– Gente pelo amor de deus. – Anita esfregou os olhos devagar, se perguntando se tudo aquilo era mesmo verdade, ou ela estava pra lá se sonolenta e fantasiando em uma manhã qualquer, em um dia de aula, uma alucinação que jamais existiu. - Da pra alguém me dizer que isso tudo não passou de um engano. – Argumentou caminhando a passos lentos pelo pátio do colégio, percebendo o silêncio de Serguei e Julia de um lado e Ben do outro, que pareciam tão atônitos quanto ela, depois de toda confusão no corredor da escola.

– Alguém sabe se o Sidney foi avisado. – Proferiu Ben ao lembrar-se do garoto, prevendo que ele iria ficar pra lá de arrasado com a situação. - De que a trapalhada que ele aprontou com a Sofia, já é publica, e que todo mundo sabe. – Ben questionou pensando no amigo.

– E a Sofia. – Disse Anita, parecendo ter seu primeiro lapso de realidade depois de todo o choque inicial. – A Sofia já sabe. – Se perguntou a menina, nunca pensando que depois de tudo, que se sucedeu entre ela e a irmã, ainda sentiria tanto medo de ver a irmã sofrer com algo, algo terrível, Anita não poderia negar, e que nem mesmo a loira no auge de sua altivez e orgulho merecia.

– A Flaviana foi a primeira pessoa que viu. – Serguei pronunciou, encontrando as palavras com dificuldade para expor toda situação para os amigos. – Quer dizer a primeira pessoa, que viu e se preocupou com a Sofia. – Concertou ele, ainda indagando em seus pensamentos, o porque de algumas pessoas, pra não dizer a maioria, importava-se tanto em ver alguém por baixo da situação, e sentir prazer naquilo, nesse caso onde ficavam os valores que muitos pais se orgulhavam de passar pros filhos, onde teria ido parar as falações humanizadas que todos gostavam de abrir a boca com orgulho pra dizer, e colocar-se no lugar do outro, era só uma paráfrase mentirosa, no final das contas o que valia era sentir-se superior e melhor, sentindo-se altivo por não ser “eu” o humilhado, no fundo era isso que ficava, pensava ele inercio por alguns instantes.

– E cadê a Sofia? - Anita questionou ao amigo, com a voz falha, pensando em como a garota poderia ter reagido a tudo aquilo, mesmo não falando muito do assunto com a irmã, Anita sentia que a garota não se orgulhava nem um pouco de expor tal episódio a ninguém.

– Ela. - Serguei procurou uma resposta, mas manteve-se sem ela. – Eu não faço a mínima ideia Anita, Flaviana e eu estávamos no salão, a Flaviana recebeu um compartilhamento do tal vídeo, viu, e ficou em choque, óbvio. – Falou ele, materializando o semblante da namorada no momento exato.

– Aí a gente correu pra cá, ligamos pra você, mais eu não consegui falar com ninguém, nós chegamos a Sofia estava esperando a Flaviana lá na entrada do colégio ainda. –Exclamou apontando na direção exata. – Ela contou pra ela, a duas saíram, não sei pra onde eles foram. – Concluiu o garoto ainda confuso.

– Eu devo estar com o celular desligado até agora. – Ben justificou, o interrompendo por segundo.

– Não eu também. – Anita percebeu. – Acordei tarde, pra caramba hoje. – Falou ela, lembrando ter encontrado somente Pedro, tomando café, quando desceu do quarto pela manhã. – Meus deus, eu, eu... – Balbuciou Anita, em plena confusão. – Eu preciso procurar a Sofia, gente eu realmente, não faço ideia do que ela deve estar pensando nesse momento, disso tudo. – Proferiu enquanto tentava pensar em alguma reação da irmã. – Meu deus do céu minha mãe. – Disse ela dando-se de conta. – Como a Sofia vai contar um negócio desses pra ela, a mamãe vai querer matar a Sofia gente. – Afirmou ela, vendo sua preocupação tomar uma dimensão ainda maior.

– Anita calma. – Julia pediu tentando tirar um pouco da angustia da amiga. – Uma coisa de cada vez, não é, você não pode querer resolver tudo pra já. – Ponderou a menina. – E como você mesma disse, imaginar uma reação da Sofia agora, não adianta, é melhor a gente falar com ela primeiro. – Sugeriu.

– Julia me desculpa, mas você não esta entendendo. – Anita não se ateve. – Não tem como, você simplesmente se ver, numa situação dessas, e achar que é tudo normal, não da pra todo munda ficar sabendo de uma coisa dessas e você achar que não é nada. – A garota retrucou aflita , gesticulando de forma exasperada para a morena.

– Se tem razão, eu não sei nem o que eu iria pensar se fosse comigo. – Julia concordou.

– Acho que foi pesado demais até pra Sofia, dessa vez. – Serguei também confirmou.

– A Giovana e o Vitor. – Anita alertou ainda, pensando quando as surpresas parariam naquele dia. – Ben a gente não pode deixar eles contar isso pra mamãe e pro Ronaldo. – Foi taxativa a garota. – A gente tem que impedir isso, ou aquela casa vai vir abaixo em um suspiro só. – Cobrou ela assustada.

– Anita, Anita. – Ben chamou a atenção dela, segurando sua mão por um instante. – Calma, por favor, eles também não vão sair correndo do colégio, só pra despejar uma bomba dessas lá em casa. – Argumentou ele, para que a menina as mante-se racional. – Né, eles não fariam isso, eu acho. – Disse, Anita apenas assentiu coma cabeça que ele poderia estar certo.

– Tá então eu vou procurar a Sofia, melhor mesmo. – Afirmou ela, suplicando a si mesma, que mante-se a serenidade.

– Eu vou com você. – Se dispôs Julia.

– Bom e alguém vai ter que falar com o Sidney, o Ben tem razão, não da pra fingir que nada aconteceu. – Serguei previu.

– Eu vou com você. – Garantiu Ben, também preocupado com o garoto.

– Bom se eu conheço a Sofia, ela deve estar enfiada em algum conto, com a Flaviana, ela não iria pra casa. – Anita imaginou, suspirando fundo para ajudar a concentrar suas atenções no que realmente era importante nesse momento. – Vou indo gente. – Disse a menina movendo-se para se afastar.

– Julia. – Ben a chamou. – Não deixa ela sozinha, ela tá muito nervosa, e eu não to gostando disso. – Percebeu ele, certo descontrole nas atitudes da garota.

– Tá, você tem razão. – Julia afirmou, caminhando apressada para encontrar Anita que já estava um pouco distante.

– Porque você acha que ela vai fazer alguém besteira. – Serguei interviu nos pensamentos dele. - Besteira mesmo ela vai fazer quando descobrir quem que fez isso, isso se a Sofia não chegar antes. – Serguei rebateu.

– Isso tudo só pode se piada. – Ben passou a mão nos cabelos desconcertado.

– Realmente. – Concordou. – Mais o fato é que as duas podem até se odiar de vez em quando, mas ninguém defende uma a outra melhor do que elas. – O garoto, ditou a respeito da relação controversa de uma com a outra.

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– Flaviana eu vou matar o cretino que divulgou aquela maldita conversa. – Sofia andava de um lado para o outro no banheiro, enquanto soltava xingamentos ao vento, mas querendo no fundo que tudo aquilo fosse um sonho ruim que teria fim, após um pedido de socorro.

– Sofia tenta ficar calma. – A morena pediu, apoiada a bancada da pia, temendo as ações da garota.

– Calma. – Gritou ela, em um uníssono que ecoou por toda extensão do lugar. – Não me interessa mais nada, eu já to ferrada mesmo, pagando de otária pra todo mundo, eu juro que se eu ficar sabendo quem foi. – Sofia disse, com a voz embriagada, por um fio de angustia e perdição, que escorria por seu corpo sem que ela conseguisse encontrar uma solução, logo ela que sempre achava saber e poder controlar tudo a sua volta, engajada sempre em dar um jeito em tudo a seu favor, realmente estava tentando esconder em sua ira, sua falta de direção. – Se arrependimento matasse Flaviana, eu nunca, mais nunca teria dado trela pro Sidney, a aquele ponto, se eu soubesse que ele poderia ser capaz de agir daquela forma. – A patricinha deixou um descontrole mínimo transparecer nas palavras, sentindo que não conseguia segurar muito mais.

– Heiii. – Flaviana se aproximou da amiga. – Fica calma, a gente vai resolver isso, eu te garanto. – Pronunciou ela, puxando a loira para um abraço, que continha carinho e conforto, que por sua vez se viu entregue aos braços da amiga, querendo muito acreditar nas palavras dela. – Eu juro. – Afirmou Flaviana, separando-se da menina, estampando um sorriso de leve no rosto para demostrar que estava tudo bem.

– Se o tosco, tem alguma coisa a ver com isso, a Maura vai ficar órfã de filho porque eu vou matar o Sidney. – Sofia ameaçou, enquanto travava uma batalha em segurar as lágrimas que relutavam em cair, mesmo sem seu consentimento.

– Sofia eu não acho que tenha sido ele. – A morena defendeu o garoto, nem mesmo sabendo de onde vinha tal convicção, escutando logo depois, fortes batidas à porta do banheiro que vinham do lado de fora.

– Cai fora tá ocupado, vai pro inferno se preferir. – A loira gritou, tencionada em achar que poderia ser mais alguém para disparar gracinhas a respeito da situação.

– Sou eu Sofia. – A voz familiar falou do outro lado respondendo. – Anita, me deixa entrar, por favor. – Pediu a garota, deixando parte de sua aflição sair junto com as palavras.

– Eu vou abrir. – Flaviana respondeu, sentindo que não seguraria tal confusão sozinha.

– Flaviana. – Sofia ainda quis protestar, mas a garota somente caminhou em direção da porta.

– Oi gente. – Falou Anita entrando apressada com Julia a seguindo, Flaviana fechou a porta novamente e ficou escorada na mesma, como se tentasse julgar com o olhar qual seria a atitude de Anita.

– O que você veio fazer aqui. – Sofia esbravejou de forma seca a irmã, parada a sua frente segurando a bolsa em mãos. – Me repreender, me condenar, ou encher meu ouvido de que eu não poderia ter deixado uma coisa dessas acontecer. – As palavras pareciam sair dos lábios da menina involuntariamente, como se fosse a única forma que ela tinha de abafar as vozes que se dirigiam a ela, naquele momento.

– Não, até porque eu nem preciso te dizer que eu sou a última pessoa que poderia fazer isso com você. – Anita disse calmamente, atropelada por um suspiro para puxar o ar, como se quisesse achar os argumentos para seguir com a explicação. – Como você esta. – Questionou ela.

– A gente só quer ajudar Sofia. – Julia também quis apoiá-la.

– O que você acha Anita, eu deveria estar feliz. – Disse ela de volta, se dirigindo a um canto qualquer para que não precisasse olhar para Anita.

– Você... - Eu acho melhor você ir pra casa Sofia. – Anita sugeriu, justificando que ela não poderia passar o resto da manhã enfiada no banheiro sem chamar atenção. – Acredito que ficar aqui ouvindo besteira dessa gente, só vai fazer você se sentir pior.- Afirmou.

– E eu vou pra onde? – Sofia respondeu com um nó em sua garganta que distorcia sua fala. – Pra casa Anita, a mamãe vai me esfolar quando ela descobrir o que aconteceu, com que cara, que eu vou olhar pra ela. – Disse ela, sentindo seus olhos arderem em meio a segundos de desespero. – Hein me fala, ou é isso que você quer aconteça, talvez você mereça ver isso mesmo, não é. – A loira se puniu.

– Não se preocupa com a mamãe, a gente conversa com ela, quanto a cara vai ser a mesma de agora, você não cometeu crime algum, se você fez mal pra alguém, foi pra você mesma. – Anita exclamou. – E se você acha que eu seria tão estupida em contar vantagem dessa situação, você tá mesmo precisando me conhecer melhor. – Garantiu Anita, profundamente certa de que não queria ter que vê-la passar por tudo aquilo. – Eu não posso ir pra casa com você agora, infelizmente, eu tenho que fazer um prova de Geografia daqui a pouco, e meu histórico por aqui, não é dos melhores pra mim ficar pedindo segunda chamada, como você sabe. – Ela comunicou ao constatar, que haviam coisas acima de sua vontade. – Faz assim, vai pra Barra, pra casa da Bernadete, eu vou ligar pra Bernadete, e vou pedir pra ela não deixar a mamãe mexer com internet, e nem ninguém falar nada disso pra ela, pelo menos até as aulas acabarem. – Disse lhe sugerindo.

– Eu posso ir com ela Anita. – Flaviana se dispôs, achando que não seria bom deixar a loira sem companhia.

– E eu te agradeço Flaviana. – Anita respondeu. – Depois que acabar aqui, eu te encontro lá, pra gente falar com calma, eu to querendo entender exatamente o que aconteceu, até pra gente descobrir quem foi o animal, que postou essa tua conversa com o Sidney. – Disse Anita, predestinada em descobrir quem foi o autor de tal “gracinha”.

– Isso se não foi o Sidney né Anita. – Sofia retrucou. – Tava bem dizer, só a gente lá em casa. – Justificou.

– Em casa, lá em casa. – Indagou Anita ficando mais intrigada ainda.

– Sim, foi um dia que você não estava em casa, o que aquele maldito foi fazer lá. – Sofia culpou o menino enfurecida.

– Pra mim não foi ele, tem que ter outra explicação, mas foi se, acredita eu vou ser a primeira pessoa a dizer que ele estava errado, mais não entra nessa em achar que foi o Sidney, e deixar a pessoa que fez isso, por aí, contando a vantagem de não ser descoberto. – Afirmou a garota. – Mas, lógico, que qualquer coisa pra você agora, soa como não sensata. – Percebeu ela que a irmã não teria qualquer pensamento racional naquele momento.

– E você vai me ajudar por que. – Sofia soltou, contra uma Anita que parecia quase não acreditar.

– Ah não sei, o que você acha. – Disse a garota fingindo-se de irônica. – Acordei hoje, pensamento seriamente que eu tinha que fazer uma boa ação pra compensar meus erros, e ser perdoada. – Ironizou. – Sofia, o que você acha, que eu iria me divertir com isso. – Cobrou a menina com a voz ofendida.

– Não. – A loira deu seu braço a torcer. – Seria pedir pra você ser muito diferente do que você é mesmo. – Alegou ela, realmente percebendo que precisa de alguém que interferisse junta a mãe naquele momento, ou ela estaria perdida em um caminho de terror e nada mais. – Obrigada Anita, mesmo achando que você não vai dizer que eu mereça. – Sofia agradeceu.

– A gente resolve isso depois, a coisas que são mais urgente né. – Anita afirmou, realmente não se importando se a garota viria às costas mais tarde, e não a trataria com agradecimento por sua atitude.