– E vocês querem que eu faça o que. – Maura cobrava, após o estardalhaço que se formou em sua casa, depois das revelações que Vera e Ronaldo fizerem e estavam em busca de uma solução. – Gente essas crianças de hoje, são assim mesmo precoces. – Afirmava ela, sem nenhum espanto.

– Mais eu acho que você não entendeu Maura, você me deve pelo menos uma conversa com o teu filho, afinal o Sidney é teu filho, você tem que explicar para o teu filho que uma coisa dessas não se faz. – Vera falava taxativa, evitando explodir de vez com a mulher por mais que ela já não estivesse mais suportando, a cara de paisagem que Maura fazia.

– Ah você quer falar com o Sidney, não seja por isso. – A mulher fez-se de desentendida, e torceu as palavras de Vera. – Sidney... – Gritou ela, em um grito que ecoou por toda a extensão da sala de sua casa, fazendo Vera e os demais presentes fazerem cara de ojeriza. – Chega aqui em baixo, seu imprestável. – Esbravejou ela.

– Irmãozinho, pronto agora o barraco esta pronto. – Antônio ironizou quando viu o garoto entrar, sendo seguido logo depois por Anita que parou em um canto mais afastado ao lado de Ronaldo.

– Eu não to acreditando nisso. – Resmungou Ben, prestando atenção no bate boca, exausto, mais ainda em ter que aturar a cara de Antônio, que nunca perdia a oportunidade.

– Acontece que minha filha é uma adolescente. – Vera alegou, parecendo não prestar atenção em mais nada do que não fosse expressar sua indignação pelo jeito inercio de Maura.

– E o moleque do Sidney também, aquilo só tem tamanho mesmo, mais na carteira de identidade dele continua sendo menor de idade. – Retrucou Maura calmamente. – E na boa Vera segurasse você e tua filha. – Disparou ela, sem o mínimo pudor.

– Mãe! - Vamos embora pelo amor de deus. – Pronunciou Sofia, com a voz falha, em total nervosismo, sentindo uma sensação de pânico lhe dominar.

– Maura o que esta em discussão aqui, não é a educação que eu dou pros meus filhos, que aliás, sempre foi a melhor. – Afirmou Vera argumentou.

– Mais o que esta acontecendo, gente tá dando pra ouvir lá da rua se bobear. – Sidney desceu a escada, saindo de seu quarto, após ouvir os gritos de Maura, misturados com mais outras vozes abafadas, e parou atônito quando começou a entender o que se passava, o garoto não tinha feito outra coisa nos últimas horas a não ser pensar em tudo que estava se passando.

– Ah é, então reveja teus conceitos, até pouco tempo atrás essa outra aí. – Apontou para Anita, que se encontrava com os braços cruzados olhando para o chão, parecendo escutar tudo atenta, enquanto procurava uma solução. – Não vivia amigada debaixo do teto de vocês, com o outro aí, sem que vocês soubessem, as pessoas sabem das coisas Vera. – Ela soltou sem a mínima cerimonia.

– Mais o que. – Anita balançou a cabeça querendo ignorar, mas se enfurecendo, segurando o ar nos pulmões e o soltando devagar para procurar calma, e não piorar as coisas.

– Mãe, por favor. – Sidney quis intervir, envergonhado pelo jeito de Maura, sempre se metendo onde não era chamada.

– Tá vendo o que os dois criaram com essa história de namoro. – Ronaldo proferiu em um tom meio ameaçador, a Ben e Anita, antes que o filho abrisse a boca para devolver uma reposta à mulher.

– Mais isso não tem mais importância também já foi. – Vera disse, mais preocupada com a situação da filha caçula.

– Já foi. – Ben rebateu ironizando. – Vem cá agora somos eu e a Anita que vamos levar bronca por tabela, é isso. – Ben ralhou.

– Tá vendo Ben, por culpa tua, agora a Anita tem que ouvir isso. – Antônio se intrometeu, de onde estava, parado perto a janela, apenas observando a confusão, e não deixando de apreciar um pouco.

– Olha aqui Antônio fica na tua, que eu não vi aqui pra olhar na tua cara, então faz um favor pra mim cala essa tua boca, antes que eu perca o resto da minha paciência que já não era muita, por sinal. – Bem respondeu, raivoso só de ter que escutar a voz debochada do meio-irmão.

– É vai pro inferno Antônio. – Anita esbravejou, o desprezando.

– Pelo menos se você tivesse do meu lado não teria que ouvir isso Anita. – Retrucou ele, provocando mais uma vez.

– Você vai insistir nisso Antônio. – Ben cobrou, não gostando dos olhares do garoto a Anita, que não lhe passou despercebido.

– Bom o errado sou sempre eu, você acha, pelo menos eu não fui acusado ainda de desencaminhar ninguém. – O garoto soltou uma risada maldosa.

– Ben para de responder, você também. – Anita quase ordenou. – E Hernandez, você pode sair com Antônio e com a Tita, por favor, que com todo respeito esse assunto não interessa a vocês. - Anita disse, de cara fechada, não escondendo que a presença do garoto não lhe agradava. – Esse assunto aqui, é meio restrito. – Alegou ela, querendo por um fim, na falação exacerbada que se continha no ambiente, e principalmente por não querer lidar com a presença de Antônio, que lhe causava vertigem.

– Tira esse desgraçado daqui mesmo Nacho, antes que eu rache a cara dele. – Ben se viu sem forças para aturar a situação.

– Ben, pegue leve, por favor. – Hernandez quis argumentar.

– E tá esperando o que então. – Antônio provocou. – E na boa Hernandez, eu tenho um pai pra me defender não preciso de você. – Antônio desdenhou, da consideração do Hondurenho.

– Hernandez tira o Antônio daqui, ou eu vou acabar botando tudo que eu comi há duas horas atrás, pra fora, de nojo, e pior no tapete da Maura. – Anita disse, enojada em ver como Antônio fazia tão pouco do sentimento paterno que Hernandez nutria por ele, e realmente vendo seu estômago revirar, talvez pelo nervoso que a afetava, pensou a garota. - Chega, a gente veio aqui pra resolver um problema, e você vai querer arranjar outro. – Anita gritou com Ben, antes que ele se movesse de onde estava, percebendo Vera a Ronaldo em um canto do outro lado sofá ainda discutindo acalorados com Maura.

– Se tem razão, foi mal. – Afirmou Ben se desculpando por seu próprio descontrole.

– Tita, Tony, vamos sair pra comer uma pizza. – Sugeriu Hernandez, percebendo a forte tensão que estava instalada no ambiente.

– Ah porque, agora que o circo tava pegando fogo pra valer. – Antônio dissimulou. – Eu saio, mais vou ver meu pai, o de verdade, não o falso que é você. – Antônio disse, achando melhor mesmo cuidar de seus interesses e deixando a sala.

– Tita, venha com o papi. – Argumentou o homem cabisbaixo pela afirmação do garoto, estendendo uma mão até a menina que agarrou a mão do pai e saiu pela porta com ele, sem contestar.

– Ótimo, agora vamos ser civilizados. – Anita quis chamar a atenção dos demais.

– Você não quer esperar no meu quarto, pra evitar mais brigas. – Sidney sugeriu se aproximando de Sofia.

– Ah Sidney, deixa de ser patético, você acha que eu estou aqui, porque quero, se fosse pra ir embora, ia pra minha casa. – Sofia falou, não muito amigável.

– Tava querendo te ajudar Sofia. – Argumentou ele.

– Já me ajudou muito me pondo nessa situação. – A loira foi irônica e cruzou os braços.

– Mãe, eu acho que é melhor vocês sentarem né, os três, essa brigalhada não resolve nada, pelo contrário, vai piorar tudo. – Anita afirmou, aproveitando a oportunidade quando um silêncio se estabeleceu.

– E quem estava brigando, nos falamos alto, temos uma voz altiva. – Maura negou, balançando a cabeça.

– Realmente Anita, ninguém estava brigando. – Ronaldo colocou panos quentes.

– Ah não. – Anita esboçou um sorriso sarcástico.

– Vai falar o que também, tava discutindo com o Antônio. – Sofia retrucou.

– Cala a boca Sofia. – Anita xingou a irmã sem se importar. – Você sabe que eu evito ao máximo isso, mais eu vim parar aqui nessa casa, justamente por intervenção tua, por tanto não reclame. – Ela acrescentou tentando ser educada, recebendo um suspiro profundo de Sofia como discordância.

– Filha é melhor você ir pra casa, as crianças ficaram todas sozinhas, e tinham mais uns indo lá pra casa com eles. – Vera sugeriu.

– Vera amor, todos já estão bem grandes. – Ronaldo disse, desagradando do excesso do zelo da mulher.

– Eu vou, ok, mais vocês conversem numa boa, vocês não estão ajudando o Sidney e a Sofia com esse tipo de coisa, acho que eles ainda são os mais prejudicados. – Argumentou a menina.

– Vamos tentar, vai Anita, eu cuido de tudo. – Ronaldo garantiu. – Vai você também meu filho. – Disse ele a Ben.

– A gente vai então né Anita. – Ben concordou.

– Eu vou. – Consentiu ela. – É depois a gente termina tá, eu quero conversar com você, entender umas coisas. – Anita alegou a irmã.

– Anita é, obrigada. – Sofia agradeceu meio constrangida.

– Ok, mais não agradece muito, que eu não quero sair ali fora e tomar uma pedra de granizo de um quilo na cabeça, você sabe né, a gente se agradecendo, é meio estranho. – Brincou Anita, arrancando um sorriso de Sofia.

– Hein dá uma força pra ela vai, mesmo dizendo que não ela deve estar precisando. – Ben argumentou com Sidney, se aproximando do garoto.

– Eu vou tentar, pode ter certeza. – Sorriu Sidney em agradecimento.

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– Como se não bastasse tudo que tá havendo. – Ben dizia abrindo a porta de casa. - E eu ainda tive que aturar as piadinhas do infeliz do Antônio, na boa eu não sei por que ainda sustento algum tipo de lucidez nessa história, ele sempre sai com a cara arrumada como começou. – Ben reclamava, enquanto passava pela sala, com Anita, que se dirigia direto a geladeira.

– Mais o que, que houve aqui. – Anita se questionou fitando o ambiente da cozinha e vendo tudo fora do lugar, enquanto segurava um copo cheio com água em mãos.

– Ah é, deixa eu adivinhar, as crianças que não são crianças, fizeram isso. – Ben riu com sarcasmo.

– Ai Ben que zona. – Falou ela, rindo descompensada ao perceber no que os ensaios com Giovana e o resto do pessoal acabou.

– É o dia Anita, daqui a pouco sei lá vai, pousar um avião em pleno Grajaú, vai chover cor-de-rosa, não sei. – Disse ele, estressado.

– Hein calma, vai ficar bufando o resto da tarde e noite também. – Anita conseguiu manter a seriedade.

– Ah jura que você tá calma, é porque eu acho que tem uma peça, assim de uma certa história que a gente ainda não botou na mesa, lembrou de alguma coisa. – Ben se viu nervoso.

– Toma água que passa, você já tem coisa demais pra você ficar colocando mais coisa na cabeça. – Disse entregando um copo a ele.

– O que mais me desestabiliza nisso tudo é o Antônio, porque ela continua aí né, que ódio, que ódio sabia, não sei realmente como existi uma pessoa no mundo como o Antônio, você viu as coisas que ele disse pro pobre do Hernandez, a cara de arrasado que ele saiu, aliás eu fui meio grosso com ele também, eu vou conversar com ele depois. – Pronunciou Ben com indignação. - Só a Bruna, que é mais louca que ele pra querer ficar perto daquele garoto. – Opinou ele.

– Ué não dizem que os psicopatas, têem seu charme, então vai ver é o caso. – Anita não resistiu em alfinetar, a cara brava do garoto a sua frente.

– Anita. – Ben a olhou sério, enquanto ela puxava uma cadeira e sentava. – Me diz que você tá brincando comigo, ou eu juro que jogo esse copo com água em cima de você, pra vê se você acorda. – Ele ameaçou, desaprovando.

– Então joga ué, tá esperando o que. – Anita provocou risonha.

– Tá duvidando. – Rebateu o garoto. – Já que você pensa tanto assim, deveria ter tentado mais, vai que dava certo, afinal te amar ele já diz que ama. – Ben falou, enciumado.

– Eu não, vai em frente. – Riu ela ao desconfiar das palavras dele.

– O que eu faço com você hein. – Disse ele, ao perceber as intenções da garota.

– A pergunta não seria, ao contrário não, é você que quer esganar o Antônio toda vez que vê ele, não era eu que estava soltando fogo pelo nariz, há cinco minutos atrás. – Anita ralhou com ele. – Você tem que parar com isso Ben. – Alegou.

– Ah e você tá com peninha dele. – Ben retrucou fechando a cara, preferindo nem cogitar.

– Eu não, mais a Bruna vi ficar, afinal você esta querendo esmurrar o rostinho do pobre Antônio. – Afirmou Anita, levantando da cadeira e vindo até ele.

– Ah vai é. – Falou ele a segurando pelo braço com um olhar travesso.

– E você já deveria de saber com clareza, que o Antônio não ama ninguém Ben, ele destrata e despreza a única pessoa que se importou com ele, que é o Hernandez, que deu uma chance pra ele mudar um destino trágico, só que ele esnobou, nunca reconheceu o esforço dele, quem ama não é egoísta, não é mesquinho, e muito menos faz qualquer coisa pra ter a outra pessoa, ainda mais se isso implique na infelicidade dela, amor não aprisiona, não algema, não impõe uma amarra, um sentimento de culpa, simplesmente se sente. – Disse Anita, com leveza.

– Tá né, e eu vou dizer o que depois disso. – Sorriu ele. – Ficou quando tempo pensando pra chegar nessa conclusão hein. – Ben implicou debochado, pausando uma mão em volta da cintura dela.

– Ah entendi, então quer dizer, que além de maluca, desastrada, agora eu sou burra, você tá se enrolando mais sabia. – Anita devolveu, brincalhona.

– Bom eu só não retiro o desastrada, porque realmente não dá, o resto é você que esta dizendo. – O garoto, a fitou sorridente. - A casa esta tão vazia né. – Disse Ben.

– Não, tá todo mundo lá em cima, tá dando pra ouvir o barulho. – Anita respondeu desmentindo.

– Lá em cima, continua sendo lá em cima. – Ben afirmou, juntando os lábios dos dois, em um beijo carinhoso. – Mais sério, eu não acho que você sinta alguma coisa pelo Antônio, ou eu seria louco de pensar isso, ou eu estaria sendo muito sem noção de ficar com você desconfiando, eu não iria conseguir. – Se explicou.

– Ah mais não iria mesmo, você é paranoico demais pra isso. – Anita riu sem se conter.

– Ok, às vezes eu penso demais, e pior no que eu não devo, mais eu não sei como mudar isso, nunca soube. – Falou ele, em sua defesa. – E você também né, se não pensasse, muita coisa não teria acontecido, e você não teria passado tanto tempo longe de mim. – Retrucou.

– Ah mais às vezes eu acho que foi até pouco sabia, deveria ter sido mais. – Anita afirmou, enlaçando um braço em volto do pescoço dele.

– Ah que má você. – Disse Ben a beijando.

– Eu não me arrependo, e eu sei que nem vou me arrepender de nada do que vier a acontecer, eu sei que eu ando meio chateada ultimamente, e tem sido evidente isso, mais isso não tem nada a ver com você, e nem com a gente. – Anita aproveitou a deixa para esclarecer.

– Eu não sei direito o que aconteceu, mas eu vou ficar do teu lado, mesmo nos momentos que você tiver errada, eu te juro. – Declarou ele de volta, arrancando um sorriso largo da garota.

– Então será que terminou a conversa lá. – Anita encerrou o assunto anterior ao ver Vitor descendo a escada de forma concentrada.

– É eu. – Proferiu Ben, olhando em volta e percebendo o motivo do comportamento de Anita.

– Vocês não precisam fingir, que não se conhecem só porque me viram, continuem de onde estavam, vocês são caras de pau o suficiente pra isso. – Vitor os acusou, ao passar para ir ao quintal e ver o casal parados, um ao lado do outro e desconfiou do que os dois estavam fazendo, por mais que ele nem os tinha notado ali até então, só os percebeu depois de vir à cozinha.

– Vitor. – Anita gesticulou e acabou derrubando com o braço o copo com água que estava próximo, que se espatifou em vários pedaços. – Caramba. – Resmungou ela abaixando para juntar os cacos.

– Anita deixa isso aí, deixa que eu junto vai, você vai acabar se cortando desse jeito. – Alegou Ben, visualizando a menina tentando catar os cacos, em um estado nervoso.

– Tá, tá bom. – Concordou ela, vendo Vitor lhe dar as costas e sair em direção ao quintal.