso? Por acaso fez xixi ou caiu da cama?

O café da manhã da família foi sem duvidas diferente. A cada dois segundos alguém fazia uma piada nova sobre um dos irmãos. As brincadeiras iam desde que agora, Gabriel seria “babá” de Miguel na escola, até que Gabriel teria feito xix na cama e por isso estaria de pé tão cedo. Mas no fundo todos já desconfiavam do verdadeiro motivo para tudo isso.

–Vai pra escola comigo hoje Miguel, ou vai andando?_Gabriel perguntou e o irmão o encarou descrente._Aaaah, é que eu me esqueci que agora você não pode mais andar sozinho._O mais velho riu e se esquivou de uma torrada lançada pelo irmão.

Já dentro do carro, os pais dos garotos riam das discussões e alfinetadas dos dois. Era visível a semelhança entre os dois rapazes, e esse talvez fosse o motivo de tanta bagunça.

–Dirija com cuidado Gabriel, não vá se matar e nem matar seu irmão._A mãe os avisou e depois de assentir o mais velho acelerou deixando para trás o casal que os observava atentamente.

–Só me diz uma coisa Gabriel..._Miguel falou e o mai velho o encarou._Qual é a sua com a professora?

Diante da pergunta do irmão Gabriel arregalou os olhos e em seguida quase perdeu a direção do veiculo por um segundo fazendo Miguel se arrepender instantaneamente da pergunta.

–Que pergunta estúpida é essa Pirralho?_Ele respondeu com uma pergunta assim que conseguiu se recuperar do susto.

–Uma pergunta simples, que seu desespero já respondeu por você._Miguel flou rindo da careta que o mais velho fez.

–Ela é minha professora, assim como sua também._El respondeu tentando parecer indiferente.

–Quer dizer que posso chamar ela de nanica, ou baixinha irritante também?_Miguel perguntou no intuito de provocar o mais velho.

–Você pode fazer muitas coisa irmão..._Gabriel o encarou furioso._Uma delas seria calar a boca e me deixa dirigir em paz para eu não ter que largar você em algum canto qualquer ai na rua, mas parece que você não ta afim também...

Miguel segurou uma gargalhada da atitude do irmão. Ele tinha certeza que aquela logo se tornaria uma história muito interessante...