Anita lia um livro no quarto, debruçada sobre a cama, como forma de passar o tempo, pois ela lutava arduamente para que seus pensamentos angustiantes não lhe dominassem por mais que fosse difícil, Ben e Giovana, juntamente com Mariana e Vitor, não haviam chegado ainda, Pedro estava concentrado em seu quarto terminando um trabalho de escola, enquanto Cícera, Vera e Ronaldo tinham ficado sentados a mesa de jantar conversando enquanto tomavam um café, depois do jantar, ela preferiu recolher-se a si mesma até para não piorar nenhuma situação, já que sua briga com Vera ainda não tinha ficado bem resolvida apesar das duas terem tido uma conversa franca e satisfatória depois.

– Oi voltei. – Julia entrou pela porta do quarto com sorriso estampado no rosto.

– Hum, a cara tá boa, o que diz tudo. – Anita voltou suas atenções para ela, sorrindo curiosa.

– Hahahah, nem começa dona Anita. – Julia pediu, soltando a bolsa e sentando na ponta da cama.

– Ok, não quer falar, não fala, até porque eu tenho certeza que a senhorita adorou esse cinema, tá escrito na tua testa. – Anita brincou, feliz pela amiga.

– Tá mais você não sabe quem acabou de chegar. – Julia falou.

– Quem Ju. – Perguntou Anita fechando o livro.

– O Ben, e o resto do pessoal. – Julia comunicou receosa, encarando Anita.

– Eu vou falar com ele. – Anita decidiu.

– Anita vai com calma. – Argumentou Julia.

– Você sabe se, se ele foi pro quarto, tá na sala, você viu. – Anita perguntou, levantando nervosa.

– Foi direto pra garagem, acho que ele não tá muito legal também. – Julia afirmou.

– Ótimo, e a cara dele se isolar quando tá mal, olha quem fala como se eu fizesse diferente. – Anita esboçou uma risada sarcástica.

– Tá mais o pessoal, tá todo lá em baixo, e você vai se enfiar no quarto do Ben. – Julia ficou tensa.

– Eu dou um jeito, mais eu não consigo passar mais uma noite nessa situação, não posso Julia, não consigo. – Disse Anita taxativa, levando a mão à porta.

– Então boa sorte. – Julia desejou, preocupada com as questões de Anita.

– Eu vou precisar. – Anita falou, apreensiva antes de sair.

– Oi será que a gente pode falar um segundo. – Disse Anita, de maneira calma quando adentrou a garagem e encontrou Ben sentado a cama, com os olhos fixos em seu caderno.

– Não tá meio tarde, não. – Ele alegou, voltando sua atenção para ela.

– Pra que, pra gente tentar se entender, ou você tá falando da, da hora. – Temeu Anita estar levando um gelo do garoto.

– Hum deixa eu ver. – Ben falou, levantando e caminhando até ela, Anita apenas encarou o chão a sua frente.

– Eu to falando da hora, do horário, acho que eu ainda sou daqueles que acha que, em certas coisas o tempo não interfere. – Ben esclareceu. – Mais com uma ressalva, tem que ser de verdade pra durar. – Afirmou ele.

– Ok, então você acha que ainda vale a pena, ou é isso, ou o Antônio venceu maus uma vez, e dessa vez por definitivo, você vai deixar ele minar a nossa relação, e acabou. – Anita perguntou, voltando seus olhares para o rosto do garoto.

– Eu diria que não é tanto o Antônio, que mina a nossa relação, o fato é que o que ele fez foi horrível, ele é doido, um psicopata, mas a gente também minou nossa relação, mais que ele talvez. – Ben expôs, observando os olhares arredios que a garota lhe lançava.

– Talvez você esteja certo. – Admitiu ela com pesar. – Então é isso, a gente tá acabando aqui, desistindo e mais uma vez, o Antônio tá levando a melhor, você não vai fazer nada. – Anita questionou com a voz embriagada pelo medo, de onde aquela conversa iria acabar, Ben apenas olhou para um canto qualquer da parede atrás de Anita, que permaneceu sem falar mais nada.

– Não Anita, eu não vou falar, fazer nada. – Ben respirou fundo e disse.

– Eu já entendi, eu não sei por que eu esperei uma resposta diferente, afinal não dizem que quem cala consente. – Anita proferiu com tristeza, e meio sem forças diante da afirmação dele, dando alguns passos para ir embora, pois ela viu um sentimento sufocante lhe dominar, a ponto dela sentir que não poderia mais estar ali.

Ben a puxou com força pelo braço, fazendo ela parar a sua frente novamente, a garota preferiu o silêncio do que perguntar o que ele ainda queria, depois da conclusão que Anita havia tirado, ele foi soltando o braço dela devagar, os dois olharam-se fixamente, com uma confusão sem igual parando nos pensamentos de Anita, ele se aproximou dela, levou suas mãos ao rosto, que o encarou com um semblante sorridente, os dois uniram seus lábios parecendo não ter pressa, Ben levou uma mão a cintura dela a puxando mais para perto, o gesto dela foi envolver seus braços em volta do pescoço dele, e eles beijaram-se com saudade até perderem o fôlego, os dois saíram do beijo e encaram-se em silêncio, como se ambos tivessem medo que as palavras ditas quebrassem o encanto daquele momento, em que seus corações acelerados pareciam falar mais alto. Os dois voltaram ao beijo com vontade, Ben pegou Anita ao colo sem parar o beijo, e caminhou com ela até a cama.

– Eu não preciso fazer nada. – Disse ele parando o beijo. – Porque meus pensamentos, meus olhos, meu coração nunca iram desistir de você. – Ben afirmou distribuindo beijos no pescoço dela.

– Olha que você ainda pode mudar de ideia, vai por mim. – Respondeu Anita ofegante, com um sorriso cheio de alegria.

– Não, nunca, nem que eu morresse e nascesse de novo, mesmo assim isso seria impossível de acontecer. – Garantiu Ben, e os dois voltaram a se beijar acalorados, parecendo não se darem conta de onde estavam até então, eles apenas se rederam a um beijo longo, Ben levou a mão para erguer a blusa de Anita, que por sua vez parou com as mãos nas costas do namorado, já quase levantando a camisa dele, enquanto eles continuavam com o beijo, até que Anita afastou o rosto dele por um instante, ao perceber a mão do garoto sobre sua cintura e mais nada.

– Ben isso é uma loucura, a gente ainda tá no casarão. – Alegou ela com certo espanto.

– Eu sei, você te razão, é melhor a gente parar por aqui. – Concordou ele, se afastando dela, e levantando.

– Enquanto a gente ainda consegue, não é. – Anita afirmou levantando, e recompondo-se. – Eu to indo tá, eu deixei a Julia lá em cima, é melhor eu voltar. – Disse ela, com a cabeça confusa.

– Vai então e boa noite. – Ele respondeu se aproximando para um último beijo.

– Boa noite. – Anita falou, e os dois uniram-se em mais um beijo.

– Anita vem pra cá, Anita eu quero fechar a casa pra dormir, isso não é hora pra conversar. – Gritou Vera da porta da cozinha.

– Minha mãe, eu tenho que ir. – Afirmou ela, com os dois se afastando.

– Tchau. – Disse Ben, soltando a mão dela, que saiu apressada logo depois.

– Porque demorou tanto criatura. – Vera perguntou ao vê-la, com os braços cruzados em frente a pia.

– Eu não demorei, não precisa ter ataque né mãe. – Justificou Anita, vendo que Vera a olhava com um olhar curioso. – E eu vou dormir, boa noite pra você. – Ela comunicou receosa.

– Boa noite, dorme bem. – Vera respondeu.

– Ah Sofia, faz pouco, isso o dia que eu for uma estrela, eu vou fingir que não te conheço. – Giovana retrucava a irmã postiça.

– Eu hein, to nem aí, eu só disse que você tá se vangloriando por pouco, e é verdade. – Sofia afirmou, não se intimidando.

– Que isso, não briguem, e de preferencia não se matem também. – Disse Anita ao entrar no quarto, a respeito das provocações das duas, que ela havia ouvido do corredor.

– Sofia é uma mala Anita, loira oxigenada. – Giovana fez uma careta pra loira.

– E você, então não passa de uma ruiva aguada. – Sofia falou, não deixando barato, no fundo tirar Giovana do sério era fácil demais.

– Afff, dá pra vocês pararem, por favor. –Pediu Anita, vendo a cara confusa de Julia.

– Eu vou dormir, boa noite. – Giovana afirmou, virando-se para a parede.

– Eu vou voltar pra minha leitura. – Disse a loira, recolocando os fones de ouvido e direcionando suas atenções para a leitura.

– Anita, e aí, vocês conversaram. – Sussurrou Julia para a garota.

– É, é Ju, amanhã eu te falo, com a Sofia aqui, melhor evitar eu nunca sei, quando ela esta contra mim ou não. – Anita cochichou de volta, para Julia.

– Tá bom, eu vou terminar essas questões aqui, e vou dormir também. – Julia concordou com a amiga.

– Certo, eu também vou terminar uns exercícios e vou dormir. – Falou Anita, ajeitando a cama para dormir, querendo afastar seus pensamentos dos momentos anteriores.