11th September, 2012

Meu estômago revirava várias vezes. Eu não podia comer nada que já ia correndo para o banheiro colocar tudo para fora, isso há uns quinze dias. E não, eu não estou com bulimia. Eu juro que nada disso é forçado e minha mãe fica insistindo para que eu vá ao médico, eu não quero ir, tenho medo do que seja. Vai que eu esteja com uma doença grave e terminal? Deus me livre. E o pior, como não estou comendo direito, me sinto fraca, tenho tonturas e desmaiei uma vez.

- Vomitando de novo? - Escutei a voz de Harriet do outro lado da porta do banheiro. Murmurei um sim e ela entrou, tampando o nariz. - Alice, eu tô ficando muito preocupada. Isso pode ser de labirintite até...

- Até? - Perguntei.

- Alice, você é virgem? - Quasei me engasguei e eu sei, isso foi nojento. Limpei minha boca na pia e me virei, encarando ela.

- Pelo amor de Deus Harriet, você quer insinuar que eu estou grávida? Me poupe!

- Responde! - Suspirei irritada.

- Não, não sou! Satisfeita? - Ela deixou os olhos arregalados por um tempo, chocada, porque ela tem 18 anos e ainda não se relacionou com ninguém. - Que foi?

- Vou na farmácia.

- Fazer o que?

- Comprar testes, ué!

- Se a mamãe te pega com isso...

- Pior vai ser se você tiver grávida, guria, a mamãe arranca teu couro! - Ela arregalou seus olhos cor-de-mel esverdeados e eu quase me caguei de medo.

- Calma Harriet, eu me preveni! - Ela bufou e saiu do meu quarto.

Fazendo um balanço deste último mês, eu mudei muito. Parei de me enfeitar tanto, deixei de ser a nerd da sala, e fiz amigos homens. Palmas para mim. Porém, 99% deles são gays. Somente um não é: Harry. Ele gostava de mim na sexta série, mas veio me confessar isso na semana passada. Eu me mijei de rir - sério - e ele falou que não sabe o que sente por mim. É um cara fofo em que você quer passar 25 horas do dia grudada. Tomás? Bom, falo com eles todos os dias, mas eu o acho com a voz estranha. Sei lá, como se não quisesse falar comigo, eu bem que disse que as coisas iriam mudar e ele que não acreditou. Mas deixaremos o passado para lá, certo? Quando ele voltar capaz de já estar casado com vinte e dois filhos e cinquenta netos.

- Voltei! -Harriet berrou enquanto entrava no meu quarto.

- Ai que susto! - Pus a mão no meu coração. Ultimamente qualquer coisinha me provoca sustos.

- Toma. - Me entregou uma sacolinha. - Comprei dez.

- Pra quê tudo isso?

- Para termos a certeza. - Respirei fundo e fui lá fazer aquela coisa.

Os longos e dolorosos cinco minutos foram rompidos com o som do despertador do meu celular. Suspirei, eu fui transformada em nervosismo e tava me derrentendo em suor. Quando fui me levantar, Harriet pediu para que eu ficasse sentada que ela ia buscar. Melhor assim, vai que eu esteja mesmo grávida e perca o bebê quando eu souber disso? Até me confundi agora. A ruiva saiu do banheiro tremendo, chorando, berrando, se jogando no chão. Corri até ela e me agachei ao seu lado.

- Ai meu Deus, o que foi?

- Eu vou ser titia! - Falou abafada.

-x-

Minha mãe, macaca velha, desconfiou e descobriu de tudo. Eu estava sentada na cama enquanto ela berrava coisas terríveis, eu me dubulhava em lágrimas -de tristeza - e uma tal de Harriet também chorava, porque finalmente ia ser tia. Ela cobrava isso a Peter, meu irmão mais velho, não cobraria mais.

- Sua vadia! - Minha mãe gritou e senti o estalo de sua mão na minha cara. Senti que iria chorar que nem um bebezinho. Só vi o vulto de Harriet se jogando contra minha mãe.

- Você é louca? Ela tá grávida, mãe, grávida! Não pode ficar nervosa, mas olha pra ela! Tá chorando, por sua causa, que não sabe lidar com certas situações. - Sim, esta era Harriet Santíssima Thompson gritando com a própria mãe.

- Cale a boca, Harriet, ou você vai apanhar também! - Foi aí que a ruiva recuou, apanhar na maior idade seria um... mico? Aliás, a partir dos dez anos apanhar da mãe já é vergonha. Harriet sumiu dali. - E você, Alice, qual o seu problema?

- Pelo amor de Deus, sai daqui! - Juntei minhas forças, me levantei, caminhei até a porta para tentar abrir porém uma mão bruta pegou meu braço e me jogou na cama. Vai ficar roxo.

- Eu vou ficar aqui, sim! Você vai me ouvir até o fim. Como pode, estar grávida do próprio irmão? Isso é pecado!

- Não sou irmã de verdade dele! - Ela levantou o braço de novo, mas se arrependeu e abaixou.

- Me arrependo do dia que adotei você. - Minha mãe cuspiu essas palavras e foi embora.

Minutos depois tinha um Harry me abraçando. Harriet bocão tinha ido a casa dele contar tudo, mas ela sabia que só ele podia me consolar agora. Ele alisava meus cabelos enquanto eu encharcava sua camisa com lágrimas. Harry com certeza era meu melhor amigo.

- Eu assumo sua filha. - Falou e eu comecei a rir que nem uma louca.

- Mas eu nem sei se é uma menina!

- Eu sinto isso.

- É vidente?

- Sim. - Rimos.

- Você é o melhor amigo do mundo, mas, não queira assumir. É uma responsabilidade e tanta.

- Eu cuido dos meus dois irmãos pequenos, não tem responsabilidade maior, meu anjo. - Ri sem humor.

- Tô falando sério, meu pai iria te matar porque ele não sabe que o Tomás é o pai, e minha mãe não iria aceitar essa quase mentira.

- Mas eu posso ser tio?

- Pode. - Ele riu e beijou minha testa.

Harriet se juntou ao Harry e eles formaram o grupo do consolo - mentira -, eles me fazem muito bem. Os únicos que conseguem fazer isso hoje em dia.