Vera aproveitou o silêncio que ficou no casarão, depois que todos se recolheram a seus quartos para organizar a cozinha, com o auxílio de Marta, que comemorava sua mais nova conquista, um emprego como vendedora numa loja em Ipanema.

– O bom é que agora que eu vou começar a trabalhar, eu posso ajudar com as despejas. – comemorava Marta aliviada em poder contribuir.

– Imagina você não precisa se preocupar com isso. – garantiu Vera, enxugando os últimos pratos e copos.

– Mais eu fico mais tranquila, agora trabalhando. – afirmou Marta.

– O que não é muita coisa né mãe, um trabalho como vendedora em uma reles loja de roupas popular. – se manifestou Marina, não aprovando a simplicidade da mãe. – Pra quem já foi uma das maiores publicitarias de São Paulo, a mais requisitada, você não tá se contentando com muito pouco não. – disse ela.

– Filha. – Marta quis repreendê-la, mas recuou. – Pois já é muita coisa Marina, você vai ter que se acostumar que as coisas mudaram minha filha, ainda podem mudar muito mais, sem o eu pai. – ponderou Marta querendo lhe devolver de volta a realidade.

– Fala sério né mãe, meu pai ainda vai vir atrás da gente, eu sei que vai. – disse Mariana confiante, ignorando as suposições da mãe.

– Hein gente, vamos pensar positivo né, tudo se ajeita. – Vera quis apaziguar o clima ruim entre mãe e filha. – E você Anita, o que faz parada aí, que ainda não foi pra cama. – cobrou Vera quando notou a presença da menina, parada a encarando.

– Eu? – Nada de mais, eu só não queria interromper vocês. – ela explicou, em ritmo de voz com toda calma. – Eu vou devolver esse livro pro Ben. – disse Anita.

– Ah essa hora. – Vera a lançou um olhar contrariado.

– Eu vou indo. – Anita preferiu ignorar. – E fiquem tranquilos que eu não ouvi nada e mesmo que tivesse ouvido, eu não tenho nada com isso. – afirmou ela. – Quem fica ouvindo o que os outros conversam pra contar vantagem depois, não sou eu. – Anita falou olhando fixamente para Mariana.

– Eu realmente, lavo minhas mãos, faz o que você quiser mesmo, quem sabe assim não aprende. – Vera reclamou, frustrada com a atitude dela, que apenas cruzou para o quintal.

– Oi. – pronunciou Anita quando entrou na garagem.

– Olha mais o que devo a honra da surpresa. – sorriu o garoto, que estudava, ao vê-la. – Você pulou o muro, pra entrar aqui é. – brincou ele.

– Não, passei pela porta mesmo. – respondeu Anita, achando graça em imaginar a situação. – Teu livro, tinha ficado na minha mochila. – justificou ela.

– Sério, eu procurei, não encontrei e não fazia ideia de onde tinha deixado. – riu Ben da própria distração.

– Também com o final de semana que a gente teve. – Anita disse, deixando o livro sobre a mesa perto da cama.

– Hei tá com uma cara séria, que aconteceu. – perguntou Ben ao perceber certo vazio na olhar dela.

– Nada, deve ser cansaço só isso. – ela supôs, desanuviando seus pensamentos das palavras de Vera. – E você hein, essa coisa de duas turmas por tarde, não é muito trabalho não. – perguntou Anita receosa, caminhando para sentar a ponta da cama onde ele se encontrava.

–É pode até ser, mais também isso vai acabar, parece que eles tão procurando alguém pra ficar com uma das turmas. – ele comunicou.

– Olha, eu sei que eu não devia dizer isso, já que você tava conseguindo juntar o dinheiro extra, mas eu acho que eu fico mais tranquila. - Ben vestibular tá quase aí você não pode ficar tão sobrecarregado assim. – expos ela.

– Eu sei, mais você também não pode falar muito de mim né. – afirmou Ben, contrapondo que ela também não agia muito diferente. – E depois, sejamos realistas, quais são minhas chances de passar no vestibular. – se perguntou ele, preocupado com sua situação.

– Que derrotismo é esse Ben. – Anita questionou insatisfeita.

– Não é derrotismo, é realidade amor. – contornou ele.

– Ah ok e você vai desistir, justo agora, você esqueceu que esse foi o objetivo real que te trouxe de volta ao Brasil. – ralhou ela.

– Não, minha mãe não deixa eu me esquecer também. – respondeu Bem, em meio a um sorriso desconcertado. – Sei lá, eu até achava que tinha bastante tempo, antes de pensar mesmo nisso, só que aconteceu tanta coisa, que eu até esqueci que isso era o principal. – alegou ele.

– Era, acho que ainda é, não é. – murmurou Anita.

– Principal, principal assim, eu não sei, lógico que iria ser importante passar pra uma faculdade. – afirmou Ben procurando se explicar. – Mais no momento, acho que eu to mais preocupado também, em não deixar nada atingir nosso namoro, com o tanto de gente dando contra. – declarou ele com um beijo carinhoso.

– Eu não quero que você prejudique tua vida por minha causa Ben. – E pra se sincera eu nem mereço tanto. – exclamou ela, querendo que ele não deixasse de lado seus planos.

– Que mania é essa tua de sempre achar que você não merece nada hein, de onde vem isso? – disse o garoto a repreendendo.

– Sério que você vai querer discutir o motivo dos meus complexos agora. – rebateu ela lhe dando muitos beijos. – E sério do mesmo jeito que você não gostaria que eu me prejudicasse por tua causa, eu também não me sentiria bem carregando essa responsabilidade. – argumentou Anita para se justificar.

– Eu sei, mais você sabe que eu faço qualquer coisa pra te ter comigo sempre. – ele garantiu.

– Você sabe que é reciproco, eu não me imagino vivendo longe de você nunca mais. – acrescentou ela.

– Mais agora vem cá, né porque, daqui a pouco aparece alguém aqui te procurando. – ele afirmou a puxando para um beijo empolgado.

– Boa lembrança. – riu ela, voltando a beija-lo.

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– Anita vem cá, eu percebi uma coisa hoje, só que talvez eu tenha visto demais, ou não. – dizia Ben à namorada que mexia no celular, atravessada na cama.

– E o que seria. – perguntou ela não desviando sua atenção da tela do telefone.

– A Giovana ficando com o Junior. – exclamou Ben.

– Gio, com o Junior. – Anita tentou ao máximo se conter para não rir.

– É porque falei algo tão absurdo assim. – falou ele. – O que você tanto digita hein, nesse telefone. – questionou o garoto ao constatar.

– Ai meu deus! – Mais que namorado mais carente e exigente de atenção, que eu fui arrumar. – brincou ela lhe dando um beijo.

– Acho bom você se redimir mesmo. – falou ele seguido de um sorriso e com um segundo beijo.

– Sério eu só tava respondendo uma mensagem do Serguei, perguntei pra ele que horas era o voo da Flaviana amanhã, melhor ir mais alguém com ele né, difícil voltar pra casa sozinho depois. – justificou ela seu jeito distraído. – Mas, voltando ao assunto talvez você tenha razão sim. – não escondeu ela. – Aqueles dois ali tão se gostando sim, mais como você percebeu isso, não né porque você é quase incapaz de perceber que alguém tá afim de você. – zombou ela.

– Ah não, não, e não, cala a boca. – disse ele debochando.

– Não eu, nada, pra você. – Anita respondeu o empurrando. – E mais eu não falei nada de tão surreal assim. – deu risada ela. –

– Você adora me sacanear né, impressionante. Rebateu o garoto expressando indiferença. – Depois você fala que sou eu. - defendeu-se ele.

– É uma hipótese, mais eu não estou rindo de você, to rindo com você, é diferente. – contornou Anita, diante da cara frustrada que ele havia esboçado.

– Ah melhorou. – afirmou ele trocando sorrisos com a amada.

– Bobo. – rebateu a menina, seguido de um beijo terno.

– Mas, sério eu acho a Giovana muito novinha pra namorar, ainda mais com o Junior, tem cara de que sonha em ser o pegador do pedaço. – explicou seus motivos.

– Também não é assim, como ela mesma diz ela tem 13 anos quase 14, e o Junior é mais papo do que qualquer outra coisa. – alegou Anita. – Pera aí, você tá com ciúmes dela. – constatou ela, achando graça.

– Eu não, é como eu disse, acho ela muito novinha pra namorar, ainda mais escondido de todo mundo, não é. – negou Ben novamente.

– E quem tá me dizendo isso, o cara que manteve um namoro escondido de todo família comigo. – Anita riu desesperada. – Olha só não é por nada não mais acho bom você guardar teus argumentos só pra você. – implicou ela não se contendo.

– Não é assim, é meio diferente como você disse a gente não tem 14 anos. – justificou ele.

– E se tivesse, caramba pensando assim, eu sei porque a mamãe e o Ronaldo, perdem o sono com essa situação. – alfinetou ela e os dois acabaram rindo.- E você esta com ciúmes ponto. – implicou novamente.

– Mais deixa de maluquice, pode ser zelo talvez. – ele esclareceu categórico.

– Sei zelo, disfarçado de ciúmes. – Anita não se convenceu. - E quando ela namorar de verdade, sério com alguém, você vai fazer o que, marcar em cima proibir, não deixar ela dormir na casa do namorado, ou melhor reinstituir uma lei de casamento ou nada. – gargalhou ela.

– Exatamente, só casando. –afirmou Ben.

– Ah é, então tá, tchau pra você, daqui uns anos a gente conversa melhor e resolve nossa situação. – disse Anita se erguendo para ir embora.

– Volta aqui, nem pensa que você vai escapar assim. – retrucou ele a pegando pela cintura e a soltando sobre a cama novamente.

– Eu tenho que ir dormir. – lembrou-se Anita. – E quer um concelho não vai sair por aí empatando a vida da Gio não, ou você vai tomar uma bela lição de moral, cuja você já não tem em relação a esse tipo de assunto. – aconselhou ela risonha.

– Muito engraçadinha você. – ironizou ele a beijando no pescoço.

– Não é graça, mais apenas realidade. – sustentou ela sua opinião. – E para que eu tenho que ir embora Ben, depois a gente não quer ser achincalhado por meio mundo, dando motivo. – alertou.

– Que motivo. – ele fingiu desentendimento a soltando um pouco.

– Chega né, boa noite, dorme com os anjos e sonha comigo. – falou Anita se despedindo.

– Pensei que isso fosse meio obvio né. – provocou ele sorrindo debochado de volta.

– Deixa de ser ridículo. – resmungou ela. – Mais sério você não vai virar a noite em cima desses cadernos não, que também isso não vai ajudar em muita coisa. – aconselhou ela.

– Nem que eu quisesse, não nem onde eu tava, já que você roubou toda minha atenção pra você. – respondeu ele a beijando de forma acalorada.

– Sou má né. – riu a garota. – Agora boa noite mesmo, que eu vou indo. – informou ela.

– Tem certeza. – argumentou ele a segurando.

– Ahan tenho. – afirmou Anita lhe dando um último beijo de despedidas.

– Então tá né boa noite. – ele deixou de insistir.

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– Ai acho que eu nem vou dormir hoje. – dizia Giovana extremamente alegre.

– Só que eu não mereço isso né Giovana, to cheia de coisa pra fazer amanhã. – retrucou Sofia desdenhando.

– Ai Sofia tu é chata hein, adora cortar o barato alheio. – afirmou Giovana entre uma careta.

– E eu nada tá bom, eu quero dormir, to com o dia cheio amanhã. – a loira não deu importância.

– Ah e o que, por exemplo, que eu saiba nada. – implicou a garota.

– E eu acho muito bom as duas pararem porque quem não merece ouvir isso sou eu. – intrometeu-se Anita, nada pacienciosa com a troca de farpas das ‘irmãs’, enquanto ela abria a gaveta do guarda- roupa.

– É, não que eu saiba, o tapinha faliu né, você perdeu os patrocinadores. – disparou Giovana ignorando os apelos de Anita.

– Como você sabe disso, o cabelo em brasa, insuportável. – a patricinha ficou irritada.

– A gente viu por acaso a Flaviana, falando na festa hoje. – exclamou Mariana.

– Garota será que dá pra odiar mais você do que eu já odeio. – Sofia procurou manter-se calma.

– O que não é nada, às vezes ela odeia a própria irmã. – Giovana acabou rindo.

– Eu posso falar por mim Gio. – Anita garantiu, segurando uma muda de roupas em mãos. – É sério isso Sofia, mais por que. – pressionou Anita a loirinha, em busca de uma resposta.

– É Anita, mas eu vou resolver tá. – confirmou Sofia, sem dar mais detalhes.

– E então chega né gente, assunto encerrado. – afirmou Anita.

– A quem diga quem foi por causa do Sidney. – revelou Mariana.

– Assim foi o que a Flaviana disse. – acrescentou Giovana ao perceber os olhares nervosos de Anita para Mariana.

– E vocês só podem serem surdas. – se irritou Anita, enquanto trocava de blusa. – Tá me olhando porque Mariana, não adianta fazer essa cara de vitimada não, não pra mim. – deixou claro para a garota.

– Eu realmente não tava te olhando, mais se eu tivesse eu diria que você tá com um pneuzinho bem aqui. – provocou Mariana apontando para a própria cintura.

– Hahahaha, sério você é muito palhaça né garota, você fala do que não tem na cintura dela, porque a tua deve estar quase dando pra abrir uma borracharia. – alfinetou Sofia se aproveitando da deixa.

– E eu sinceramente não vou ficar respondendo gente insignificante, então fica quieta também. - ponderou Anita, com o objetivo de evitar uma briga entre as duas.

– Ai Anita desculpa. – Giovana acabou rindo em um impulso que ela não conteve.

– Sabe quem deve ser muito ligada, na falta ou não dos pneus da cintura da Anita, alguém que com certeza tem mais conhecimento do assunto. – ironizou Sofia com o intuito de implicar com Giovana. – Desconfiou ou não Giovana. – debochou. – Posso te dar falar, pra facilitar teu irmão. – caçoou ela.

– Impressionante né Sofia até quando você pensa em me ajudar, você me ferra. – Anita balançou a cabeça insatisfeita.

– Oh Sofia da pra você cuidar da tua vida e me deixar em paz, faz favor. – Giovana a lançou um olhar de pura insatisfação.

– É proibido falar a verdade agora. – sorriu maliciosa a loira. – E como se você cuidasse da tua própria vida somente, não é Giovana. – cobrou a patricinha.

– Cala boca Sofia. – ralhou Anita a repreendendo.

– A Giovana prefere agora, não ver a verdade e fazer a mamãe, e a louca sou eu. – Fala sério, não é vocês podem me chamar de qualquer coisa menos de irreal. – declarou ela se defendendo.

– E agora chega né, porque quem quer dormir dessa vez sou eu. – afirmou Anita. – Boa noite. – disse Anita ajeitando sua cama.

– Eu vou pro meu quarto também, boa noite. – falou Mariana deixando o local.

– Péssima pra você. – rebateu Sofia.

– Ai Sofia falta de educação é demais no teu caso né. – respondeu a ruiva sem paciência.

– Deixei meu celular lá em baixo eu acho. – lembrou Anita, escancarando a porta.

– Vou ligar pra Flaviana. – disse a patricinha, saindo atrás da irmã.

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– Olha ainda acordada. – Sofia provocou ao ver Anita, vindo da cozinha.

– Eu vou ignorar tá, até porque eu não tenho nem vontade de discutir com você. – Anita retrucou séria, indo até Sofia, que estava sentada no sofá. – E você não ia dormir. – questionou.

– Ia mais conversei um pouco com a Flaviana, e sei lá perdi o sono. – exclamou ela, deixando o celular de lado.

– Essa história que a Giovana disse lá em cima é sério, você perdeu o patrocínio do blog. – Perguntou Anita com certa preocupação pela irmã.

– É verdade sim, mais eu vou tentar reverter à situação. – Garantiu a loira, com esperanças.

– E porque isso? – Perguntou ela se interessando pelo assunto.

– Alguns dos patrocinadores viram ou souberam dessa história do vídeo, sem falar no monte de gente que acessa só pra falar desse assunto, até meu e-mail as pessoas acessam só pra isso Anita. – Disse ela envergonhada pela situação. – Eu não pensei que eu fosse dizer mais, tá difícil de segurar a onda, minha vontade é sair distribuindo pancadas em todo mundo. – Esbravejou, exausta pela sua situação.

– Bom o jeito é ignorar. - É a melhor coisa que você tem a fazer. – Anita a aconselhou.

– E aquela história da gente se vingar da intrusa aí, já desistiu. – Indagou Sofia cobrando uma atitude de Anita.

– Corrigindo, eu quero desfazer essa mentirada toda que ela fez, não me vingar de ninguém. – E você pensou em algo? – Questionou ela.

– Não, mais eu vou dar eu jeito. – Taxou a patricinha decidida.

– ok. – E o Sidney, vocês conversaram. – Perguntou Anita ainda.

– Anita por mim o Sidney pode sumir do mapa, eu não ia me importar. – Se aborreceu Sofia.

– Tá bom não tá mais aqui quem perguntou. – Desistiu Anita de convencê-la de alguma coisa. – Mais quer saber, não é negando pra você mesma as coisas que você sente, que vai mudar algo. – Afirmou a menina. – Eu vou dormir que eu to morrendo de sono. – Comunicou ela. - Boa noite! – Desejou se retirando.