E se tudo mudar?
I'm right here
Estavam todos no hall de entrada da mansão Cahill para se despedirem de Amy.
— Amy, esteja sempre alerta, eles podem ter ficado contra a mãe, mas você sabe como é a Isabel, ela pode aparecer a qualquer momento.
— Mas... tio Fiske, ela está presa. - Disse a garota que agora se encontrava trajando um vestido leve sem mangas, um pouco acima dos joelhos e cor de salmão.
Um cinto marcando sua cintura, alguns outros assessórios e uma sapatilha Chanel preta.
Seus cabelos castanhos-avermelhados estavam soltos como o de costume.
— Não está mais.
— Como? - Perguntaram os irmãos Cahill em uníssono.
— Parece loucura, mas é verdade. - Disse Nellie. - Ela está respondendo em liberdade, porque criou uma fundação de fachada para poder escapar.
— Mas não requer tanta preocupação, afinal comunicamos a todos os Cahill, de todos os clãs. Logo, logo teremos a localização exata dela.
— Mas e os Vesper? Ainda estão ajudando ela? Porque pelo o que eu saiba ela também é Vesper. - Perguntou Dan.
— Parece que não, eles não confiam tanto nela depois de terem alguns de seus segredos expostos.
— Bom, Amy, acho que já está na hora de irmos.
— Verdade. Tio Fiske? - Pergunta ela se aproximando para abraçá-lo.
Ele retribui e diz:
— Espero que corra tudo bem, e que aproveite muito.
Agora a garota se aproximou de Dan, que para sua surpresa a abraçou sem questionar.
— Amy, cuidado, eu não quero mini-Kabras me pertubando, já não basta o Ian. - E todos os presentes riram.
— Dan, seu bobo!
— Mas é sério, a família Cahill já está grande demais. - E riram novamente.
***
A viagem foi monótona, após algumas horas elas chegam finalmente a Inglaterra.
Seus passos ecoavam continuamente pelo chão laminado do aeroporto. Cada um de seus passos indicavam que estava cada vez mais próxima dele... a sensação de insegurança permanecia com a garota.
É... realmente, o mundo dá voltas. Cá estou, na Inglaterra, para rever Ian. ; pensou ela.
Nellie lhe disse uma vez:
"O primeiro amor é como uma música ruim. Não importa o que você faça, se vai ouvir músicas boas ou sair com outras pessoas, vai continuar na sua memória."
Nellie realmente a entendia, não importava o que estivesse fazendo, se Amy ou Dan a chamasse ela ia no mesmo momento. Fora sempre à ela que Amy confiou seus segredos, suas confissões e desabafos.
— Nellie, está na hora?
— Não, ainda faltam alguns minutos. Dá tempo de você se trocar, aqui na Inglaterra faz muito frio.
— Tem razão. Vou ali no banheiro e já volto.
Ela entra apenas com a bagagem de mão e se troca. Seu vestido deu lugar à uma meia calça preta, uma saia e um sobretudo por cima de uma blusa, já as suas sapatilhas foram trocadas por uma bota de cano curto e cor de caramelo.
— Estou pronta. - Diz ao encontrar Nellie novamente.
— O.k. Hm... não era pra ter alguém aqui te esperando?
— Segundo o Ian, era o motorista dele que ia me esperar.
— Vamos, deve ter alguém aqui.
— Está vendo aquele homem?
— Qual?
— O de terno, perto da esteira de bagagens. Parece trabalhar para os Kabra.
— Olhando bem, tem razão, ele faz o tipo. Vamos nos aproximar.
— Senhorita Amy Cahill? - Pergunta o homem formalmente ao ver a menina próxima.
— Ah, s-sim, sou eu.
— Prazer - E se curvou -de maneira quase imperceptível- para a garota. -, meu nome é James Collins. Sou o motorista do senhor Ian Kabra. Está na hora de irmos.
— Como me garante que posso confiar em você? - Perguntou Nellie um pouco desconfiada.
— Hm... bem, creio que tem apenas a minha palavra, mas olhe - E apontou para o lado esquerdo do peito para mostrá-la o brasão da família para qual trabalhava. -, é o suficiente?
— Amy, se sente segura? Quer que eu te acompanhe?
A menina não sabia se poderia confiar no tal homem, e iria com ele, ou se pedia para Nellie acompanhá-la. Decidiu então não demonstrar fraqueza ou insegurança.
— Pode deixar Nellie, acho que posso ir.
— Então você sabe, qualquer coisa é só ligar. - E a envolveu com o abraço mais carinhoso e afetuoso que poderia oferecer a garota naquele momento. - Tchau. - Ambas sorriram.
— Tchau.
— Me deixe levar suas bagagens para o carro. - Ela entregou todas as suas malas ao homem, menos a sua mochila.
— Onde está o carro?
— Não encontrei vagas por perto, então estacionei naquela esquina à direita.
Ela sentia a presença de algo dentro de si que não lhe inspirava confiança em James, suas pernas pareciam não querer continuar a percorrer o caminho. E então ao focar olhar em alguém á uns dez metros de distância percebeu o porquê de se sentir tão insegura.
Isabel Kabra estava esperando para seu encontro ao lado do carro, e o único pensamento de Amy neste momento foi correr, correr o mais rápido possível, o máximo que suas pernas e seu corpo pudessem aguentar. E correu.
Por uma fração de segundo percebeu que o homem tentou segurar seu braço, mas ela conseguiu desviar.
Isabel percebeu que ela havia fugido e pegou sua arma o mais rápido possível, fez todos os disparos tentando mirar na garota que por sua vez conseguia se desviar rapidamente graças às suas aulas de artes marcias, corrida e autodefesa que tinha feito durante os últimos dois anos.
E Amy continuou correndo sem parar, infiltrando-se em ruas desconhecidas pela mesma, a cada um de seus passos sua velocidade aumentava e o seu cansaço também. Ao perceber que não estava mais sendo seguida pelo homem, parou um pouco para descançar e voltou a caminhar, não apressadamente, mas com calma, sem rumo, sem direção, sem destino, apenas caminhava.
Passos largos e lentos, que pareciam levá-la à lugar algum. Apenas seguia sua intuição.
"[...] Caminando por la calle
Con mis botas y mi ropa de colores
A punto de llover
Pensando que diré cuando te vea
Lo cierto es que me encanta
La manera en la que
Yo me he enamorado de ti
He comenzado a sentir
Que tu amor va llenando
Mis sentidos y mis días de colores
Sé que ya estoy loca por ti
No tengo forma de huir, no quiero [...]"
( N/A: Irremediablemente - Dulce María
"[...] Caminhando pela rua
Com minhas botas e minha roupa colorida
A ponto de chover
Pensando o que direi quando te ver
O certo é que me encanta
A maneira em que
Eu me apaixonei por você
E comecei a sentir
Que seu amor vai enchendo
Meus sentidos e meus dias de cores
Sei que já estou louca por você
Não tenho forma de fugir, não quero [...]" )
Onde estou? O que faço agora? , se perguntava em quanto andava. Eu não acredito que confiei nele, e mais uma vez.
E antes que percebesse, um carro preto parou ao seu lado. Não conseguia identificar quem estava dentro dele, pois o vidros eram completamente negros. Ao ouvir o clique da porta traseira se abrindo, tentou correr, mas a pessoa que saiu a segurou pelo pulso, ao voltar com o impulso se deparou com quem menos queria ver aquele momento.
Ian Kabra estava ali, fitantando a garota como se não acreditasse no que seus olhos captavam.
— Amy, o que está fazendo aqui? Era para você estar no aeroporto.
— Dá para me soltar? - E o garoto a soltou.
— Não vai me explicar porque está aqui?
— Como se você não soubesse. - Falou com raiva, evitando encarar os olhos dele. Como Ian não disse nada ela prosseguiu.
— Mas é óbvio que eu não podia confiar em você novamente, afinal já tentou me matar quantas vezes? Sabe quem eu encontrei quando cheguei ao aeroporto? O seu motorista e ele me levou a Isabel!
— O meu motorista está aqui, no carro.
— Então como você me explica o nome James Collins?
— James Collins? - Ele perguntou surpreso. - Ele é um Vesper!
— O que? Então quer dizer que você mandou um Vesper me levar pra Isabel?!
— Claro que não! Eu estava vindo junto te buscar pra evitar que isso acontecesse.
— Então você sabia?! - A garota se surpreendia com a maneira de como estava conseguindo transmitir tanta fúria com tão poucas palavras.
— Nós não podemos continuar falando sobre isso aqui, vamos.
— Ah, mas eu não vou a lugar nenhum com você!
— Eu não tive nada a ver com isso, você tem que vir comigo antes que a Isabel saia te procurando por toda Londres.
— Como posso confiar em você de novo?
— Simples, não acha que eu quisesse te matar já não teria feito isso?
— Não sei... - Disse um pouco mais calma.
— Vamos... estou lhe pedindo... - E a ruiva fez o que estava evitando desde o início da conversa, olhou naqueles olhos cor de âmbar e não conseguiu negar seu pedido. Ela respirou fundo e assentiu. O moreno abriu a porta novamente e Amy entrou, Ian se sentou ao seu lado.
O trajeto até a mansão Kabra foi silencioso, nenhum dos dois se atreviam a dizer algo até que chegassem ao destino. Ao entrarem na mansão, Amy não pôde deixar de reparar na decoração do ambiente, moderna e ao mesmo tempo tradicional. Não pôde deixar de reparar também em como o moreno estava vestido, uma camisa social preta e uma calça jeans escura muito bem cortada caindo perfeitamente no garoto. Sempre elegante, pensou ela.
— Então... bom, sente-se. Quer que eu peça para te servirem algo?
— Não, obrigada. - E se sentou em uma poltrona a frente da de Ian. - Agora me explique tudo.
Ele disse tudo o que aconteceu quando Isabel esteve na mansão, sobre ela ter criado a tal fundação, sobre ter grampeado todos os aparelhos de telecomunicação da mansão e de ela ter descoberto que iria se encontrar com Amy.
— Como sabe que não tem algum grampo aqui mesmo nessa sala?
— Já procuramos, mas se tiver também não irá funcionar. Colocamos bloqueadores de sinal em alguns lugares.
— Então basicamente você não pode se comunicar com ninguém?
— Posso, ela não sabe da existência do centro de comando que foi construído aqui após a busca. Então eu me comunico por lá. Os bloquedores não interferem nele. Mas geralmente é para casos estremos.
— Hm... e quem é James Collins?
— Como te disse é um Vesper, deve estar ajudando a Isabel a te sequestrar. Só pode ser mais um plano deles.
— Ela ainda faz parte disso?
— Sim, e no conselho dos Vesper ela é Vesper Dois, foi promovida após escapar da prisão, por isso é ela quem deve cumprir essa tarefa.
— Ah, claro, então ela está furiosa. Quando eu fugi Isabel tentou me acertar com vários tiros, mas não conseguiu. Suponho que não irá se contentar por muito tempo a receber ordens de Vesper Um.
— Não mesmo, sempre foi uma mulher muito ambiciosa. - Concordou com a garota. - Muito boa a sua fuga, desviar dos tiros de Isabel não é nada fácil. E, devo também te elogiar, está muito bonita. Nem parece aquela Amy que vestia somente jeans e suéteres. - A garota corou com o comentário.
— Bom, se esqueceu de camisetas, mas vou levar como um elogio. - Disse com um pouco de humor.
— O tempo muda as pessoas.
— Somos um ótimo exemplo disso.
E novamente fitou aqueles olhos cor de âmbar e percebeu que ele também estava encarando os seus. Jade com âmbar, âmbar com jade. Uma sintonia perfeita, que só os dois entendiam.
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