Por Anita...

Eu corria em disparada para fora do casarão, sentia uma alegria, que me fazia pensar que eu podia flutuar. Flutuar e flutuar, não tirando os pés do chão, mas os sentindo se convalescendo no vazio, mas flutuar a ponto de sentir meus pés caminhando sobre as nuvens, que mais pareciam nuvens feitas de algodão. Ao chegar perto do portão eu avistei o Ben, de costas, me esperando como ele havia prometido, contemplei ainda o vento que batia suave no meu rosto, eu dei longos passes até ele, até vê-lo virar-se para mim com um sorriso largo, um sorriso que parecia, me trazer uma paz tão grande, que me fazia querer estampar ao rosto também um sorriso que não cabe-se em mim. Eu corri tão ligeiramente em direção dele e nós nos abraçamos como se o mundo pudesse acabar no instante que seguisse, e de repente aquela alegria, que me fazia achar que eu pudesse ser capaz de caminhar no ar, se fez real, no momento em que o Ben me abraçou forte e me ergueu no ar, me fazendo tirar os pés do chão, fazendo meu mundo girar por pura alegria, me dando a sensação de que eu podia explodir de tanta felicidade. Ele foi me soltando devagar, mas nós não parecíamos querer interromper aquele momento, quando nossos olhares iriam finalmente se cruzarem, eu senti um calafrio percorrer por todo meu corpo, eu não imaginei que uma sensação tão adversa poderia me rondar, em segundos que eu me sentia tão feliz.

– Antônio. – Eu proferi atônita, querendo sumir dali, e arrancar toda agonia que se manifestava no meu peito. - Cadê o Ben, o que você fez com o Ben. – Quase gritei, mas minha mente e minhas pernas que queriam correr pareciam não me obedecer, a única coisa que eu ouvi foi minha voz falha e engasgada. – Cadê ele, o que você fez com ele. – Supliquei novamente, já que o Antônio me olhava com um sorriso misterioso no rosto, e não falava nada, eu vi lágrimas brotarem do meu rosto sem que eu conseguisse as conter.

– Calma amor! – O Ben se foi, ele foi pra bem longe das nossas vidas, a gente agora pode ser feliz. – Antônio me responde, parecendo satisfeito, e sorrindo vitorioso. – Ele não vai voltar pra fazer nenhum mal pra gente, eu te juro. – Acrescentou ele ainda.

– Não. – Esbravejei do jeito que deu, tentando afasta-lo de mim com minhas mãos tremulas e sem forças, que pareciam não me obedecerem.

– A gente vai ser feliz pra sempre agora. – Falou um Antônio altivo, eu só queria desaparecer dali, só queria que aquilo não fosse verdade, enquanto ele mexia em uma mecha do meu cabelo, mais eu parecia anestesiada, sem conseguir ter qualquer reação.

– O que você fez com o Ben, cadê ele. – Gritei juntando todas as minhas forças, que pareciam já tão poucas por conta do desespero que percorria todo meu corpo, não era verdade, não podia ser, não era, eu corri pra longe, exasperada, sem controle, e supliquei que ele não me alcançasse. Quando empurrei a porta de casa e entrei, avistei minha mãe terminando de preparar uma mesa linda, com um ramo de flores do campo no centro, flores brancas e lilás, muitas frutas, bolos, pães, uma mesa linda como eu jamais tinha visto, ela estava feliz então era mentira, aquele louco estava mentindo, o Ben estava ali em algum lugar, eu só tinha que encontrá-lo, eu tinha que confiar, no único fio de esperança que eu tinha.

– Mãe. – Chamei por ela, depois de alguns segundos, parada, e fui me aproximando.

– Oi filha. – Ela me olhou com um sorriso calmo, enquanto ajeitava uma tigela sobre a mesa, então eu quis crer que aquilo era bom.

– Cadê o Ben. – Questionou medrosa e com a voz trêmula.

– Oh filha, eu sei que isso tudo, meche muito com você, mas já foi, esta tudo resolvido, não pensa mais. – Minha mãe foi justificando com um rosto sereno. - O Ben foi pra longe, não vai mais te fazer mal. – Afirmou ela, e eu só queria que aquilo parasse. – Chama o Antônio pra lanchar, tão bom ver vocês felizes, não pensa mais no que era mentira. – Me pediu ela, parecendo tão certa do que falava.

– Não, não, é mentira, não pode ser, a Antônio tá enganando vocês mãe, ele é louco, ele odeia o Ben, ele só tá fazendo isso pra prejudicar o Ben, cadê o Ben, me diz, aonde tá ele, eu quero ver ele. – Eu disse em suplica com lágrimas nos olhos.

– O Ben não vai mais te fazer mal filha, a verdade foi descoberta, ele te usou, por conta do Antônio, mais agora as mascaras caíram, e você pode ser feliz. – Falou ela, de um modo tranquilo, que começou a me assustar, porque ela estava tão tranquila perguntei em minha mente, será que ela não percebia o que se passava.

– Não, não, não é verdade, é o Antônio que tá mentindo, ele que quer fazer mal pra todo mundo. – Eu continuei querendo que ela entendesse a verdade. – Cadê o Ben, eu quero falar com ele, vai me diz. – Implorei novamente.

– Isso não é possível. – Minha mãe continuou irredutível, me olhando calma, como se não visse meu desespero.

– Não mãe, não é verdade. – Repeti entre lágrimas e soluços.

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– Bom dia. – Pronunciou Ben chegando à cozinha para tomar café.

– Dormiu demais foi, normalmente quem levanta primeiro é você. – Giovana brincou colocando uma jarra de suco a mesa.

– É perdi pra você mesmo, mais vem cá deu formiga na tua cama é. – Ben respondeu a menina, ainda sonolento, pegando um copo.

– Ai eu to ansiosa sim, não nego, esse show tem que dar certo. – A ruiva não escondeu.

– Onde tá todo mundo. – Perguntou ele.

– Bom meu pai, no Embaixada, Vera também já foi, os dois saíram juntos, a Sofia não dormiu em casa, mais ligou dizendo que vem pegar não sei o que, e Vitor e Pedro ainda estão dormindo. – Giovana foi explicando. – E a Anita. – Ela se calou quando foi tocar no nome da garota. – Gente é a Anita, dona desse grito. – Giovana disse escutando a voz alterada da garota, que balbuciava coisas desconexas, que ela nem conseguia entender.

– Ah Anita, mais o que houve. – Mariana questionou também não entendendo, soltando a xicara sobre a mesa.

– Não sei, mas é melhor a gente ir ver. – Afirmou Ben, ficando assustado, soltando o copo sobre a mesa de forma brusca e correndo em disparada pelas escadas.

– Não mãe, não... – Dizia a garota em um sono agitado.

Ben abriu a porta do quarto em pleno impulso, e fitou Anita em um sono agitado, se mexendo a cama. – Anita hein acorda. – Pediu o garoto querendo desperta-la.

– Não, não. – Murmurou ela ainda dispersa.

– Calma, hein tá tudo bem. – Afirmou ele a abraçando, percebendo a garota fora de si ainda.

– Se tá aqui. – Falou uma Anita, que suspirava aliviada, depois de despertar e vislumbrar o rosto do garoto a sua frente.

– E eu iria estar aonde. – Sorriu ele desconcertado. – Você tá tremendo. – Ben percebeu quando voltou a abraça-la.

– É que. – Anita sentiu seu corpo pesado de exaustão como se tudo tivesse sido real.

– Foi só um pesadelo. – Esclareceu ele fitando os olhos confusos da menina, enquanto afastava uma mecha de cabelo dela do rosto.

– Ai nossa. – Disse Anita, olhando em volta, observando os olhares tensos de Mariana e Giovana paradas a porta, tentando recobrar sua consciência.

– Eu vou pegar uma água pra você. – Giovana opinou despertando seus pensamentos.

– Bom e com açúcar né, acho que vai ser melhor. – Falou Mariana sugerindo.

– Eu já venho, to indo. – A ruiva afirmou. – Vem Mari, vai ficar parada aí. – Disse a menina a puxando pela mão para fora.

– Calma gente, to lenta. – Retrucou a garota saindo com a ruiva.

– Você tá legal mesmo. – Ben perguntou, passando a mão nos cabelos de Anita, querendo acalma-la.

– É ah, eu to, acho que eu tava, tendo um sonho, que mais parecia uma destruição somente. – Pronunciou Anita, ainda um pouco confusa, se escorando na cama e apoiando o travesseiro em suas costas.

– Já foi vai, foi só um sonho ruim. – Alegou ele, sorrindo para ela.

– Realmente isso só pode ser um sinal, de que meu dia vai estar ótimo. – Anita tentou fazer graça com o próprio desespero.

– Óh aqui Anita. – Giovana chegou exasperada, lhe alcançando um copo com água.

– Valeu Gio, mais relaxa, eu to bem, não precisa ficar com essa cara de susto não. – Garantiu Anita, percebendo uma aflição exagerada no rosto da ruivinha.

– Foi mal né, assustei, mas também eu já tava meio nervosa. – Giovana esclareceu de forma agitada.

– O que houve aqui, o Fulano quase arrombou a porta do quarto pra ver o que estava acontecendo. – Pedro falou, chegando e vendo todos reunidos, olhando a todos com um olhar curioso.

– Ah e o que o Fulano fazia no quarto, Pedro se a Vera pega. – Giovana quis alertar.

– Ai Pedro, pior é que ela tem razão. Anita se permitiu rir da situação e esquecer seus anseios.

– Bom é, melhor todo mundo descer, deixar a Anita se refazer do susto. – Alegou Ben, com o intuito de interromper a falação de todos ao mesmo tempo, que já se fazia presente no ambiente.

– Ai sério, eu não queria falar não, mais minha barriga está me chamando de volta pra mesa. – Giovana respondeu, junto a um sorriso de alivio e zoação.

– Você é bulimica, Giovana só pode. – Pedro afirmou a irmã, levantando dos pés da cama de Anita.

– Não mesmo, eu sou é protegida, como todas as grandes divas que comem e não engordam. – A ruiva afirmou em sua defesa. – Mais eu não como igual ao Vitor não. – Disse ela ressaltando, saindo de sua cama e parando a porta.

– Bom isso, realmente deve ser uma verdade. – Ben aderiu ao assunto.

– Mal de família isso então. – Comentou Anita, sorridente, mais ainda confusa com o que havia acontecido, fato que ela preferiu nem pensar pelo menos naquele momento.

– E você não vem. – Giovana perguntou ao irmão que continuava imóvel, no mesmo lugar.

– É que. – Ele quis responder, enquanto trocava olhares discretos com Anita.

– Você deixou teu café na mesa também, vai terminar de esfriar. – Mariana argumentou, recebendo um olhar torto de Anita que passou despercebido.

– Vai lá vai, depois eu te explico melhor. – Respondeu Anita, ao garoto enquanto os outros três pareciam ainda espera-lo.

– Tá é, ok então, eu vou mesmo, ainda tenho que passar no trabalho antes da aula. – Informou Ben.

– Bom eu vou arrumar e correr pra escola também, antes que eu me atrase. – Anita pareceu comunicar a todos, esboçando um sorriso como forma de parecer que ela estava bem.

– Tchau se cuida. – Ben pediu soltando a mão dela que ele segurava e lhe dando um último abraço. – Anda gente vamos, agora vocês perderam a pressa, vão ficar aí parados. – Retrucou ele, percebendo os demais ainda trancando a porta quando ele quis passar.

– Nós já estávamos indo. – Disse Giovana pausadamente.

– E ah quem diga, que pressa é sempre inimiga da perfeição. – Pedro responde em um tom sábio.

– É deve ser por isso, que eu ando todo ralado. – Ben rebateu.

– Ai é porque você desafia a física, querendo das um salto maior do que teu corpo projetou, parkour é mais física do que esporte sabia. – O caçula disseminou ainda, chegando a sala.

– Onde você aprendeu isso tudo, to saindo do colégio e to por fora de tanta sabedoria. – Ben achou graça do pequeno, enquanto Giovana e Mariana já se sentavam par continuar tomando café.

– Lendo os livros, tem inúmeras respostas. – Pedro disse como se fosse óbvio.

– Essa eu já sabia, e se bobear você já leu mais livros do que eu mesmo. – Riu Ben travesso.

– É pode ser um fato e tanto, o que ficaria difícil mesmo seria se eu tivesse lido mais livros, do que os tombos que você já caiu. – Afirmou ele.

– É aí vai ficar difícil cabeça, até mesmo pra você. – Ben se viu concordando.

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– E aí Sofia tudo certo. – Mariana questionou, entrando no quarto, onde a loira procurava algo no nas gavetas do guarda roupa.

– Guarda o teu cinismo pra você, sua descarada. – Sofia retrucou ríspida ainda de costas.

– Tá bom né. – Sorriu ela. – Tentei ser gentil, já que as pessoas não estão sendo muito com você. – Mariana respondeu altiva.

– Olha só, eu não tenho tempo pra você não, e oh cuidado pra não engolir a própria língua e morrer envenenada. – Sofia provocou debochando, ao avistar a garota parada quando ela virou-se.

–Te digo o mesmo. – Mariana revidou, sorrindo com dissimulação.

– Tchau sua cobra. – A loira falou com um olhar enfurecido e saindo.

A garota por sua vez, ficou observando em volta até que escutou um bipe abafado, vindo da direção do quarto que Anita ocupava. – Ué celular. – Disse ela caminhando mais para perto de onde vinha o barulho. – Mensagem do Ben. – Ela ficou intrigada ao achar o celular e ver o nome do garoto na tela. – Ele mandando mensagem pra ela, se os dois estavam juntos aqui há poucos minutos quase. – Marina segurou o objeto na mão pensativa e acabou abrindo a mensagem em um impulso. – ‘ Preciso falar com você, me encontra na praça se possível é importante. Um beijo’. – Leu ela confusa. – Ai que droga, eu não devia de ter abrido, a chata da Anita, vai acabar percebendo. – Ralhou ela consigo mesma, deletando a mensagem e soltando o telefone onde estava.

– Ai Gio legal, mais e o Ronaldo vai concordar com isso. – A garota escutou a voz de Anita, ainda no corredor, que vinha falando com Giovana.

– Se ele não deixar eu to ferrada né. – A ruiva retrucou, adentrando ao quarto.

– Bom você é quem sabe. – Afirmou Anita, pegando um livro e o colocando dentro da bolsa, juntamente com o celular que estava sob a cama.

– Até que você podia pedir pro Ben me ajudar né, poxa essa coisa de não poder cantar até tarde no Embaixada nem nos finais de semana, é uma chatice, meu pai só pode estar querendo me estragar. – Giovana esbravejou impaciente.

– Eu convencer o Ben, assim só pra entender de onde você tirou isso. – Rebateu Anita.

– Ah Anita, de lugar nenhum, mais se você quer que eu explique assim, eu explico, não é. – A menina retrucou Anita, sorrindo brincalhona.

– Explica nada, eu hein, você sabe que Ronaldo e minha mãe, não iriam gostar de saber que você andou tocando em certos assuntos nessa casa. – Falou Anita.

– Que assunto gente. – Mariana questionou com certa curiosidade.

– Nada. – Anita respondeu com um jeito sério. – Eu tenho que ir, e bom só pra deixar claro, eu não gosto muito dessa coisa, de ficarem falando da minha vida, ainda mais sem o meu consentimento, então encerrou né Gio. – Afirmou ela, como se pedisse para a menina não sanar a curiosidade de Mariana. – Eu vou pra aula, que já to atrasada, e com a cabeça cheia demais já, pra mais problemas. – Alegou a garota com certo cansaço aparente. – E eu vou tentar falar com o Ronaldo, satisfeita. – Anita informou querendo alegrar a garota.

– Ah e eu te agradeço, mesmo achando que você não vai convencer muito meu pai. – Lamentou ela.

– Ok, tarefa difícil essa mesmo. – Riu Anita. – Tchau. – Se despediu ela, já saindo.

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– Se tá assim, porque a Flaviana vai viajar e você vai ficar com saudade dela, ou porque você tem medo que ela não volte. – Anita procurava entender as aflições de Serguei, que ela viu que estava aéreo desde o momento em que ela se aproximou.

– Pra falar a verdade Anita, as duas coisas. – Serguei confessou fitando a amiga com um olhar preocupado, que Anita não pode deixar de perceber. – Flaviana passou maior perrengue aqui, sozinha, no fundo ela é uma menina ainda, que bem ou mal sempre achou que podia contar com os pais, pelo menos eles nunca deixaram faltar nada pra ela, e eu Anita o que eu posso oferecer pra Flaviana, eu sou só o filho de uma cabelereira, que aprendeu o oficio pra se sustentar. – O garoto expôs suas angustias.

– Ah não, Serguei, crise de identidade agora, não, por favor. – Anita retrucou categórica.

– Não é crise Anita, é realidade. – Serguei afirmou, com uma cara de chateado para a menina.

– Oh Serguei, olha só. – Disse Anita o encarando séria. – A Flaviana gosta de você, e você dela, e ela vai visitar os pais somente, ela te deixou isso bem claro, e quer saber eu acho sim, que talvez você tenha sido uma das pessoas que mais se importou e se importar com a Flaviana. – Anita quis intervir nos pensamentos dele. – E agora para com isso, loucura tua né. – Afirmou ela.

– Mais é. – Serguei fitou Anita em silêncio por alguns segundos, parecendo procurar uma resposta que contrapusesse as palavras da amiga, mas viu Ben chegar antes e os interromper.

– Bom dia Serguei. – Falou Ben logo que se aproximou. – Anita eu precisou falar com você, e não vai dar pra esperar a aula terminar. – Argumentou ele um tanto nervoso.

– Mais o que. – Anita questionou confusa, com os olhares perdidos dele.

– Eu te mandei uma mensagem, pra ver se a gente conversava em outro lugar, mais você não retornou. – Ben firmou estranhando.

– Hãm mensagem, que mensagem, eu não recebi nada. – Anita indagou procurando o celular para verificar o que ele falava. – Não tem nada. – Constatou ela.

– Certo, deixa pra lá, deve ter havido algum erro, não sei, esquece, o importante é que eu preciso falar com você. – Insistiu Ben se atrevendo ao que interessava.

– Tá. – Concordou ela. – É Serguei, depois a gente termina. – Comunicou Anita ao amigo pegando suas coisas e levantando.

– Serguei desculpa atrapalhar vocês. – Disse Ben ao garoto.

– Não, não tem problema, tá parecendo que o assunto é sério mesmo né gente. – Serguei afirmou, vislumbrando certa aflição no namorado da amiga.

– É Anita acho melhor realmente, você sentar, você não vai gostar do que eu tenho pra falar. – Alegou Ben, quando ele entrou com Anita na sala do coral, que era o único lugar vazio no colégio naquele momento.

– Ai só vai com calma, porque meus neurônios estão devagar, quase parando. – Anita rebateu, jogando a bolsa sob uma mesa que se encontrava no canto da sala, e depois sentando aos pés do pequeno palco que havia no local.

– É então o Vitor. – Ele proferiu devagar como se lhe faltassem palavras suficientes para continuar.

– O Vitor. – Repetiu ela, consentindo que ele prosseguisse.

– Ele, ele... – Disse o menino perdido em por onde começar sua explicação.

– O Vitor o que, o que tem ele, fala logo o que tem ele, meu deus. – Anita interviu em pleno nervosismo.

– Anita você não disse que era pra falar com calma. – Cobrou Bem, ficando ainda mais tenso.

– Não eu disse, mais nem tanto né, ou corre o risco de você não conseguir terminar de contar, eu ter um treco de nervosismo antes. – Anita disse de forma impaciente.

– Deus do céu. – Respondeu Ben levando as mãos ao rosto.

– Ben o que tem o Vitor. – Ela indagou. – Fala logo, por favor, quanto mais você enrola pior vai ficar – Pediu vendo uma tensão misturada com exaustão percorrer seu corpo.

– Tá então é o seguinte. – Ben prosseguiu, mesmo sentindo que lhe faltava coragem. – Ele viu nós dois ontem na cozinha e... – Ele exclamou com o olhar tenso a respeito da reação dela.

– Ih a não Ben. – A garota ficou assustada ao imaginar do que ele falava.

– Ah sim Anita, ele veio me perguntar se a gente estava junto de novo, ou melhor, exigir que eu confirmasse. – Confirmou Ben.

– E o que você fez. – Questionou Anita exasperada com a noticia.

– Em primeiro momento eu pensei em conversar com ele, explicar o nosso lado, só que eu vi que o Vitor não estava querendo uma explicação, somente, mas sim afirmar com todas as letras que ele não aprovava e que não gostava nem um pouco dessa situação, e que a gente tava errado e mexer nisso tudo de novo, e quanto mais eu tentava entender, mais ele repudiava, até que, foi, foi, e eu perdi a cabeça completamente, a razão, o bom senso, e vi tudo vermelho na minha frente, quando eu vi já estava feito. – Ele quis se explicar.

– Então espera aí. – Ele teve dificuldades para digerir a confissão do garoto. - Você tá me dizendo que contou pro Vitor, tudo. – Anita fico perplexa.

– Tudo, eu não sei, mais o principal ele já sabe, que a gente retomou nosso namoro, ele já sabia Anita. – Ben respondeu sincero.

– Meu deus do céu. – Anita apoiou a cabeça sobre os joelhos, sentindo que lhe faltava o ar. – E agora Ben, o que a gente faz. – Anita olhou para Ben, parado a sua frente com as mãos na cintura tão perdido quanto ela. - Ou melhor, a gente já fez né. – Ironizou.

– Não sei Anita, eu acho que única coisa que se dá pra fazer, é contar pra todo mundo de uma vez, abrir o jogo. – Falou ele não vendo outra escolha.

– É né, isso se o Vitor já não contou. – Rebateu ela meio ríspida.

– Eu não acho, ele sabe que se jogar essa bomba lá em casa, vai sobrar pra quem fizer isso, pelo menos por enquanto ele não vai contar. – Ben supôs. - O jeito vai ser a gente dar uns dois, três dias pra essa história da Sofia morrer, e fazer o que tem que ser feito. – Afirmou.

– Ah é , você me diz isso assim, com essa cara de paisagem. – Anita revirou os olhos tensa, em ter que enfrentar a todos.

– Não dá pra fazer outra coisa Anita, ou a gente assume, ou a gente para por aqui, também não vai dar pra continuar assim, as vezes nós dois não somos nada discretos e você sabe disso, você vai esperar o que, meu pai ou a Vera verem a gente juntos. – Exclamou ele impaciente.

– Que ham, ai Ben para. – A garota se viu totalmente confusa.

– Hein, a gente tem um ao outro nessa, certo, você não tá sozinha. – Argumentou ele, se abaixando perto dela.

– Não é isso, é que não é só o pessoal lá de casa, tem o doido do Antônio né Ben. – Anita falou receosas com a reação dele, que ela nem podia esperar que fosse cordial.

– E você deve alguma coisa pro Antônio. – Ben cobrou, não curtindo muito a afirmação dela.

– Não, mais minha paz de espírito devo, a mim mesma, eu tenho medo desse louco, ficar mais louco, e fazer algo contra mim, contra você, contra alguém, foi mal Ben , mais eu não sou tão corajosa e nem tão destemida assim, eu fico sem chão só de pensar que aquele louco pode aprontar mais uma, ele vai enlouquecer quando souber que mesmo depois de todos os esforços que ele fez pra me afastar de você, com todo ódio que ele disseminou entre a gente, todo horror, raiva, a gente ainda tá aqui um do lado do outro, depois do que ele fez você acha mesmo que ele vai medir algum esforço se houver uma segunda vez. – Anita pronunciou com certa aflição.

– O que tá havendo com você hein, você acordou aos gritos hoje, tá com essa cara aí me dizendo isso. – Ben alegou, percebendo certa estranheza nas palavras dela.

– Nada, eu to nervosa mesmo, além do normal ultimamente, não dormi bem a noite, mais esquece, mais você tem razão a gente não pode passar o resto da vida vivendo em cima de uma mentira por causa do Antônio, deixa passar esses dias e depois a gente conversa com eles. – Se deu por vencida ela.

– A gente vai conseguir vai, nós já enfrentamos tanta coisa, esquece o Antônio, não a nada que ele posso fazer, mesmo que eu também não goste dele muito perto da gente. – Afirmou ele com um abraço forte, querendo calar os devaneios de Anita.