E se tudo mudar?

"Afinal de contas, nós temos uma história considerável juntos"


As reuniões em família dos Cahill não estavam ajudando a garota a esquecer Ian Kabra. Ao final de contas, Nellie tinha razão, estava realmente apaixonada por ele.

Amy se encontrava perdida em seus pensamentos tomados pelo amor, ou melhor : Ian. Com uma caneta que possuía em mãos, desenhou um coração no papel mais próximo que encontrou, e no seu interior começou a escrever : Ia... ; e antes que pudesse terminar o N, Hiago envolveu sua mão direita manipulando-a e colocou um H antes do I e um G e O depois do A. Ele riu pelo nariz.

— Eu não sei porque você insiste em escrever meu nome errado. - E a beijou no rosto levemente.

— Bem... - Amy se sentiu constrangida ao quase ser pega pelo seu namorado escrevendo o nome de outro.

— Não precisa explicar, - Ele se sentou na cadeira ao lado da ruiva. - eu também escrevia o nome de algumas pessoas errado.

— Pessoas?

— Sim, pessoas, como minha tia, professora...

— Ah bom. - A ruiva diz pouco convencida.

— Que foi, ficou com ciúmes? - Hiago a encarou com um sorriso estampado aos lábios e apoiando o queixo de Amy com seu polegar e o indicador.

— Não sei... - Continuou com um tom de ironia. Mas afinal era a verdade...

***

— Aê Nellie. - Jonah diz ao entrar na mansão e se depararando com a jovem.

— Oi Jonah.

— A Amy saiu?

— Sim, foi pra casa do namorado. - Nellie fecha a porta e senta numa poltrona. - Senta aí. - Ela aponta para um sofá a sua frente.

— O Ian não tá gostando nada desse namoro, - Ele diz sentando-se. - ele gosta mesmo da Amy.

— Pena que não demonstrou isso antes, mas devo adimitir que tenho a impressão de que ela ainda sente algo por ele.

— Ah, esses dois não se resolvem.

— Gosto do Hiago, mas entre nós, prefiro o Ian.

— Bom, e você?

— Eu? - Ela pergunta confusa.

— É você, tá namorando? - Jonah pergunta com um sorriso maroto.

— Não quero saber disso, por enquanto estou totalmente focada na minha faculdade e na criação de Amy e Dan.

— Eu também, sabe, ás vezes ser artista é muito cansativo, shows e mais shows, você acaba não tendo tempo para ser você mesmo.

— Jonah Wizard reclamando da carreira? Pode repetir? Quero gravar isso. - Nellie fala entre risadas, levando o moreno a gargalhar também.

— Tinha que ser você né Nellie. - Ainda rindo. - Só estou falando que trabalho demais não é saudável. Estou pensando em diminuir um pouco o rítimo.

— Tem razão, quem sabe assim você não arranja uma namorada. - Ela ri novamente.

— É, quem sabe. - Ele diz fitando os olhos castanhos da loira, ato esse que fez Nellie ficar sem jeito.

— Jonah! Quanto tempo! - Fiske aparece descendo as escadas.

— Oie Fiske! - O garoto se levanta e o cumprimenta com um aperto de mãos.

— Foi bom rever você, mas tenho que buscar o Dan na casa de Atticus.

— Ok, a gente se vê. - Diz se sentando novamente no mesmo sofá.

— Nellie, quando a Amy chegar, diz que tem correspondência pra ela, deixei embaixo da porta dela.

— Ok, boa viagem, e cuidado com a velocidade, é o Dan quem vai estar com você. - Ela diz rindo.

— Tchau. - Ele fecha as portas e sai.

— Ele corre tanto assim?

— E como, me surpreende que até hoje não tenha levado nenhuma multa.

***

— Bom, Hiago, tenho que ir. - Diz Amy se levantando da cadeira.

— Ah..., mas já? - Ele também se levanta.

— Sim, está ficando tarde e o meu primo vai ficar lá em casa hoje.

— Tudo bem, mas eu te deixo lá, O.K.?

— O.K.

***

— Nellie, tô subindo, acho que vou tomar um banho.

— Vai lá Jonah.

As portas da sala se abrem e Nellie se depara com Amy.

— Amy! Até que enfim! Eu já ia ligar para saber se estava tudo bem.

— Exagerada. - A ruiva e a loira riem.

— Tchau Amy. - Hiago se despede beijando a testa da garota.

— Tchau.

— Não vai entrar Hiago?

— Não Nellie, obrigado, mas tenho que ir. - Ele sai e a garota fecha as portas.

— Tio Fiske está?

— Foi buscar o Dan, mas o Jonah chegou.

— Sério? Onde ele está?

— Foi tomar um banho pra ver se descansava da viagem.

— Também vou tomar um banho, estou morta de cansaço.

— Ah! Tem uma carta pra você embaixo da sua porta.

— Pra mim? - Amy pareceu um pouco confusa.

— Sim, foi o Fiske que pegou na caixa de correio e mandou te avisar.

— Confesso que estou curiosa, poucas pessoas mandam cartas em pleno século XXI.

— Tudo é comum quando se faz parte dos Cahill.

***

A garota chega em seu quarto e identifica rapidamente o envelope branco tradicional, ela o recolhe e se senta em sua cama.

Isso é o brasão dos Kabra?; pensou quando olhou o selo. Foi como se uma onda de energia estivesse ligada a ela, rapidamente abriu o envelope e se certificou do que imaginava, ali estava ela, a caligrafia fina, elegante e perfeita de Ian Kabra.

— Ian, me mandando uma carta? - Ela disse a si mesma.

E começou a ler o papel.

Amy Cahill,

Estou lhe escrevendo simplesmente para te encontrar - seja no meu país ou no seu - , nós sabemos que temos assuntos pendentes a tratar desde o término das caça pelas 39 pistas; aparentemente minhas intenções estão claras; responsabilidade sua o que vai imaginar.

Bom, espero que aceite "afinal de contas, nós temos uma história considerável juntos" - se lembra dessa frase? Eu sim - mande uma resposta assim que ler essa carta.

Ian Kabra.

— Amy, o Jonah tá lá em baixo querendo te ver. - Diz Nellie ao abrir a porta.

— Diz que eu já vou. - Ela disse quase em um sussurro.

— O que está acontecendo? - Ao ver as órbis verdes marejadas da garota ela se senta a sua frente.

— Nada. - A palavra saiu novamente quase como um sussurro e ela piscou para evitar que as lágrimas escapassem.

— Pensando nos seus pais outra vez?

Os pais de Amy haviam falecido há alguns anos em um incêndio provocado por Isabel Kabra, que por talvez ironia e azar era a mãe do garoto no qual Amy sempre foi apaixonada desde os 14 anos.

— Não, apenas leia isso. - Entregou o papel a ela, e a medida que Nellie lia sua expressão mudava.

— É por isso? - Perguntou um pouco surpresa.

— Eu sei que parece besteira, mas...

— Amy! Você ainda é apaixonada por ele. - A mais velha abriu um sorriso.

— Mas eu não quero! Estou feliz com o Hiago! - Agora deixou as lágrimas descerem livremente.

— Amy, acalme-se. Eu sei que você não queria que fosse assim, mas não se pode fugir do destino. Mesmo estando com o Hiago você...

— Você quer dizer que o meu destino é o Ian Kabra? - Ela não acreditava nas palavras que estavam saindo de sua boca.

— Talvez, Amy pense... - Mas foi novamente interropida pela garota.

— Não pode ser Nellie, ele me fez sofrer muito durante a busca.

— Sim, porém não se esqueça de que ele também sofria com isso, ele e Natalie estavam apenas sendo obrigados a seguir as ordens da mãe; se é que eu posso chamar aquela mulher de mãe - Nellie tentava reconfortar a garota. - ; em fim, no fundo ele não queria que as coisas fossem desse modo, e você sabe disso.

— Mas...eu não consigo compreender.

— Você se lembra de ter visto ele demonstrando arrependimento?

— Bom, agora que você disse - ela já tinha se acalmado um pouco - , sabe aquela vez na África do Sul? - Nellie assentiu balançando a cabeça. - Então...eu tive uma leve impressão de quando a Isabel mandava no Ian, ele hesitava um pouco, parece que ele não queria realmente fazer aquilo, até que...eu olhei de relance em seus olhos; foi muito rápido, pois a lancha estava balançando muito; e eu tive certeza de que se ele pudesse não estaria fazendo aquilo.

— Eu não duvido nada de que se o Hamilton não tivesse te salvado, ele jogaria a Isabel pros tubarões ao invés de você, só pra te salvar. - E com esse comentário a garota abriu o sorriso mais sincero daquele dia.

— Será mesmo?

— Bom, não vamos descobrir se você ficar aí se perguntando e não tomar nenhuma atitude.

— Tipo o quê?

— Tipo que tal ir lavar o rosto e ligar pra ele?

— Eu não sei se tenho coragem...

— A garota que venceu a busca pelas 39 pistas dizendo que não tem coragem? Se você não ligar, eu mesma ligo e te mando pra Inglaterra agora!

— Você não faria isso. - Disse agora com mais um sorriso estampado no rosto.

— Está duvidando de Nellie Gomez?

— Ok, tá bom, eu vou ligar, mas me promete que vai estar comigo?

— Sempre.

***

— Então você vem com Nellie até o aeroporto, e o meu motorista vai estar te esperando.

— Tudo bem.

— Bom, então até...

— Até.

Ian Kabra mal acreditava no que tinha acabado de ouvir, ele realmente reencontraria Amy Cahill depois de tantos anos.

— Está feliz filhinho? - Isabel havia aparecido à porta do quarto do garoto com a mesma expressão intimidadora e gélida de sempre.

— Isabel? - Não acreditava no que estava presenciando.

— Não me chama mais de "mamãe" ? Que falta de consideração.

— Você não estava...

— Presa? - Ela completou. - Ah sim, mas estou respondendo em liberdade.

— Como? - A confusão daquelas palavras tomou conta de Ian.

— Não deveria estar lhe dizendo. Mas contarei. Criei uma instituição sem fins lucrativos, a AOM, AJUDAOPERAMILAGRES, através dela posso viajar por Boston e talvez também pelos Estados Unidos.

— Mas aqui é Inglaterra.

— Me diz uma coisa que eu não sei. - Seus olhos eram capazes de fuzilar o próprio filho. - Está óbvio que me aproveito para viajar por todo o mundo. Parece que essa sua paixãozinha pela menina Cahill está te deixando cego, eu poderia ter a matado quando tive chances!

— Sua víbora! - Não sabia o porquê, mas não suportava de que sua mãe dissesse o nome de Amy.

— Não disse! Você é um fraco! Um fraco que se deixa levar por paixões inconvenientes.

— Claro que sou um fraco, mas não sou fraco por gostar da Amy. Fui um fraco por te obedecer todos esses anos sem ao menos questionar; fui fraco por ter deixado você encher minha cabeça e de Natalie com coisas realmente inúteis e tudo isso porque você queria que seu querido plano de vingança fosse realizado. Não foi em vão que meu pai fugiu para o Brasil! Nem ele te suportava mais!

— Você não vai falar assim comigo! Eu sou sua...

— Mãe? - Completou rindo com despreso. - Não você é não nossa mãe, se esqueceu de que nos deserdou? Se esqueceu de que antes de você ter nos deserdado nós pedimos emancipação? Vamos Isabel Kabra, lembre-se! Ou será que está velha demais pra isso? Ah, poupe-me não venha com "seus direitos de mãe" a essa altura do campeonato.

— Ótimo, continue assim, ao menos descobri que não é um inútil, foi tarde demais, mas descobri. Em vão, claro afinal tenho mais uma carta na manga. Escutei toda a sua conversa pelo telefone com Amy Cahill, sei a data, o local, o dia e horário desse seu encontro ridículo com ela.

— Eu posso simplesmente mudar quando você sair.

— Ah, mas eu não faria isso se fosse você, toda a linha telefônica dessa mansão está grampeada. Então mesmo se mudar, saberei. As linhas móveis também estão grampeadas então: nada de tentar avisar pelo celular ou algo parecido, em fim, cartas não poderá mandar, pois ia demorar muito para chegar em Boston. Te desejo sorte com sua amada, se é que vai aproveitar esse encontro.

— O que quer dizer com isso?

— Que talvez eu vá fazer uma ilustre visitinha a vocês.

— Não se atreva!

— Você vai descobrir no dia se eu me atrevo ou não. E também não tente cancelar esse encontro, caso isso seja feito eu a visitarei em Boston mesmo e será bem pior pra ela então: mais uma vez "boa sorte Ian Kabra". - E saiu do quarto do garoto.

Por um instante ele achou que fora um mero pesadelo, mas despertou de seus pensamentos ao se lembrar de Natalie.

Será que ela foi ao quarto da Natalie? ; e saiu correndo de seu quarto como se sua vida dependesse disso. De certa forma, dependia mesmo. Há alguns anos atrás acharia esse ato exagerado, mas sua forma de ver o mundo mudou após a busca, muitas coisas aconteceram e muitas vidas não foram poupadas das mãos de Isabel.

Ao chegar a seu destino encontra uma garota em sua cama com uma revista em mãos.

Natalie; foi depressa ao encontro de sua irmã e a abraçou.

— Ian, meu cabelo!

— Desculpe - Souto-se da irmã. - É que eu pensei...

— Pesou o quê?

— Isabel.

— Mamãe? Digo: ela? - A expressão de vulnerabilidade e surpresa tomou conta da garota.

— Sim, esteve aqui.

— Quando? Como? Ela está presa.

— Está respondendo em liberdade por ter criado uma fundação a AOM: AJUDAOPERAMILAGRES. E viaja pelo mundo todo.

— Como sempre inescrupulosa.

— Bem, realmente. Já chegou me ameaçando.

E ele a contou todo o ocorrido referente à Isabel e até mesmo sobre Amy.

— Mas Ian, pense você não pode deixar a Amy vir desse modo.

— Eu sei! Estou tentando pensar em algo, mas não consigo!

— Se não tem saída, esteja com ela sempre: desde a chegada dela ao aeroporto até quando ela vir aqui.

— Estive pensando nisso e deve ser mesmo o melhor a se fazer.

***

— Pronto! - Diz Amy ao colocar o telefone novamente no gancho. - Liguei pra companhia aérea e confirmei o voo.

— Assim que eu gosto de te ver, determinada.

— Na verdade Nellie, estou realmente insegura em relação a isso, porque se eu estiver me iludindo novamente? Eu certamente não me perdoaria.

— Você vai até lá, vocês vão conversar o que tiverem vontade e esperar pra ver no resultará.

— E tem o Hiago, como vou explicar isso à ele?

— Diga que vai fazer uma viajem para resolver algo com sua família.

— E... depois?

— Não pense nisso agora, quando você chegar nós resolveremos.

A ruiva suspira pesadamente, pouco convencida de suas conclusões.

***

Passados três dias após aquela conversa já estava na véspera da viagem e mais nenhum sinal de Isabel.

Espero que tenha desistido de seu plano. ; pensou Ian por um momento mas: Ian, não seja um idiota! É claro que ela não desistiu, ela é Isabel Kabra! ; e estava mais uma vez absorto em seus pensamentos. Iincompreensíveis até por ele mesmo. Estava realmente num dilema.

Aquela noite não contribuiu em nada para ordenar suas emoções e antes que percebesse, os primeiros raios solares da manhã invadiam seu quarto.

É hoje, espero que corra tudo bem.; pensou ao acordar extremamente cansado pela insônia da noite anterior.

***

O mesmo ocorria com Amy, as lembranças desagradáveis da busca pelas 39 pistas haviam voltado num único pesadelo.

Os tubarões na África do Sul; o incêndio que matou seus pais; o incêndio na mansão de Grace; o desabamento da caverna na Coréia; a explosão do Instituto Franklin; a morte de Irina; entre tantos outros.

Esses pesadelos eram comuns para Amy, porém ao acordar sempre sentia a mesma sensação de desespero.

Em meio à tantas lembranças desagradáveis e comuns, veio à tona uma realmente inesquecível tanto em seus momentos cientes quanto inconscientes: o beijo na Coréia. Fora tão puro e ao mesmo tempo devastador.

"Os joelhos de Ian fraquejaram. O aforamento rochoso fez o chão tremer, cuspindo uma poeira cinzenta que logo começou a subir em tranças ao redor deles.

Protegendo os olhos com a mão, ele avistou Amy de pé junto à figura de Hideyoshi, que agora se mexia em direção a ela. A menina estava em choque, com a mochila caída no chão aos seus pés.

— Afaste-se! — ele gritou.

Ian puxou Amy para longe e a jogou no chão, aterrissando em cima dela. Uma chuva de cascalho caiu sobre suas costas, infiltrando-se em seus cabelos e pipocando no chão como uma onda de aplausos.

A segunda coisa em que ele pensou foi que aquilo ia estragar sua camisa. E aquele foi o choque: o fato de não ter pensado na camisa primeiro. Nem na moeda. Nem em si mesmo.

Ele tinha pensado nela.

Porém, aquilo não era parte do plano. Amy existia para cumprir um propósito. Ela era parte de uma tática, um degrau de uma escada. Ela era...

— Adorável — ele disse.

Amy olhava para ele petrificada, com os cílios salpicados de pó. Ian segurou a mão dela, que estava fechada em punho.

— N-n-não precisa fazer isso — ela sussurrou.

— Fazer o quê? — perguntou Ian.

— Ser sarcástico. Dizer coisas como “adorável”. Você salvou minha vida. Ob-brigada.

— Só fiz meu dever — Ian respondeu.

Ele baixou a cabeça e deixou seus lábios roçarem nos dela. Bem de leve.

Aos poucos o ar foi ficando mais limpo, e o barulho havia cessado. Ian sentou-se e soltou a mão de Amy. A figura entalhada tinha se elevado "