( N/A: P.O.V. Ian, On )

Assim que chegamos ao quarto de Natalie, eu me senti como se tivesse me afundando em um mar de desespero, mas — por um lado tenho que agradecer a Isabel — eu não consegui demonstrar — eu até gosto disso, pois não me deixa expor fraquesa, porém isso acaba me tornando alguém "frio" aos olhos da sociedade.

"O mal de quem não chora na frente dos outros é que eles esquecem que você é um ser humano e que você tem sentimentos. Me mantenho forte diante de muitas situações, mas por dentro... [...] Sou um tipo de pessoa que ninguém se importa com os sentimentos... O ruim de você saber controlar seus sentimentos... É que você sempre será tarjado de frio [...] Posso não demostrar, mas sinto muito..."

( N/A: Autor(a) anônimo(a) )

É devastador...

Tentei me recompor durante alguns instantes. E fomos procurar algo relacionado ao ocorrido no quarto.

Passamos alguns minutos vasculhando dentre lençóis, ao lado da cama, no chão e travesseiros.

— Er... Ian. — Ouço a Amy me chamar hesitando um pouco.

— Sim?

— Encotrei isso. — Ela me mostra uma foto de quase todas as equipes que haviam participado da busca. Todos estavam de preto, e me lembrei que fora no dia do enterro de Grace.

Quase todos que estavam no salão da mansão Cahill haviam saído conforme decidiam se aceitariam a primeira pista da busca ou um milhão de dólares.

Os restantes foram os Holt, Irina, Jonah, os irmãos Cahill, William Mclntyre, Alistair e os irmãos Kabra.

— Antes que saem — disse Mclntyre, o advogado e confidente de Grace —, quero que cumpram o último desejo que a Srª Cahill listou em seu testamento.

— Ah, qual é! — Exclamou Reagan Holt — Tenho que voltar para terminar meu treinamento!

— Espere somente mais alguns instantes, senhoria Holt — ele pegou o testamento e começou a ler: — Meu último pedido para meus familiares, será que por um mísero momento, se esqueçam de seu orgulho e unem-se para uma única fotografia. — E nesse momento falas indignadas começam a se alastrar novamente pelo salão. — Sei que alguns vão recusar, mas peço que as gerações mais jovens aceitem. Ficaria muito feliz de saber que minha família deixou de lado as brigas por alguns instantes, Grace Cahill. Bom, acho que já está claro o que pretendo à vocês. — Continuou William.

Como Grace supôs. Somente as gerações mais jovens — após muito contradizerem — aceitaram, contudo era necessário um representante de cada equipe, então Irina e Alistair tiveram que participar.

Lembro-me desse dia como se fosse ontem.

— Por que Natalie guardaria essa foto? — Perguntei.

— Na verdade... eu também guardo uma... — Disse Amy, e eu consegui sorrir por um momento.

— Sabe, às vezes me esqueço de que as pessoas mudam mesmo. Talvez seja por isso, esse foi um dos únicos momentos em que os Cahill estiveram juntos sem brigas.

— Essa, essa foto não me traz muitas lembranças boas..., mas não consigo me desfazer.

— Suponho que vocês duas são mais parecidas do que imaginam — ela me olhou como se pedisse para mim prosseguir. — Natalie sempre foi fechada, só se abria à mim raramente, ela me dizia que tinha medo de se expôr fraca. Acho que todos nós temos um pouco disso.

— Realmente. — Por uma fração de segundo, ela desviou seu olhar do meu e identificou um papel quase em baixo da cama. O pegou curiosa e começou a ler:

Ian Kabra,

— Ian, pega é seu. — Eu neguei com um gesto e pedi para que continuasse a ler.

imagino que quando você estiver lendo isso, Amy, ou melhor, sua amada...

Nesse momento ela me lançou um olhar tímido e eu me arrependi de ter a deixado ler, mas novamente pedi para prosseguir.

...já estará em minhas mãos, realmente achei que seria um pouco mais difícil sequestrar alguém nessa mansão. Espero que os Vesper's recrutados para essa missão não tenham deixado rastros.

Já sabe que não deverá dizer nem uma palavra à polícia e fique fora disso,

Isabel Kabra.

— Sabia, isso é culpa minha! Era pra ter me levado, não a Natalie. — Amy disse exaltada.

— Ei, eu já disse que você não tem culpa de nada — me aproximo um pouco e levanto seu rosto para me encarar, suas íris cor de jade expressavam tristeza, confusão, vulnerabilidade e senti como se naquele mesmo instante ela pudesse desmoronar, por que se culpava tanto? Amy Cahill, a garota que conheci há dois anos estava retornando aos poucos.

Naquela época ela era doce, meiga, simples, frágil, não que depois tenha mudado, mas durante a busca ela aprendeu a esconder o que sentia, guardando para si todos os seus problemas.

Alguns achavam que estava ficando forte, mas somente os parentes mais próximos como Dan, Nellie e Fiske, entendiam o que estava realmente acontecendo. Eu também não deixei de perceber, dentre todas as reuniões dos Cahill, Amy debatia abertamente sobre tudo profissional, mas algo em seu olhar me dizia que não estava realmente feliz.

Talvez fossem os problemas, ou a busca pode ter provocado alguns traumas. Mas nesse momento, parecia que ela estava deixando seus traumas para trás e se abrindo aos poucos, como um botão de flor.

— Ian... eu quero te pedir perdão, por tudo... — antes que pudesse terminar, a cortei.

— Amy, você tem que parar de sempre pedir perdão, já parou para pensar quem nem metade das coisas pelas quais você se desculpa realmente são por sua causa?

— Espere... eu preciso continuar. — Agora já me fitava por conta própria, como se quisesse confessar ou enfrentar algo. Respirou fundo, inalando todo o ar que pôde, abrindo e fechando os olhos lentamente. Estávamos muito próximos, mas ela não se importou e continuou — Minha vida há dois, três anos, era comum apesar da minha timedez esseciva. Aquele dia, no enterro da minha avó — Amy não sabe o porquê, mas Grace sempre preferiu ser chamada pelo próprio nome, evitando vocativos como "avó" ou "vovó" —, minha vida virou de cabeça para baixo, meu mundo mudou literalmente em todos os sentidos, descobri que minha família era formada por pessoas excelentes, mas também por assassinos... nunca estive tão confusa quanto aquela época. O que eu quero dizer, é que eu realmente mudei, assim como todos, perdi alguns medos, mas agora tenho muito mais a temer. E... é possível que talvez traumas psicológicos tenham se formado, não sei de nada concreto, mas meus pesadelos realmente me deixam sem chão e ficam cada vez piores. Por isso... eu só quero te agradecer, assim como Dan, Nellie, Fiske e Natalie, vocês estão se preocupando com alguém que talvez não se recupere... — não estava aguentando escutar aquilo, me senti mais transtornado, e a interrompi novamente.

— Amy... sério você não existe... — e sorri, ela pareceu não entender — ...você não deve me agradecer por nada, afinal eu já te fiz muito mal... — fiz uma pausa — ...se seus pesadelos forem realmente traumas, então estamos iguais, eu também tenho e te garanto, não são poucos. "And all these dreams I'm dreaming, freaking me out I wish I knew the meaning, doesn't make sense because I'm just not seeing..." — Comecei...

— "...How I'm alive, it feels like I'm not breathing..." — E ela completou. — Ian... sério, eu não quero sua pena...

( N/A: Daylight — 5 Seconds Of Summer

"E todos esses sonhos que tenho

Me enlouquecendo, queria saber o que significam

Não faz sentido, pois não consigo entender

Como estou vivo, parece que não estou respirando..." )

— Como? Se eu me preocupo com você, não é por pena. É porque você é muito importante para mim. — Não sei como consegui dizer tão naturalmente, apenas disse, era a verdade.

Nós sorrimos como dois bobos. Afinal isso era a paixão? Sentir a paz que só aquela presença te traz; É querer proteger o outro de qualquer mal; O desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, manias, defeitos, cheiros, gostos...

— Quero que saiba que você também é muito importante para mim. — E ela novamente enrubesceu.

( N/A: P.O.V. Ian, Off )

( N/A: P.O.V. Amy, On )

Eu não acredito que disse isso, fiquei como um pimentão. Mas não consegui evitar, ah, aqueles olhos... cor de âmbar.

Me lembrei do beijo na base Lucian... realmente estou ficando louca! Tudo vem de uma só vez... problemas, e mais problemas... Ian, sorte sua não ler pensamentos, se assustaria com a minha confusão.

Ai que raiva! Não consigo desviar o meu olhar, como se eu estivesse hipnotizada — o que não seria muita novidade, afinal isso sempre acontece.

— Sinceramente... estamos parecendo dois bobos... — 'Ain, eu não fiz isso. Era minha conversa particular! Eu disse em voz alta...

— Como? — Ele disse quase sem acreditar no que escutou. Aproveitei a deixa e consegui focar o meu olhar em um jarro de flores na mesa de cabeceira que estava quase atrás dele.

— Ah, e-eu... — Maldita gagueira, por que não consigo controlar só na frente dele? — ...não ...disse nada!

— Certeza Amélia? — Ele só pode estar de brincadeira comigo, ninguém me chama de Amélia.

— Ah..., se eu disse não me lembro. — Isso foi a única coisa que você formulou Amélia? Ótimo até eu mesma estou me chamando assim, não que eu não goste do meu nome, mas eram somente os meus pais que me chamavam dessa forma, assim como o Daniel.

— Bem, posso lhe lembrar então — Disse ele com aquele sorriso de lado e "cara de paisagem" —, você disse algo como... "Estamos parecendo dois bobos", vai negar? — Agora eu me pergunto: por qual motivo, razão ou circunstância, eu fui olhar novamente em seus olhos? Tomei mais uma lufada de ar.

— Bem, você é um Lucian... e os Lucian são como polígrafos-humanos, especialistas em mentir e detectar a mentira através da linguagem corporal. Então... se eu te dissesse que eu não disse aquilo, você acreditaria? — Perguntei levantando as sobrancelhas.

— Obviamente não, mas você andou lendo a minha ficha Lucian? — Perguntou ainda sorrindo. Ah, mas que convencido!

— O que te levaria a pensar isso Cobra? Se você não sabe, isso é o mínimo que um Madrigal deveria ter conhecimento sobre um Lucian. — Era a verdade, mas não oculta o fato de eu ter dado uma olhadinha em sua ficha...

— Olha, não sei, talvez porque eu também olhe sua ficha, em algumas raras ocasiões. — Legal, agora meu rosto está mais vermelho que as rosas do jarro.

— Realmente você ama me deixar sem jeito — murmurei.

— E também gosto de te deixar corada. — Meu coração estava à mil. — Mas tem algo eu me divirto mais do que essas duas coisas.

Cruzei meus braços em ato de defronta, na verdade tentando parecer com que eu estivesse segura.

— O quê? — Perguntei fingindo desinteresse.

— Quando você não consegue desviar o olhar do meu por mais que tente. Como nesse exato momento.

— Talvez... seja porque você fica me encarando e eu... — estávamos no aproximando mais — fico sem graça quando alguém me olha nos olhos.

— Eu diria que... — Por Gideon! — ...esse alguém seria eu.

Ele colocou sua mão direita em meu rosto, que por sinal não estava mais que um centímetro e meio separado de Ian, e sua mão livre em minha cintura.

— O que lhe garante que esse alguém é... — nossos lábios se roçaram de leve — ...você.

E só para fechar minha manhã com chave de ouro, Katie subiu para arrumar o quarto de Natalie como o de costume, e nos encontrou nessa situação... digamos constrangedora.

— Oh, m-me desculpe — ela diz assim que aparece na porta. Eu me soltei o mais rápido que pude de Ian, isso iria parecer engraçado em outra ocasião. — Eu, vim para organizar o quarto da senhorita Kabra...

— N-não, é... eu já estava de saída, com licença — e saí.

Antes de me afastar totamente, escutei algo como "ela é muito bonita senhor Kabra" e "é, realmente, ela é linda".

Fui para meu quarto discretamente, após entrar fechei a porta atrás de mim e suspirei. Escorreguei as costas pela porta e me sentei ali mesmo. Olhei para a janela que permitia uma vista maravilhosa do céu azul, por mais que estivesse nublado, eu gostava, sempre preferi climas mais frios, típico de Londres.

Mas nesse momento foi como se eu tivesse recebido um "choque de realidade", lembrei-me novamente de meu irmão... como estaria nesse momento? Com certeza enfurecido... Necessito de sua presença, apesar de todas as brigas sempre fomos muito unidos... e agora, estamos separados, me sinto absolutamente vulnerável. Dan, seu pirralho. Se soubesse o quanto me faz falta...

Queria que você estivesse aqui, queria ouvir sua voz, suas piadas nos momentos mais inoportunos. Queria te abraçar, te ver sorrir.

Meus olhos já não suportavam o peso das lágrimas, que formaram um caminho em minha face ao serem soltas, levavam junto à elas a angústia, medo... tudo menos saudade e insegurança.

Mas isso já não seria mais assim, resolvi pôr um fim nesses sentimentos. Dan, esteja onde estiver, eu vou te encontrar.

E mais uma vez aquela cena veio à tona, o que me motivou mais a encontrar meu irmão.

" 'Dan, meu irmãozinho, não chore, mamãe já vai voltar' ela dizia, mas o menino continuava chorando. 'Eu vou cuidar de você, sempre...' "

( N/A: P.O.V. Amy, Off )

"Não haveria luz se não houvesse trevas" — frase citada em Harry Potter e o Enigma do Príncipe, Horácio Slughorn (professor de poções).