– Vitor você pode repetir, por favor. – Pediu Ben o encarando, vendo uma tensão acelerada percorrer seu corpo, depositando o livro de sua mão sobre a cama. – Eu acho que eu não entendi. – Disse ele, evitando deixar seu incomodo vir à tona.

– É isso mesmo Ben, quando você vai deixar de bancar o falso, e admitir que você ainda cerca a Anita. – Repetiu ele cruzando os braços. – Se é que não esta pegando de novo, não é. – Soltou raivoso, enquanto Ben parecia processar tudo travando uma batalha consigo mesmo para não perder a cabeça, já no instante seguinte.

Ben riu desconcertado. – Olha só Vitor, eu, eu... – Ele suspirou fundo e procurou as palavras para explicar-se ao irmão, realmente disposto a contar a verdade, mas pela cara de Vitor lhe encarando, percebeu que a conversa seria bem difícil, por mais que ele estivesse disposto a tentar conservar a cordialidade.

– Eu dispenso os teus rodeios tá legal, você tá pegando a Anita, debaixo do nariz de todo mundo, tá na cara, eu vi você dando cima dela. – Afirmou ele, fuzilando o irmão com o olhar, deixando sua raiva e chateação ser evidente.

– Primeiramente vamos começar do começo, abaixa o tom de voz, que eu não sou nenhum um moleque de recados pra te dar satisfações, e eu não ficava simplesmente me pegando com a Anita. – Disse Ben, prendendo o ar para manter a calma. - Respeito é bom às vezes, e como se diz por aí conserva os dentes, eu namorava ela, eu queria construir uma vida do lado dela. – Ben ficou tremendamente irritado com o mais novo, mesmo suplicando a si mesmo que manteria a calma. – E baseado em que você diz que eu dei em cima da Anita. - Posso saber? – Ele perguntou, querendo entender melhor de onde vinha a ira de Vitor, até para se explicar.

– Eu vi, há uma hora atrás na cozinha, você cheio de lábia pra cima dela, abraçando e tudo. – Vitor disparou ríspido.

– Ah na cozinha, há uma hora atrás. – Ben repetiu para ver se acreditava. – Foi baseado nisso que você veio aqui. – Ben retrucou, de cara fechada.

– Vai menir. – Vitor pressionou, revirando os olhos, se irritando, é só pensando consigo mesmo até que ponto poderia ir o cinismo do irmão.

– Eu não estava dando em cima dela, se você tivesse sido menos imbecil de tirar a conclusão e não analisar os fatos, você teria entendido, eu peguei ela chorando, por alguma coisa que a Vera disse a ela, que eu nem sei o que era, porque a Anita se recusou a me dizer. – Exclamou Ben, totalmente indignado, com a audácia do mais novo. - Você queria que eu fizesse o que, Vitor, desse um tapa na cara da garota, e pedisse pra ela parar de ser sentimental. – Disse ele impaciente, se justificando, realmente se expressando com sinceridade. - Pra você isso pode até ser muito vago, mais eu costumo me importar com as pessoas que me cercam, e com tristeza delas também, você já devia de ter notado isso. – Afirmou.

– Desculpa velha né Bem. – Vitor ficou sem acreditar e sorriu irônico. - Que você só tava consolando ela sem nenhuma intenção, conta outra, aliás, inventa uma melhor da próxima vez. – Ironizou impaciente.

– E porque, eu deveria. – Ben rebateu, já casando das cobranças do irmão e sem a mínima paciência. – Vocês são assim não é, bajulam a garota, quando é pra Anita fazer as vontades de vocês, tapar as brechas que vocês deixam com meu pai, com a Vera, enchem o peito pra dizer que se importam com ela, quando na verdade é vocês que precisam dela, mas quando é ela que precisa, ninguém ajuda não é, só pedem, mas são incapazes de dar um apoio quando ela realmente precisa. - Ben jogou na cara de Vitor, se se intimidar. – Só que uma coisa a Anita já cansou desse jogo, aliás, ela também já percebeu como ele é. – Alertou o garoto.

– Você vai mesmo mentir Ben, você não passa mesmo é de um moleque, um moleque que não sabe o que quer. – Vitor esbravejou. – E ainda por cima fica pagando de sensato, que piada. – Debochou ele sarcástico.

– Moleque aqui é você Vitor, você é o moleque, que veio aqui achando que pode se meter na minha vida e que eu vou aceitar bronca de pirralho, que não viveu nada na vida, é acha que tudo é definitivo. – Ben irritou-se sem se controlar, cansado de ouvir as provocações do menino. - As pessoas erram Vitor, e você também vai errar, faz parte, de qualquer ser humano isso, e eu sou homem o suficiente pra assumir o que eu faço, você pode ter certeza disso, agora não é você que vai me obrigar a assumir nada, você não tem o direito nenhum de se meter na minha e vir aqui apontar o dedo na minha, como se achasse que sabe de alguma coisa. – Ben viu as palavras saindo de sua boca, sem que ele conseguisse as medir.

– Eu sei o suficiente, o suficiente, pra saber que você não vale nada Ben, primeiro meteu a Anita naquela confusão dos infernos, e depois foi se consolar nos braços da Sofia, e agora pelo jeito usou e abusou da tua lábia pra ter ela de volta. – Disparou ele, não poupando xingamentos a Ben.

– Você não sabe do que você tá falando Vitor pelo amor de deus. – Ben levou as mãos no rosto, desolado.

– Sei até demais. – Insistiu o menino em suas teorias.

– Não, você não sabe, e quando começar a saber, também não vai gostar. – Ele riu irônico. - Acho que todo mundo nessa casa, olha pra Anita assim não é, como uma menininha boba que se deixa levar, a esperta que sabe de tudo é a Sofia, enquanto isso a Anita tem que se recolher a própria insignificância, que vocês dão a ela, né, porque enquanto ela tiver sendo boazinha com todo mundo e ajudando todo mundo, e semeando a paz na família tudo certo, é assim que vocês gostam, mas tudo mudou, quando a vontade dela falou mais alto, e ela peitou todo mundo pra ficar comigo, ela deixou de ser o exemplo, só que vocês estão enganados, a Anita não é nem nunca foi uma boba e imatura, e você pode ter certeza que qualquer coisa que a gente fez até aqui foi com o consentimento dela também. – Ben respondeu já enfurecido, Vitor ficou com mais raiva ainda, quando constatou que ele estava certo, o envolvimento dos dois, era real, e talvez até escancarado só não percebia quem não queria, sua vontade foi sair gritando os quatros cantos da casa, tudo aquilo, dizer ao pai, quem era realmente o filho que ele tanto presava, que não passava em sua opinião, de um mentiroso e nada mais. – E sim eu estou assumindo, eu estou com a Anita. – Ben casou-se dos devaneios do irmão e movido, por um impulso despejou tudo de vez.

– Você é muito baixo mesmo né, e fala isso com essa cara. – O menino riu com ira.

– E fica quieto, que já que você veio aqui, dizer o que pensa sobre mim, agora quem vai falar, tudo que tá entalado aqui há meses, o que eu guardei todo esse tempo muitas vezes por consideração a vocês, mais ninguém aqui tem consideração a ninguém não é, só pensam no fundo em si mesmos. – Interrompeu o garoto. - A gente voltou, e pode ter certeza que não é você e nem ninguém que vai me impedir de ficar com ela, tanto eu como ela, somos maiores e plenamente conscientes dos nossos atos, eu não to me importando com mais nada Vitor, eu cansei de me importar, sendo que eu vou sempre ser taxado como o irresponsável que veio dos Estados Unidos e não se importou em seduzir a filha da madrastas, pra logo depois atirar ela na lama, então, que se danem vocês, e o resto, mais não vai ser você e nem ninguém que vai me dizer que eu sou errado, eu fui sim, mas porque fiz um monte de besteira porque não aguentei perder a garota que amo, e ver também ela se perder complemente, ou você acha que foi fácil pra eu, você acha que eu não tive vontade de matar o Antônio, no momento que eu tive certeza que todo aquilo tinha sido causado por ele, você acha que ainda não tenho vontade, porque eu sei que aquele infeliz não iria fazer falta pra ninguém, mais eu também tenho consciência de que eu não posso estragar minha vida, por uma coisa que jamais valeria a pena, porque mesmo você achando que não, eu não sou igual a ele, e seu eu pudesse voltar a atrás, e eu tivesse uma única chance de concertar alguma coisa, aquela noite iria ser apagada, não da minha vida, mais da vida da Anita, porque foi ela que sofreu e ainda sofre coma aquilo tudo, então você pode se preparar Vitor, porque eu passo por cima de tudo mundo nessa casa e do que vier pela frente, mais eu não vou deixar mais ninguém ficar atormentando a cabeça dela com isso. – Ben despejou tudo que estava entalado em sua garanta há meses, e que ele se viu não conseguindo segurar mais.

– Eu não estou acreditando Ben. – Retrucou um Vitor irritado, que não parecia entender e nem estar disposto a considerar toda a confissão do irmão.

– Mais você pode acreditar, eu repito se você quiser, a Anita foi é e vai continuar sendo minha namorada, e não há nada que você possa fazer quanto a isso, agora não experimenta ficar no meu caminho não, vai ser melhor pra você e pra qualquer um que resolver se meter nele, ficar bem longe disso, e se quer pensar em destilar veneno em cima da minha relação com ela, com pensamentos infundados e cheios de falsas verdades. – Garantiu Ben.

– Você tá sendo ridículo Ben, e eu estou te adiando por isso. – Reclamou Vitor.

– Claro como todo mundo dessa casa, que acha que assim como a Anita, eu tenho que ser o saco de pancadas, que tudo aceita e que tudo entende, eu posso ser responsável, mais eu sou humano Vitor, eu erro de vez em quando, e talvez eu tenha errado em parte nisso tudo, tenha errado em não ter tentando evitar meu amor pela Anita, não que eu não tentasse, só que foi mais forte que eu, mais claro que como alguém que nunca erra, você não entende isso, eu tenha errado quando não percebi o mostro que o Antônio era, e pior trouxe ela pra perto de todos vocês, quando convidei o Hernandez pra morar no Brasil, mesmo sabendo que ele a Tita não tem nada a ver com isso, são só mais duas vitimas nisso tudo. – Admitiu. – E tem mais uma coisa que eu vou te falar e eu realmente espero que você não esqueça, já que você se diz inabalável, um ser perfeito e totalmente digno, por favor não fala pro meu pai e pra Vera, até eu conversar com a Anita, pra gente assumir pra todo mundo, ainda mais agora com essa história da Sofia, pensa neles já que você me acusa de ser tão egoísta, e mostra que você realmente é um ser muito superior a mim, ou você vai esquecer o próprio discurso e ir correr contar pro papai, que o irmão mais velho fez burrada, e ainda aproveitou e arrastou a irmã postiça junto. – Ben pediu, não escondendo sua chateação.

– Não vou contar por enquanto, mais não pense que eu não vou mudar de ideia. – Deixou no ar. - Pra mim já foi o suficiente, com licença. – Vitor deixou o local com cara de indignado e pura irritação.

– Inferno. – Ben esbravejou para si mesmo com os neurônios fervendo.

– Ben meu filho você pode me explicar o que foi isso aqui. – Cícera acabou ouvindo partes da conversa da cozinha, mesmo sem querer.

– Eu não vou te explicar nada mãe. – Retrucou Ben seco. – E se você quer saber, não se mete nisso também, ou você vai ser mais uma que vai se incomodar atoa, vai comprar um briga que eu não entrei pra perder. – Soltou.

– Mais o que deu em você, como pode, queria saber de onde você herdou esse gênio. – Estranhou ela.

– Acho que você deveria ter escolhido melhor o namorado então, pra ter um filho com ele, e ficar se fazendo essa pergunta depois, e realmente eu to com a cabeça explodindo. – Disse Ben pegando seu moletom preto de cima da cama e o vestindo.

– Você vai onde. – Perguntou a mulher afoita.

– Esfriar minhas ideias, antes que eu exploda mesmo. – Falou ele, saindo apressado.

– Pelo menos me poupe de te visitar no hospital, mais tarde, e não se quebre inteiro pulando por ai. – Ralhou ela, prevendo as intenções do filho.