Fui para casa de Stephan arrumar as malas pra viajem eu estava ansiosa para voltar pra minha terra. Desde quando eu fui pra Liverpool, eu não voltei pra Polônia. Estava com saudades. Infelizmente, eu voltei pra lá sozinha.

Nem coloquei os pés dentro de casa e Sophie veio correndo a meu encontro:

- Aniela!

- O que foi?

- Me avô foi internado. Ele está te chamando. Ele quer se... Despedir.

- Oh! Não.

Cai de joelhos na grama do jardim.

- Vamos Aniela. Seja forte.

- Eu esperei tantos anos por esse momento e ele foi tão passageiro... Por quê?

Levantei-me e entrei no carro.

- Olá. Falou a recepcionista do hospital.

- Oi, queremos visitar Stephan Jachowicz.

- Bom, pra entrar lá vocês tem que se vestir adequadamente. A enfermeira vai levar vocês até lá.

- Obrigada.

Colocamos as roupas apropriadas e entramos no quarto. Stephan estava na cama. Pálido cheio de fios e aquele barulho daquela máquina fazendo pi...pi...pi estava me deixando nervosa.

- A-Aniela. Falou com dificuldades.

- Eu estou aqui meu menino.

- Ah! Minha Aniela. Eu deveria ter te procurado. Até o fim do mundo se fosse preciso. Mais não. Eu fui fraco. Porque eu não pensei na Inglaterra? Você estava com os Masen. É lógico que eles iriam te levar junto! Desculpe-me.

- Não, não. Eu estou aqui agora. Não precisa se desculpar. Você não teve culpa. Eu é que até 5 dias atrás pensava que você estava morto. Eu deveria ter ficado na Polônia.

- Está na minha hora Aniela. Saiba que eu vou te amar pra sempre, sempre.

- Fique comigo Stephan. Não me deixe.

- Deus está me chamando Aniela. Adeus.

- Vou sentir sua falta. A cada batida do meu coração.

Ele deu um último suspiro e se foi. Dei um beijo em sua cabeça careca por conta da quimioterapia. Todos os seus filhos e Sophie estavam do lado de fora do quarto. Virei-me para eles e balancei a cabeça, negativamente. Eles começaram a chorar.

Os filhos de Stephan prepararam tudo para o funeral. Eles queriam que eu falasse algumas palavras em sua homenagem.

O pastor começou a falar:

- “Ainda que eu caminhe os vales da morte, eu não temerei, pois o Senhor está comigo, sua vara e seu cajado me confortam. Preparas uma mesa perante a mim e aos meus inimigos. Unge minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. E habitarei, por todos os dias da minha vida, na casa do Senhor por toda a eternidade.” Amém

Ele me chamou até a frente.

- Bom. Eu não vou dizer que eu estou triste. Porque dá pra notar na minha cara que eu estou. Conheci Stephan há muitos anos atrás. Em... 1939. Sim... No pior momento que tinha pra se apaixonar, principalmente um soldado Nazista como ele e uma Judia como eu. Mais o amor falou mais alto pra nós. Nenhum sentimento de vingança bobo ou uma obsessão por criar uma raça ariana atrapalhou nosso amor. Infelizmente, o destino foi cruel e nos separou. Até a semana passada eu pensava que ele estava morto. Pensei que os soldados soviéticos haviam matado ele depois que eles invadiram a Polônia. Os últimos dias que eu passei ao lado do único homem que eu amei em toda a minha vida foi o melhor de todos os meus 84 anos de vida. Stephan, meu amor. Vou sentir sua falta a cada batida que resta do meu velho coração. Eu te amei ontem, te amo hoje e te amarei pra sempre.

Terminei meu discurso e muitas pessoas estavam chorando. Inclusive eu. Depois disso, levaram-no para o cemitério para ser enterrado. Minha vontade era de morrer junto. Ele foi enterrado e eu voltei pra sua casa.

Você ainda vai pra Polônia? Perguntou-me Sophie.

- Acho que não. Não tem mais sentido eu ir sozinha. Vou votar para Liverpool amanhã.

- Você não pode fazer isto. Bom, sua neta acabou de chegar. Você não vai mais sozinha.

- Rosalie o que a senhorita faz aqui?

- Eu queria conhecer Stephan. Mais acho que cheguei tarde. Eu sinto muito vovó.

- Não sinta querida. Você quer conhecer a Polônia comigo?

- Claro! Adoraria conhecer seu país.

- Eu adoraria te levar. Eu ainda tenho duas passagens de ônibus pra lá.

- Ônibus?

- Querida, a Polônia é aqui do lado. Não precisa ir de avião.

- Ah bom...

Fomos para a rodoviária de Berlim e pegamos um ônibus para a Polônia.

Algumas horas depois, chegamos a Varsóvia. Estava muito bonita. Da última vez que eu vi, estava devastada.

- Vovó que lugar lindo!

- É bonito mesmo. Está vendo aquele prédio ali?

- Sim.

- Era lá que eu fazia ballet. E foi onde eu conheci Stephan.

- Nossa!

- Ali era a escola que eu estudava. Disse apontando para um prédio azul claro. E incrivelmente, ainda era o colégio. Só que dessa vez, tinha meninos.

- E aqui. Onde está essa casa rosa. Era a minha casa. Ela era maior que essa.

- Nossa! Quanta coisa.

-Ali era um dos campos de concentração. Tem muita gente enterrada ai querida. Agora é uma loja de conveniências.

- Credo!

Nosso passeio por Varsóvia acabou no dia seguinte. Tomamos o ônibus de volta pra Berlim e fomos nos despedir dos parentes de Stephan.

- Sophie querida. Obrigada por tudo. Quando quiser, as portas estarão abertas pra você e sua família.

- Imagina Aniela. Foi um prazer conhecê-la. Espere. Acho que meu avô gostaria que você ficasse com isso. Ele guardava escondido da minha avó.

- Uma fotografia? Eu e ele jovens... Eu lembro quando tiramos essa fotografia. E a estrelinha de Davi que eu dei a ele? Sabe onde está.

- Com ele. Ele fez questão de ser enterrado com ela no pescoço.

- Meu menino..Bom temos que ir.

- Tchau.

- Tchau!

E assim acabou a minha curta estadia em Berlim.

No caminho de volta a Liverpool, quando Rose parou de falar e dormiu, eu analisei tudo o que eu passei nos últimos dias. E cheguei a conclusão de que foram os melhores da minha vida. Como eu disse no funeral. Acho que voltei uma pessoa melhor. Menos amargurada. Antes, eu estava só esperando o chamado de Deus. A morte. Agora viveria a vida mais intensamente. Com mais alegria e disposição. A partir de agora eu realmente viveria. Passaria mais tempo com meus netos, andaria ao ar livre, iria ao cinema, quem sabe entrar para uma escola de danças? Como nos velhos tempos? Seria bom.