Estávamos a mais ou menos vinte metros da casa onde o Rael estava. A casa ficava no centro de uma pequena clareira. Scarlet havia subido em uma árvore e se posicionado com seu arco e flecha. Mason e Eathan estavam fazendo um enorme círculo ao redor da clareira, marcando o chão com suas adagas. Um rastro de luz azul ficava por onde a adaga passava.

Eathan havia me contado do plano do Rael em se juntar com os caídos para começar uma guerra contra os anjos. Achava toda aquela história de desacorrentar anjos do inferno, guerra e todo o resto uma loucura. Mas ultimamente muitas loucuras tem acontecido.

O céu estava completamente escuro, sem nenhuma estrela. A lua era a única iluminação da noite. Eathan e Mason acabaram de fazer o círculo e assumiram suas posições. Se alguém olhasse-nos do alto veria uma formação triangular. Mason estava de frente para a porta principal. Scarlet estava posicionada à direita, de um ponto onde tinha visão da janela lateral e da porta dos fundos. Eu e Eathan estávamos à esquerda.

– Não vou poder protege-la, então quero que fique escondida. - disse Eathan sério. - Fica com isso. - ele entregou-me um isqueiro. - Isso não vai matar nenhum caído, mas vai distraí-lo o suficiente para você fugir. Mas só se alguém te achar. Não saia do seu esconderijo, ok?

– Não se preocupe. Vou ficar bem. - garanti-lhe com firmeza. Ouvi a porta da casa se abrindo. Três homens saíram e começaram a andar pela clareira. Dois vinham na nossa direção e o terceiro na direção da Scarlet. De onde estávamos eu não conseguia ver o Mason.

– Abaixe-se e não saia daqui. - ordenou Eathan me empurrando para trás de uma pedra.

– Eathan. - chamei-o segurando seu braço quando ele ia levantar. As palavras queimavam na minha boca, me impelindo a dize-las. - Eu te amo. - vi um pequeno sorriso iluminar-lhe.

– Também te amo, linda.

Ele levantou-se e se afastou de mim rapidamente. Fiquei espreitando pela lateral da enorme pedra à minha frente. Eathan se jogou em cima de um dos homens, já golpeando-o com a adaga. Uma flecha cintilante atingiu o peito de um dos homens e a perna de outro. Scarlet era boa, isso eu precisava admitir.

Mal Eathan finalizou a briga e mais caídos começaram a sair da casa. Três homens e duas mulheres saíram correndo. Uma das mulheres apontou uma pistola para Scarlet. Ela disparou algumas vezes, mas aparentemente nenhum tiro atingiu a Scarlet ou ela simplesmente ignorou. Uma flecha atingiu a tal mulher bem na cabeça.

Uma nova leva de caídos saiu da casa. Eathan e Scarlet estavam tendo muito trabalho, mas acho que estavam se saindo bem. Um caído em especial chamou minha atenção. Ele olhava em todas as direções, como se procura-se algo. Quando ele me avistou, um sorriso diabólico surgiu em seus lábios.

Puxei do bolso de trás da calça o punhal que o Ralf usara para tentar me matar. Mason o havia pego na minha casa quando tirou Eathan e eu de lá. E eu o pegara por precaução. Olhei por sobre a pedra. O garoto vinha como um predador na minha direção, tranquilo e ameaçador. Acendi o isqueiro que o Eathan me dera e aqueci a lamina do punhal. Quando o caído contornou a pedra parando a minha frente, a lamina do punhal já estava incandescente.

– Pronta para a diversão, querida? - perguntou ele com um sorriso que me dava nojo. Ele chegou mais perto de mim.

– Claro, querido.

Pulei sobre ele enterrando o punhal bem no meio do seu peito. Ele arfou tanto de surpresa quanto por causa do golpe. Pressionei mais o punhal nele, jogando todo o meu peso. Ele caiu de costas e eu sobre ele. Rapidamente levantei-me e peguei o isqueiro , acendendo-o. Deixe-o cair na barriga do garoto. A camisa preta dele começou a pegar fogo em um instante. Saí correndo, deixando-o se debatendo, tentando apagar o fogo.

Corri paralelamente ao círculo no chão que os meninos haviam feito. Quando já estava a uma distância considerável, agachei-me atrás de uma árvore de copa alta. De onde estava podia ver o Eathan coberto de sangue e terra brigando ferozmente com pelo menos seis caídos. Do outro lado podia ver Mason, já sem camisa e com o corpo cheio de cortes. Não consegui contar com quantos caídos ele brigava.

Agora conseguia ter uma boa visão de uma janela lateral da casa. Mesmo estando de costas para mim reconheci Rael com seu cabelo loiro meticulosamente arrumado em um rabo de cavalo e seu terno branco. Havia um homem perto dele, mas não tive tempo de olha-lo. Uma mão grande e pesada segurou meu braço, me puxando com força.

Um garoto moreno e com um corte no olho me segurava, ostentando uma expressão carrancuda. Logo atrás dele pude ver vindo cambaleante o garoto que eu havia tacado fogo. Suas roupas estavam queimada e sua pele parecia estar em carne viva.

– É ela? - perguntou o moreno em um tom frio.

– É, é essa vadia sim. - disse o incendiado. - Vamos mata-la!

– Não. Vamos leva-la para o Destruidor.

– O quê? Para quê?

– Tem dois anjos guardiões e um arcanjo matando quase todos de nós. por que acha que eles trariam uma humana com eles? Ela deve significar algo para eles. Então podemos usa-la para afeta-los. - explicou o moreno com impaciência.

– Boa ideia. - concordou o outro meio a contra gosto.

Reuni toda minha força e chutei a canela do moreno que me segurava. Surpreso com meu golpe repentino, ele me soltou. Saí correndo. Mas acho que não corri nem cinco metros. Uma pancada forte nas minhas costas me fez cair de cara no chão, entre folhas e raízes de árvore.

O moreno me ergueu do chão com facilidade. Sem dizer nada, ele começou a me arrastar consigo em direção a casa. Eu me debatia violentamente, mas ele não parecia nem notar. Quando gritei ele me deu um tapa no rosto com tanta força que minha cabeça latejou. Sem dúvida eu ficaria com um hematoma na bochecha, isso é claro se eu não morresse.

Ele entrou em casa me puxando junto. Sentado relaxadamente no sofá da sala estava Rael. Dois garotos e uma garota estavam de pé perto das janelas. Rael lançou um olhar surpreso e ao mesmo tempo satisfeito na minha direção. Uma cicatriz de cor esquisita marcava sua bochecha esquerda. Lembrei-me do Eathan dizer que havia cortado o rosto do Rael com a adaga.

– Olha só quem veio para a festa. - comentou ele em um tom venenoso. - Eu sabia que o jovem Eathan seria burro o suficiente para traze-la até mim.

– E o que foi isso no seu rosto? - perguntei-lhe no mesmo tom que ele. - Será que foi o jovem Eathan e sua burrice? - abri um sorriso quando vi seu olhar enfurecido.

– Não vai adiantar muito você ter vindo com seu guardião se ele estiver ocupado demais para te proteger, não é? - ele lançou-me um sorriso macabro.

– Honestamente, não me importo. - dei de ombros. - Quer me matar? Ótimo, faça isso. Mas saiba que você não terá um futuro bonito. - ameacei-lhe com um sorriso cheio de desprezo. - Eathan com certeza não será piedoso com você.

Apesar de estar me mantendo fleumática por fora, por dentro eu estava morrendo de medo. Deseja com todas as forças que o Eathan aparecesse logo para me salvar.

– Que lindo. - disse uma voz familiar vindo do que imaginei ser a cozinha. - Sempre soube que você era valorosa.

E então eu o vi. Vi o dono da voz. Ele vinha em minha direção. Em uma das mãos um copo com uma bebida alaranjada, na outra um revólver prateado.

– Pai? - ouvi minha própria voz soar atordoada.

– Olá, querida.