14th August, 2012

A volta para casa tinha sido tranquila, porém eu estava tomado por ansiedade. O resultado da faculdade de Cardiff já teria chegado lá em casa, minhas mãos suavam, meu coração batia muito rápido e eu não conseguia prestar muita atenção no que falavam comigo.

- Tomás! - Escutei berrarem no meu ouvido.

- Ai mãe, o que foi?

- Não vai abrir? - Ela estendeu um envelope branco e eu estremeci. Peguei o papel e lentamente - rasguei - o abri. Li um monte de baboseira sobre como era a faculdade, regras, deveres, direitos, mas eu já sabia disso tudo. Lá no final da folha tinha escrito, em pequenas e maravilhosas letras, aprovado. Hoje é o melhor dia da minha vida!

-x-

30th August, 2012

Enquanto minha mãe perguntava se eu já tinha colocado tudo na minha mala, eu tentava 'engolir' a ideia de que ficaria pelo menos quatro anos longe da minha família, sem vê-los diaramente. Eu poderia até ligar, mas não é a mesma coisa, e sair de Cardiff até aqui todo final de semana sairia muito caro. Ver eles somente nas férias não era muito bom para mim. Respondi meio grosso que já tinha arrumado tudo e ela saiu do meu quarto balbuciando algo como 'ingrato'.

Sai dali e fui até o quarto das meninas, entrei sem bater, Harriet e Alice estavam na mesma cama dormindo. Ri delas quando vi o aperto e resolvi chamar a loira, eu precisava conversar com ela. Ela me xingou por vários nomes porque eu a acordei e depois de quinhentos tapas pude falar com a mesma.

- Como você sabe, eu não vou poder estar vindo muito aqui. - Falei com a cabeça baixa. - Maldita hora que não me inscrevi para Oxford.

- É... Por mim tudo bem. - Falou fria. - Já que... Bom, acho que você sabe o que acontecerá com nós.

- Não sei, Alice, poderia me contar?

- Acaba por aqui, certo? - ???????????????????????????????

- Porque? - Aumentei minha voz um tom.

- Porque? - Falou irônica. - Tomás nós vamos ficar, por três anos, a seis horas de distância. Tem noção do que é isso? - Neguei. - Mais cedo ou mais tarde nós vamos encontrar outras pessoas, e se estivermos juntos, isso vai acabar numa...

- Traição? - Falei a interrompendo e ela assentiu. - Eu nunca faria isso com você, nunca!

- Você não sabe... A gente não manda nos sentimentos, você mesmo que me falou um dia!

- Ali era diferente!

- Não era diferente, Tomás, isso vai acontecer entre você e outra pessoa rapidinho. Assim como eu e outro.

- Alice... - Ela me interrompeu.

- Já chega! Eu já falei e não adianta vir reclamar, Tomás, depois você vai me agradecer por ter te falar.

Ela me deu as costas e eu me joguei numa poltrona perto de mim. Como assim ela estava terminando comigo? Depois de tudo, ela vem e termina comigo com essa história sem pé nem cabeça. Mas, olhando por um lado, Alice está certa. Nós dois teremos outras pessoas ao nosso lado, e o que eu sinto por ela e o que ela sente por mim vai se confundir. Eu só precisava aceitar.

Horas depois estavamos todos no aeroporto. Minha família adotiva, minha mãe biológica, Anelise e o pai dela. Todos ali para me ver ir embora, olha que legal, tô passando mico com duas mães chorosas me abraçando.

- Eu amo vocês. - Falei assim que elas me soltaram. Fui abraçando um por um, cobrando o filhote de canguru quando abracei Anelise, até chegar em Alice. - Eu amo você mais que tudo. - Sussurrei.

- Também te amo, monstro. - A olhei estranhando. - Eu sei que você matou a minha Penny Lane. - Não quantos minutos passamos rindo, o resto do pessoal nos olhava estranho. Quando finalmente me recuperei, beijei-a enquanto acariciava seu rosto.

Sai em direção a sala de embarque, onde os passageiros do meu avião já embarcavam. Dei a famosinha olhada pra trás e quase sofri um infarto, eu realmente me apegava muito as pessoas, e algo ruim lá dentro de mim queria que eu desse meia volta e ficasse com eles. Algo me dizia que eu nunca mais os veria juntos.

Fui idiota o bastante para mais uma vez ignorar este tipo de pensamento.