Era a festa de aniversário de Alice, ela completara doze anos hoje. Não era bem um festão temático cheio de bexigas, até porque Alice não tem mais idade para isso. A minha casa estava cheia de pessoas que eu nunca tinha visto, e descobri que nessa família é tradição adotar alguém. E eles nunca adotam bebês.

Observei Alice que conversava animadamente com uma mulher que eu não conhecia, ela estava tão linda hoje - mais do que o normal - enquanto carregava um monte de presentes. Como sou um bom menino - bom menino que mata coelhas - resolvi ir ajudá-la.

- Venha, deixe-me pegar alguns desses.

- Obrigada. - Olhamos pro céu ao mesmo tempo quando sentimos pingos de chuva cair sobre nós.

- Meleca, vamos ter que entrar.

Eu não sei como coube quase quarenta pessoas na sala de estar. Minutos depois começamos a cantar os parabéns para Alice, que estava maravilhada com tudo aquilo. Seus olhinhos brilhavam porque esse era o seu primeiro aniversário, tinha descobrido dias antes que Alice havia chegado naquela casa dois meses antes de mim, e a história dela era realmente muito pior que a minha.

Depois toda aquela 'multidão' se espalhou pela casa. Alice sentou-se no sofá enquanto abria alguns presentes, de vez em quando dava gritinhos estéricos. Automaticamente sorri, era a primeira vez que ela tinha a sensação de ganhar presentes e de ter uma festa.

- Posso me sentar com você? - Ela assentiu. - Isso é um guarda-chuva? - Perguntei apontando para uma caixa que estava em seu colo.

- Sim! - Ela gargalhou. - É que eu tinha mania de esquecer o guarda-chuva em casa, e sempre que voltava da escola chegava encharcada. - Ri junto com ela.

- Eu prefiro tomar banho de chuva do que me proteger com isso.

- Eu também! - Ela simplesmente largou o guarda-chuva vermelho com bolinhas pretas e sorriu para mim. - Podemos fazer isso agora, certo? - Sorrimos um para o outro.

Em pouco tempo já estavamos correndo no meio da rua. A chuva forte já tinha deixado nossas roupas completamente molhadas, e por ser Domingo, não tinhámos preocupações com carros nas ruas. Alice gargalhava que nem uma criancinha, e finalmente, paramos por causa do cansaço.

- Esse foi o melhor aniversário da minha vida! - Berrou antes de se jogar na calçada.

- E esse foi o melhor dia da minha vida. - Sentei-me ao seu lado.

- Mamãe vai brigar conosco.

- Dane-se o futuro! - Gritei e ela tapou a boca, acho que peguei pesado.

- FODA-SEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! - Ela saiu correndo pela calçada que nem uma louca. Começei a rir e fui atrás dela.

- Aonde vamos?

- Eu não sei! - Continuei a segui-la e ela parou, virando-se para mim.

Alice deu um passo à frente e me abraçou. Ela sorria e dava para ver nitidamente que a alegria dela estava transbordando, ela levantou o rosto me encarando. Me pegando de surpresa ela colou seus lábios aos meus, rapidamente, com um selinho de no máximo dois ou três segundos.

- Alice! - Falei arregalando os olhos.

- O que foi?

- Nós somos irmãos, não lembra? É errado.

- Não de sangue, então não é errado. - Sorriu. Essa menina é doida?

- Você é maluca. - Ela apenas riu e me puxou pela mão, tomando o caminho de volta para casa.