"Sempre escutei das pessoas que não existe amizades verdadeiras; sinto que finalmente posso desmenti-los."

Queria que eu morasse mais perto, pois estava com tanta raiva, que nem queria ir com a minha mãe de carro, mas acho que isso tinha a ver com o meu orgulho grande. Estava com uma certa raiva da mulher, mas sabia claramente que não era culpa dela.

Andei até o carro e esperei por mamãe de braços cruzados. Depois de um tempo, a ouvi chegar e abrir o carro. Logo entrei e me sentei, colocando o cinto de segurança e fechando a porta. Virei minha cabeça para o lado, me recusando a olhar ou encarar a mulher no banco do motorista.

—Escuta Hiccup, não fica bravo porque não é culpa minha.- falou, fazendo com que eu desviasse minha atenção até onde ela estava.

—Eu sei mãe, mas mesmo assim... eu odeio isso.- disse, me acalmando um pouco.

—E você acha que eu gosto de ver você passar por isso?- perguntou.

—Eu sei que não. Mas, a senhora que quis esse tipo de emprego.- respondi, já me arrependendo.

—Mas Hiccup, isso é o que eu gosto de fazer. Se você não me apoia no que eu faço, quem é que vai fazê-lo por você?- perguntou com uma pitada de mágoa. Droga! Eu sou mesmo um burro por ter falado aquilo.

—Desculpa mãe, eu não queria ter dito isso. Eu apenas estou com raiva, e quando isso acontece, eu não tenho controle sobre o que sai da minha boca. Você sabe.- digo, tocando seu ombro.- É lógico que eu te apoio, eu apenas estou cansado dessa rotina.

—Eu sei. Também me canso às vezes.- falou sorrindo fraco.- Mas pensa bem meu baixinho, você escutou meu chefe, não escutou? Essa vai ser a última vez que vamos nos mudar, então quer dizer que você não vai precisar ficar mais bravo.

—Eu já disse que eu não sou baixo.- falei sorrindo. Antes eu era menor que ela, por isso a mesma ficava caçoando de mim, pois não era normal meu tamanho com a idade que eu tinha. Mas agora eu estou maior que a mulher ao meu lado.

—Hã? Mas quem foi que disse que você é baixo mesmo?- disse sarcástica e dando risada.

—Para mãe! Eu ainda vou crescer muito mais!- gritei e ela aumentou a gargalhada, ao que a acompanhei.

Logo vi que já estávamos perto da garagem. Minha mãe apertou o botão para abrí-la, e depois entrou com o carro. Tirei meu cinto de segurança e saí do automóvel, indo em direção a porta da nossa casa. Mamãe passou a chave e abriu a porta me dando passagem. Caminhei indo em direção à escada, a fim de ir para o meu quarto.

—Ei, você não quer almoçar?- perguntou minha mãe, gritando um pouco por causa da distância em que nos encontrávamos.

—Talvez mais tarde. Bem mais tarde.- respondi no último degrau da escada.

—Tudo bem então. Só não some, viu?- falou.

Estranhei o que ela disse, já que eu não tinha planos para sair, mas logo entendi que ela só não queria que eu ficasse no meu quarto o dia todo. Fiz um joia, indicando que sim e dei de ombros andando pelo corredor. Abri a porta do meu quarto e fechei quando já estava dentro. Sentei na cama e tirei meus tênis com rapidez. Me joguei na cama de braços abertos, para logo depois virar de bruços e abraçar o travesseiro com força. Enterrei meu rosto no objeto fofo que eu estava agarrado e fechei meus olhos. Estava para me afundar nos mais profundos sonhos, quando senti meu celular vibrando em meu bolso. Senti mais umas quatro vibrações depois da primeira, antes de direcionar meu braço até minha calça para pegar o objeto. Desbloqueei o celular vendo nas notificações cinco mensagens de texto, e pela quantidade, eu já sabia de quem era.

"Ei."

"Responde logo."

"Responde logo."

"Responde logo!!"

"HICCUP!!!!"

Sorri ao ler as mensagens de minha loira preferida. Ainda bem que Astrid não estava aqui, pois se tivesse, ela teria gritado em meu ouvido por não respondê-la na hora que ela quer. Logo me vieram flashbacks dos meus momentos ao lado dela. Astrid foi minha primeira amiga nessa cidade. Confesso que eu a evitava toda vez que ela falava comigo, pois aprendi da pior maneira, que não é bom se apegar muito às pessoas, já que se muda constantemente. Mas ela não saía do meu pé, e eu já estava me acostumando com a sua presença, então, acabei me tornando amigo dela, apesar de ainda ficar receoso. Mas de qualquer forma, vi que aqui seria diferente e os dias mais duradouros, então nos apegamos rapidamente para aproveitar os momentos, sem pensar na hora em que eu teria que me mudar novamente. Era lógico que eu tinha mais amigos, mas nunca no mesmo nível.

"Hello."

Respondi e esperei ela responder também.

"Finalmente!! Cadê você?"

Me perguntou.

"Estou em casa. Hoje eu fui para o trabalho com a minha mãe."

Respondi.

"Ah, que susto. Por mim tinha acontecido alguma coisa contigo. Mas por que mesmo que você foi para o trabalho da sua mãe?"

Perguntou.

"Passa aqui em casa que eu te falo."

Respondi maldoso, sorrindo de canto.

Ela odeia quando eu faço suspense e é o que eu sempre faço. Astrid demorou um pouco para responder, provavelmente estaria quebrando o celular. Já estava quase para acreditar que era isso mesmo que aconteceu, até que meu celular vibrou.

"Ta bom. Já já estou aí."

Respondeu.

Bloqueei o celular e enterrei meu rosto novamente no travesseiro; assim fiquei pelos próximos minutos. Astrid estava demorando um pouco para chegar, o que não era seu costume. Estava para me afundar nos mais profundos sonhos, quando ouvi um grito bastante alto e estridente.

—HICCUP!!!- sorri e rodei os olhos.

Ela sempre me chamou gritando desta forma, desde o primeiro dia em que a garota veio aqui em casa. Na primeira vez, a loira gritou igual hoje, e eu expliquei que só precisava bater na porta, mas ela me respondeu com a sua grosseria de sempre, só que em dobro: "-Eu te chamo como eu quiser!" Então fazer o que, não é?

Desci as escadas sem perceber que eu estava descalço e vi minha mãe abrindo a porta, sem se importar com o grito que a loira deu segundos atrás. Mamãe nem falou que ela podia entrar e Astrid já foi invadindo, o que não era nenhuma surpresa. Ela já estava preparada para perguntar por mim, mas me viu antes.

—Finalmente decidiu dar as caras, não é Hiccup?- perguntou sorrindo de lado e vindo em minha direção.

—Eu estava aqui o tempo todo, só você que não viu.- falei, abrindo os braços e sorrindo.

A abracei forte dando um beijo no topo de sua cabeça e sentindo o cheiro do seu cabelo, pois em minha mente eu sabia que eu tinha pouco tempo para fazer isso, tinha pouco tempo para ficar ao seu lado. Meu Deus, eu irei sentir tanta falta dela! Foi um abraço longo, e não lembro de outro dia em que a abracei por tanto tempo assim. Logo senti que iria começar a chorar, então desfiz o afeto e caminhei pela escada, sabendo que a loira iria me seguir. Passei pela porta de meu quarto, que estava aberta, e sentei em minha cama, vendo Astrid fechar a porta e sentar ao meu lado. Ela me olhou por um tempo, e logo vi seu olhar mudar do que sempre foi, para um preocupado.

—Ei, o quê que está acontecendo de tão grave?- perguntou.

—Como assim de tão grave?- disfarcei.

—Bem, você está com essa cara, e não quis me contar o motivo pelo qual você foi para o trabelho da sua mãe pelo celular. Deve ter acontecido algo muito grave.- respondeu.

—Bom...- comecei coçando a cabeça e olhando para o chão.- Bom, eu e minha mãe vamos nos mudar.

Falei a última frase o mais rápido que eu conseguia. Eu não sabia qual seria a reação de Astrid, não sabia se ela iria ficar com raiva de mim, não sabia se ela ia ficar triste ou se não ia falar nada.

Logo depois que disse as palavras, vi a loira levantar tão rápido, que quase levei um susto.

—É o que?!!- perguntou incrédula.

—É isso mesmo Astrid. Eu já te contei que o trabalho da minha mãe é do tipo de viajar muito, e...- fui interrompido.

—É, você já me contou sim! Mas como isso pôde ter acontecido?- disse inquieta, andando de um lado para o outro, sem necessariamente olhar para mim. Parecia que ela estava falando mais com ela mesma do que comigo.

—É, eu também não quero mudar.- respondi.

—Hiccup você não pode fazer isso comigo!! Você é meu melhor amigo!! Você não pode fazer isso comigo!!!!- gritou como se a culpa fosse minha.

Levantei e a puxei para mim, a abraçando fortemente. Ela enterrou seu rosto em meu peito e eu encostei meu queixo em sua cabeça. Ficamos assim por longos minutos. Senti que ela estava chorando; nunca havia visto a loira chorar, o que me deu vontade de fazer o mesmo, mas eu tinha que ser forte e lhe mostrar segurança.

—Ei, eu ainda sou seu melhor amigo.- falei sussurrando. Não sabia se o que eu disse era confortador, mas também não sabia muito o que falar.- Sinto muito Astrid, mas eu não posso fazer nada mesmo. Queria que tivesse outro jeito, mas parece que não tem...

Senti ela empurrando meu peito para longe e assumir a pose de durona novamente. Astrid nunca gostou de parecer fraca perto de ninguém, o que só mostra o quanto ela é frágil. Passou as mãos pelas bochechas rosadas enxugando as lágrimas e olhando para o lado. Depois de alguns segundos, vi sua expressão mudar de triste para pensativa.

—E se tiver outro jeito?- sussurrou sem olhar para mim. Levantei uma sobrancelha.

—Como assim?- perguntei.

—Hiccup, eu irei me mudar com você.- falou determinada.

Fiquei estático, processando o que ela havia acabado de me falar. Ela só podia estar ficando louca!!

—É o que?!- perguntei.

—Hiccup, eu irei me mudar com você.- falou mais uma vez.

—Astrid, você não pode abandonar sua vida que você construiu, só porque eu vou me mudar!- falei.

—Eu posso sim. Eu moro sozinha lembra? Se eu pelo menos morasse com os meus pais, até que você teria razão.- respondeu fazendo pouco caso.

—Eu ainda sim não acho isso certo.- falei cruzando os braços. Mesmo que eu não achasse aquilo certo, ainda sim me animei com a ideia.

—Hiccup, é a minha vida. E além do mais, quem vai te proteger quando algum valentão vier para cima de você?- perguntou sarcástica.

—Ahn... Eu mesmo! Eu não sou tão fraco assim Astrid.- afirmei.

—Ata, sei. Eu vou com você e pronto.- falou com firmeza.

Duvido que eu conseguiria fazer com que ela mudasse de ideia. Deixa rolar, aposto que vai ser muito melhor com ela lá.

—Okay, você que sabe. Mas uma vez que você chegue lá, não é para pensar em me deixar sozinho se você não gostar do lugar.- falei apontando para ela.

—Tudo bem.- respondeu, rodando os olhos.

—Depois eu explico para minha mãe direitinho e faço com que ela leve as suas coisas junto com as nossas.- afirmei, passando o indicador pela sua bochecha.- É pra arrumar suas malas em duas semanas, viu?

—Ta bom Hiccup... Eu tenho que ir.- disse, ao que se antecipou, andando até a porta do meu quarto.

—Mas já?- perguntei, a seguindo.

—É, mas talvez eu venha amanhã depois de cancelar minha matrícula. Qual vai ser o lugar que a gente vai se mudar mesmo?- perguntou.

—Eu também não sei. Se minha mãe descobrir com o chefe dela, amanhã eu te falo.- digo, abrindo a porta que dá para a rua.

Ela se virou para me encarar e eu me aproximei para lhe dar um abraço de despedida, acrescentando um beijo em sua testa.

—Té amanhã Hiccup.- falou, dando um sorriso e se virando.

—Té loirinha.- respondi.

Fechei a porta e bufei. Talvez agora essa viajem esteja menos pior. Pelo menos terei Astrid, e sinceramente, não quero mais que isso.