A noite no casarão...

– O pai o que custa? – Meu deixa cantar com a banda no Embaixada. – Giovana tentava ser insistente com Ronaldo para convencê-lo, enquanto todos jantavam, reunidos na mesa.

– Custa, que dia de semana eu não quero. – Ronaldo foi irredutível. – Giovana você tem aula de manhã cedo, você acha que iria continuar conseguindo se dedicar. – Tomou como justificativa. – Você tem é que pensar nas tuas notas, e depois noite não é pra adolescente. – Afirmou taxativo.

– E do jeito que essa aí vive dormindo. – Vitor disparou, colocando mais macarrão em seu prato. – Haahahaha, não acordava mais, iria virar zumbi. – Vitor gargalhou.

– Ai cala a boca, o esquenta banco. – Giovana respondeu a altura. – Não né, porque é isso que ele faz nos jogos de vôlei, e depois vem dizer que é campeão. – Riu a garota.

– Cala a boca você o pentelha, pentelha e ainda desinformada, é uma tática do Fábio colocar outro time do meio pro final do jogo. – Disse Vitor, encarando a irmã impaciente.

– Olha aqui Vitor. – A ruiva apontou um dedo em direção do garoto.

– Chega. – Ronaldo interrompeu. – Ou se não daqui a pouco quem vai ver aqui, são os dois, mas é a pia cheia de louça pros dois lavarem imediatamente. – Ameaçou. – Entenderam. – E os dois apenas assentiram que sim.

– Mais e aí pai, vai deixar eu contar ou não. – Giovana voltou para o assunto inicial. –Poxa pai o que custa, vamos fazer assim. – Falou ela decidida a persuadi-lo. – A gente canta, segunda, quarta e sexta e só, e eu também prometo que isso não vai atrapalhar nas minhas notas. – A menina disse sorrindo.

– Caramba hein Giovana, você quando começa com uma coisa é pior do que vendedor de tralha que ataca a gente na rua. – Ronaldo ralhou, tenso pela insistência.

– E isso se deve porque você sempre faz tudo que ela quer. – Sofia retrucou se intrometendo.

– Claro não é Sofia, você fala isso como se a Vera não sempre passasse a mão nessa tua cabeça cheia de cabelo oxigenado. – A menina achincalhou de forma maliciosa.

– Acho bom as duas nem começarem. – Ronaldo afirmou, ao perceber Sofia prontamente para dar outra resposta.

– Tá mais pai deixa eu cantar. - Ah pai. – Ela foi insistente.

– Pai, deixa pelo menos ela tentar, sei lá uma vez que seja. – Ben quis ajudar a menina. – E depois se não der certo você encerra o assunto e ponto. – Alegou. – Se você quiser eu me ofereço pra acompanhar eles, uma vez ou outra. – Sugeriu ele.

– É pai, se o Ben se responsabilizar , você deixa. – Giovana se animou. – Não deixa. – Sorriu para convence-lo.

– Xiii... – Agora tu te ferraste Ben, porque ser responsável por qualquer coisa que a Giovana faça é furada na certa. – Vitor rebateu as risadas.

– Ai Vitor. – Proferiu Giovana, fazendo uma careta para ele que ignorou. – Então eu posso cantar, ah vai deixa. – Ela ficou impaciente pela resposta.

– Condições. – Disse Ronaldo se dobrando a aceitar. – O Martin, tem que consultar ele, afinal o dono agora é ele, os dias são somente, segunda e sexta, o que pode mudar se vocês fizerem algum show por fora, sábado ou domingo, se for num dia perdem um, se nos dois no sábado e no domingo, não cantam durante a semana, as notas Giovana, todas na média, final do bimestre eu quero o boletim aqui na minha frente, certo. – Afirmou ele, impondo algumas condições.

– Ah muito obrigada. – A ruiva pronunciou com alegria, levantando para abraça-lo. – E Ben você pode falar com o Martin né. – Giovana pediu, querendo induzi-lo.

– Ah tá bom. – Ben aceitou, movido pela empolgação da irmã. – Amanhã cedo eu posso lá no galpão da empresa da Vera pra falar com ele, já que só a tarde que ele vai pro embaixada, e aí quem tá ocupado sou eu. – Justificou o garoto.

– Ah e tem mais uma coisinha, horário das cinco as oito, não quero saber de menor cantando até tarde. – Ronaldo ainda impôs.

– Pai, não as cinco é muito cedo, tipo quem sabe das sete até ás nove e meia. – Ponderou Giovana.

– Ou é isso ou nada Giovana, sem mais. – Disse ele não deixando levar, pela lábia da garota.

– Ai palhaçada, sem graça. - A ruivinha retrucou, contrariada. - Tá bom eu aceito. – Concordou ela sem muita opção.

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No apartamento da Bernadete.

– Ai gente esse filme acaba comigo. – Soraia dizia de forma emocionada.

– Eu to vendo, daqui a pouco você tá aí aos prantos. – Anita não resistiu em achar graça.

– E tem coisa mais comovente do que uma boa história de amor, ainda mais essa gente. – Justificava ela, já vendo os créditos subirem na tela ao final do filme.

– É ainda mais com histórias de duplo sentido como essa, que fazem a gente repensar se uma lembrança de amor é eterna ou não, capaz de enfrentar até a própria morte, aquele obstáculo que pra nós relhes humanos é solucionável. – Disse Anita.

– Acho que a gente devia de ter assistido a de comédia Anita, fiquei mexida gente. – Respondeu Soraia melancólica.

– Então é mudando de assunto. – Anita afirmou, pegando um punhado de pipoca na tigela. – Você ainda faz faxina lá no apartamento do meu pai. . – Perguntou Anita, sondando. - Quer dizer que era do meu pai. - Contornou ela

– Ah até fazia, pra Zelândia, mais Anita agora que você tá falando, acho que eu ouvi um comentário de que ela não tá mais morando no prédio. – Soraia exclamou.

– Desgraçados, foram viajar com dinheiro sujo. – Anita cochichou para ela mesma.

– Que foi. – Indagou Soraia, ao perceber certa tensão no rosto da menina.

– Nada eu tava pensando uma coisa aqui. – Disfarçou ela sorrindo.

– Essa história do seu Caetano batida às botas, quer dizer falecido, mexe muito com vocês né. – Supôs ela.

– É pois é, mas eu não quero falar disso não. – Anita encerrou o assunto. – Bom eu vou tomar um banho e depois vou tentar ligar pro Ben. – Disse Anita, levantando e jogando a almofada sobre o sofá.

– Tá certo, vai lá. – Proferiu Soraia com um sorriso.

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– Que isso Sofia, tá maluca. – Disse Ben, com certo espanto quando foi até a cozinha para pegar um copo com água e após fechar a geladeira deu de cara com a garota “plantada” em sua frente.

– Você não acha que tá se assustando com muito pouco não. – Sofia respondeu em meio a uma gargalhada.

– Não. – Rebateu ele secamente. – Você não acha que tá meio tarde pra você ficar andando pela casa não. – Alegou.

– E você também não acha, a não ser que você tenha o mesmo proposito que eu. – A loira respondeu. – Tomar água. – Sorriu maliciosa.

– Bom isso já não me interessa, com licença. – Falou ele virando-se para ir embora.

– Hei, será que você não pode conversar comigo um segundo. – Ela impôs audaciosa, lavando a mão ao braço dele com intuito de segura-lo.

– O que você tá querendo Sofia, olha só, eu não estou com paciência tá, guarda teu latim pra outro. – Ben devolveu com pouca vontade de responder.

– Eu já cansei de te dizer que você é taxativo demais às vezes sabia. – Sofia retrucou sorridente. – Sei lá eu ando querendo viver um momento de cada vez sabe, e eu já te provei que a gente faz isso muito bem juntos. – Jogou charme.

– Sofia onde que você tá querendo chegar com esse papo furado, se não onde eu to achando, como eu disse não perde teu tempo. – Argumentou Ben já impaciente.

– Ah para Ben, ok, você quis terminar nosso namoro, tá eu deixei, mais eu nunca te disse que eu não tentaria reverter essa situação, digamos que eu tive uma retirada estratégica. – Afirmou ela. – Tá na cara que você só terminou tudo pra me provar que você se manda, só isso, então pronto já está feito. – Alegou a garota insistente. – Mais o que você não pode negar é que a gente deu muito certo juntos. – Se aproximou um pouco mais. – Aliás, até demais. – A loira disse, em um impulso de abraça-lo.

– Sofia, para, já disse. – Rebateu ele, afastando as mãos dela. – Achou melhor você voltar pro teu quarto, eu não quero mais confusão com ninguém dessa casa por tua causa. – Alegou Ben dando um passe atrás.

– É isso que você tem medo. – A garota cobrou sorrindo maliciosa.

– Também, mas achou melhor ainda você parar com isso não vai adiantar, não insiste. – Garantiu Ben.

– Você vai negar que um dia você gostou de mim Ben, porque, pra não magoa a Anita, depois de tudo que houve, pra não perder o teu ar de superioridade. – Ela pressionou.

– Você pode deixar o nome da Anita, de fora disso. – Afirmou ele. - Você quer sinceridade, então lá vai. – Ben disse cansado das voltas da garota.

– Quero. – Balbuciou de volta.

– Então, hoje eu posso te dizer com toda certeza do mundo que eu não fui apaixonado por você, eu me encantei por você, não vou negar, e talvez isso pudesse sim virar uma grande paixão, mas em circunstâncias que vieram muito depois disso, eu pude ter certeza que o que eu sentia por você não tinha nada a ver com paixão e muito menos com amor, se fosse eu não teria tirado você da minha vida tão fácil, jamais, eu não vou negar que há meses atrás eu achei que quem sabe desse certo, mas também não tinha mais nada certo na minha vida, eu agi como uma pessoa que hoje, com certeza não faz mais parte de mim. – Afirmou Ben. – E de verdade, eu acho que você deveria passar a olhar por quem te merece de verdade, e esse cara não sou, é o cara da casa ao lado talvez, não perde teu tempo mendigando coisas de quem realmente não tem interesse em você, e eu não to falando pra te humilhar Sofia, eu to falando porque eu realmente desejo que você seja feliz. – Encerrou ele, enquanto a garota lhe encarava atônita apenas.

– Você tá com alguém Ben? – Perguntou ela dispersa.

– Sofia a vida de uma pessoa não se resume somente há isso. – Rebateu Ben fugindo de uma resposta.

– Mais tem alguém, é Anita claro, você ainda gosta da Anita, você não acha que é muita burrice não, depois de tudo que houve, bom ela parece muito bem sem você, ou isso é uma farsa somente vocês tão enganando todo mundo. – Disparou a loira não se dando por vencida.

– Sofia isso realmente é um assunto que não te diz respeito, mas eu ainda sinto uma coisa muito forte pela tua irmã, e isso é muito mais do que uma certeza, é real, agora eu acho bom você ir dormir e eu também. – Ben pronunciou. - Boa noite. – Disse lhe dando as costas.

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No dia seguinte...

– Anita eu trouxe um suco pra você. – Soraia falou chegando a varanda com um copo de suco de laranja em mãos.

– Oh Soraia valeu. – Anita respondeu parando o que estava fazendo.

– Tá fresquinho, acabei de fazer. – Afirmou ela, com Anita pegando o copo e experimentando.

– Tá maravilhoso, mais olha, não precisa ficar se preocupando comigo não, a Bernadete não tá aqui e você não tem obrigação de ficar me servindo, quando eu sentir fome eu posso fazer alguma coisa para eu comer sem problemas. – Anita alegou.

– Nem te preocupa, e depois eu consigo ficar parada, já tava ficando doida nessa casa sozinha. – Garantiu Soraia. – Esse não é aquele bidê antigo que tava lá no quartinho, que a Detinha diz que era da avó dela. – Questionou ao observar.

– É sim, na verdade ficou só esse que eu não reformei, afinal de contas na época que morei aqui a Bernadete me fez reformar quase toda a casa né, só pra ver se eu parava de pensar em certas besteiras. – Anita afirmou ao lembrar-se.

– Ela queria era te ver bem né, aliás, Detinha quando enfia uma coisa na cabeça. – Soraia pronunciou achando graça.

– E eu não sei. – Anita riu. – Mais eu acho que eu tenho que agradecer muito a Bernadete, e a você também. – Exclamou ela agradecida.

– Que nada. – Respondeu Soraia. – Bom eu vou ter ir, tenho uma faxina pra fazer no apartamento daquela grã-fina meio metida do apartamento aí de cima. – Justificou ela.

– Ah sei, aquela que tá sempre incomodando o porteiro, o sei Zé, dizendo sempre que a água da piscina tá com cloro demais, e que por isso tá destruindo o cabelo dela. – Se divertiu Anita ao contar. – Eu desci ontem pra ir na lojinha ali da esquina pra comprar umas coisas pra reformar o móvel da Bernadete, e vi o coitado tomando maior bronca. – Disse Anita.

– É a madame é enjoada, mais paga bem, e eu né ,mesmo trabalhando com Detinha e tua mãe, parece que acho sempre onde gastar um dinheiro. – Soraia alegou.

– E eu tenho dois problemas não é, acha dinheiro, e depois saber onde eu gastei. – Gargalhou Anita. – Ué quem será. – Anita perguntou desconfiada ao ouvir o barulho da campainha tocando.

– Será que já é a Detinha. – Soraia previu.

– Não, ontem quando ela ligou disse que só chegava à tarde. – Anita disse um pouco aflita. – Ai é melhor você ver quem é, eu vou ficar por aqui não é, vai que é alguém lá de casa. – Sugeriu Anita.

– Tá to indo. – Ela disse se dirigindo para ver quem era. – Ai Ben. – Suspirou ela ao ver o garoto parado à porta.

– Nossa Soraia, oi, eu não queria matar ninguém de susto. – O garoto respondeu com um sorriso largo.

– Não ai, entra. – Pediu ela. – É que eu achei, sei lá, que era a Vera, atrás a Anita, não sei. – Afirmou ela explicando.

– Foi mal é que na verdade eu vim falar com o Martin, que não foi trabalhar, ai acabei resolvendo passar aqui, por isso que o porteiro não avisou. – Justificou ele. – A Anita tá aí. – Questionou.

– Tá lá dentro. – Esclareceu ela.

– Vem cá eu ouvi o tua voz lá de dentro. – Disse Anita chegando à sala. – Não podia ter avisado não, já tava quase me jogando pela janela, abrindo a porta da cozinha e saindo correndo, tava já pensando que era a mamãe atrás de mim. – Riu Anita.

– Foi mal, mais não deu pra ouvir as tuas alegações. – Afirmou ele, com um sorriso.

– Hum tá entendi. – Rebateu ela sorrindo travessa. – E as flores aí atrás são pra que, pra me convencer de que ninguém te viu subindo. – Anita riu, ao perceber, o buquê que ele escondia com as mãos para trás.

– Na verdade era pra você não me por fora mesmo. – Zombou o garoto, segurando na mão um buquê de rosas, vermelhas e brancas.

– É acho que você me convenceu. – Respondeu Anita, com certo encantamento encarando o amado.

– Ah fico feliz em saber. – Disse ele, dando passes até ela. – Ah espera aí. – Pronunciou Ben recuando em entregar o buquê a Anita. – Soraia. – Ele disse retirando uma flor e lhe entregando.

– Ah pra mim, ah obrigada Ben. – Respondeu Soraia, lisonjeada.

– Tá vendo, já tá querendo dobrar você também. – Brincou Anita. – Cheio dos truques o senhor né. – Anita falou a ele segurando as flores. – Mais eu amei, mesmo assim. – Afirmou ela com um beijo.

– Você quer que bote em um vaso pra você. – Se prontificou Soraia.

– Põe sim Soraia, obrigada. – Falou Anita, entregando as flores a ela.

– Tá, depois eu venho aí. – Proferiu ela se dirigindo ao outro cômodo.

– Foi mal ter aparecido assim, mais quando você me disse que não sabia se voltava hoje pra casa, eu não consegui aguentar. – Justificou Ben, já puxando Anita para um beijo.

– Hum, tem problema não, também tava morrendo de saudade de você. – Garantiu Anita, voltando ao beijo.