– E aí Omar, meu pai está aí. – indagou Ben quando chegou ao restaurante com Anita e avistou o garçom arrumando as mesas.

– Tá lá nos fundos, no escritório. – respondeu ele simpaticamente.

– Melhor a gente ir até lá. – propôs Anita.

– Ahan vamos. – ele concordou.

– Valeu Omar. – agradeceu Anita.

– De nada. – disse o garçom, continuando seu trabalho.

– Pai você queria falar com a gente. – falou Ben batendo a porta, a abrindo e encarando o pai que lia alguns papéis.

– Ah oi, eu quero sim, entrem. – reafirmou ele, Anita e Ben acataram o pedido e caminharam até ele.

– Sentem né, vão ficar aí parados. – Ronaldo alegou percebendo o jeito arredio dos “filhos”.

– Tem certeza que precisa, porque dependendo do que você quer falar, sentar não seria uma boa. – Anita rebateu tensa.

– Gente, por favor, sentem. – repetiu o homem.

– Eu posso pelo menos pegar uma água antes. - contrapôs Anita sentindo-se inquieta.

– Vai lá, eu espero. – afirmou Ronaldo esboçando um sorriso simpático.

– Eu já volto. – falou Anita se esquivando até a porta.

– Então Ronaldo, o que você quer falar com a gente. – Anita perguntou quando voltava com um copo em mãos.

– Então mais cedo a Vera esteve aqui e me disse. – ele começou a explicar-se.

– Sabia, eu sabia que ela já tinha te contado informação distorcida. – soltou Anita ficando impaciente, sentando na cadeira ao lado do namorado.

– Anita. – Ben a reprendeu, a encarando insatisfeito.

–Ué Anita nada, eu falei alguma mentira por acaso. – a grota se defendeu.

– Bom essa parte depende muito do ponto de vista, mas a Vera me contou sim, o que houve mais cedo. – declarou Ronaldo com sinceridade.

–Ronaldo olha, não houve nada além do fato que eu sou distraída e uma completa desastrada. – exclamou Anita em sua defesa e de Ben.

– Ela me contou essa parte também. – afirmou ele. – Mas, também me confessou que ficou na dúvida se era realmente verdade. – ressaltou Ronaldo sobre as confissões da mulher.

– Mais pai, nós também não podemos fazer nada, é a nossa palavra contra as suposições dela. – alegou Ben.

– E os dois também tem que concordar que a palavra de ambos, não anda valendo muita coisa. – disse Ronaldo contrapondo as palavras do filho. Apenas um longo silêncio quase ensurdecedor ficou no ar, Ben e Anita se emudeceram enquanto Ronaldo os fitava sério.

– Você não precisa jogar isso na nossa cara, a gente tem consciência disso, por mais que não pareça. – Anita se manifestou, observando as reações de pai e filho.

– E que atitude eu tomo. – ele se perguntou, Anita e Ben não responderam nada. - Assim como vocês eu também, tenho consciência que vocês, vocês, que vocês dois. - enredou-se Ronaldo, não sabendo que palavras usarem, Anita e Ben se olharam apreensivos e confusos.

– Vocês dois compartilharam de uma certa cumplicidade, que os dois dormem juntos. – completou ele, Anita apenas baixou o olhar e tratou e engolir toda água que estava no copo de uma vez só, enquanto o silêncio dava lugar para que os barulhos e zunidos da rua viessem pela janela que estava aberta.

– O pai onde você tá querendo chegar, pelo amor de deus. – Ben questionou mesmo achando que não aprovaria a resposta.

– Tem certeza que você quer mesmo saber. – sussurrou Anita para ele, seguido de um sorriso amarelo.

– Que vocês também têm que entender que é muito difícil pra mim e pra tua mãe Anita, administrar essa situação. – Ronaldo alegou.

– Difícil pra você é confiar na gente né Ronaldo. – Anita retrucou. – Você sabe que a gente não faria nada de mais lá em casa, só que vocês não acreditam né. – afirmou ela tensa.

– A Anita tem razão pai, enquanto vocês não confiarem na gente fica difícil qualquer coisa. – reforçou Ben.

– Só que, o que eu também quero dizer é que os dois também precisam merecer essa confiança Ben, e me diz como os dois me viagem sem a gente saber, pelo menos da primeira vez vocês avisaram não é. – disse ele com uma ponta de ironia.

– Ronaldo mesmo que tudo vá contra, a gente sabe se cuidar tá, o que aconteceu em relação ao Antônio não teve nada a ver com descuido sabe, acho que teve mais a ver com ingenuidade, por não passar na nossa cabeça que uma pessoa seria horrível o suficiente pra pensar no que ele fez. – intercedeu Anita.

– Eu quero dizer pra vocês que não é a hora de afobação, é hora de paz para as coisas se ajeitarem. – aconselhou Ronaldo, querendo que eles o ouvissem.

– Fácil você falar isso não é, depois que vocês fizeram de tudo pra afastar a gente, é fácil dizer que só nos fomos culpados pela situação que o Antônio gerou, vocês deixaram o Caetano se meter nisso, vocês trancaram a Anita na barra, não deixavam a garota colocar o nariz pra fora nem da janela. – proferiu Ben sem paciência.

– O que você fez pra resolver, roubou a Anita, e fugiu com ela. – acusou o homem.

– Então você fica ciente que se vocês fizerem de novo, eu vou fazer exatamente a mesma coisa. – desafiou Ben estressado com a situação que já não se sustentava.

– E o Caetano é pai da Anita, Ben. – retrucou Ronaldo impaciente diante das palavras do filho.

– Ronaldo vamos deixar meu pai fora disso aqui, por favor. – disse Anita também já exausta das trapalhadas do pai que ela nem sabia o que andava fazendo da vida e querendo evitar uma briga entre Ben e Ronaldo. – O que você quer afinal, não adianta mexer no passado, né não concerta nada. – lembrou ela.

– Eu quero conversar com a Vera, sobre essa história da viagem de vocês, acertar as coisas de uma vez por todas, mas acho que é melhor não fazer isso com os dois por perto, veja bem eu não estou expulsando os dois, apenas acho que a Vera precisa de espaço pra assimilar isso, e não será confrontando os dois que isso se dará. – declarou ele, preocupado com os rumos da relação de Anita com a mãe.

– Ronaldo você vai me desculpar, eu posso até estar enganada, mas o problema da minha mãe no momento é só pensar nela. – Anita disparou.

– Exatamente isso que eu quero evitar Anita, um confronto que gera mais desavenças. – opinou Ronaldo.

– Ih... – Anita insistiu que ele continuasse.

– Anita eu andei conversando com a Bernadete, será que você pode passar uns dias com ela. – questionou Ronaldo.

– Ah não pai, você escutou o que eu disse anteriormente. – Ben interrompeu desgostoso.

– Deixa ele terminar né. – suplicou Anita.

– Como eu disse Ben eu não estou expulsando ninguém, você pode visitar a Anita, e vice versa, eu não vou proibir os dois de se verem, mas acho que vai ser bom pros dois e pra Vera parar de achar que os dois debaixo do mesmo teto, não é bom. – Até as coisas sentarem somente, depois você volta Anita. – argumentou ele seus motivos.

– A gente pode pensar pelo menos. – indagou Ben.

– Claro que podem. – afirmou o pai sorrindo sabiamente.

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Ben e Anita pesavam a conversa com Ronaldo, sentados a calçada do restaurante cabisbaixos.

– Eu acho que eu nunca me senti tão humilhada. – disse Anita espantada com a conversa que teve com o padrasto, quebrando o silêncio por um momento. – Não, não, sem bem que eu já me senti sim, melhor nem comentar, ou melhor é bom eu nem lamentar esse episódio que foi muito leve perto do resto. – relembrou ela.

– Até parece que a essa altura a gente ainda se surpreende com algo. – Ben interrompeu pensativo.

– Não mesmo, fala por você não por mim. – Anita resmungou gesticulando. – Porque eu me surpreendo muito, pode até não parecer mais eu não me acostumei a levar esporro. – a garota falou sem paciência.

– Ai Anita. – Ben começou a rir da menina.

– Que, que foi, qual é a graça, me diz. – Anita perguntou incrédula diante da atitude do namorado.

– Apesar da situação ter sido tensa. –exclamou ele a encarando. – Eu não posso negar que você fica linda assim emburrada, de carinha amarrada. – disse Ben, entrelaçando as mãos nos cabelos dela.

– Ah é, palhaçada. – Anita respondeu sarcástica, seguido de uma careta.

– Palhaçada é. – Ben pronunciou a beijando.

– Você que é um palhaço. – ela acusou risonha parando com o beijo, para logo voltar a beijá-lo.

– Oh casal. – Omar os chamou receoso.

– Ai Omar. – Anita respondeu aflita.

– Não é sabe o que é, o patrão pediu pro dois liberarem a passagem do restaurante. – Ele afirmou constrangido.

– Nós já estávamos indo mesmo Omar. – disse Ben alevantando, pegando as coisas dele e de Anita. – Vem. – pediu ele puxando Anita pela mão que continuava sentada com cara de desanimo.

– Tchau aí Omar. – se despediu ela.

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– Oi, oi... - Gente que caras são essas. – perguntou Anita quando chegou em casa de volta do colégio e avistando a mãe reunida na cozinha com Luciana e Marta, demostrando preocupação em sua face.

– É que a Sofia não quer sair da cama. – Luciana tratou de explicar.

– Como assim, não saí da cama, ela não foi pra aula hoje, bom eu não vi ela no colégio mesmo. – disse Anita não conseguindo entender.

– E porque será não é Anita. – Vera já estava totalmente sem paciência.

– Talvez porque nossas salas são o oposto uma da outra mãe. – respondeu Anita, seguido de um suspiro impaciente.

– Gente não adianta, eu não sei mais o que fazer ela não quer sair da cama. – Vera alegou a respeito do desanimo de Sofia.

– Ai mais o que anda acontecendo com esse povo hein, todo dia é um que dá defeito. – falou Anita pensando que a maré de azar seria coletiva e não estava poupando ninguém. – Só espero que eu não resolva surtar também, já que sendo assim, até eu sair com minhas próprias forças de lá, vou passar um bom tempo fora de combate. – pronunciou ela apreensiva.

– Não seja por isso, eu te ajudo, te paparico. – afirmou Ben a puxando para um abraço. – Namorada mais carente essa minha. – zombou ele.

– É como se isso também fosse muito fácil né. – alegou ela se distanciando dele. – Eu vou lá ver o que deu na maluca dessa vez. – informou Anita.

– Posse saber o que pretende com isso. – Anita perguntou nada calma para a irmã, entrando no quarto e avistando Sofia debaixo das cobertas.

– Olha morrer seria uma boa, mas se você e nem ninguém me incomodasse já estava bom. – respondeu Sofia sem muita vontade.

– Sofia para com isso, não é você que diz que resolver tudo só depende da gente, o que aconteceu com o teu... – Jeito pra tudo. – gesticulou Anita cobrando uma explicação.

– Cansei Anita, quero mais é que todo mundo vá se danar. – a loira anunciou desapontada. – E você hein, me deixa em paz, vai cuidar da tua vida, que por acaso já tem bastante problema, cuida dos teus e me esquece. – mandou ela.

– Pra isso eu teria que nascer em outra família. – Anita contrapôs a fitando tranquilamente.

– Anita me deixa em paz, eu não aguento mais viver essa vidinha vazia, em que todo mundo acha que eu sou uma pessoa egoísta.- Que o... - O que o Sidney aprontou foi porque eu mereci, vai ver o mereci mesmo, né porque eu sempre detestei minha própria irmã. – disse ela, em uma mistura de tristeza e confusão.

– Para com isso vai Sofia, muda o disco vai, levanta daí, vai tenta, fazer alguma outra coisa, baixo astral não vai resolver nada. – afirmou Anita querendo tirar a irmã da cama.

– Não tenho mais nada pra fazer não Anita, a blog decretou falência, as pessoa entram nos meus perfis na internet pra me achincalharem, e eu não sei por que você tá perdendo teu tempo comigo. – a loira proferiu, saindo da cama apressada, ressentida consigo mesma, e cansada da forma como a rotulavam. – Tudo que os outros sempre disserem de mim em relação a você é verdade Anita, no fundo eu sempre tive um pouco de inveja pela forma como você sempre resolveu tudo, a confiança que a mamãe sempre teve em você. – Auto acusou-se ela, fitando Anita que parecia não entender onde a mais nova queria chegar. –Quando a gente era pequena eu sempre acabava quebrando os brinquedos que você mais gostava, nunca entendi como um cara como o Martin podia gostar de você e pior você nem queria ele de verdade né, aí foi pra Miami conheceu um brasileiro que como você mesmo definiu era um príncipe. – afirmou Sofia com um sorriso desafiante para Anita.

– Sofia para com isso, eu não estou interessada em ouvir. – alegou Anita a “cortando” taxativa.

– Você quer saber mesmo porque eu escondi tuas lentes Anita, porque eu não queria que você encontrasse com ninguém, não pra te proteger, você acha mesmo que eu tinha saco pra aguentar mais um babando por você, só que dessa vez o destino meu deu um empurrãozinho né, ou não. - debochou ela em um misto de ironia e descontrole, sentindo que lhe faltava o ar. - Porque eu não sabia que o Ben era o tal cara quando eu cruzei com ele no loobing daquele hotel, dei um passa fora nele, se você quer saber me instigava chegar perto dele, sabendo que mais cedo ou mais tarde, eu veria tua cara de idiota, quando soubesse que ele estava apaixonado pro mim. – declarou a garota diante de uma Anita atônita, que parecia não conseguir esboçar qualquer reação que fosse. - E tem mais sabia, eu odiei você com todas minhas foças, quando vi vocês se beijando na frente de todo mundo no dia que vocês contaram do namoro, você quer saber eu fiquei com o Ben, porque eu achei que a gente pudesse se entender como parecia no início, antes de você se meter, mais eu tenho que admitir que eu senti um prazer enorme no meu ego, em poder esfregar na tua cara, que o cara que você tanto amava, que você foi pra cama estava comigo agora. – gritou Sofia exasperada, sentindo que precisava dizer a verdade a Anita, que permanecia muda, imóvel, sem se quer saber que reação esboçar. Quem sabe todos não tinham razão, ela era sim mais cruel do que ela mesma poderia pensar, e por isso não seria digna nem da atenção de Anita e muito menos da forma como a mais velha tentava lhe tirar de suas enrascadas. – E você quer saber do resto Anita. – esbravejou ela, não entendendo o porquê do jeito inercio da irmã.

– Desculpa, você provocou. – Anita falou trêmula, quando interrompeu o silêncio que se intensificou pro alguns segundo, sendo quebrado pelo estalar de seus dedos na cara da loira. – Agora você vai descer, tomar um banho, e depois a gente vai terminar essa conversa. – sugeriu Anita assustada com os fatos ocorridos ali.

– Anita você me deu tapa. – Sofia se confundiu com todas as palavras ditas pela irmã, já que elas se contrariavam com sua atitude.

– Você não tinha nada que ter desenterrado essas coisas. – alegou Anita taxativa, procurando recuperar o controle de suas ações. – Vai Sofia, por favor, chega de confusão, eu to te pedindo. – disse Anita implorando praticamente. – Mesmo eu achando que você tem todo direto de revidar. – constatou a morena descompensada.

– Anita eu só quero que você entenda, não vale a pena você perder teu tempo comigo. – respondeu a patricinha em total desanimo com o rumo de sua vida.

– Você é minha irmã, eu não estou perdendo meu tempo, a gente vai ter que achar um caminho Sofia, pra isso tudo que você disse aí. – declarou Anita mais calma. – E para de fazer a que desistiu de tudo, até de viver, essa não é você e eu nem quero que você faça isso. – afirmou Anita olhando fixamente para ela. – E não pense que eu to fazendo à boa, somente pra isso, mesmo você não acreditando eu sei que nossa relação ainda tem salvação, - expôs Anita, fitando Sofia que parecia surpresa, pensaria que Anita a odiaria depois de tantas confissões, que se confundiam entre a verdade e o exagero e drama que ela havia depositado nas palavras.

– Meu deus, eu vou lá em cima elas vão acabar se matando. – afirmou Vera assustada, quando escutava parte da discussão das filhas.

– Ih mana se acalma, foi uma bofetada só e se acalmou, se não saiu nenhuma outra, não sai mais. – Luciana comentou com naturalidade. – Que foi gente ué, realidade. – ela exclamou ao ver o olhar de espanto de todos a encarando.

– Anita, Sofia, vocês podem me explicar o que tá havendo. – Vera desandou a perguntar quando as viu, descendo a escada a passes divagares.

– Nada mãe. – respondeu Anita, enquanto a loira se dirigia ao banheiro calada.

– Eu ouvi perfeitamente quando a Sofia disse, que você deu um tapa nela Anita, como não aconteceu nada. – Vera intercalou impaciente.

– Acredita, foi o único jeito de trazer ela pra realidade. – suspirou Anita com exaustão.

– Isso é que é amor não é, diz que vai ajudar a irmã, e acaba esbofeteando, bela técnica Anita. – Mariana ironizou, em meio a um sorriso satisfeito, achava a loira exibida demais, superior demais, sempre achando que era melhor do que todos, mesmo sabendo que Anita não lhe, topava também, não desaprovou a atitude de Anita, já que ver a irmã mais nova da garota se dar mal, podia ser considerado motivo de satisfação.

– Por quê? – Anita a enfrentou. - Você não devia cuidar da tua vida. – disse Anita caminhando em direção de Mariana.

– Anita hein, para. – Ben intercedeu se metendo na frente da garota.

– Chega Anita, o que você tá querendo, confusão e nada mais. – Vera a repreendeu, já havia cansado das intemperes, da filha mais velha, que ela julgava quase sempre sem motivo real.

– Se você usasse esse teu extinto todo, pra defender tua filha, a Sofia não estava naquela cama mãe. – afirmou Anita se aproximando de Ben, e ficando abraçada a ele. – Aliás, eu acho bom você começar a prestar atenção nela, se ela passar um dia naquela cama, ela vai acabar passando a semana toda pra começar. – declarou Anita, cansada de ver Vera defendendo a garota. – Vamos lá pra fora, enquanto a Sofia tá no banheiro. – convidou ela, recebendo apenas um aceno de cabeça positivo de Ben.

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– Você tem certeza que vai ficar bem mesmo, estou te achando tão estranha. – Ben confrontava a namorada que parecia estar desanimada, sentada ao sofá.

– To, to, claro que sim. – ela garantiu, despertando-se por um instante para respondê-lo.

– Você nem almoçou, nem tocou na comida que eu vi. – rebateu o garoto.

– Tava sem fome mesmo, mas depois eu como alguma coisa. – afirmou Anita sorrindo serena.

– Se você quiser eu ligo lá pro trabalho, invento alguma coisa, digo que não vou, não sei. – opinou ele.

– Imagina, não precisa sério, pode ir tranquilo. – afirmou Anita, procurando tirar da cabeça do garoto suas preocupações.

– Mesmo. – ele insistiu não muito convencido.

– Mesmo. – respondeu ela. – Agora vai andando ou você vai chegar muito atrasado. – disse Anita o levando até a porta.

– Então tá né. – falou Ben a beijando. – Ah e a gente se encontra lá no colégio ou você prefere esperar aqui. – perguntou Ben.

– Eu vou com a Julia, a gente se vê lá. – explicou ela. – Agora vai e bom trabalho. – desejou ela.

– Ah muito obrigado, mas eu também quero mais um beijo. – afirmou ele, a puxando pela cintura para mais perto.

– Vai logo, vai chegar atrasado o criatura. – riu ela o empurrando para fora e fechando a porta, subindo em direção ao quarto para conversar com Sofia em seguida.

– Você tá melhor. – questionou Anita quando encontrou a loira penteando os cabelos desatenta. – Olha só eu não queria ter te dado aquela bofetada tá, mas também o que te deu pra falar tudo aquilo. – Anita quis entender o que se passava na mente da mais nova.

– Falei a verdade só, vai dizer que você já não sabia. – a loira respondeu na defensiva.

– Talvez eu desconfiasse sim. – Anita disse serena. – Mais sabe o que você esqueceu de dizer também, que nós já tivemos nossos momentos de trégua e felicidade. – E no fundo eu acredito que você goste de mim, eu não vou dizer que eu nunca duvidei, mais eu acredito, do teu jeito, mais gosta. – Anita afirmou verdadeira.

– Só que meu jeito não serve pros outros Anita. – a loira ruborizou.

– Pra mim serve, e eu não quero mais brigar com você Sofia, eu quero tentar virar tua irmã de verdade, a gente não pode deixar as picuinhas plantadas pelos outros e pela gente, acabarem com esse laço que a vida nos deu e se você foi capaz de me dizer tudo isso, mesmo com um pouco de exagero talvez, é porque você também não quer mais brigas. – disse ela, olhando para Sofia que somente contemplava o reflexo da irmã ao espelho, evitando encara-la nos olhos. – E que irmão nunca brigou com o outro, será que existe irmãos assim. – Sorriu Anita, querendo amenizar a tensão entre as duas.

– Porque você tá bancando a boazinha comigo, eu não mereço Anita. – Sofia se virou com cara de perplexidade para ela.

– E essa tua impressão é mau de família, porque eu vivo tendo ela às vezes e eu não estou bancando a boazinha, mas eu não quero virar a maluca rancorosa, que vira as costas pra própria irmã, e a gente já tá ficando meio grandinha pra ficar saindo no tapa por aí é né, vai começar a pegar mal, então. – zoou Anita. – E você quer saber o que eu acho, tua vida não diz respeito pros faladores de plantão, eu sei que quando nós estamos no olho do furacão, ter certeza disso é complicado mesmo, mas não entra nessa Sofia, porque vai se tornando um caminho sem volta, cada vez mais fundo e complicado. – falou Anita.

– É né você chegou ao auge da cafunasse se vestindo de preto. – Sofia sorriu maliciosa.

– Podia ter pedido umas dicas pra você, não é, mas como você mesma disse você estava muito ocupada com o Ben. – Anita fez piada do surto anterior da garota.

– É né e você mais do que ninguém sabe que convencer teu namorado de alguma coisa, é pior do que fazer dieta. – a loira rebateu.

– Você acabou de enumerar todos os teus furos comigo, se é que dá pra chamar assim, mas eu não lembro só disso Sofia. – alegou Anita. – Eu lembro também quando você pulava pra minha cama nos dias de temporal, quando a mamãe e o papai brigavam e a gente sentava na área do apartamento e ficava quase escondida só pra eles não notarem que nós estávamos escutando, quando a gente se divertia juntos e muitas outras coisas. – disse Anita melancólica.

– Você se esqueceu de mencionar os dias que meu pai esquecia a gente na escolinha, quando ele levou nós duas pra angra e deixou a gente no quarto do hotel pra jantar com aqueles gringos, sei lá de onde, o dia que a mamãe saiu de casa Anita, aquelas dondocas do condomínio ficaram todas de olho, você sabe que eu não queria ir, não é eu não queria sair da minha casa, não queria essa família cheia de gente que ela criou com o Ronaldo. – confessou ela, sorrindo por instante, lembrar da vida em família com Caetano sempre teria dois lados, mas ela também gostava dessa época.

– É não, mas desde a primeira vez que viu o Pedro na maternidade, ficou apaixonada por ele, admiti vai, tudo sempre tem seu lado bom, por menor que seja, mesmo não sendo esse o caso, você ganhou um irmão, mais dois, mesmo com os arranca-rabos com o Vitor e a Giovana, você também considera eles teus irmãos. – ponderou Anita sorrindo levemente.

– Realmente não ter a Giovana e o Vitor pra implicar e implicarem comigo, minha vida seria um pouco mais tediosa. – a loira afirmou, dando de ombros em seguida ao perceber o olhar de satisfação que Anita a encarou pela confissão.

– Sofia não abaixa a cabeça pra esse povo não, luta, enfrenta, mas não deixa eles tirarem o teu brilho. – aconselhou Anita, se preocupando com a patricinha.

– E você perdeu o teu. – Indagou Sofia movido por um impulso, os últimos acontecimentos tinham a feito pensar como a irmã continuava levando sua vida, frequentando os mesmos lugares e até dando respostas atravessadas a todos quando lhe dava vontade, mesmo sabendo que alguém ainda poderia lhe jogar na cara tudo que havia se passado.

– Não sei, acho que, achei um novo jeito pra brilhar. – respondeu Anita. – Se antes eu tinha, algum medo, vergonha de alguma coisa, depois do que aconteceu isso ficou meio limitado, não é Sofia. – disse ela debochando de si mesma. – O que também pode mudar quando eu apronto uma das minhas trapalhadas. – caçoou.

– Que não são poucas né Anita. – implicou Sofia.

– Ah tá rindo de mim, tá ótima então. – afirmou Anita retribuindo com outro sorriso. – Me desculpa tá, eu não sei o que me deu pra te bater, mais caramba você quando desanda a falar besteira não para mais. – argumentou Anita.

– Relaxa Anita, você tem razão calar minha boca não é muito fácil mesmo. – Sofia admitiu, com uma ponta de orgulho. - E eu precisava te falar aquilo, foi uma forma deu parar também de remoer o que passou. – alegou ela com sinceridade, as duas apenas se renderam a um longo e apertado abraço que continha bastante emoção.

– Mais eu ainda não desisti de provar que quem se meteu onde não foi chamada foi aquela sonsa da Mariana. – alegou Sofia com ira.

– E nem eu de te ajudar com isso, ela não resolveu contar os meus podres pra todo mundo então. – apoiou Anita já também cansada da menina.

– Então Anita, topa me ajudar a provar que foi aquela doida que gravou minha conversa com o Sidney só pra me sacanear. – a loira propôs.

– Eu topo mais com uma condição, a senhora vai voltar pra escola, vai retomar o blog, e ocupar essa cabeça aí né, e pensar também em se resolver com o Sidney de uma vez por todas, seja pra ficar com ele ou seja lá pra que. – Anita impôs condições. – E mais, sem nada tão mirabolante também, apenas a verdade Sofia, eu não vou ser baixa como aquela garota. – contrapôs Anita.

– Bom quanto à parte do Sidney, eu te respondo depois vou pensar, mas as outras estão aceitas. – Sofia afirmou suspirando profundamente.

– É a Julia, disse que já está chegando pra irmos pro jogo no colégio. – disse Anita retirando o celular do bolso após tocar e vendo que a amiga tinha deixado recado. – Vamos. – convidou Anita, com um semblante animado.

– Ah não Anita, aí você já está e pedindo demais. – a loira respondeu sem a menor vontade de ceder os pedidos da irmã.

– Vamos sim, você não vai ficar trancada aqui, Sofia tá vindo um fim de tarde lindo lá fora, você aproveitar esse dia incrível de verão, chega de baixo astral né. – Anita tentou persuadi-la a aceitar. – E também os meninos merecem levar esse campeonato. – alegou ela.

– Ah claro, com o Sidney no time Anita, por mim eles podem perder de sete a um tá. – Sofia retrucou emburrada, já estava as tantas com o loirinho nem aguentava mais ouvir seu nome. – Você acredita que eu peguei ele outro dia, dando mole pra aquele Shakira de baixa renda, e ela cheia de sorrisos pra ele. - reclama ela entre caretas. – “Sidney”... - Ai que ódio. – Ela revelou irônica imitando o jeito de falar de Meg.

– É só que você sabe que ele gosta muito de uma loira, mas não é ela, e a Meg também sabe, ao contrário do que você pensa ela é a melhor rival que você poderia ter encontrado, porque diferente de muitas por aí ela é integra. – alegou Anita, podia dizer qualquer coisa da americana menos que ela não tinha caráter. - Mas claro que pode ser a pior também ela é linda, é decidida, você deixa o Sidney solto, não é. – falou Anita segurando o riso quando viu que a loirinha já estava espumando de raiva enquanto a fitava. – E chega disso né, vamos ver o jogo vai. – afirmou Anita puxando a irmã pela mão.

– Ai para, me deixa aqui. – a patricinha reclamou mal-humorada.

– Nada disso. – insistiu Anita a puxando para fora as risadas.

– Eu te odeio Anita. – ruborizou ela descontente.