Em Chamas
Capítulo 2: O segredo do heroi
Duas semanas. Nenhuma palavra. Nenhum contato.
Ela era como um fantasma na sala.
Ninguém aproximava-se dela ou ousava puxar assunto diante daqueles seus olhos ameaçadores. Era somente com os professores, após o término de suas aulas, que Samanta trocava algumas palavras. Era como se ela só enxergasse a eles ali. Numa de suas conversas, até um sorriso cheguei a ver em seu rosto. Mas fora tão rápido que ainda tenho dúvidas se aquilo era de verdade, ou se era meu cérebro tramando mais uma vez contra mim. E diante daquela sua voz aos sussurros, que do meu lugar eu não ouvia nem entedia nada, passei a questionar a sanidade da situação.
O que aquela garota queria afinal?!
Por mais absurdo que a explicação fosse, eu não desistiria até descobrir cada detalhe por trás daquela história e daquela garota. Esse era meu objetivo aquele ano.
Aproveite seus primeiros dias, Samanta. Em breve farei seu mundo colidir com o meu...
Sexta-feira. Último horário: aula de física. Assunto: trabalho
Nunca imaginei que uma aula pudesse ser assim tão divertida.
-Turma - começou o professor Luiz - Vocês tem uma semana para me entregar este trabalho e, sobre as duplas, elas não será escolhida por vocês - ele abriu um sorriso divertido - eu que sortearei.
Enquanto pensava que perda de tempo seria aquele trabalho, uma luz caiu sobre mim com aquelas últimas palavras - uma luz que agarrei com força e que não deixaria escapar.
Ignorando os alunos que contestavam sobre o trabalho, ele vasculhava em sua pasta a lista de chamadas para fazer o tal sorteio quando eu me coloquei ao seu lado:
-Luiz... - disse, tantando fazer minhas palavras soarem convincentes aos ouvidos dele - Eu sei que você vai sortear as duplas mas - parei, escolhendo bem o que dizer enquanto ele me ecarava fixo e arqueava uma sobrancelha - tenho certeza que ninguém aqui toparia em fazer dupla com a novata, a Samanta.
Ele piscou os olhos por um instante e, quando abria a boca para responder, terminei:
- Por isso, para que ninguém saia prejudicado e em prol da sala, eu me ofereço para fazer dupla com ela.
O professor me olhou como se eu fosse um Iluminado.
-Bom, Diego - ele parou um minuto para refletir - Reparei mesmo que Samanta não tem feito ainda nenhuma amizade por aqui. Mas se você se interessou em ajudá-la, - era agora. Tudo dependia daquela resposta - tudo bem então. Seja o heroi da turma.
Eu acenei com a cabeça, agradecendo, e sorri.
Voltei ao meu lugar fingindo que nada havia acontecido, que aquilo tinha sido apenas uma conversa normal, de um estudante que queria o bem de uma novata em particular. Na mente do professor eu era um heroi; na minha, eu era o lobo que encurralava sua presa.
-Vamos lá então - Luiz disse, correndo o dedo pela lista de presença.
-Vanessa e Ana Clara. Carlos e Gustavo. Gabriela e Fernando(...)
Eu só cruzei os braços, esperando ansioso pela dita dupla. Os nossos nomes foram um dos últimos, mas, mesmo assim, o efeito que o nome daquela garota provocava não deixou de paralizar parte da sala:
“Samanta e Diego.”
Só vi vários olhares passarem por mim e Samanta, cada qual com seu misto de surpresa e espanto. Eu ria por dentro, com cada célula do meu corpo em êxtase diante de toda a sorte da situação.
Só que eu não podia deixar transparecer isso na frente de todos - o segredo deste heroi jamais poderia ser revelado assim. Então,fechando asmãos em frente ao rosto, escondendo assim o sorriso que fugia de minha boca, vasculhei com o canto dos olhos o lugar onde Samanta estava sentada.
Era parecia irritada. Irritada e indiginada. Sem saber quem era sua dupla, ela olhava para todos os lados da sala em busca daquele que arruinara sua paz ali.
-Formem as duplas - ouvi o professor falar, por trás de tantos murmúrios que cresciam na sala.
Levantei-me do meu lugar e caminhei calmamente em direção à Samanta. Quando a garota viu que era eu o Diego, seu olhar, já endurecido, transformou-se em pedra.
Foi aí que nossos mundos se cruzaram.
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