EndGame

Nível III. Fácil


“Não é sua culpa eu estragar tudo

Não é sua culpa que eu não sou o que você precisa

Amor, anjos como você não podem voar para o inferno comigo

Eu sou tudo o que eles disseram que eu seria”

Angels like you – Miley Cyrus

KYLO REN

— ESTÁ tudo certo no seu celular? – mamãe pergunta entre uma golada e outra. Só ela mesmo para me convencer a beber um suco que odeio.

Esse é o nosso primeiro almoço depois da minha viagem de negócios, que custou dezesseis dias de conversa com velhos obsoletos que não compreendem mais o mercado. E tudo que eu faço é olhar de dez em dez minutos para a tela do celular em busca de uma notificação específica.

— Na medida do possível. – respondo depois de um longo gole, só quero terminar esse suco logo. Já troquei o celular do trabalho há dias; por isso não liguei tanto, não era o celular pessoal.

— Eu te disse que ela era boa. – mamãe sorri orgulhosa de sua funcionária, por causa disso que não conto a verdade. – Ela é aquela menininha de Jakku, que seu pai vivia falando e que conheceu quando ela tinha doze anos.

— Han. – corrijo sua frase antes de respondê-la de fato. – A criança que ele sempre quis ter. – digo fastidioso.

— Não é verdade, querido. – não, imagine. — Você sabe que Han o ama imensamente.

Leia Organa pode ter olhos para negócios vantajosos, mas é cega em relação ao homem que ama. Muito idealismo e pouca realidade. Nunca percebeu os verdadeiros sentimentos dele sobre mim.

Boatos de que sua cegueira se estende para mim, que ela não vê o monstro que criou. Boatos mentirosos, até porque ela sabe muito bem a criatura abominável que trouxe ao mundo, foi graças a isso que nos afastamos por seis anos.

Queria impressionar eles, mostrar que também era bom nos negócios como eles. Pratiquei tudo que o meu avô me ensinou durante anos e mesmo assim eles não se importaram, a reação de sempre. A diferença, daquela vez para as outras, foi que eles ficaram com raiva dos meus atos e tudo se sucedeu em uma briga interminável que culminou em Han dizendo coisas que me machucam até hoje.

Depois desse dia decidi que quem abandonaria alguém seria eu. Meus pais foram os primeiros e os últimos a me abandonarem. Bem… Até ela decidir sumir de repente.

— Tenho que ir mais cedo hoje, infelizmente não poderei acompanhá-la de volta. – limpo minha boca e levanto da cadeira. Aproximo somente a parte superior do meu corpo para perto dela. Antes de beijar sua testa sussurro uma verdade. – Se alguém ama outra pessoa imensamente aqui, essa pessoa sou eu.

Deixo em aberto quem seria a outra pessoa. Porque no fundo, mesmo depois de toda verdade ser jogada no meu rosto e ferir o meu ego e o meu amor, eu ainda o amo imensamente e faz oito longos anos que não consigo matar o meu amor pelo meu progenitor. E eu odeio tanto amar uma pessoa que não corresponde os meus sentimentos e que talvez nunca tenha correspondido.

Respiro fundo ao vê-la caminhando em direção a mesa. Não a perdoei completamente ainda, porém, suspeito que estou a um passo de perdoar. Tem algo estranho nessa história e creio que Korr não seja de todo culpada.

— Petulante. – cumprimento com um movimento de cabeça.

— Egocêntrico. – afasto da mesa e caminho para o estacionamento.

Logo chego à frente do bistrô e espero o carro. Mamãe cismou em vir aqui hoje, um local pequeno em um bairro distante da empresa dela. Se fossemos no restaurante de sempre, poderia ter ficado mais tempo com ela e ter seguido nosso cronograma diário e levá-la de volta para sua empresa. Só que não, ela quis porque quis vir aqui hoje. E sequer explicou o porquê. Mas o que ela não pede tranquilamente, que eu não faça obedientemente?

O manobrista para o SUV da empresa concorrente de Han. Um belo jeito de mandar uma mensagem a ele, pelo menos julgo assim. Não consigo evitar o sorrisinho debochado toda vez que entro no carro e imagino Han se roendo. Agora sim dou motivos para seus sentimentos.

Antes de dar partida no carro, olho novamente o celular em busca da notificação que espero há duas tortuosas semanas. Nada, de novo. Antes de dar partida no carro, mando mais uma mensagem para ela.

Não sei se você soube, mas ontem a noite ganhei inúmeros duelos para chamar sua atenção, foi outra noite de vitórias consecutivas em dezesseis dias. Consegui?

Odeio reviver essa sensação de abandono.

»×«

Hux espera restar somente Phasma e eu, na sala, para tocar no tópico que ele almeja. Me distraio em menos de cinco segundos durante o seu longo e tedioso monólogo sobre os seus desejos e realizações. Nunca vai direto ao ponto.

Como se não bastasse a existência de um monólogo longo de Hux, e ele em si, e o fato do festival/evento comemorando o dia da empresa ser adiada para fevereiro. Exatamente hoje faz dezesseis dias desde que o último contato aconteceu. Coincidentemente foi no dia que logaram a minha conta em um dispositivo que não autorizei. O rato que entrou deve utilizar algum aplicativo para burlar a fase de autorização.

Por um tempo questionei se seria Somente Rey. Mas eu a conheço há nove anos e sabemos coisas um sobre o outro que ninguém mais sabe. Eu a conheço melhor do que ninguém, sei que ela nunca hackearia a minha conta. Rey é bondosa e puritana demais para isso, passaria dias remoendo seu erro e em algum momento contaria tudo para mim. E como todo bom idiota, eu a perdoaria sem pensar duas vezes.

Creio que tenha sido um dos ratos do esquadrão dela. Caso não seja, a pessoa não conseguirá fazer isso novamente. Lançaremos uma atualização visando proteger ainda mais o acesso ao jogo.

Agora se o hacker disse algo a esse ser nefasto, que duela comigo impiedosamente todas as noites e é alguém inestimável para mim, e por isso o monstrinho sumiu, ou se foi hackeada também; irei até o inferno atrás desse hacker. Ninguém ataca alguém importante para mim e sai impune.

Seguindo a pressuposição nojenta de não ser nada disto e ela só tenha se afastado. Algo que no décimo dia passei a crer ser este o fato. Terei que agir como o lobo faminto dos negócios e medidas serão tomadas. E não seria a primeira vez que faço algo para ela.

Necessito arremessar no mar uma isca para atrair meu tubarão favorito. Tenho que atrair sua atenção para o jogo e assim para as nossas conversas diárias. Já não aguento mais reviver aquela sensação sufocante na garganta e a ardência nos olhos. Não queria sentir e não consigo evitar sentir.

— Novamente volto a citar este tópico aparentemente corriqueiro, mas necessitamos de uma resposta para o pessoal do marketing e de uma nova sede. – Hux tenta a todo custo me apressar a fazer a sua vontade e fazer com que eu pareça incompetente. Não é assim que o rio flui; para ele, porque para mim é.

— Ontem fui ver o local que você colocou na lista semana passada, aquele perto de um centro comercial.

— Foi? E? Não é um bom lugar?

— Fui, e é um ótimo lugar para lavagem de dinheiro e não construir uma sede de uma empresa multimilionária.

— E lá vamos nós. – Phasma bufa impaciente.

— De todas as empresas que já estive envolvido, esta é a mais perdida ultimamente. E isso é praticamente uma ofensa, levando em consideração que meu avô fundou a empresa e criou o jogo que mais rende dinheiro. Sou o maior acionista e, praticamente, dono. Vocês pegaram tudo de mão beijada, ganham rios de dinheiro e, praticamente, desperdiçam tudo.

— Escolhemos aquele lugar justamente por causa deste jogo e dos outros, iremos utilizar o local para atrair a atenção dos jovens que frequentam aquele local.

— A pessoa mais jovem que vi lá deveria ter por volta dos trinta e quatro anos. É um centro voltado para idosos e adultos acima de trinta anos, vocês ao menos fizeram uma pesquisa? Ou eu fui à pesquisa de campo de vocês?

— Foi uma votação de um dos setores, acreditávamos que eles tivessem feito essa pesquisa. – como esperado, Hux tira o dele da reta.

— Sobre o Marketing, já dei minha opinião, tem que ser algo que remeta aos jogadores. 90% do nosso Marketing são para atrair jogadores, não fazemos quase nada para agradar o que já temos e com isso perdemos uma quantidade considerável de jogadores. Estamos perdendo mais do que ganhando. Já disse que necessitamos equilibrar as nossas ações em atrair mais jogadores e manter os que já temos.

— Se ao menos pegássemos alguns jogadores de elite para saber a concepção deles e montar uma votação para os outros jogadores, o seus tão amados novos jogadores, Hux, e os seus tão estimados jogadores antigos, Ren, saberíamos o que fazer. Mas qualquer ideia de votação foi excluída por esse gabinete. – Phasma e sua cisma com votações surgem pela primeira vez no dia. – Vocês só complicam o meu trabalho e o do Marketing. Eu preciso resolver problemas sobre a jogabilidade e vocês não estão nem aí sobre que personagem fazer para a grande atualização. Nós três estamos perdidos, tá bom? – e nós conseguimos o estouro do mês da Phasma. – Hux só sabe reclamar e reclamar, tanto aqui quanto no jogo. Kylo passa metade do tempo trabalhando e a outra metade conversando com Somente Rey. E eu só me ferro atrás de um jeito de criar a droga desse personagem e seguir adiante com o projeto. Sou ignorada por causa de Marketing e sede. Se os dondocos tiverem alguma ideia de personagem que não envolva Marketing, sede, trabalho e Somente Rey; eu agradeço.

O silêncio que se sucede alimenta a escuridão em mim. A ideia surge como um sussurro tentador e, como todo bom pecador, eu me deleito. Phasma poderá socar todas as canetas desta sala na minha garganta, porém, irei arriscar mesmo assim.

— Iremos chamar o top cinco de jogadores da Resistência e dos Militares. – bato o martelo e esmago todos os meus problemas. – Faremos uma série de marketing com eles, mostrando o rosto dos nossos maiores consumidores e apoiadores. Nada de gente que não entende um terço do que é o jogo. Usaremos eles como modelos de corpo e face para os personagens do modo história, porque eles literalmente são o nosso padrão de jogadores. São os exemplos e a meta do nosso público alvo. Estão praticamente no hall das lendas.

Somente Rey é um tipo peculiar de musa, uma musa de jogabilidade e desenvolvimento de jogos e propostas. Um tipo de mascote da sorte que me dá inteligência e respostas rápidas para problemas crescentes.

— E como entraremos em contato com eles? – Phasma é a única a esboçar uma reação aceitável, o que já era esperado por mim.

— Possuímos o e-mail deles no nosso sistema, também podemos entrar em contato via chat.

— Eles podem pensar que é mentira. – Hux logo trata de achar um empecilho.

— Por isso a opção de entrar em contato com uma notificação do sistema Padmé no chat deles. O apropriado seria usar tanto o e-mail como o chat, para não haver margem para dúvidas.

— E quem diz que eles irão aceitar? – fecho as mãos em punho com a sua insistência em querer destruir meus planos.

— Temos três quinto do top cinco dos militares nesta sala, os outros dois estão em algum lugar deste prédio. A Resistência não irá nos dar o prazer de negar, isto é um fato inegável.

— Kylo tem razão, isso também pode melhorar nossa imagem. – Phasma bate a mão na mesa. – Sem falar que o nosso melhor marketing, e ação, foi quando fizemos o campeonato para um novo membro de desenvolvedor.

— O traidor. – sorrio prepotente para Hux. Phasma é a única, tirando eu, que realmente possui cérebro e o utiliza nesta sala. – Ele faz parte do top cinco e pertence ao grupo que está em primeiro lugar no top cinco da Resistência. Está aí mais um jeito de fazer contato com eles, Hux.

— E o que fazemos? Somente marketing? Por favor, Ren, dinheiro jogado fora.

— Não será um simples marketing para o jogo e a atualização. Será mais e creio que isto já não é comigo.

— E com quem seria?

— Aí já é comigo. – Phasma ergue da cadeira confiante. – Como todos sabem a equipe de desenvolvimento criou um novo tipo de jogabilidade, onde o jogador poderá jogar, online e offline, uma história criada por nós. O problema encontra-se em achar rostos para os personagens, algo que os jogadores já possuem familiaridade e com isso interesse. Primeiro cogitamos em desenvolver tendo em base votação com os jogadores e a nossa equipe, depois levamos em conta o perfil que os jogadores mais utilizam, como cabelo e acessórios; mas seria mais trabalhoso e iríamos gastar muito dinheiro ao criar um setor só para isso e a utilização de computadores está fora de questão devido ao Snoke. – outro problema na minha vida, Snoke. – Ren conseguiu achar a saída ideal. Como já trabalhamos aqui, recebemos um bônus e podemos pagar, o que? Uns vinte mil por pessoa no grupo da resistência, algo que pagaríamos somente uma vez durante todo o processo.

— Cinco vezes vinte é cem mil. – Hux reluta em aceitar sua derrota. – E dez são duzentos mil.

— Bem menor considerando que a criação e sustentação de um novo setor, com mais de cinco pessoas e equipamentos, custaria mais ao decorrer de o que? No mínimo um ou dois anos até terminar. Sem falar que o valor iria se misturar ainda com o setor de Marketing, por isso vinte mil. Continuaríamos no lucro.

— Se levarmos em consideração o marketing e o contrato de exclusividade, botamos mais cinco mil por pessoa. Fica uns duzentos e vinte e cinco mil tudo, até o final. O bônus do nosso pessoal pode ser de dez mil contando com o dinheiro marketing. Continuamos saindo no lucro.

— Iremos usar o nosso pessoal, não teremos que perder tempo e dinheiro caçando pessoas que saibam fazer algo que o meu setor já sabe. Eles conseguem criar personagens com base na fisionomia de uma pessoa, é o requisito básico que peço ao meu setor. – Phasma volta a sentar. – Temos a faca e o pão, por favor, não enfiei tudo no cu de vocês.

— Só precisamos votar. – encaro Hux em busca de mais empecilhos.

— E se eles não quiserem? – nunca falha em criar barreiras.

— Eles vão querer.

— Como você sabe?

— Porque eu tenho tudo que eu quero.

— Isso não me convenceu.

— Quem tem dinheiro, tem tudo. – respondo convicto das minhas palavras, não será a primeira e nem a última vez que isso acontece.

— Você deveria parar de responder assim e elaborar mais as suas respostas.

— Eu elaboro as minhas respostas, só não sinto vontade de elaborar com você.

— Se um deles aceitar, todos aceitam. – Phasma grita a resposta no meio da nossa leve discussão. – Só precisamos escolher o alvo.

— Que tal Somente Rey? – suspeito que respondi rápido demais.

— O seu inimigo?

— A sua inimiga?

Rey abre margens para situações assim, de discussões acaloradas. Fico em silêncio e deixo eles brigarem mais uma vez sobre ela. São anos conversando com ela, especificamente nove anos e dez meses, óbvio que saberia se é ela ou ele. Mas Phasma e Hux não sabem e vivem discutindo sobre o fato de que uma mulher consegue ser a número um.

— Iremos atrás dela. – Phasma não esconde a felicidade, é a primeira vez que digo algo sobre ela. Não gosto de falar dela com eles, não importa se é sobre seu gênero ou o que gosta, é algo entre nós dois e eles não estão inclusos.

— O traidor é do time dela, não seria melhor usá-lo para atraí-los? – não é que o apelido que dei a Finn pegou.

— Ela é o símbolo deles, a líder, você seguiria um símbolo ou alguém como você?

— Claramente seguiria alguém como eu. – Hux revida soberbo.

Phasma aponta com o dedo para mim, já prevendo o início de uma outra briga e cortando a minha bela resposta – seres patéticos costumam se seguir mesmo. Dormirei com a resposta perdida amargando em minha boca e borbulhando no meu estômago. O gosto de ignorar isso e seguir em frente é azedo como fruta podre quente no sol escaldante do deserto.

— Você segue o líder não? – responde impaciente. Hux, como todas as vezes, fica com aquela expressão raivosa mal camuflada. É como um cachorro que late, mas não morde. – Não se segue outro soldado ou qualquer ordem que ele dê, se segue o líder e as ordens dele.

— Kylo está certo.

— Se revisarmos tudo e a conta fechar, fazemos. – ameno a impaciência, e raiva, em minha voz. – E sabemos que irá fechar.

— Porque você sempre consegue o que quer. – Hux desdenha revirando os olhos.

— Exato. – aponto para ele somente para irritá-lo ainda mais. – Vocês têm até às onze da noite de hoje para me enviarem tudo sobre o projeto e eu irei levar a Snoke para ver se ele aprova.

— Eu posso levar para ele. O último projeto que levei, ele aceitou sem pensar duas vezes.

— Em compensação levou três semanas.

— E o que que tem? – não aguento mais uma semana.

— Tenho uma vida muito corrida para esperar uma semana e Phasma necessita da resposta o mais rápido possível. A papelada até as onze de hoje. – soco duas vezes a mesa ao me levantar. – Nem uma hora a mais, nem uma hora a menos.

— Phasma faça o levantamento e me mande as contas. Tentarei equilibrar tudo com o Marketing e elaborar as papeladas de uma forma direta e compreensível. – viu, todos fazem o que quero.

Saio da sala sorrindo prepotente. Ganhar por si só já é magnífico e satisfatório, ganhar do Hux em qualquer coisa é transcendental. Suas expressões são impagáveis e sua raiva alimenta a minha diversão. O sabor da vitória é o mesmo que o meu bolo preferido, aquele que só a minha avó sabia fazer.

Pego o celular no bolso do meu blazer, meu coração acelera com a notificação do chat do jogo. Agilizo meus passos ao ponto de cruzar a recepção em menos de trinta segundos. Finalmente ela volto.

Bato a porta assim que entro, respiro fundo quatro vezes antes de abrir correndo o aplicativo. Ela deve ter ficado doente, catapora talvez, e com certeza está se sentindo mal por não ter entrado e avisado os seus amigos, ela é tão fiel e preocupada. Posso perguntar à mamãe remédios ou coisas caseiras que podem ajudá-la a melhorar rápido, fazemos isso praticamente há nove anos. Cuidamos um do outro com zelo e carinho.

Toda a minha felicidade se esvai em um segundo. É a porcaria da miséria do Hux! Eu acabei de falar com ele! Para que enviar mensagem no jogo? Ele tem a porcaria do meu numero do trabalho!

Mordo meu dedo, o verme laranja sabe muito bem quando voltaria da viagem. Para que perguntar? Para que me dar esperança de ser ela? Qual a necessidade disto?

Entro no chat dela, onde só há mensagens minhas, e, sendo extremamente impulsivo, mando outra mensagem para Somente Rey.

Volto a perguntar, lhe fiz algo? Foi ameaçada? Se for a segunda alternativa, me informe rapidamente, posso dar um jeito de ajudá-la. Só desejo lhe ajudar da melhor forma possível.

É a vigésima oitava mensagem que envio a ela. Em todas as vezes pensava a mesma coisa: O que eu fiz de errado para ela se afastar? Teria Somente Rey percebido algo que Han viu em mim desde que nasci? Como faço para mudar sua concepção?

Devo ser um tipo de monstro horrendo para ser abandonado com tanta facilidade. Mal sei como tenho Tai e mamãe do meu lado, gostaria de saber para poder fazer de novo esse milagre com Rey, para que ela fique na minha vida por longos anos.

Jogo o celular na mesa e caio exausto na cadeira. Massageio minha têmpora para aliviar a enxaqueca que costumo ter no pós-viagem. Esse combo de Rey e viagem está acabando comigo.

Eu não sei mais o que fazer, esse plano envolvendo o jogo é a minha última esperança. Não faço a menor ideia de como viver sem a pessoa que mais me apoiou no pior momento da minha vida. Se não fosse Rey, não teria conseguido emergir da escuridão que me encontrava há nove anos. Ela é o pulsar de luz em um mar sombrio, a luz de esperança.

Sentado, desleixadamente, pressiono os lábios devido a enxurrada de pensamentos. Estremeço só de cogitar reviver mais uma vez aquele momento com Han e perdê-la para sempre. Mesmo morrendo de medo e pavor dela me abandonar como Han, ainda assim, prefiro manter essa linha de pensamentos para afastar a possibilidade de algo ruim ter acontecido com ela. Prefiro ela afastada viva do que morta ou machucada.

É muito peculiar a forma como lentamente ela cavou um buraco para dentro de mim e atravessou com agilidade e astúcia a muralha que levantei para me proteger. Ela é a luz ao qual está patética mariposa circula ao redor hipnotizado.

No começo éramos só inimigos conversando e implicando. Durante um ano ficamos assim e era a minha maior interação social, nem com a minha namorada da época cheguei a conversar tanto assim. Às vezes ela deixava soltar coisas com as quais eu me via enfrentando e lidando internamente, como o pensamento de que o meu maior inimigo sou eu e a sensação de ser um impostor na minha vida. Éramos tão idênticos, não tinha como não me identificar com ela. Depois viramos amigos, quando ela foi a única a me apoiar, a dar conselhos e me incentivar a continuar a existir e ter propósitos. E por fim viramos isto, só isto, e é algo tão bom que nunca tive na vida, era a minha única felicidade nos tempos sombrios.

Kandia bate duas vezes na porta antes de entrar. Todos julgam que temos um caso, simplesmente por ela ser uma mulher belíssima. Mal sabem eles o monstro cuspidor que me acompanha diariamente. Se um dia eu morrer de forma horrenda e aparentemente dolorosa, foi Tishra Kandia quem me matou. Uma ótima secretária e assistente, mas possivelmente maluca. Até porque para trabalhar para mim precisa desse requisito básico, além é claro de uma ficha suja e Kandia possui os dois e tem orgulho disso.

Endireito a postura e afogo dentro de mim a minha preocupação com ela. Prometi, a mim, que quando o assunto fosse trabalho, focaria completamente nele e pararia de pensar nela vinte quatro horas por dia. Ligo o computador e espero Kandia começar a longa lista dos afazeres da tarde. Pego o celular na mesa e refaço a ação que venho tendo todo dia com frequência, abro o chat dela.

Irei trabalhar, mas manterei o celular perto de mim para o caso de você voltar.

Se algo aconteceu e você necessita de ajuda, meu número é 9|

Arquejo quando noto o que estou fazendo. Mantenho meu olhar fixo no traço que pisca na tela do celular. É um grande passo dar o número do meu celular pessoal, não seria sequer o número do trabalho – ao qual todos possuem e me incomodam por lá.

Literalmente só quatro pessoas possuem o meu número; meu melhor amigo e sua esposa, Korr Sella e mamãe. Korr e Voe só possuem o número para o caso de algo acontecer com mamãe e Tai. Nem minhas ex-namoradas tinham o meu número pessoal. Eu aprendi a separar as coisas.

Não é simplesmente dar o número, é algo raro e importante para mim. É inseri-la no meu círculo íntimo, na minha vida de vez, é um claro sinal de que ela permanecera muitos anos na minha vida, é torná-la alguém importante para mim, alguém inestimável que me preocupo; é ter vontade de falar com ela todo santo dia e não me incomodar – se bem que já fazemos isso, só aumentaremos ainda mais a frequência –, não que seja algo que não fazemos, porque fazemos e fazemos muito; e é, caso necessite de mim, estar na sua vida para tudo e ser fiel até o final da minha vida. Eu já sinto tudo isso por ela, mas virtualmente. Enviar o número é trazer para a vida física e real. É tornar tudo mais concreto e irreparável. É um grande passo e depois disto não terá mais volta, estarei trazendo ela para 100% da minha vida.

— Senhor, posso começar? – Kandia me traz de volta ao foco, trabalho.

— Pode. – digito rapidamente meu número e envio a mensagem. Só formalizei o inevitável e o que já existia.

— Primeiro iremos para a reunião das 13:30 com os donos da empresa indie Fett. Em seguida voltaremos para nos preparar para a reunião às 16:00 com os acionistas, o tópico é o corte de verbas, lançamentos e modificações nos principais jogos do ano. Às 18:30 teremos reunião com os investidores de Naboo. E por fim a reunião com o Snoke às oito e ponto sobre rendimentos mensais e anual e possíveis modificações. Após a reunião iremos organizar a rotina de amanhã.

Hoje é um daqueles dias que odeio, que cada segundo é insuportável, simplesmente porque tenho que lidar com aquele velho insuportável que assumiu a parte do antigo sócio do meu avô.

Se bem que Snoke é nada perto do Palpatine, aquele velho me enervava só por estar na mesma sala que eu, respirando o mesmo oxigênio que eu.

— Que comecemos o dia.

Que comecemos a minha rotina e com ela a normalidade voltando para a minha vida. Não é possível que Rey fique presente o dia todo.

«« 13:30 – 14:40 »»

Saio da sala de reunião satisfeito com o negócio vantajoso que fechei, ganharemos mais de meio milhão por ano e tudo que fiz foi comprar mais uma empresa indie. Herdei o bom faro de mamãe. É inegável, por mais que eu tente e me esforce, que também puxei o dom de Han em levar as pessoas na conversa. Por mais que goste, não costumo me vangloriar disto, até porque me lembra dele e que eu sou o seu maior erro.

Tiro o celular do paletó e quebro a cara; zero mensagem, sequer no Whatsapp, e zero ligação. Faço de novo a ação de abrir o aplicativo e em seguida o seu chat.

Já lhe falei que viajei durante esses 16 dias? Fui a um local belo, com florestas com árvores enormes e todo tipo de planta estranha, que você tanto ama, e flores extremamente belas.

Se você voltar, prometo comprar uma dessas coisas e fazer de tudo para elas viverem mais de duas semanas comigo.

Encaminho as fotos das plantas e flores – isso é outra coisa que fiz por ela. Praticamente criei a função de enviar fotos no chat, somente para lhe enviar fotos da minha nonagésima planta morta. O que me rendeu o apelido de Exterminador da natureza e tive que ler “Hasta La vista, baby” cada vez que nos despedíamos durante um ano e meio. Porque é isso que Rey faz comigo após criar algo somente para ela – claro que ela não sabe que foi eu que fiz para ela. Ela é assim, uma chuva que destrói e reconstrói tudo com facilidade e eu sou somente a natureza se banhando do seus gracejos.

«« 15:40 – 16:00 »»

A cada papel que pego para revisar, é uma olhada no celular. A cada vibração do celular, outra, em uma escala bem maior, acontece em mim.

É a primeira vez que fico frustrado com uma mensagem da minha mãe. Me divido entre ler a mensagem de mamãe, revisar os dados abordados na reunião e pensar desejoso, repetidas vezes, que Rey volte logo e volte bem.

Respondo à mamãe sobre o local do almoço de amanhã e aproveito para enviar outra mensagem a Rey.

— O senhor está me ouvindo? – Kandia pergunta temerosa e por impulso mando a mensagem sem ler.

— Uhum. – releio a mensagem que enviei.

Seu sumiço é ocasionado pela nossa última conversa? Passei algum limite ao dizer que não sabia de nenhum embate seu e que você estava perdendo o jeito? Pois saiba que somente estava provocando-a, a verdade é que procuro por qualquer notícia sua; não de forma Starlker ou psicopata, e sim de admirador e amigável. Por mais que você suspeite que eu seja o próximo grande serial killer da nação, eu sou só um cara comum qu

Eu me importo com você, me desculpe se a machuquei de alguma forma. Por favor, aceite o perdão deste grande idiota.”

Droga, deixei o “qu” da frase sentimental – em excesso – que apaguei. Porém, é uma boa linha de pensamento e mensagem. Meu deslize pode passar despercebido, como um erro de digitação. Talvez ela nem perceba, estamos falando de Rey. Ela com toda a certeza, deste universo, irá perceber meu deslize.

— Merda! – Kandia aperta os lábios, mas consegui ver o seu sorrisinho contente. – Continue falando senhora Kandia.

Ah, ela odeia ser chamada de senhora. Como um bom chefe sempre a chamo assim em momentos como esse.

— Uhum. – seu dedo ergue-se pedindo um segundo, um segundo para ela rir internamente de mim e do meu flagelo. Respirando fundo ela continua, como se nada tivesse acontecido. – Como eu estava falando, o setor de desenvolvimento de software vem apresentando.

Em segundos já estou divagando entre dois assuntos e um deles é novamente a desnaturada da Rey. Essa será a última mensagem do dia. Já bati a cota de mensagens por hoje e vergonhas originadas pelo seu sumiço.

«« 16:00 – 18:20 »»

É a primeira vez que ela não está aqui antes de uma reunião com os acionistas, estranhamente não estou ansioso ou nervoso como ficava antes dela surgir na minha vida. Creio que a insegurança gritante que tinha, de nunca ser o equivalente ao meu avô na concepção dos outros aos poucos, foi morrendo por meio de nossas conversas e dessa conexão única que surgiu entre nós. Ela mal sabia que era algo tão importante assim para mim, antes de sumir.

Nós nunca comentamos sobre o que trabalhamos, mas sempre conversamos sobre o nosso dia no trabalho, o que vinha nos irritando, os problemas que surgiam, fofocas, que ela tanto ama saber; e nossas vitórias. Ela nunca estava saudável ou com um clima leve no trabalho, devido um verme que ficava em seu pé. Eu ofereci ajuda, um meio de destruir a vida dele e torná-la dolorosa, mas ela negou – Rey é boa. Me preocupo com o fato de que o trabalho a deixa menos como o sol radiante que ela é, externei isso a ela e espero que o seu afastamento não envolva algo ruim no trabalho. Se for, a ajudarei, com prazer, a fechar o local e destruir os responsáveis pela sua dor. Não restará nem o pó do chefe desgraçado dela.

Talvez eu tenha sido invasivo. Novamente, perdão. É só que você é uma parte de mim, praticamente, e a melhor coisa nos meus dias. Você, minha estimada inimiga, e eu, seu grande e magnânimo inimigo, somos um tipo doido e único de díade.

Enviou uma única mensagem antes de entrar para a reunião. Sinto saudades de ler o seu “Boa sorte” antes das reuniões.

O que exatamente eu fiz de errado? Como evito ser uma decepção para aqueles que possuo sentimentos? Como não ser um erro ambulante e consciente?

«« 18:20 – 20:00 »»

— Mais alguma coisa?

Meu coração acelera consideravelmente antes de continuar e dizer a nossa nova ação. Toco na ponta do meu dedinho com o meu dedão. É a última coisa que falta mencionar.

— Temos um projeto em andamento, sairemos no lucro e contribuirá para aumentar o rendimento. – me esforço para ser o mais indiferente que posso.

— Onde estão os papéis?

— Trarei amanhã de manhã para o senhor.

— De praxes, agindo impulsivamente e dizendo tudo precipitadamente.

— Só estou lhe avisando que levarei amanhã a papelada.

— Quando irá aprender que é só uma criança desfraldada, garoto Solo? Isso aqui não é um playground de um menininho mimado. – ele sabe que odeio esse tipo de ataque, por isso solta aleatoriamente isso. – Se você veio falar aqui, deveria ter trago os papéis.

Engulo tudo que me queima para sair. Por mim, tacava o foda-se e saia, mas não é só por mim, é pelo jogo. Pelo jogo suporto tudo, até Snoke e sua mania de grandeza.

Lembro, como se tivesse acabado de acontecer, de quando o vô Anakin me contou orgulhosamente da empresa que ele fundou e do jogo que ele criou com o irmão, Obi-wan Ben Kenobi, de consideração. Ele estava feliz que o seu único neto era viciado na sua maior criação, ficou mais feliz ainda quando soube que estava fazendo faculdade de Ciências Contábeis para poder herdar o seu império e cuidar de Star Wars com o mesmo amor e zelo que ele.

— Amanhã trarei os papéis para o senhor ver. Vim avisar hoje, sem os papéis, porque o senhor… – reclamou, encheu o saco, foi insuportável e desnecessário. – me orientou a fazer isso um dia antes de levar as papeladas.

Agora ele se perdeu no próprio argumento. Prendo o sorriso vitorioso, até porque ele fica claramente furioso. Isso aconteceu há quatro anos atrás e eu esperei todo esse tempo, em silêncio e sede de vingança, para poder jogar em seu rosto o seu próprio feitiço maligno.

— Ainda possuo poder o suficiente para pô-lo em seu devido lugar, garoto. – de repente escondi muito mal a minha felicidade por derrotá-lo desta vez.

O testamento é bem claro, devo dividir com Palpatine, e posteriormente com o herdeiro dele, as ações da empresa e metade das decisões. Após a morte do Palpatine, Snoke virou o seu herdeiro e passei a tratar tudo com ele, por estar a mais tempo neste ramo e por ele ser responsável pela matriz que gerencia a Ani – a minha bela obra de arte familiar.

Há uma cláusula ao qual sonho todos dias. Não pode haver o menor sinal de falcatruas ou ataque ao nosso “inimigo”, os Jedi; nunca, em hipótese alguma, devemos prejudicar o conglomerado da minha mãe. Comprovada a violação desta cláusula, todos os direitos e ações vem para mim, o único herdeiro de Anakin Skywalker. Até hoje não sei como o meu avô convenceu Palpatine a assinar esse contrato.

— Sou dono da metade disso aqui também, o que mais quero é rendimento e esse projeto nos trará novos jogadores e manterá os que já temos. Falando na sua língua, mais dinheiro por mais tempo. Se continuarmos com rendimentos superiores aos do ano passado e triplicarmos, então seremos a empresa número um do mercado e nadando em dinheiro. – Snoke fica em silêncio por vários minutos, sustento seu olhar superior de igual para igual. – Você verá que é um bom rendimento e não custará nem o mínimo do que receberemos.

Snoke nunca se preocupou com esta empresa ou com o jogo, não como eu e os outros. Isso daqui é só uma fonte de renda boa e um jeito dele torturar o herdeiro de Anakin e continuar o legado imundo de Palpatine, o antigo Satã. Se estivesse errado, ele não viria aqui só uma vez por semana e tentaria destruir qualquer trabalho nosso e criar mil e um milhão de obstáculos. Por isso este projeto foi bem escondido e levou muito tempo para chegar no final do seu desenvolvimento.

— Você tem até amanhã às nove para me entregar a papelada.

Sabia que ele iria fazer isso, não é a primeira vez que ele nos apressa para mostrar os papéis do projeto e se não possuo, simplesmente um projeto que traria rios de dinheiro é descartado.

Aprendo com os meus erros, por isso a empresa anda para frente. Se eu não falasse hoje, não poderia fazer nada em relação ao projeto, só a papelada e correria o risco de comprometer todo o trabalho que Phasma teve. Ainda teria que esperar até daqui há três semanas e mais algumas semanas até a resposta dele para enfim começar o projeto com a verba toda disponível. Não é só para rever Rey que estou fazendo isso, também faço pelo jogo, pela empresa e pelos jogadores.

Isso é mais importante do que aparenta ser, é a finalização de um grande projeto que vinha fazendo em segredo com Phasma e Hux. Por isso ficamos e falamos deste projeto quando estamos a sós. Vai fazer dezesseis meses que vínhamos desenvolvendo o projeto, só falta essa pequena parte que decidimos hoje para ficar de um jeito que este ser não possa destruir ou por empecilhos que impediriam o “começo” do projeto. Snoke já destruiu um projeto por não ser tão detalhado quanto este, aprendi e agora estou socando este projeto perfeito goela abaixo dele.

— Ok.

— Só isso?

— Sim, senhor.

— Então sai. – Snoke não esconde o nojo na voz.

Ergo e saio como se o escritório de Snoke fosse água benta e eu um vampiro, sedento por sangue, sendo queimado vivo.

Evitando não voltar para a sala e xingar Snoke de A à Z nas sete línguas ao qual sou fluente, mando mensagem para Rey. Mesmo distante, ela aplaca a minha raiva como ninguém.

Sabe o que é díade? Óbvio que não, porque não é um tipo louco e bizarro de planta. Díade, minha cara força da natureza, é algo composto por dois elementos que formam um conjunto de dois, par. Em um sentido musical é tocar duas cordas ao mesmo tempo e soar uma bela melodia.

O que seria de mim sem a minha outra parte natureba? Possivelmente um serial killer de plantas.

Logo chego na minha sala e puxo a gravata, que arremesso para qualquer lugar do outro lado da sala. Alongo meu corpo para aliviar a rigidez e cansaço. Odeio viajar por mais de uma semana, meu corpo demora a se acostumar novamente com a minha rotina. Nossa, que raiva dessa palavra “Novamente”.

Mais um dia passou sem ela dar sinal de vida. Vendo os meus rins caso ela apareça amanhã. É mais provável um meteoro cair na terra do que Rey aparecer. Preferiria que um meteoro caísse do que ela sumisse.

Kandia entra com três pastas grossas em seus braços. Milagre conseguirem montar isso antes do tempo marcado.

— Hux ou Phasma?

— Os dois mais o pessoal do Marketing. – estalo meus dedos.

— Vamos fechar a minha agenda de amanhã para que eu possa ir para casa e revisar tudo.

»×«

— Você vai?

Uma festa onde todos me odeiam, falam mal de mim pelas costas, são falsos, me bajulam e meus tios e progenitor vai estar. É um claro não, mas nunca consegui e nunca conseguirei dizer não a ela. Então dou desculpas todas às vezes.

— Vou pensar.

— É a sua família, você não pode fugir deles para sempre.

Família não dá as costas após a pessoa não fazer o que eles querem. Se aprendi com a mesma pessoa, vó Padmé, que ela o significado de família, então mamãe e tio Luke possuem uma visão meio distorcida. Eu aprendi a separar e a dar amor só a quem merece e eles não merecem, exceto mamãe.

— Ben.

— Benção mãe. – digo isso fechando a porta de sua sala.

Mesmo evitando como um vampiro evita a luz, adoro o fato dela dar sermões em mim. É sinal que ela ainda se importa comigo, que me ama e não desistiu de mim ou nunca me amou. Não é que ela não ligasse antes, mamãe só não demonstrava que eu era a sua prioridade. Costumava dizer que o seu filho mais velho era a empresa e eu o irmão mais novo esquecido; ela odiava, mas era a verdade.

— Fuxiqueira. – cumprimento assim que passo por ela.

— Velho. – Korr responde rindo.

E assim selamos a paz no reino democrático de Leia Organa. Por algum motivo, o fato de ter trinta e três anos me torna um ancião para ela; mesmo ela tendo vinte e nove.

Caminho para o elevador a passos longos e rápidos. Só vim aqui para trazer mamãe em segurança até onde a peguei. Como de costume estudo todo o local, está tudo no padrão da normalidade, só há uma única coisa que destoa. A garota que Han protege, há anos, está novamente na recepção.

Pela primeira vez a vejo utilizando o crachá da empresa, seu nome está manchado por algum tipo peculiar de molho verde, mas consigo ler, mesmo a três passos dela, o seu nome igualmente peculiar: Fyhan. Até em seu nome há mais conexão com Han do que qualquer coisa que eu tenha feito.

Nome diferente. Até que é um nome marcante. De onde será que esse nome surgiu? Por que será que os pais escolheram esse nome? Seria um nome comum em Jakku? Se me lembro bem, Han comentou que ela foi abandonada bem jovem em um orfanato, será que foram as freiras que deram esse nome a ela? Será que, assim como eu, as feiras não gostam muito da sua pessoa e decidiram dar este nome a ela?

Não é o seu nome ou sua aparência que seja chamativo, mas ela destoa de tudo ao seu redor, principalmente das secretarias e recepcionista que andam como modelo, se vestem como modelo, possuem a beleza de uma modelo, tem nome de modelos e se comportam como uma.

A garota de Jakku anda com o cabelo marrom escuro preso em três coques, blusa claramente masculina da série Silicon Valley – Somente Rey ama essa série e me viciou nela também, até a garota de Jakku me lembra ela –, jeans surrado e tênis mais surrado ainda. Uma bagunça ambulante. Mas não posso negar que ela é adorável com seus olhos avelãs que me lembra uma raposa astuta.

Aposto que tudo na vida dela e tudo que ela toca é bagunçado, assim como Han. A garota de Jakku parece mais filha dele do que eu, tanto na aparência como no jeito. Pude perceber isso na pequena interação que tivemos no incidente do celular.

Dentre as nossas inúmeras brigas, ela foi citada algumas vezes. Cheguei a insinuar que ela era uma filha fora do casamento, ou que era amante dele, o que o deixou possesso e me rendeu um soco. Mas o que levaria um homem a agir como pai de uma desconhecida e agir como um desconhecido com o próprio filho?

Han é engraçado, assim como é hipócrita. É bem mais fácil cuidar e dar carinho afetivo ao filho dos outros, do que fazer isto com o próprio filho.

Quando almejava a atenção e o carinho dele, costumava odiá-la e invejá-la por ter tão facilmente algo que eu tinha que lutar diariamente para ter. Hoje sou indiferente a eles. Os dois não existem no meu mundo, estão mortos e enterrados.

Não nego que sinto certa insegurança de mamãe também cair de amores por ela e eu ser a segunda opção dela. Ela também é a menina que mamãe sempre sonhou em ter. Mas mamãe não é Han, ela nunca me trocava tão facilmente por outras crianças – só pelo trabalho.

Espero o elevador chegar impaciente, sua presença toca na ferida que mais odeio. Puxo meu celular do bolso após ele vibrar a cada cinco minutos durante o meu almoço, mais trabalho e mais problemas.

A única coisa que costuma aliviar a minha ferida e dias pesados decidiu sumir da face da terra. Somente Rey está se tornando uma péssima confidente e uma relação que não consigo denominar pior ainda.

— O celular está bom? – volto minha cabeça em direção a voz hesitante.

Por cima do ombro consigo ver mamãe nos observando da porta. Ela me contou que a garota trabalha neste andar e que é gentil com as gêmeas lerdas da recepção, que todo dia consegue a proeza de travar um computador – só não disse desta forma.

— Sim. – respondo puramente por educação.

— Que bom. – suas mãos mexem sem parar na bainha da blusa azul. – Eu também tenho um deste modelo. – e depois daqui não presto mais atenção. Hux encheu o meu celular de mensagens histéricas sobre Snoke e em busca de respostas sobre o projeto.

— Uhum. – respondo após ela falar uns sete tópicos um atrás do outro e sem conexão alguma.

Aposto que Han que deu o celular dela. Ele sempre consegue convencer meus tios a fazerem o que ele quer, principalmente Luke. E o tonto ainda me atacou depois que parei de falar com eles. Ingrato, foi o que o gêmeo da minha mãe me chamou às seis da manhã de um sábado. Nem se pode dormir em paz nesta família. Lando me ligou após o sermão e deu outro sermão. Muito bom ser ofendido e destroçado antes do café da manhã, experiência única que os “meus tios” me proporcionam.

— Você deveria trocar o celular, já que ele apresenta problemas.

— O problema foi gente enxerida mexendo onde não deveria. – adentro o elevador assim que ele chega.

Por algum tipo de milagre de um deus que possuo impasses, a garota de Jakku não entra no elevador. Fica estática no mesmo lugar, com a respiração ofegante e olhar de raposa sofrível.

E se foi ela que hackeou minha conta? Não, seria impossível. Teria que usar um programa, além do da empresa do celular, para isto e teria que ter o aplicativo do jogo instalado no computador e deixar o jogo aberto. Ninguém seria doido demais para fazer isso no ambiente de trabalho, é muito burrice.

Quando a porta fecha, abro o aplicativo do jogo e novamente mando mensagem para a desnaturada da Rey.

Posso deduzir que você está em um local ao qual a energia caiu? Ou que você caiu da escada? Um ou outro.

Talvez em estado catatonico.

Conheço um bom médico e talvez, não posso confirmar, conheça alguém que consegue restaurar a energia da sua casa hoje mesmo.

Mando a mensagem, começando a ficar preocupado com a possibilidade de ser algo externo e não eu. Não é normal, Rey não passa mais do que uma tarde longe do jogo. Em todo esse tempo, ela nunca esteve tão silenciosa e ausente. Nem quando ela quebrou o anelar, da mão direita, Rey ficou tanto tempo longe do jogo.

Saio do elevador no subsolo, o motorista da empresa abre a porta para mim. Como fiquei até tarde da noite acordado, quatro da madrugada, revisando a papelada e confirmando tudo, e acordei cedo, às seis, optei por chamar o motorista; até porque não conseguia me manter em pé e de olhos abertos por mais de dois minutos.

O projeto estava tudo dentro do padrão esperado, revisei mais de cinco vezes junto a Hux e Phasma. Fiquei em chamada com eles até às três, depois revisei tudo sozinho. Nunca deixo margens para dúvidas ou erros.

Snoke ficou surpreso quando fui pessoalmente até a sede dos Sith para lhe entregar o projeto às sete da manhã – cheguei antes que ele. Gosto de destruir todos os seus sonhos lúdicos de me ferrar, não há gostinho melhor do que esse.

Meu avô me ensinou perfeitamente como tirar o sorriso prepotente de Palpatine, o que se aplica com louvor em Snoke também. Dos meus quatorze, quando ele desistiu do Luke como herdeiro, aos dezoito, quando ele morreu de AVC isquêmico; meu avô me ensinou tudo que sabia do mercado e como lidar com os meus inimigos, de certa forma foi a prática disto que ocasionou na briga e no afastamento dos meus pais. Eles não aceitavam nada do que eu fazia para manter o legado de Anakin Skywalker e, de um jeito peculiar, de Padmé Amidala – a minha avó.

Quando tinha treze anos descobri que meu avô originou a minha maior fonte de felicidade, Star Wars, e o que o levou a fazer tudo. O motivo que me faz defender o jogo com unhas e dentes tem haver com o que ele me disse aos treze. A cidade, os bares que os jogadores podem frequentar, as vidraçarias das igrejas, as histórias dos personagens e todos os lugares secretos são para a minha vó. Ele criou um mundo para ela com base no que a minha avó gostava e no que eles vivenciaram juntos.

A cidade que a encantou, os bares que eles iam e os que ela ia com os filhos e comigo, a igreja simbolizando que para ele minha avó era sua religião e toda a criação, e cada lugar secreto possui um quadro dela jovem ou um deles juntos. O amor deles era tão grande e belo de se ver. Nunca entendi o porquê da separação deles, diferente dos meus pais.

Enquanto meus avós eram equilibrados, meus pais eram o fogo puro na sua forma mais crua e selvagem. Combinação perigosa que resultou em coisas perigosas. Antigamente queria amar uma mulher como o meu pai amava a minha mãe, então eles se trocaram pelo trabalho. Nem o amor deles foi mais forte que os seus preciosos trabalhos. Por alguns anos queria desesperadamente ser mais importante que o trabalho deles, desisti no momento em que eles desistiram de si. Depois da briga percebi que nunca poderia substituir algo tão estimado e amado, não quando eu era o oposto.

Acho engraçado justamente eles criticarem como eu levava a vida, ou como levo. Sou um retrato deles, mas a maioria odeia ver um quadro realístico de si. Os únicos que podiam criticar a forma que levo a vida e o meu trabalho, morreram faz anos e eu sei perfeitamente qual reação eles teriam e suas opiniões. Meus avós odiariam a forma que venho levando a minha vida e a rotina de trabalho massacrante que tenho. Minha avó teria a mesma reação que a sua filha. Mamãe odeia que passo metade da minha vida em prol da empresa e é uma criticadora ferrenha do meu estilo de vida, mas ela não percebe o quão importante essa empresa é para mim.

Eu sou CEO, herdeiro absoluto de tudo que meu avô tinha, lutei muito para ser respeitado e temido pelos outros. Meu avô criou tudo, é meu dever levar adiante a empresa dele e toda a sua homenagem a minha avó, por ela eu continuo o legado dele. Vó Padmé cuidou de mim desde que me entendo por gente. Primeiro ela ajudava o meu pai a cuidar de mim, depois passou a cuidar sozinha dos cinco até os oito, quando morreu de ataque cardíaco fulminante. Ainda sou assombrado pela tarde de sua morte, me recordo, perfeitamente bem, de deitar ao lado do corpo frígido dela achando que ela estava dormindo no chão, descansando após mais um dia de brincadeiras de verão e tardes cheias de doces.

— Senhor, chegamos. – o motorista abre a porta para mim.

— Obrigado. – coloco os óculos pretos e saio do carro.

Kandia já me espera na porta do prédio com sua agenda preta na mão direita e na esquerda mais um copo de café. Já é o quarto ou quinto café do dia, isso que vem me mantendo acordado hoje. Pego o copo, que é bem menor que os anteriores.

— Alguma notícia?

— Não senhor. – pego o papel contendo o resumo do dia, geralmente isso acontece quando há um imprevisto. – Onde eles estão me esperando?

— Na sala do senhor.

— Uhum.

Eu entreguei hoje, eu avisei, alertei que poderia demorar; e mesmo assim eles me perseguem como fantasmas, ou como crianças mimadas que não conseguiram o que tanto queriam e agora persegue os pais chorando. Minhas crianças me irritam metade do tempo.

Caminho pela empresa sendo cumprimentado e às vezes reverenciado. A empresa é um império e eu sou o imperador. Por mais que Snoke tente me afastar, me designando outras empresas para cuidar, continuo reinando no império que o meu avô criou. Tanto que meu escritório fica aqui e não na sede dos Sith – como o escritório de Snoke.

Tudo começou quando meu avô recebeu de herança da mãe, uma quantia em dinheiro considerável. Como ele queria um jeito de chamar a atenção da minha avó e render o dinheiro, ele se juntou a outro programador, Obi-wan Ben Kenobi, e juntos desenvolveram o jogo. Obi-Wan aparentemente era o único ao qual o meu avô confiava o suficiente para isto, algo que meus pais e meus tios futuramente herdariam – daí o nome que eu tinha.

Ambos procuram empresas distintas, meu avô procurou o recém formado conglomerado dos Sith. Obi-wan procurou ajuda na empresa Amidala-Organa. As duas empresas entraram em um consenso e foi assim que ele se aproximou dela e lançou o jogo. À medida que o jogo crescia, surgiam mais e mais problemas envolvendo as empresas. Meu avô conseguiu os direitos total do jogo e fundou a própria empresa, a Ani, infelizmente ele não conseguiu se livrar completamente de Palpatine. O nome da empresa é mais uma coisa para vovó, é o apelido ao qual ela o chamava. Tudo é para a minha vó.

Sobrevivemos ao tempo, conseguindo migrar com perfeição dos consoles para as plataformas online e consequentemente conseguindo equilibrar tanto os consoles quanto as plataformas online. Fluímos muito bem de um jogo que nasceu para um ou dois jogadores, para um com mais de dez jogadores em uma única partida online. A Ani está a mais tempo no mercado do que a minha mãe em vida. Poucos jogos conseguiram atravessar o tempo como a Ani, que vive se modernizando ao mercado e as demandas.

Como pego um elevador sozinho, chego rapidamente no andar dos escritórios. Adentro a minha sala e os meus monstrinhos já se encontram esparramados no sofá.

— Modos.

— O que ele disse quando você levou? – Hux empina o nariz antes de continuar. – Comigo ele disse uma data limite e que estava fazendo um ótimo trabalho. Até disse que tinha um projeto para mim.

Odeio quando Snoke me chama para “Projetos”, que consiste nele atacando outras empresas de forma suja e baixa – e eu nunca me rebaixo. Não possuo mais paciência para ser capacho dele, só faço quando necessário.

— Modos. – espero eles tirarem os pés do meu sofá vermelho e endireitar a postura antes de continuar. – Ele me chamou para um projeto, só.

Algo que não queria, mas sou obrigado a fazer para bajulá-lo e assim ter mais um ponto a favor do nosso projeto.

— Que projeto?

— Ele não disse, só avisou que na hora certa iria conversar comigo.

— E o meu projeto, que tal? – Phasma finalmente diz algo. – Ele disse qualquer coisa sobre?

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— Não.

— Algum obstáculo?

— Também não.

— Então o que aconteceu?

— Eu levei, ele pegou, disse que ia ler com cuidado e mandar a resposta pelo assistente dele, por isso creio que a resposta virá antes de uma semana.

— E agora? O que a gente faz? – é a primeira vez dela dando um projeto importante para Snoke.

— Só precisamos esperar. – batuco o lápis na mesa impaciente.

— Você acha que ele vai aceitar? Creio que se eu levasse.

— Ele ia dizer não. – interrompo o monólogo chato de Hux antes mesmo dele começar. – No entanto, criei uma atmosfera com dinheiro em abundância, então temos grandes chances de um sim.

— Quero ver o dia em que as suas mentiras não o enganarem mais. – Hux sorri prepotente.

— Não uso mentiras, uso fatos e contra fatos não há argumentos. O truque é você ser extremamente preciso e bom no que faz. – Phasma já massageia a testa. – Algo que você sonha em ser.

— Para tudo existe uma primeira vez, Ren.

E já aconteceu, mas oculto de todos o meu fracasso de quatro anos atrás – todos exceto Rey. Consegui tirar um aprendizado e dar a volta por cima e isso que importa. Mas Hux não precisa saber disso.

— Ele ao menos falou quando pretende responder nesta semana? – Phasma aperta a ponta da caneta sem parar.

— Não. – devido a raiva dele e sua gana por dinheiro, creio que não passe de dois dias. – Mas talvez responda hoje ou amanhã. Não acho que vá passar de amanhã.

Snoke é bom em farejar duas coisas: Dinheiro e erros. Observo ele há anos, sei que neste exato momento está caçando falhas e quando não achar, irá caçar o dinheiro que aquilo pode trazer e sabemos que será rios de dinheiro. Quando ele se dispõe em não ser um grande de um babaca, Snoke sabe como liderar e trazer bastante dinheiro para nós.

— E isso é bom?

— Em um projeto que já estava estruturado e só foi complementado, creio que sim.

Já era algo que estava quase finalizado, faltava literalmente uma única coisa e uma projeção de verba a ser idealizado para ser revisado e mandado a Snoke. Havia outros fatores pequenos e chatos, mas três equipes com mais de vinte pessoas, cada, conseguiram resolver tudo.

— Então só nos resta esperar. – Hux fala uma frase parecida a minha. Se não estivesse cheio de sono, continuaria implicando com ele.

— Agora saiam da minha sala que tenho trabalho a fazer. – ergo o indicador ao me recordar um fato importante. – Phasma, – a chamo pouco antes dela sair. – creio que não preciso lembrá-la sobre os vitrais da minha vó.

— Não precisa. – Phasma responde exausta. – Coloquei um monte deles escondidos dentro do padrão pré estabelecido por você.

— Ok, sumam da minha frente.

Resmungando os dois saem da sala. Quero terminar tudo logo para ir para casa e dormir. A viagem e a “noite” mal dormida não contribuíram em nada, muito pelo contrário, só me prejudicaram.

Revisei a agenda do dia após a reunião com Snoke. Se tudo ocorrer como os conformes, saio daqui às oito, almoço às nove e durmo às nove e meia. A menos, é claro, que Rey ressurja de onde está se escondendo, nesse caso viro a noite conversando com ela e amanhã estarei extremamente feliz e de bom humor.

— Senhor? – Kandia diz hesitante ao entrar na sala.

— Diga.

— Hoje tem uma reunião às 13:30 com o pessoal do marketing, às 15:00 tem a reunião final com os fornecedores do processador que o senhor e a senhora Phasma desejam, às 16:30 reunião com o pessoal da empresa Mandalorian e das 18:00 às 19:30 há uma palestra do senhor no palanque cinco sobre o avanço da empresa para este ano que está entrando e o que o senhor espera dos funcionários.

— Após isso, trinta minutos para arrumarmos a agenda de amanhã.

— Ok. – Kandia anota no tablet, ela sempre utiliza ou a agenda ou o tablet.

— Se o Snoke enviar qualquer coisa para mim após a minha partida ou quando estiver ocupado, não hesite, leve imediatamente para mim.

— Sim, senhor.

Coço meus olhos para afastar o sono. Preciso ser implacavelmente profissional e perfeito em tudo que faço. Não pode haver margens para erros.

Tenho quinze minutos antes do primeiro compromisso. Irei comer algo e então afastarei o sono com a força da minha raiva.

E lá vamos nós.

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»

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Caminho para a saída escondendo de todos que mal consigo manter o meu cérebro acordado, sou praticamente um sonâmbulo neste instante. Nem sei se terei forças para jantar, estou exausto, cansado, zumbificado.

Hoje tive um grande progresso, só mandei uma única mensagem para ela. Não manteria este milagre se não fosse apagar assim que chegasse em casa. Puxo meu celular de dentro do meu paletó, estou tão cansado para ter esperanças dela ter entrado e mandado uma mensagem. Abro o chat e nada, o novo normal ultimamente. Começo a digitar expondo-me de verdade, visto que não possuo nem forças para manter o meu autocontrole impecável e um pouco de dignidade.

“Eu só quero saber se você está bem ou viva, qualquer sinal para mim basta.

Se quiser sumir da minha vida por algum erro colossal e imperdoável meu, suma. Mas não me deixe pensando o pior, não me deixe preocupado pensando em acidentes, doenças e em tráfico internacional de pessoas. Só desejo coisas boas para você.

Atenciosamente, o idiota preocupado com você.

É estranho assumir que há outra pessoa além da minha mãe e do meu melhor amigo com quem eu me importe o suficiente para me expor. Mais estranho ainda assumir que a possibilidade dela se afastar de mim me apavora e amedronta mais do que fracassar com esta empresa.

Sendo honesto, ela é inestimável para mim. Nunca cogitei que um dia iria me preocupar com outra pessoa depois de tudo que passei. Rey é o meu começo e recomeço de momentos bons na minha vida. A decisão de voltar a conversar com mamãe surgiu de uma conversa nossa, o que me motivava no ano que me afastei dos meus pais era ela, aperfeiçoo o jogo todo ano para mantê-la instigada no jogo e com isso continuar conversando comigo. Rey desperta o melhor de mim, trás o melhor da minha vida de Ben Solo.

— Senhor. – Kandia surge do além e estende uma única pasta transparente. – O projeto foi aprovado, aqui está a pasta contendo a aprovação e algumas observações do senhor Snoke.

— Uhum. – pego a pasta transparente. Leve, o oposto das que entreguei. Devolvo para ela. – Tire uma cópia e mande para Hux e Phasma, depois leve no meu apartamento e então você está liberada.

— Sim, senhor.

Ando em direção ao carro estacionado na frente da porta giratória. Mais uma noite mal dormida à frente. Dessa semana Rey não me escapa. Estou cada vez mais perto da minha jogada final.