– Julia, Ju, Julia, espera. – Anita corria pela rua atrás da amiga de forma ininterrupta. – Hei fala comigo. – Disse ela a alcançando.

– Anita volta pra lá, você deixou o Ben. – Julia argumentou com a garota, ao perceber que Anita havia deixado o namorado, para se importar com os problemas dela.

– Ju relaxa, eu já fiz coisas piores com o Ben do que deixar ele um pouco, pra falar com você. – Afirmou ela, ciente de que o garoto havia entendido seus motivos. – E depois, até foi bom, se a gente fica muito sozinhos, você sabe né, a coisa sai de controle, e eu quero um pouquinho de paz antes da bomba estourar, admito. – Proferiu Anita, dando um sorriso para a amiga, ao tentar afastar o nervosismo de Julia.

– A viagem, é por isso que você não quer contar agora. – Julia deduziu.

– É mais depois, a gente fala de mim, agora eu quero saber de você. – Anita respondeu, calma. – Você vai contar pra tua mãe mesmo, agora, já. – Perguntou Anita, em total receio, mas disfarçando para não aterrorizar a amiga ainda mais.

– Sim, eu vou, eu preciso. – Julia disse, confirmando suas intenções. – Confesso que, eu to com muito medo da reação dela. – Falou ela, sendo verdadeira.

– Tudo bem, normal. – Disse Anita, para acalma-la. – Eu vou com você, não vou participar da conversa, porque é um assunto de vocês duas, muito singelo. Anita afirmou. – E eu fico na sala, do lado de fora, no portão da tua casa, não sei, mais nessas horas é muito bom ter alguém por perto, e alguém que apoie a gente, acredita eu sei por causa própria, quando não tem ninguém pra argumentar pela gente fica difícil. – Alegou Anita.

– É, no teu caso você tinha uma família toda pra contar, né amiga, eu uma mãe, minha avó também, to sendo meio egoísta, não é. – Julia retrucou, descontraindo seu próprio estado de agitação.

– Não, cada um sabe o grau de importância que seus dilemas tem. – Anita garantiu. – Mais, quer um conselho. – Julia apenas, assentiu que sim e Anita continuou. – Conta com calma, tenta não se desestabilizar, meça as palavras, segurança, mostra que você sabe o que você tá fazendo, pode ajudar e também não desisti vai em frente. – Anita alertou.

– É né, causa própria isso. – Julia esboçou um sorriso irônico. – Por isso mesmo que eu pedi pro Fred, pra conversar sozinha com minha mãe. – Pronunciou. – Beijo em cena, não ia dar certo, não é, ela iria ter um treco. – Julia acrescentou, lembrando do episodio narrado por Anita, quando ela e Ben comunicaram a situação do namoro a família.

– Mais a ideia não foi minha não, a gente não conseguia falar de jeito nenhum, eles não prestavam atenção na gente, pra ti ver o grau de invisibilidade que eu e o Ben juntos tínhamos pra todos eles, e a ideia não foi minha mesmo, não é Julia, você me conhece, foi do Ben óbvio, e eu né embarquei. – Exclamou ela. – É realmente eu tenho que admitir, o meu amor pelo Ben, e ele na minha vida, me descabeçou um pouco, não muito, ai meu deus Julia eu não queria ser minha mãe. – Disse ao pensar alto a garota. – Mais vamos pra tua casa, não é, resolver o teu dilema, os meus, e os coloquei em penhora, pelos menos por enquanto. – Falou Anita, focando no problema da amiga, que se permitia sorrir por alguns segundos antes delas se dirigirem, a passos largos para a casa de Julia.

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– Oi, demorou hein. – Disse Ben, de onde estava, sentado a cabeceira da mesa de jantar, ao ouvir som da porta batendo e Anita entrando por ela.

– É, eu acabei ficando, tanto que jantei com a Julia e a mãe dela. – Anita se explicou vindo até ele.

– E como foi lá. – Perguntou o garoto, ao perceber certa exaustão no rosto da amada.

– Foi, foi, não sei muito, príncipe. – Pronunciou Anita, não sabendo como detalhar o ocorrido.

– Como assim, ai Anita. - Foi o que? – Respondeu ele, ao ver a confusão que sentiu nas palavras de Anita, virarem uma ponta de preocupação.

– Ah Ben, assim, a tia Rita. – Anita puxou a cadeira da lateral, e sentou-se voltada para ele. – A mãe da Julia. – Continuou ela. – Disse que, viu certa surpresa, mas não total, porque naquele episodio do falecimento do pai da Ju, o Fred ficou do lado dela, deu força, se preocupou e muito, e ela bem que tinha percebido um certo envolvimento dos dois, mais que preferiu deixar de lado. – Anita esclareceu.

– Até porque, baseado só nisso ,não prova nada, todo mundo que era realmente amigo dela, ficou do lado dela, e deu uma força. – Afirmou o garoto.

– É sim, pois é, bom no final ela ficou receosa com o envolvimento dos dois, mas claro que vai apoiar a filha, a Julia perdeu o pai e agora são só as duas cuidando uma da outra. – Anita comunicou.

– Mais se ela disse que vai apoiar o namoro dos dois, porque, você tá com essa cara. – Questionou Ben, ao percebeu certa preocupação nos olhos de Anita.

– Ah Ben, to meio preocupada logico, a ultima coisa que eu quero que aja no mundo algum tipo de sofrimento pra Julia, ela não merece isso, ela é uma pessoa tão incrível, eu não quero que isso aconteça, não quero ver ela decepcionada, sofrendo, tem alguns obstáculos no meio, e você sabe, o Fred te uma história de vida carregada, a Ju mal ou bem, é uma garota, jovem, cheia de sonhos, matura fato, mas mesmo assim, e tem mais ainda, não é, o colégio, o emprego do Fred, as pessoas em geral. – Anita contrapôs, temendo qualquer tipo de retaliação que os dois pudessem enfrentar. – É isso sabe, o que eu nunca vou entender mesmo, o porquê das pessoas julgarem tanto as outras, sem ao menos saberem os reais motivos, poxa e como se, tivesse um brilho nos problemas do outro que não tem nos problemas delas, porque que a vida do outro é mais interessante, julgar os erros alheios ao invés de olhar pros próprios erros, acaba que no final ninguém é perfeito, todo mundo tem suas imperfeiçoes, sociedade hipócrita, sem mais. – Desabafou ela.

– É Anita poder até ser mais, claro que em qualquer lugar sempre vai ter alguém que vai ser informado de algo, ou até presenciar, e vai tirar a sua própria conclusão, e que nem sempre é real e justa, não é. – Falou ele em concordância. – Mais eu acredito que o Fred goste muito dela, ele não faria ela sofrer. – Ben ainda argumentou.

– Eu sei, só que você. – Retrucou ela, fazendo uma pausa, seguido de um suspiro para buscar ar. – Esquece, não vale a pena. – Terminou ela, sorrindo desconcertada.

– Eu te prometi que eu nunca iria te fazer sofrer. – Proferiu ele, acabando a frase interrompida por ela, encarando o chão ao seus pés por momento. - Aliás, não era só uma promessa, era um objetivo. – Disse Ben, ao completar os pensamentos dela, a laçando um olhar que continha total desapontamento pela parte dele.

– Só que isso não tem mais importância, mesmo. – Anita respondeu, o desviando de seus pensamentos pessimistas. – Falei de impulso, sério. – Garantiu ela. – Mais talvez por isso mesmo que eu me preocupe com a Julia, eu sei onde dói, e como dói fundo, logico que a gente passou por coisas, que eles não precisam passar, que eu não desejo pra eles, nem pra ninguém nessa vida, mas isso da consciência de que na maioria das vezes a vida pode nos surpreender, e em certas circunstâncias não pra melhor, as vezes nem tudo esta no nosso controle. – Ponderou Anita, colocando suas mãos em cima das de Ben, que as uniu com as suas. – Mais a gente sabe, só a gente sabe mesmo, o quanto foi dolorido chagar até aqui, e ainda conseguir ver nos olhos um do outro, aquele mesmo brilho de antes, o que os outros do vislumbram e se quer pensam em entender. – Explicou Anita, distribuindo sorrisos.

– Não dizem que é isso, os olhos são o espelho da alma, se forem mesmo, os meus vão continuar refletindo todo amor que eu tenho por você, seja nos dias de tempestade, ou depois delas, quando o sol voltar a brilhar. – Afirmou ele, Anita apenas sentiu, uma lágrima se formar no canto de seus olhos.

– A reciproca é verdadeira, até demais. – Disse ela sorrindo sem graça, repousando sua mão no ombro do garoto, e tocando o rosto dele com as pontas dos dedos. – Mais. – Completou a garota antes de um beijo.

– Mais. – Repetiu Ben, separando os lábios dos dois.

– Não fica adivinhando o que eu ando pensando não, porque isso pode ser meio desastroso de vez em quando. – Brincou Anita, com uma risada.

– Eu sei, e acho que até pode vir dai essa tua mania de esbarrar em tudo, tá sempre pensando em algo que esta totalmente fora do ambiente em que você esta. – Ele alegou, rindo.

– Ah para, eu já fui bem pior, até que eu melhorei muito, inclusive a ultima coisa que quebrei sem querer, por desastre. – Ela se calou e estampou um sorriso debochado. – Foi um prato, há umas duas semanas atrás. – Ela riu ainda mais.

– Tá vendo, além do mais, a pessoa que casar com você vai ter que ter proibir de lavar a louça, não é, porque se não vai ser uma dúzia de pratos por semana. – Implicou ele.

– Obrigada, vou dormir muito mais consciente. – Disse ela irônica. – É só não se esquece, que você é o principal candidato ainda, isso se a mamãe e o Ronaldo não terem um treco, essa casa não cair, e a gente não morrer de culpa antes, não é. – Concluiu ela.

– É né tanto que você não quebre nenhum na minha cabeça tá ótimo. – Disse ele as risadas.

– Legal né. – Rebateu ela, empurrando o ombro dele. – O que não depende só de mim, olha que chato. – Falou, entre caretas.

– Nossa gente, vocês ainda estão aí. – Giovana descia as escadas com dificuldades. – Como vocês aguentam, credo. – A ruivinha completou, esfregando os olhos, em meio ao sono, caminhando até a cozinha.

– É a senhorita é que anda ensaiando demais, pra fazer show escondido da mamãe e do Ronaldo, não é dona Giovana. – Anita disse repressora, mas no fundo preocupada com o cansaço excessivo da irmã.

– Tá bem, e não me dedurem por favor, mais gente acho que meu sono é crônico, nada me faz perder ele, nem pensar que se meu pai descobre que eu to fazendo show escondido em dia de aula, ele me mata. – Disse ela, vindo até eles com um copo com água cheio pela metade.

– É mais você sabe que tá errada maninha, a gente não vai falar pra eles, mas é época de prova, final de semestre, tem certeza que vale a pena esse esforço todo. – Alegou Ben, Giovana revirou os olhos ao ser contrariada, mas não evitou de bufar sem argumentos.

– É e mais, eles podem até não saber, mas vão descobrir se isso aí, começar a se refletir no teu boletim. – Anita acrescentou.

– Ai gente pelo amor de deus vocês, querem que eu tenha um pesadelo antes de dormir, ou vocês querem que eu durma e não acorde nunca mais. – A menina disse, nervosa com as insinuações deles.

– Bom nós só estamos sendo realistas né Giovana. – Se defendeu Ben.

– Vocês dois querem saber de uma coisa, eu vou pra cozinha tá, vou terminar com o risoto que sobrou do jantar do pessoal, porque comi mal demais no show que o Junior arrumou na Barra. – Falou a garota voltando a cozinha. – Ou caso contrario irie sonhar com minhas notas. – Giovana , sussurrou para si mesma.

– Bom eu vou dormir também, terminar uns deveres, daqui a pouco quem não levanta amanha sou eu. – Falou Anita arrastando a cadeira e se levantando.

– Tá bom boa noite. – Respondeu Ben, sorridente, avistando Anita se afastar.

– Boa noite. – Disse ela, enquanto escutava os ruídos de Giovana na cozinha. – Ah Ben. – Pronunciou Anita, do topo da escada.

– Hãm, o que. – Perguntou ele.

– Ti amo. – Sussurrou ela, entre um sorriso.

– Também. – Respondeu ele de volta.