29th December, 2012


As luzes fortes e o local branco logo me fez saber onde eu estava. No hospital, pela sexta vez desde quando descobri que estava grávida. Uma maldita tentativa de aborto - falida - no segundo mês de gestação me fez ter sérias complicações, e qualquer coisa que tenho que correr até aqui e ver se está tudo bem, além disso, meu corpo não está nada preparado para abrigar um bebê, gigante, por sinal. Resumindo tudo isso, gravidez de altíssimo risco, para mim e para ela.

Harry, meu fiel companheiro, apertava minha mão. Ele estava sentado ao lado da maca, com a cabeça baixa, dormindo. Ele parece um neném enquanto dorme. Tive pena de me mexer e acordá-lo, e tive mais pena ainda quando vi a posição dele. Isso vai dar fortes dores no futuro. Já ia acordar o bicho preguiça quando a porta do quarto se abriu e de lá veio o médico, baixinho e gordinho, com um sorriso no rosto. Parece ser simpático.


– Srta. Thompson! Que bom vê-la, mais uma vez. - Comecei a rir e ele me acompanhou. - Se arrepende do que fez em outubro?

– Sim. - Falei um pouco desconfortável, não gostava de tocar naquele assunto.

– O importante é que você e sua filha estão bem! - Sorri mas logo fiz careta. - O que foi?

– Chutes e... Ela pesa muito! Imagine quando eu estiver perto de tê-la, terei que andar em cadeira de rodas. - Gargalhamos com aquilo e Harry acabou acordando.

– Bom, tenho que ir, se apresentar melhoras te darei alta no fim da tarde. - Assenti e ele saiu.


Inclinei meu rosto para ver Harry que estava no chão - não me pergunte porque não sei como -. Ele me viu e sorriu, logo depois caiu na gargalhada e eu fiquei mais confusa do que já sou.


– O que você faz aí? - Perguntei.

– O chão tá geladinho. - Falou se levantando. - Mentira, a risada daquele médico é tão horrorosa que eu até me assustei. Como você aguenta?

– Não fala assim do coitado. É costume, assim como eu me acostumei com suas idiotices? - Ele abriu a boca em um perfeito 'o' e se fingiu de chocado, porém eu o conheço bastante para saber que tudo aquilo era fingimento.

– Não cola mais né? - Assenti e ele riu, logo após sentou-se ao meu lado na maca. - Está melhor?

– Bem melhor! A quanto tempo estou aqui?

– Uns... dois dias.

– Dois?

– Pois é. Você resolveu assustar todo mundo entrando num "coma" do nada, mas descobrimos que é só a resposta do teu organismo por causa do cansaço. Isso quer dizer que, até a chegada dela - Deu uma cutucada na minha barriga - você pode passar um dia inteiro dormindo.

– Nossa, que legal. - Falei animada. Eu ia conseguir dormir por mais de seis horas!

– Você é louca, Alice. - Harry riu e se aconchegou mais ao meu lado. - Não tenho notícias boas. Quer dizer, não sei se pra você é bom, eu acho que não.

– Fala logo.

– Faltam exatamente vinte dias para as férias do Tomás, e ele já disse que vinha para cá passar o tempo em recesso. - Gelei na hora. Eu não quero ver o Tomás.


–x-


Por volta das cinco da tarde lá estava a família 'buscapé' saindo do hospital em direção ao estacionamento. Alguém colocou minha pequena mala no carro e eu entrei atrás, ao lado de Harry e Edward. Meus pais estavam na frente. Falando neles, minha mãe até hoje não fala direito comigo, ela não suporta o fato de que Harry tenha assumido a paternidade da minha filha. Eu também não queria, mas no dia que descobri estar grávida, meu pai também descobriu e perguntou quem era o pai, Harry entrou na conversa falando que era ele e fim de história.

Assim que cheguei em casa, Harry despediu-se de mim, fingindo beijar-me. Meu pai insiste que nós fiquemos juntos, mas eu não quero forçar a Harry ter um relacionamento, e as atitudes dele me mostram que os seus sentimentos estão ligados a outra pessoa, e não a mim. Enfim, de uma forma ou de outra, acabei trazendo Harry junto comigo nesta furada. Maldita hora que eu conheci Tomás.

Já em meu quarto, meu celular tocava incansavelmente. Eu não queria atender, conhecia bem esse número, mas o toque já estava me irritando junto a luzinha que piscava. Eu tinha que atender, algo me obrigava a fazer isso.


– Alô?

– Alice. - Ouvi a voz dele e estremeci.

– Quem é? - O ouvi suspirar.

– Não acredito que você já excluiu meu número! - Deu uma risada irônica. Ao fundo pude ouvir vozes e uma música. - Estou voltando.

– Eu já sei. - Falei fria.

– Porque você está agindo desse jeito?

– Você ainda pergunta? Primeiro você vai embora, depois descubro que eu... - Engoli a seco. - deixa pra lá, aí você passa um tempão evitando falar comigo e agora vem com essa perguntinha boba?

– Foi você que quis terminar comigo.

– Porque eu sabia que ia dar nisso.

– Nisso o que?

– Nisso que você tá fazendo agora! - Ouvi sua respiração falhar, ele não estava sozinho.

– Alice...

– Eu não quero brigar por telefone, Tomás. Aliás, nem sei porque estou falando com você.

– Quando chegar aí eu falo com você. - Não deixei ele terminar e desliguei o telefone, jogando em um canto qualquer.


E no segundo seguinte eu não acreditei que estava chorando por causa dele. O problema nem era ele, mas eu tava chorando por um cara que era meu há seis meses atrás, eu já devia ter esquecido ele, mas não conseguia. E pelo visto ele já tinha esquecido de mim a muito tempo, só ligou agora pra dar uma de bonzinho que se importa comigo.


Once upon a time, a few mistakes ago... I knew you were trouble when you walked in, so shame on me now... I'm lying on the cold hard ground. No apologies, he'll never see you cry, pretends he doesn't know that he's the reason why you're drowning.