Anita chegava em casa quando encontrou Vitor assistindo televisão no sofá. – Oi. – Disse ela com um sorriso tímido. – Foi bom te encontrar aqui, eu queria falar mesmo com você. – A garota argumentou, temendo não ser bem recebida.

– Eu não tenho nada pra falar Anita. – Respondeu Vitor encarando a TV, o garoto acabou prevendo o que Anita tanto queria falar.

– Vitor, digamos que essa escolha não é só tua. – Anita foi insistente. – O Ben me contou o que aconteceu, e eu queria realmente que você me escutasse. – Ele alegou.

– Claro que o Ben te contou, afinal vocês são ligados, amigos, parceiros e dois mentirosos. – Vitor retrucou, voltando seu olhar para a menina a sua frente que não parecia surpresa com as palavras dele. – Você se deixou virar a cabeça por esse cara mesmo né Anita. – Ele resmungou ainda em um tom de ironia.

– Vitor esse cara é teu irmão, e ninguém virou a cabeça de ninguém aqui, isso eu posso te garantir. – Anita tentou argumentar, mas viu que seria uma tarefa difícil. – Eu só queria que você entendesse que eu e ele a gente... – O menino nem se quer deixou Anita terminar a frase a já foi a cortando.

– Eu não estou interessado Anita, por mim, vocês fazem bodas de ouro e continuam mentindo, se você veio aqui porque tá com medinho que eu abra a boca, esquece, nenhum dos dois valem a pena, que eu gaste a minha saliva com vocês. –Vitor não se importou em ser grosso. – Mais que e devia contar, isso eu devia, o Ben merece. – Atirou, Anita se concentrou em um suspiro fundo para não perder a calma.

– Não é isso, a gente vai contar, quanto a isso você pode ficar despreocupado. – Alegou a garota. – Mais não fica falando essas coisas do Ben vai, ele sofreu muito nessa história, eu fui muito dura com ele, eu recusei a ajuda dele quando ele pensou em me dar, eu afastei ele, aí veio a história da Sofia, e misturado a ciúmes, nós dois passamos a semear a guerra pra não admitir o que era óbvio, mais não acha que foi só eu que sofri com isso tudo, porque não foi, eu demorei muito pra admitir isso, mais ele também se afundou muito nessa história, e a gente só tá tentando recomeçar, a gente é muito novo pra desistir Vitor. – Anita pronunciou sendo verdadeira. – Não fica com raiva do Ben, ele nunca te disse que estava totalmente certo nisso tudo, a gente errou, e a gente nunca mentiu quanto a isso, só que todo mundo aqui é duro demais às vezes, com nós dois, e acredita eu não planejei isso, isso tudo começou muito antes da gente vir a saber que iriamos cair na mesma família, e tanto antes como agora, eu quis manter distância dele, e ele de mim, mais não deu. – Desabafou ela, recebendo olhares de contrariedade do garoto sentado a sua frente. – Eu amo teu irmão Vitor, e eu não estou pedindo pra você dizer que aceita numa boa isso, mas só que você tente se colocar no nosso lugar e entender, que muitas coisas que nos atropelaram não foram cogitadas ou planejadas pela gente. –Afirmou ela, querendo ter esperanças de que ele ainda entendesse.

– Sabe da verdade, me ânsia toda vez que eu vejo um de vocês encher a boca pra falar de amor Anita, os dois fazem isso muito bem, aliás, me da mais anseia de saber da mentirada que os dois inventam e ainda acham que tem justificava, foi mal Anita mais você esta me pedindo demais. – Disse Vitor não se deixando influenciar pelas palavras dela, desligando a televisão e saindo pela porta, com um olhar sério.

– Oi Vitor, tudo bom. – Julia acabou cruzando com menino quando vinha para entrar no casarão.

– Indo Julia. – Ele respondeu seco passando por ela.

– Amiga. – Julia fechou a porta deixada aberta pelo menino e encontrou Anita parada a sala imóvel.

– Oi Ju. – Disse ela meio misteriosa.

– O que você tem. – Questionou a morena percebendo.

– Vamos conversar lá em cima, que o papo é longo. – Sugeriu Anita, deixando sua chateação transparecer.

– Tá bora então. – Afirmou ela concordando.

– Bom resumindo pra você, até porque eu não estou nem conseguindo pensar direito. – Anita afirmou, entrando no quarto com Julia e as duas se sentando a cama dela. – O Vitor tá sabendo do meu namoro com o Ben, e tá irado com nós dois. – Despejou ela, sem pestanejar.

– Nossa amiga mais e agora. – Julia questionava parecendo atônita.

– Não sei Ju, a gente vai esperar uns dias pra falar com todos, e espera a bomba explodir, tá na cara que minha mãe vai ficar de cara com isso. – Anita desabafou, não esperando outra reação da mãe.

– Mais sei lá, nem mesmo sabendo que vocês já namoraram, que não é uma situação nova, Anita pro favor né, você e o Ben já ultrapassaram todos os limites e barreiras que em uma relação implique, o que a Vera acha que vai poder impedir agora. – Julia se perguntou, desconfiando em parte das afirmações da menina.

– Não sei, mais é isso que vai acontecer, pra que eu vou me iludir. – Disse ela novamente. – Ah verdade é que eu to uma pilha de nervos, essa história da Sofia essa pessoa aí que fez isso, fiquei de conversar com ela e nem consegui ainda, eu to me sentindo anestesiada com tanta coisa, sobrecarregada de informação com a cabeça a mil. – Confessou Anita.

– É, eu não queria piorar as coisas, mas a Flaviana depois que a aula acabou, bom você veio direto pra casa, mas a Flaviana estava procurando a Sofia, porque ela saiu no meio da aula, depois que o Sidney apareceu pra falar com ela e todo mundo caiu em cima. – Julia falou com uma cara de culpada em estar trazendo mais uma questão para a garota administrar.

– Eu nunca pensei que eu fosse te dizer isso mais, coitada da Sofia. – Proferiu Anita seguido de suspiros.

– Mais tua mãe não disse que iria dar um jeito nisso. – Julia indagou.

– Não sei, pra ser sincera a gente nem esta se falando muito, a gente acabou se estranhando ontem, porque eu fui procurar ela pra ver como ela estava com tudo isso e... – Revelou garota. – Ouvi o de sempre, aí deixei quieto né, não vai adiantar eu ficar de discussão com ela também. – Afirmou Anita.

– Ai tenta ficar calma, resolver uma coisa por vez vai. – Aconselhou Julia, ao constatar certa agitação exagerada no comportamento de Anita.

Anita sorriu desconcertada com as palavras dela, parecendo não acreditar que fosse possível. – Você sabe o que aconteceu essa noite, tive um sonho louco, tresloucado com o Antônio, será que isso é um sinal Julia, um aviso de que eu nunca vou ser plenamente feliz com o Ben, de que tudo na nossa vida vai ser feito de instantes, instantes que serão sempre atrapalhados por avalanches. – Disse Anita com a voz apática, sentindo um desanimo lhe dominar.

– Que bobagem Anita. – Julia quis repreender a menina.

– É que sei lá, cansei Ju, cansei de todo mundo me julgando, achando que eu to sempre errada, cansei completamente, sei lá, eu só queria namorar com o Ben em paz, realizar meus planos ao lado dele, estudar pro vestibular, passar pra faculdade, só que de repente eu vi uma hecatombe de coisas ruins sucumbir minha vida e separar a gente. – Lamentou Anita com os olhos lacrimejados. – Eu deixei de sobreviver, pra virar uma sobrevivente. – Alegou.

– Anita para com isso, essa não é você, cadê a garota forte que eu conheço. – Julia ralhou com Anita querendo distrair a tristeza da amiga.

– Tá dentro do armário, escondida, com medo, com preguiça de remar contra a mare. – Ela balbuciou e um modo irônico.

– Ok você esta em um momento péssimo, mais pensa, você tem o Ben do teu lado, tem um monte de gente que precisa de você, eu preciso de você. - Julia buscou uma forma de anima-la.

– Ah Julia, se eu não tivesse você, o Serguei, o Ben e até a Bernadete que sempre me ajudou, eu já tinha sumido do mapa Julia, comprado uma passagem só de ida pra bem longe disso tudo. – A menina admitiu, com um olhar cansado.

– Então para né, se tava aí toda feliz, a agora tá aí toda derrubada. – Afirmou Julia quase ordenando. – O que é isso. – Cobrou.

– É que sei lá acho que estou me adiantando em relação ao que vem por aí. – Alegou ela. – É ruim perceber que ninguém te entende, incluindo minha mãe, Ronaldo Vitro e por se estende. – Anita confessou seus temores.

– Ai esquece né Anita, um dia isso se ajeita, vocês se amam e ponto. – Julia retrucou.

– É e eu vou gravar isso, pra quando você quiser desistir do Fred você se ouvir. – Anita implicou com a garota, estampando no rosto um sorriso travesso por um instante.

– É diferente né amiga, você com o Ben, já tem uma relação sólida, que já passou por uns percalços ok, vocês se conhecem, se amam, e sabem disso, e compartilham uma fidelidade, uma intimidade. – Alegou a morena.– E bom eu e o Fred estamos começando uma relação, tentando ver se vai dar certo ainda, vamos ser francas. – Julia quis explicar seus argumentos.

– Hum entendi. – Anita disse, enquanto sorria debochada.

– Ué menti pro acaso. – Julia rebateu.

– É não. – Concordou ela. – Mais vamos fazer um lanche, que com essa história toda eu nem comi nada, e sinceramente eu preciso fazer alguma coisa pra me ocupar. – Sugeriu Anita.

– Tá eu topo. – Julia acabou aderindo à ideia dela.

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– Oi. – Ben entrou em casa e avistou Anita na cozinha, caminhando em direção a ela.

– E aí. – Respondeu a garota, com uma jarra de suco em mãos. – Eu, então eu, tentei conversar com o Vitor mais... – Ela se calou deixando sua chateação ser evidente.

– Não deu muito certo né. – Previu Ben.

– Não, ele não esta gostando nada dessa história, e não fingi nenhum pouco ao contrário. – Anita não escondeu.

– E ele quer que a gente faça o que Anita, se dobre as vontades dele, as coisas não são tão simples, é da nossa vida que ele tá falando, não seria justo com nós dois. – Alegou Ben, sentindo toda situação pesar em sua mente.

– Se é que existe alguma coisa justa nessa vida não é. – Disse ela, de forma cabisbaixa.

– Anita, o que você tá fazendo, se ficou até agora sem comer nada. – Afirmou o garoto vendo ela terminando dois sanduiches e os colocando em um prato.

– Não, eu já tinha comido alguma coisa com a Julia, a gente conversou um pouco mais cedo. – Afirmou. – Mais eu não consigo parar, eu preciso fazer alguma coisa pra me ocupar, não consigo parar de pensar nessa loucura toda, parece que eu entrei no automático sabe. – Anita justificou-se com um nervosismo que era evidente.

– Também você ficar assim, não vai adiantar, a gente. – Ben foi interrompido pelos passes largos de Sofia que corria atrás de Vera descendo a escada. O casal acabou parando o que fazia para observar as duas.

– Mais eu vou agora à casa da Maura falar com ela. – Vera disse taxativa já terminando de descer as escadas, com a bolsa em mãos.

– Mãe não é melhor deixar pra amanhã. – Afirmou Sofia, querendo dispersar a mãe de sua ideia.

– Não me interessa, isso é grande demais pra eu esperar. – Vera se recusou. – Já esperei demais Sofia. – Alegou a mulher irredutível.

– Mãe eu to proíbo de fazer isso. – Sofia retrucou, em completo desespero.

– Pois eu acho que você não esta em condições de decidir nada. – Vera afirmou rispidamente.

– Eu só vou no Embaixada falar com Ronaldo, ele me disse que queria estar presente. – Informou Vera já saindo pela porta, deixando a loira parada sem conseguir esboçar qualquer reação.

– Ai meu deus. – Anita murmurou para si mesma.

– Anita pelo amor de deus, eu te imploro não deixa minha mãe fazer isso. – Suplicou Sofia, ao olhar para a cozinha e avistar a irmã.

– Eu, mais Sofia. – Anita ficou buscando uma solução inutilmente.

– A minha mãe não tá legal, quem vai se dar mal sou eu. – Afirmou Sofia querendo argumentar. – Eu tenho que impedir isso. – A garota disse, correndo em disparada para fora, e fechando a porta bruscamente.

– Não sei por que mais acho melhor a gente ver isso. – Anita afirmou a Ben.

– Também acho. – Concordou ele, ficando impressionado.

– Não se pode nem comer em paz nessa casa, nem isso, é impressionante. – Anita rebateu, soltando o prato que segurava, sobre o balcão da cozinha e saindo logo atrás de Ben.