Elementary, my loved Joan

Capítulo 8 - Um grande engano


Capítulo 8 – Um grande engano

Joan estava tonta. Não havia chegado a desmaiar, mas estava muito tonta e as imagens a sua frente distorcidas. Conseguia distinguir que estava deitada em alguma coisa fofa e macia, algo muito estranho vindo de um sequestro. Pensou em Sherlock, como queria estar com ele! Tentava focar alguma coisa com êxito, mas sem muito sucesso. E quando finalmente voltou a enxergar melhor a dor de seu ferimento a atingiu com tudo e por instinto tocou o local. Estava úmido apesar de não sangrar mais. Após minutos de esforço conseguiu se sentar e apoiar-se na parede, puxando o tecido da blusa o suficiente para focar o local machucado. Precisava dar um jeito naquilo. Olhando em volta localizou uma pequena pia a certa distância, mas a dor ainda era bastante e decidiu-se por esperar algum tempo para levantar.

Aproveitou para fazer um reconhecimento e percebeu-se sentada numa pilha de mais ou menos três colchões iguais aos que havia nos quartos dos pacientes. Estava em algum tipo de galpão cheio deles, todos protegidos por plástico ou lona, exceto os três em que estava sentada. Calculou que se encontrava num andar muito reservado, pois havia aberturas para ventilação, mas não janelas. E não podia ver onde havia uma porta. O caminho parecia se curvar levando a outra sala, talvez a um grande galpão ou outro lugar. Estava um pouco escuro, mas a lâmpada acima de sua cabeça estava acesa. Não era possível calcular quanto tempo havia passado desde que fora arrancada de seu quarto. Ela vira vagamente o caminho por onde havia passado, mas eram só flashs.

Conseguiu se erguer e pôr os pés no chão frio, caminhando com cuidado até a pia e abrindo a torneira. A água corria transparente e aparentemente normal. Limpou seu ferimento da melhor forma que pode e preferiu não improvisar nenhum curativo, o que restara do que estava usando tornara-se material inútil. Pensou em vasculhar o ambiente, mas ainda estava consideravelmente tonta, então voltou a sentar-se e procurou seu celular, não o encontrando de maneira alguma. A falta do brilho do anel em seu dedo lhe chamou a atenção. O havia derrubado em algum lugar e rezava para que Sherlock, Kitty, Bell ou Gregson o encontrassem antes de seu sequestrador. Sua mãe devia estar louca àquela altura, e Sherlock ainda mais.

– Onde eu estou...? – Perguntou para o nada – E por que? O que há dessa vez?

Sentiu uma nova pontada de dor e fechou os olhos com força para aguentar.

– Se eu não sair daqui logo isso vai infeccionar.

******

– Venha pra delegacia agora!

Sherlock nem respondeu ao capitão para puxar Kitty até o elevador e correr ao encontro de Gregson e Bell.

– Temos os resultados do DNA – Gregson disse aos dois consultores.

– O sangue era todo de Joan – Bell lhes disse – Ela não conseguiu ferir o agressor. Não encontramos digitais por causa das luvas, mas o fio de cabelo que Kitty encontrou... Eu fiquei chocado. É de um dos funcionários do hospital. Thomas Ryder , trabalha numa área não muito requisitada, mas não menos importante, de limpeza e organização. Talvez isso explique todo o cuidado que teve fechando a porta e limpando os sapatos.

– Mas porque deixou o chão e o lençol manchados de sangue e as coisas de Joan espalhadas pelo chão? – Kitty lhe perguntou.

Após alguns instantes em silêncio, Sherlock encontrou uma hipótese.

– Demorei na recepção do andar mais tempo do que achava necessário, mas ainda muito pouco tempo para executar um sequestro bem feito. Ele deve ter ouvido alguma movimentação por perto, o que gera uma probabilidade de a porta ter ficado entreaberta enquanto tudo acontecia.

– Os quartos tem isolamento sonoro? – Kitty tornou a perguntar – Como ninguém ao lado ouviu? Ela deve ter gritado ou no mínimo ter feito um barulho quando o agrediu.

– Tem sim – Gregson lhe respondeu – Os outros pacientes relataram ter ouvido ruídos, mas nada que parecesse preocupante. Não é incomum escutar movimentações repentinas e incomuns nos quartos, então não deram atenção. Simplesmente pensaram que um interno passando mal estivesse sendo socorrido.

– Essas informações são importantes, mas achei que tivessem encontrado algo mais relevante. O que o funcionário em questão poderia querer com Joan?

– Isso foi o que nos deixou estarrecidos. Podemos dizer que é um sequestrador brilhante por conseguir carrega-la pela escada de emergência e dos depósitos sem que as câmeras a vissem.

Gregson abriu um notebook à frente de Sherlock e Kitty, acionando um vídeo, que mostrava claramente uma porta que dava para o exterior do hospital, mas do lado oposto do quarteirão. Após alguns segundos de espera um homem de porte alto, grande e forte apareceu de costas para a câmera sem se virar um único instante, aparentemente não tinha nada de suspeito. Caminhou para algum lugar na rua e desapareceu.

– Essa câmera mostra o hospital – Sherlock falou – Não veio de lá?

– Não – Bell respondeu – A câmera do próprio hospital estava sofrendo uma manutenção justamente ontem, nós pegamos as imagens de um prédio em frente. Como pode ver, nosso sequestrador devia saber sobre a manutenção, mas não considerou os estabelecimentos em volta. Não parece ser muito inteligente. Não entendo como escondeu Joan sem deixar nenhuma evidência.

– Não há mais imagens do hospital? – Kitty perguntou.

– Não – Sherlock lhe disse – Eu andei observando enquanto estava lá. Não tem em todos os lugares. Eles tem um política de bastante respeito à privacidade dos pacientes e funcionários, mas mesmo assim, capitão... A câmera em questão era a única em manutenção?

– Não. O sistema de vigilância é antigo, além de manutenções, estão efetuando troca de vários equipamentos, justamente essa semana, e creio que Ryder sabe disso. Essas coisas são avisadas aos funcionários. Escolheu a semana correta, mas não o momento perfeito. Se você tivesse demorado mais a voltar, poderíamos ter muito menos evidências.

– O hospital não tem outra saída? – Kitty questionou – Joan tem que estar em algum lugar. Todas as vezes que ele saiu foi a pé e sem carregar nada.

– Estamos investigando cada buraco das imediações – Bell respondeu – Mas o mais interessante vem agora. E se eu disser que ele sequestrou Joan por engano?

– O que?! - A garota arregalou os olhos.

– A pessoa que cuida dos negócios lá dentro... Se chama Jane William. É descendente de japoneses – ele lhes entregou a foto de uma mulher oriental muito bonita que aparentava a mesma idade de Joan – Nunca aparece muito no hospital porque costuma trabalhar muito em escritório. Vai às vezes pra ver como estão as coisas. E coincidentemente há 6 dias ela foi internada com problemas respiratórios. Parece que tem algumas alergias. Está se recuperando bem em dos quartos do hospital.

– O número do quarto dela é 204 – Gregson falou – O número do quarto de Joan é 104. Com certeza ele andou ouvindo bastante as conversas dos colegas e apesar de sequer ter visto o rosto de Jane William até hoje, gravou errado o número do quarto, caindo justamente no de Joan, e a levando equivocadamente por questões óbvias.

– Acreditamos que ele fez tudo isso em silêncio, alguém poderia ouvir a voz dele e identifica-lo.

– Mas por que ele queria essa mulher? – Kitty tornou a falar.

– Ele resolve os assuntos burocráticos. A filha de Ryder, uma garotinha de seis anos chamada Jasmine, está internada no quarto 301. Possivelmente estamos chegando a algum lugar.

– Voltem até o hospital – Gregson ordenou – Eu lhes darei uma ordem para terem acesso à esposa e à filha que estão no quarto 301.

Sherlock estivera o tempo inteiro calado, somente imerso em suas cadeias de pensamento, tentando ligar as informações que acabara de receber.

– Capitão...

– O que?

– O depósito e saída de emergência deve levar ao subsolo ou próximo. Há alguma saída lá embaixo?

– Não, segundo o hospital, por isso é improvável que ele tenha levado Joan por lá. Eu gostaria de lhe perguntar... – o capitão baixou o tom de voz – Quando estávamos no hospital... Aquela caixinha azul pertence à Joan? Não sabíamos que ela estava comprometida com alguém. Naturalmente ela contaria isso a você antes de nós sabermos.

– Sim – Sherlock respondeu após algum tempo – Eu dei aquilo pra ela minutos antes de ser sequestrada – ele falou desconcertado.

Gregson e Bell arregalaram levemente os olhos. Esperavam que um dia aquilo pudesse acontecer, mas no fundo ainda não conseguiam acreditar. Após a surpresa, sentiram tristeza pelo amigo e finalmente entenderam a razão de seu grau de desespero estar tão maior a cada dia quando se tratava da segurança de Joan.

– Sei que é uma ocasião inoportuna pra dar os parabéns – Bell falou – Eu sinto muito – falou com tristeza.

– Nós vamos encontra-la. A mãe dela estava quase louca de desespero no telefone. Precisamos de uma longa conversa pra tranquiliza-la. E por sorte é uma pessoa sensata, não culpa você. Pelo contrário, acredita que você mais do que ninguém possa encontra-la logo – Gregson lhe disse, tentando animá-lo – Agora levante-se e vá, a ordem está pronta.