Por Anita...

Eu realmente queria poder acreditar que minha mãe, encararia tudo aquilo com naturalidade, se é que essa palavra, ‘naturalidade’, poderia se encaixar naquela situação, acho que eu estava sendo otimista demais, ou eu queria ser otimista, pra não pensar nas consequências que tudo aquilo traria, principalmente para a Sofia, eu nunca pensei que eu fosse pensar isso de novo, mas, eu estava me sentindo sensibilizada com o problema no mínimo desastroso, que a Sofia e o Sidney meteram-se, ou melhor, alguma pessoa muito mesquinha e mimada, empurraram os dois, pra não dizer que essa pessoa é bem sem caráter. Depois de tantas brigas, soava estranho até para mim mesma, querer interceder em qualquer coisa que dissesse respeito a minha irmã, mesmo que eu me arrependesse profundamente depois, era o que minha consciência estava me pedindo. E eu não conseguiria ignorar isso, por mais que eu relutasse.

____________________________________________________________________________

– Bernadete. – Anita chamou a mulher que se encontrava, sentada a mesa no escritório, com a atenção concentrada em alguns papéis que ela fitava com atenção.

– Oh Anita, que bom te ver. – Ela levantou de imediato ao ouvir a voz da garota, e veio até ela.

– E a mamãe, ela deve estar péssima, não é. – Anita já sabia que ela estava certa. – E furiosa. – Previu ainda.

– Não vou te mentir não, eu sem saber como agir, acabei até enganando tua mãe, e dando uma água, com umas gotas de calmante, aquele fraquinho homeopático que eu sempre compro na farmácia, sabe. – Bernadete revelou, em pleno nervosismo, não sabendo qual seria as reações seguintes de Vera.

– É também acho que não tinha como ela agir diferente, eu que já sabia de tudo, fiquei passada. – A menina expos com aflição.

– Pois é. – Concordou ela, séria.

– Eu vou falar com ela. – Exclamou Anita, tentando também encontrar coragem.

– Vai sim meu amor. – Bernadete abraçou Anita, até mesmo para encontrar conforto para si mesma, mesmo não sendo mais casada com Caetano, ela ainda sentia-se parte daquela família, e sabia dos desafios que Vera devia estar travando consigo mesma, para lidar com a situação, pensava ela, enquanto Anita já sumia pelo corredor.

– Oi mãe. – Disse Anita de forma cautelosa, entrando pela cozinha, avistando a mãe de costas para a pia.

– Onde você estava Anita. – Vera foi logo questionando. – Te liguei diversas vezes, mas quem diz de você atender. – Alegou a mulher à filha a fitando com uma cara séria.

– É eu fiquei sem bateria, e quando cheguei em casa não consegui carregar o telefone. – Justificou Anita, já constatando que Vera parecia bem nervosa. – Eu acho que você sabe o que eu vim fazer aqui né. – Ela proferiu.

– Eu já sei que você ajudou a acobertar a Sofia na Bernadete. – Vera atirou contra a menina. – Pois eu te digo, já fez errado. – Ralhou ela deixando sua falta de paciência transparecer.

– Não, eu não ajudei a acobertar ninguém, a Sofia estava muito nervosa, se negando a ir pra casa, e pra ela não passar o dia trancada, no banheiro do colégio, eu sugeri que ela fosse pra casa da Bernadete. – Anita argumentou seus motivos, suplicando para si mesma que ela tivesse paciência.

– E você Anita, porque não parece muito surpresa com isso, já sabia não é. – Percebeu ela, ao sentir naturalidade nas palavras da menina. – Porque que eu não me surpreendo que você não tenha me dito. – Ironizou.

– Eu sabia, mas não foi a Sofia que me contou, eu soube de outro jeito. – Não escondeu Anita. – E isso tudo aconteceu numa época, que eu não tinha estruturas se quer pra lidar com minha vida, imagina com a dos outros, eu soube também bem depois, e eu não podia te contar uma coisas dessas mãe, também eu a Sofia, mal nos falávamos, não tinha porque eu te dizer isso. – Afirmou Anita, querendo se defender dos olhares chateados de Vera.

– Você não foi capaz de me dizer que estava namorando um garoto, que convivia diretamente comigo, isso que você não diria mesmo, não é. – Vera mexeu em feridas do passado. - Pois eu sinceramente não sei o que dizer. – Disse Vera decepcionada. – Eu fiquei sem reação diante do que a própria Sofia, milha filha confirmou naquela filmagem. – Pronunciou uma Vera quase sem forças para prosseguir. – Quando a Marta me contou eu sinceramente, não sei, o que eu senti. – Expôs ela, ainda atônita.

– Eu sei que a Sofia acabou se enfiando numa situação, difícil, constrangedora. – Admitiu a garota. – Mais tenta entender, por favor. – E quanto a mim ter te contado ou não, não iria fazer diferença, não é, porque ser honesta com você, é pedir pra levar, um belo esporro de volta, como você deu depois que ficou sabendo que eu namorava o Ben. – Disse ela, deixando seu descontentamento vir à tona.

– E eu Anita, como você acha que eu estou me sentindo, sabendo que ela esta numa situação dessas, eu sinto que eu falhei como mãe, aliás, devo ter falhado mesmo, o que as pessoa devem pensar. – Se perguntou. - Meu deus! - Que eu não ensinei nada pra Sofia, nenhum valor, não a ensinei a ter dignidade, a saber discernir as coisas, pra não passar por isso. – Vera culpou-se abalada. – Pra ser mais exata eu errei com minhas duas filhas. – Disse ela olhando para a menina a sua frente com um olhar de piedade. – Porque primeiro foi você, me trazendo aquela decepção horrível, aquilo vídeo maldito, que te marcou pra sempre, minha filha, nunca ninguém vai esquecer daquilo, e agora mais uma das minhas filhas vai ser apontada, o que o mundo deve estar pensando que as ensinei nada, as deixei se comportarem como qualquer, e não fiz nada pra impedir, a minha tristeza, minha frustração é tanta, que eu já nem sei. – Vera desabafou com os olhos marejados.

– Olha aqui mãe, eu nunca dei motivo pra ninguém achar que eu sou uma qualquer. – Anita percebeu que Vera, não levava as palavras dela em consideração. – Aquele vídeo foi a pior coisa que me aconteceu, foi uma crueldade mãe, não foi um ato de decepção, foi de uma pessoa de muito mau- caráter e invejosa, eu e o Ben, fomos só duas vitimas nisso tudo, não é possível que disso, você não se sinta sensibilizada. – Anita pediu a si mesma que não deixasse as palavras da mãe lhe atingirem tanto assim, mas parecia que isso não estava a seu alcance, e ela só pode ver um enorme vazio que só se fazia aumentar.

– Só que infelizmente minha filha, isso não é importante pra ninguém, o que é importa são os fatos, e pros fatos, vocês dois criaram aquela situação, devido a um ato leviano, impensado, que os dois não mediram as consequências, e eu juro que eu queria fingir que nada disso é real, mas eu não consigo, eu me sinto desapontada com isso tudo, sinto que eu tinha sim que ter puxado mais com as duas, sido mais cautelosa na forma como eu coloquei as coisas para ambas, talvez assim vocês não estivesse gerando um sentimento tão angustiante em mim. – Afirmou Vera.

– Eu não to acreditando mãe, que você tá colocando tudo desse jeito, vendo tudo como um erro que deixou algo que nunca vai ser superado, não credito que você tá fazendo isso, depois de todo esforço que eu fiz e faço pra dizer pra mim mesma, todo dia, que um novo dia começa, que essa situação não me atinge mais, e que eu superei. – Anita falou com os olhos entristecidos. – Será que você não vê, que não é me culpando pra sempre, que eu vou mudar qualquer coisa. – Indagou ela, em um misto de mágoa e angustia.

– Eu não posso mudar o que você sente Anita, assim como eu também não posso fingir, que eu vejo tudo isso numa boa. – Disse ela com sinceridade. - Eu vou ter uma conversa bem séria com tua irmã. – Informou.

– Você tá sendo egoísta, você tá pensando na tua tristeza, no que os outros dizem, ou vão dizer, eu não to querendo te chatear mais ainda, mais você parou pra pensar que você nunca encarou o que houve entre mim e o Ben, o escândalo que isso tudo trouce, de frente. – Se descontrolou Anita. – Não né, sempre foi assim nas entrelinhas, até hoje você não foi capaz de me perguntar se eu estou bem se eu continuo me sentindo uma pessoa normal, se isso me deixou com algum trauma, se um dia eu vou me relacionar com alguém de novo, vai fazer a mesma coisa com a Sofia. – Ela cobrou uma posição da mãe. - Não faz isso. – Eu sempre foi a primeira pessoa a apontar o dedo quando ela tava errada, e te falar das tuas complacências com ela, mais nesse caso, não é assim que você vai resolver algo, por tanto, antes te explodir com ela, tenta se colocar no lugar da Sofia, pensar em como deve ser difícil pra ela encarar isso tudo, com a hipótese que pode ter sido usada, pelo cara que era confiou pra dividir um momento tão importante pra ela, você pode achar hipocrisia da minha parte, mas eu sei exatamente como ela deve estar se sentindo, mesmo eu sabendo hoje, que eu fui muito injusta com o Ben, quando o acusei disso. – Despejou a menina, querendo esconder suas emoções. – Agora eu ou indo, nenhuma de nós duas tem mais cabeça pra falar de mais nada aqui. – Anita afirmou segurando as lágrimas com a ajuda de um suspiro profundo.

– Anita... – Vera apenas viu a garota lhe dar as costas sem lhe atender, e ela ficou somente com a sensação que havia deixado o nervosismo dominar suas atitudes, a talvez tivesse exposto um pensamento que não devia, ser público e de conhecimento da filha.

– Mais o que. – Bernadete chegou até a porta, após ver Anita passar em disparada até a saída. – Vera, o que deu nela. – Questionou a mulher espantada.

– Ah Bernadete. – Suspirou ela desolada. – Acho que eu deixei o estresse e tensão por isso tudo, me dominar, e disse coisas que eu não precisa deixar ela saber. – Afirmou Vera.

– Ai Vera, então. – Bernadete se perdeu, nas próprias opiniões e acabou não falando nada conclusivo.

– Mais o que eu faço, se há meses eu vejo minha família ruir, cada dia por um motivo diferente meu deus. – Se perguntou a mulher com aflição.

– Encarar, que tua família nunca foi perfeita, principalmente porque são diferentes pessoas, com opiniões bastante diversas, e que nem tudo que nos acontece foi motivo de leviandade, há coisas que nós não conseguimos controlar Vera. – Alegou Bernadete.

– Eu confesso que muitas vezes eu não sei Bernadete. – Vera desabafou, enquanto secava com o guardanapo as vasilhas que havia deixado sobre a pia.

__________________________________________________________________________

Anita chegou em casa, sentindo-se dispersa de qualquer resquício de realidade, devido a tudo que escutou da boca da mãe, no fundo não adiantava ela negar, a mãe tinha razão, em parte, devia de ser difícil para ela encarar, os rumos e caminhos tortuosos que sua vida tomou por conta de todo mal que Antônio semeou, aproveitando um momento que ela julgava que seria usado para eternizar ao contrário em sua vida, mesmo sabendo que pensar assim, não resolveria absolutamente nada, a garota se deu por conta de que tudo aquilo sempre seria uma cicatriz dolorosa, mesmo que fechada, ainda doeria um pouco que fosse, toda vez que ela fosse ligada a aquilo, e tivesse que lembrar que tal episódio repleto de horror, havia sucedido em sua vida, sim. A sala e a cozinha, vazias no casarão, pareciam estar em total contraste com seu coração naquele momento, que parecia ter se inebriado devido a tudo, por mais que ela tentasse sempre evitar ao máximo, deixar toda exposição lhe atingir de novo, a menina se viu sendo afetada por uma fragilidade, que ela desconhecia de onde vinha, que ela se viu incapaz de evitar, pelo menos naquele momento.

– Anita, você tá chorando. – Perguntou Ben, ao passar pela cozinha vindo do quintal, e encontrar a namorada, parada de frente a pia, com uma cara triste e lágrimas que foram logo escondidas.

– Eu não. – Negou ela disfarçando, levando a mão no rosto, se preocupando mais em observar a água que ela despejava da garrafa, cair dentro do copo. – É que sei lá. – Ela virou para o outro lado, com o copo em mãos, evitando encontrar o olhar do garoto, que a encarava desconfiado. - Acho que foi a poeira aí da rua, tá ventando um pouco, devia de ter tirado, a lente do olho, aí com mais essa, ficou irritando, foi por isso. – Deu como desculpa, a tarde agitada que fazia no bairro, enquanto a ventania parecia trazer o anunciou de uma grande tempestade, que ela previu que não se resumiria apenas em trovões e enxurradas, fora de casa, mas talvez uma enorme “tempestade”, também estava prestes a habitar o seio da família e todo o casarão.

– Conta outra vai. – Retrucou ele descrente, enquanto a garota fugia de encara-lo. – O que houve. – Pressionou Ben, parando ao lado dela. – Você falou com a Vera, como ela tá. – Indagou Ben, ao lembrar por onde Anita andou.

– Tá ótima pelo jeito. – Respondeu Anita secamente, não escondendo sua chateação.

– Se vai me falar o que ouve, ou eu vou ter que perguntar pra Vera mesmo. – Afirmou Ben, sentindo certa angustia nas palavras da garota, que ele teve certeza que só podiam ter a ver com a madrasta.

– Acho melhor não Ben. – Disse ela, esfregando os olhos. – Ou é bem capaz de você entrar na fila também, já que a mamãe resolveu bancar à sincera hoje. – Ironizou a menina insistente em não dizer nada.

– Anita, o que a Vera te disse. – Ben indagou insistente.

– Nada, nada que eu já não soubesse. – Falou ela querendo manter o controle. – Aliás, minha mãe é assim, nisso ela bem parecida com a Sofia, fala o que acha que deve, na hora que quer, e nem se importa em como os outros vão reagir com isso. – Disse Anita, não segurando as lágrimas.

– Não, não fica assim vai. – Disse Ben, preocupado com a garota, que apenas encarou o chão por alguns segundos. – Hein, não faz isso, por favor. – Suplicou ele, erguendo o rosto dela e lhe enxugando algumas as lágrimas.

Vitor entrou em casa e encontrou à porta entreaberta, como era de costume em sua casa, parecia que as pessoas tinham até preguiça de bater a porta, mas também ele não podia reclamar, se o motivo fosse esse, sua energia era sempre mais aproveitada para os treinos e jogos de vôlei do que pra qualquer outra coisa. Havia um silêncio suave no ar, como em qualquer final de tarde, todos estavam na rua, ocupados com outras coisas, ao levar o olhar até a cozinha vislumbrou uma cena que ele julgou inusitada, o irmão mais velho, próximo a Anita, os dois não estavam simplesmente próximos, mas desfrutavam de uma proximidade que Vitor pensou ser demais, e com algo a mais, como se tivesse uma energia diferente em torno dos dois, caminhou até o sofá e continuou observando o "casal', que parecia mais concentrado um no outro do que em perceber sua presença. Aliás, era isso que tirava sua compreensão pensar que os dois realmente eram um casal de novo, sua irritação só crescia em imaginar que Ben, havia se envolvido com Anita novamente, depois de Sofia, como se não bastasse o namoro curto que ele teve com a loira, agora estaria de novo, enganando a todos enquanto trovava caricias com a primogênita de Vera, pelas costas de todos, ele gostava muito do irmão, assim como de Anita, mas não conseguia entender em como ambos foram levianos em prejudicar a todos com brigas e discussões, por um motivo que ele julgava tão intempestivo, já que tanto o irmão como Anita, sabiam que um envolvimento dos dois acabaria com a união da família, e aborreceria os pais. O menino pensou ir até onde estavam os dois, e ser curto e grosso, questiona-los de imediato o que eles pensavam que estavam fazendo. Perguntar o que significava os olhares tortos que ele já havia visto os dois trocarem, durante a mesa, no sofá, ou quando alguém se pronunciava a cerca de algum assunto, lhes pressionar qual era propósito das frases irônicas e das implicâncias diárias, que pareciam ser tão naturais, e tão íntimas, sem falar nos sorrisos largos e enigmáticos que ambos lançavam um ao outro. Mas, sabia que não daria em nada, Ben e Anita seriam capazes sim de negar, negariam até a morte se precisassem, eram cúmplices demais, pra dizerem algo que pudesse comprometer um ao outro e ele sabia deste fato, desde o primeiro estardalhaço que os dois aprontaram. Vitor achou melhor ignorar suas suposições até ali, afinal quem daria razão a ele, preferiu achar que os irmãos queriam apenas parar de fazer os pais sofreram com suas brigas, que tinham se tornado, quase que diárias depois do rompimento, em parte se sentiu tocado pela atitude de ambos, mas hoje já não conseguia acreditar que eram só, dois amigos, não parecia ser assim, na forma que Ben consolava a garota, havia um carinho a mais, e mesmo ele sendo muito desatento as vezes, isso ficou tão claro em sua cabeça, talvez o irmão ainda gostasse de Anita, tivesse esperanças em reatar com ela, talvez fosse isso que estivesse prestes a acontecer, mas ao mesmo tempo o menino se perguntou. Porque eles não tinham feito isso ainda? Não fazia sentido, e depois de ter quase certeza que viu Anita, saindo de seu quarto, enquanto Ben estava lá dentro, depois do irmão jurar que estava sozinho. Tinha quase certeza os dois estavam juntos, e preparando um novo baque para os outros irmãos e para o pai e a madrasta, e isso lhe deixou irritado demais, somente pela suposição, em sua cabeça só veio um pensamento naquele momento, Ben não se importava com o estrago, com nada que tudo aquilo podia causar, primeiro foi Anita, depois Sofia, e agora ele estava de novo namorando a primeira, para quem se dizia e se julga tão responsável e comprometido com os outros, no mínimo estava sendo muito leviano e inconsequente, Vitor julgou que o irmão não se importava, estava agindo apenas como um garoto confuso e sem medidas, que achava que podia revezar-se entre as irmãs postiças sem cerimonia, e ainda achava que podia cobrar que todos entendessem, sendo que o errado era ele. O garoto esgueirou-se de seus pensamentos e continuou a observar os irmãos na cozinha, dessa vez, atônito apenas.

– Eu não to surpresa não, já to acostumada a ver as pessoas a porem o dedo na minha cara, e depois nem se lembrarem de um pedido de desculpas. – Lamentou Anita, assustada ao perceber, preocupação nas reações de Ben. - Afinal pra que pedir desculpas, eu só aquela que compreendo tudo, que aceito tudo. – Ironizou ela, enquanto o garoto lhe puxava para mais perto, envolvendo um braço em volta dela, jamais se dando por conta de que haviam olhos curiosos os observando.

– Isso não é verdade, seja lá o que ela te disse, eu tenho certeza que ela vai perceber, e que não falou por mal também. – Declarou ele, mexendo nos cabelos dela.

– Desculpa Ben, mas acho que é muito otimismo da tua parte. – Anita continuou sem acreditar, realmente a sensação que ela teve, era que a mãe não estava nem aí, se ela ficaria triste ou não, Vera parecia mais preocupada em querer concertar o que deu errado, a repreendendo e expondo toda sua insatisfação, como se assim tudo pudesse ser concertado.

– Não Anita, olha, ela tá nervosa, com um monte de coisa na cabeça. – Argumentou Ben. – Eu tenho certeza de que no fundo, seja lá o que ela te disse, foi porque se quer pensou. – Garantiu o garoto, mais preocupado em tirar Anita, de seu estado de nervosismo que transparecia em seu olhar, cansado pelas lágrimas e visivelmente entristecido, mas no fundo tentando esconder também sua irritação pelo jeito duro que Vera, sempre fazia questão de tratar a garota, mesmo em situações que a culpa, parecia não estar nas mãos de Anita. - Agora não chora vai, eu não gosto te ver assim. – Afirmou, ele lhe envolvendo em seus braços para um abraço apertado, e carinhoso.

– Tá bom. – Anita convenceu-se sorrindo confusa ainda. – Eu sei que eu fico parecendo uma maluca, que não fala coisa com coisa, quando eu fico assim. – Ela quis esquecer toda situação, apagar seus devaneios e espantar a tristeza, repousando a cabeça no ombro de Ben e fechando os olhos por alguns segundos, sentindo apenas o toque das mãos dele, que se encontravam em sua cintura e a outra pousada sobre as pontas de seus cabelos, em um abraço que poderia durar por uma infinidade, que ela jamais reclamaria.

Os dois se afastaram devagar. - E quem disse, que você não pode ficar triste como todo mundo, hein menina. – Questionou Ben, segurando a mão fria da garota, que parecia se misturar com o calor da sua, equilibrando a temperatura de ambas.

– Não sei. – Riu ela, por um momento, o garoto sorriu de volta feliz por vê-la melhor, nem ele mesmo sabia muito certo o porquê, mas ver a garota triste era uma forma de cultivar sua tristeza também.

– Vitor, a Giovana já tá louca com tua demora. – Mariana entrou afoita pela porta.

– Ah me esqueci. – Disse ele, calmamente, e com uma face emburrada.

– Você tá legal. – Questionou ela, percebendo algo errado.

– Não, não to legal, na verdade eu já to cansada de gente mentirosa na minha volta. – Vitor esbravejou se levantando de onde estava para apanhar uma revista que se encontrava sobre a mesa, no centro da sala.

– Mais o que foi. – A menina perguntou dessa vez em um tom de voz mais elevado.

– Nada. – Quase susurrou ele, para não ser notado. – Agora você pode dizer pra Giovana, que eu não vou mais ajudar com o ensaio, conseguiram estragar meu dia. – Disse ele ríspido, dando mais um conferida em Ben e Anita, ainda parados no mesmo lugar de antes e jogou-se no sofá.

– Do que você tá falando hein. – Ela ficou ainda mais confusa, após ver a conferida que Vitor, deu na cozinha e dessa vez avistou Anita jogada nos braços de Ben, em um abraço nada discreto. – Você tá assim porque, por causa... – Mariana quis desvendar, mas foi cortada pelo menino.

– Tive um dia difícil no treino hoje. – Esgueirou-se ele, escondendo o real motivo, o que não convenceu muito a menina. – Pode voltar pro Embaixada e avisar a Gio, por mim, por favor. – Pediu.

– Então tá. – Disse Mariana saindo pela porta novamente.

_____________________________________________________________________________

– Posso levar um papo com você Ben. – Intimou Vitor, entrando no quarto de Ben, que lia um livro, escorado a cabeceira da cama de forma concentrada.

– Vai fala. – Ben sorriu, mais manteve o olhar no livro.

– Você não tem vergonha não. – O menino não fez rodeios. – De ficar dando em cima da Anita, pelas costas de todo mundo aqui em casa. – Vitor emendou uma frase na outra, nem se quer dando tempo de Ben processar a primeira.

– Oi, o que. –Ben fechou o livro incrédulo, e a única palavra que ficou em sua mente, e pareceu ecoar por ela, soendo como um alerta, foi o nome de Anita.