20th December, 2008

As luzes coloridas davam sinal que a época natalina estava chegando. Eu nunca gostei do Natal. As famílias sempre se reúnem em volta de uma mesa, conversam, cantam alegremente, riem, se fazem felizes naquela noite. Mas essa alegria sempre vai embora no dia seguinte, volta na chegada do Ano Novo, todos fazem promessas boas, mas elas nunca se realizam. Eu perdi toda a minha crença em noites de Natal e de Ano Novo quando vim parar aqui, num orfanato.

- Tomás? - A doce voz de Anne, uma senhora de aparentemente 60 anos que cuidava da gente, me chamou.
- Sim?
- Tem visita para você, querido. Ajeite-se e daqui à vinte minutos lhe chamo.
- Ok. - Bufei assim que sai. Era mais um casal que queria me ver, e quem sabe, me adotar. Eu tava cansado disso.

Tirei meu pijama e coloquei uma roupa 'melhorzinha'. Me sentei na cama esperando que Anne viesse me chamar. Mas, quem iria querer adotar um moleque de 13 anos? Geralmente as pessoas sempre pegam bebês. Bom, vai ver são loucos. Anne deu dois toques na porta e eu já sabia que era para eu ir. Sai de meu quarto e caminhei por um longo corredor até parar em frente a uma porta, onde estava escrito 'Visitas'. Entrei devagar e encontrei um casal sorridente conversando.

- Olá! Você deve ser o Tomás, certo? - A mulher falou sorrindo simpática para mim.
- Sim. - Falei timído enquanto me sentava numa cadeira em frente a eles.
- Você tem quantos anos? - Se pronunciou o homem.
- 13.
- Tem irmãos? - Continuou.
- Que eu saiba, não.
- Tem alguma doença?
- Não.
- Já foi adotado alguma vez?
- Nunca!
- Você gostaria se alguém te adotasse?
- Pra mim tanto faz. - Eles sorriram entre si e me liberaram.

Anne, horas depois, apareceu no meu quarto dando a notícia. O processo de adoção já estava em andamento e em breve eu teria um novo lar.

18th January, 2009

Minhas duas pequenas malas já estavam prontas em cima da minha cama. Eu já tinha me despidido de todo o orfanato, menos da Anne, que ainda não tinha aparecido por aqui hoje. Minha porta foi aberta lentamente e de lá vi os dois olhos verdes de Anne encharcados.

- Anne? O que aconteceu? - Corri até ela a abraçando.
- Você vai embora! - Ela retribuiu o abraço e acariciou meu rosto.
- Mas sempre que eu puder venho te ver, certo? - A fitei e ela sorriu.
- Eu te amo, meu menino. - Beijou minha testa e meu rosto ficou molhado por causa das minhas lágrimas.
- Também te amo, Anne.

Minutos depois eu estava no carro dos Thompson. Anne acenava da porta do orfanato enquanto o carro dava partida. Encostei a cabeça no vidro do carro enquanto via uma Londres chuvosa, fazia tanto tempo que eu não saia dali que nem lembrava mais como era a cidade. Logo depois paramos em frente a uma casa - ou melhor, mansão - branca que ficava dentro de um condomínio luxuoso. O homem pegou minhas malas e quando entrei me deparei com quatro crianças correndo pela casa.

- Bem-vindo a sua nova casa, Tomás! - A mulher sorriu docemente e deu um grito, chamando as crianças. - Anjinhos, este é o Tomás! Querido, esses são Peter, Robert, Edward e Harriet. Onde está Alice? - Ela perguntou para a menina.

Logo depois um ser branco veio correndo pelas escadas, ela tinha cabelos loiros e cacheadinhos no final, olhinhos azuis e um rosto perfeito que por um momento pensei que fosse uma boneca ambulante.

- Tomás, essa é a Alice. - A menininha que aparentava ter uns onze anos, sorriu.