Dust In The Wind

She Loves Rabbits, I Hate


Dias depois.

Aquela coisinha de olhos vermelhos no colo de Alice me dava nos nervos. Eu juro, depois que um coelho me mordeu, tenho medo deles. E parece que aquele capeta branquinho me fitava com uma cara nada agradável, como se quisesse vir me morder.

- Tomás, você já viu minha coelhinha? - Alice veio caminhando em minha direção com aquela coisa.

- Não chega perto de mim com esse verme!

- Como você ousa falar assim da minha Penny Lane? Monstro! - Ela tinha os olhos espreitados, enquanto agarrava ainda mais a coelhinha.

- Essas coisas aí são perigosas, Alice, você deveria ter cuidado.

- Eu deveria ter cuidado com você! - Ela berrou e saiu pisando forte para algum lugar da casa.

Horas depois, eu estava deitado no sofá quando aquele troço veio pulando. Eu teria gritado que nem uma menininha se meus 'irmãos' mais velhos não estivessem comigo ali. Apenas me ajeitei colocando meus pés para cima.

- Tomás, querido, tire os pés do sofá para não sujar. - Julia, ou minha mãe, falou.

- Merda. - Sussurrei.

- O que você falou?

- Nada não. - Pisei no chão tremendo e com medo de vacilar e cair.

Resolvi sair dali e ir para o jardim. Olho para trás e quem eu vejo? Penny Lane. Sai correndo e parecia não adiantar. Sim, eu estou correndo com medo de uma coelhinha. Aquela coisa ia me atormentar pelo resto da vida... ou não. A piscina está bem ao meu lado.

Alice vai me matar se eu afogar a coelhinha? Não vai, ela não está me vendo.

Com as mãos trêmulas fui lá e peguei a bola de pelo, depois joguei na água. Eu deveria ser processado por maus tratos para com animais, mas essa coelhinha podia me matar futuramente quando eu tivesse um ataque cardíaco e ser presa, certo?

Seu monstro tira a coelhinha daí. - A voz de Alice falou, olhei pros lados e não a vi, estou ficando pertubado. Mais um motivo para deixar a coisa ali que se debatia tentando se salvar.

Eu entrei em casa calmamente como se nada tivesse acontecido. Voltei ao sofá sem me preocupar em deixar os pés no chão. Alice apareceu do nada na sala perguntando por Penny, negamos e maldito seja Robert falou que a viu no jardim. Ela correu até lá.

- MAMÃE! - O grito de Alice fez com que todos corressem ao jardim, inclusive eu, falso. Chegando lá me deparei com a menina na beira da piscina, com o corpo da coelhinha morta nos braços, e seu rosto estava vermelho. Tive pena e por um segundo me arrependi.

- O que foi Alice? - Julia apareceu apavorada.

- A minha Penny morreu, mamãe! - Alice falou entre soluços.

- Oh meu bem, ela deve ter pulado na água. Venha, me dê ela aqui. - Alice entregou a coelha a Julia e ela a levou para algum lugar.

Meu 'pai' pegou Alice no colo, que chorava com o rosto enterrado no ombro dele. Nós voltamos para dentro de casa, e depois de alguns minutos, fui ao quarto de Alice onde ela estava deitada. Me sentei ao lado da cama dela e ela enxugou as lágrimas que ainda caíam.

- Me desculpe. - Falei.

- Porque?

- Por ter chamado a Penny de verme. - E por ter matado-a.

- Tudo bem. - Ela forçou um sorriso.

- Posso deitar com você? - Alice assentiu. Me deitei ao seu lado e ela encostou a cabeça em meu ombro. - Sabe, eu tenho medo de coelhinhos.

- Sério? - Ela gargalhou.

- Sim. Mas eu posso comprar um cachorrinho! - Ela riu ainda mais.

- Tá me devendo. Você jogou praga na Penny!

- Amanhã eu compro. - Ela sussurrou um sim e adormeceu minutos depois. - Eu compro quantos cachorrinhos que você quiser, mas coelhos não. - Falei baixinho.