ALICE

Acordei bem mais cedo do que o normal (principalmente para um domingo) e mesmo assim meu pai já não estava em casa. Fiquei deitada na cama quase a manhã toda, sem ânimo. Quando por fim levantei e fui trocar de roupa já eram quase onze horas. Rose me ligou pouco depois para contar que o Kyle disse-lhe que o Ralf estava bem. Fiquei aliviada com isso. Nosso namoro não estava como antes, nem o que eu sentia por ele, mas eu ainda gostava dele.

Resolvi ir preparar algo para comer. Estava na cozinha analisando os armários quando a campainha tocou. Fui até a sala e atendi a porta. Dei de cara com Ralf. Ele estava encharcado da chuva que insistente que caía lá fora. Seu cabelo cacheado estava grudado no rosto. Seus olhos azuis estavam frios e penetrantes me encarando com raiva.

– Ralf, está tudo bem? - perguntei-lhe meio surpresa em vê-lo ali.

– Não. - disse ele austero. - Mas vai ficar. - ele abriu um sorriso macabro.

Ele segurou meu braço com uma das mãos e com a outra meu rosto. Meu maxilar e bochechas doíam com a pressão enquanto ele me fuzilava com os olhos.

– Eu sei que você se encontrou com o Eathan ontem. - acusou ele com desprezo a voz. - Não acha traição uma coisa feia não?

– Ralf... - tentei dizer.

– Cala a boca, vadia! - ordenou ele me apertando mais. - Ei, Eathan, sei que você está aqui. Por que não aparece para a gente brincar um pouco?

Estava pronta para dizer que ele estava maluco e que o Eathan não estava ali, quando ouvi passos atrás de mim.

– Solta ela. - pediu Eathan calmamente.

– Sem problemas.

Ralf me soltou. Mas antes que eu pudesse me afastar, ele me deu um soco bem no meio do rosto. Senti uma dor terrível espalhar-se rapidamente e o sangue começar a escorrer. Caí de costas no chão com o impacto.

Eathan passou por mim como um raio, atacando Ralf. Os dois começaram a se bater violentamente pela sala enquanto eu ficava agachada no canto,s em reação. Eathan pareceu derrotar Ralf, que desabou no sofá sem se mexer mais. Ele estava vindo na minha direção, quando um garoto loiro com cabelo comprido preso em uma rabo de cavalo apareceu do nada.

– Infelizmente você só saí daqui hoje se for para ir para o inferno ou para o cemitério. - disse o garoto loiro. Ele era alto e forte, e vestia um terno branco. Seus olhos eram verde esmeralda.

– Felizmente em qualquer das duas opções você vai para o inferno também, Rael. - respondeu Eathan impetuoso.

E outro embate começou. O tal Rael parecia mais forte, mas Eathan era mais rápido e ágil. Eathan esquivou-se de vários dos golpes desferidos pelo Rael até um deles pegar em cheio, fazendo-o voar pela sala e bater na parede do outro lado. Em menos de um segundo Rael já estava a frente do Eathan segurando-lhe pela gola da camisa e pressionando-o contra a parede.

– Vamos lá, Rael. Me mate. Você com certeza vai ser muito bem recebido no inferno. - debochou Eathan com um sorriso de puro escárnio.

– Nada disso, Eathan. - contrapôs Rael de modo ignovo. - Quem vai para o inferno é você.

Só nesse instante me dei conta de que Ralf estava de pé de novo, agora bem ao meu lado. Ele segurou meu cabelo e me levantou. Soltei um grito agudo. Vi pelo canto do olho Eathan tentando se libertar do Rael, mas este pressionava-lhe uma adaga de um branco iluminado.

– Diga adeus a sua protegida. - disse Rael com um largo sorriso de satisfação.

Ralf então puxou um pequeno punhal da cinta e cravou-o no meu pescoço. Arfei sem ar e sem forças até para gritar. A dor inundou-me de um jeito avassalador. O sangue espalhava-se grudento e vermelho escuro, escorrendo desenfreado.

– Não! - ouvi Eathan gritar. Depois não ouvi nem vi mais nada.


_____________________________________________

EATHAN

Existem vários tipos de dor, mas com certeza a que eu sentia era a pior que eu já havia sentido. Quando vi Ralf enfiar o punhal no pescoço da Aly e o sangue começar a jorrar, perdi o controle. Nunca fui um cara tempestuoso. Mas existe a primeira vez para tudo.

Enquanto Rael se distraiu se deliciando com a morte da Aly, desarmei-o. Tomei a adaga da sua mão e cortei seu rosto. Ele soltou um grito de raiva e dor. Dei-lhe um chute no peito e ele voou longe. Meio segundo depois eu já estava afundando a adaga no peito do Ralf.

– Eu sei que você está aí dentro. - sussurrei impetuoso encarando-o nos olhos e tentando invadir-lhe a mente. - Então morra aí dentro.

Senti a resistência na cabeça do Ralf cessar e pude ver o que o havia controlado. Perdi alguns segundos chocado, mas logo me recuperei. Deixei o corpo do Ralf cair sem vida. Rael não estava mais na sala. Com certeza fugiu. Mas eu não tinha tempo para ir atrás dele.

– Fica comigo, Aly. - implorei. - Fica comigo.

Fechei os olhos com força dando-lhe tudo que tinha. Senti-me imediatamente arrefecido, totalmente sem égide. Uma dor começou a fustigar meu peito e minha cabeça. Abri os olhos e as coisas ao redor estavam intrincadas. Mas a Aly não. A Aly parecia fulgurar sob minhas mãos. Ia dar certo. Precisava dar certo.

– Fica comigo, Aly. - disse de novo, agora em um sussurro antes de esmaecer, lânguido.

Abri os olhos lentamente, ainda sentindo-me um pouco fraco. Imediatamente tudo que acontecera voltou a minha mente e eu me sentei sobressaltado.

– Ei, ei, calma. - disse Mason aparecendo a minha frente. - Você precisa descansar. - ele me empurrou, fazendo-me deitar de novo. Só então percebi que estava em uma cama.

– Que lugar é esse? Cadê a Aly? - perguntei tenso olhando ao redor. Parecia um quarto, com armário, cama, uma pequena janela que estava fechada, uma mesinha de cabeceira com abajur e uma porta. As paredes eram de madeira, bem rústicas.

– Seja bem vindo a cabana dos Bouvier. - disse Mason fazendo uma leve reverência. - A família do Kyle não vem para cá a anos. Achei que era um lugar seguro, por enquanto.

– E a Aly? - insisti ansioso.

– Está na sala. - contou. - Ela está bem. Um pouco desorientada, confusa, surpresa e com medo, mas bem.

– O que houve?

– Diz você. - pediu ele curioso. - O que houve lá? O que aconteceu com O Ralf? Você o matou, não é?

– Sim - disse com amargura. - Ele estava possuído.
– Possuído? - Mason pareceu chocado. - Quem era?

– Era... - se eu contasse ele sofreria. Se eu não contasse ele descobriria e ficaria com raiva de mim. - Era a Mary.