As palavras de Alice ecoavam em minha mente. Eu ainda não estava acreditando no que ela disse, ou talvez eu acreditava e a ficha não tinha caído. Depois que ela gritou chorando saiu do quarto dela - onde ainda estou - e foi para algum lugar, minha mãe veio aqui dizer um monte de coisas, porém tranquei a porta na cara dela e ela desistiu. Acabei descobrindo que meu pai pensa que o pai da minha filha é um tal de Harry, amigo de Alice. Me controlei para não ter uma crise de ciúmes, eu já tinha um sentimento de posse sob uma coisa que ainda nem veio ao mundo. Descobri também dos inúmeros abortos que Alice tentou fazer e da quantidade de drogas e álcool contidas no sangue dela, era demais para uma menina de 16 anos, e ainda por cima grávida. Isso tudo porque eu fui embora.

Minha cabeça doía, latejava, entre outros nomes ligados a dores fortíssimas na cabeça. Meus olhos pareciam pequenas pocinhas de água prestes a transbordarem. Antes de sair daqui Alice deixou bem claro que não queria eu encostando um dedo na filha dela e nem nela. Eu não suportaria. Alice é como uma droga, viciante logo na primeira tragada, quase impossível se libertar do vício. Como eu aguentei ficar longe dela quase cinco meses? Bom, prefiro chamar Collet de clinica de reabilitação ou de esparadrapo emocional. Ela fazia com que eu esquecesse que minha casa e as pessoas que habitam nela. Porém, Collet não está aqui comigo e eu estou atrás da minha droga.

Dois ou três toques na porta me fizeram levantar da cama e abrir a mesma.

- Oi. - Harriet falou meio tímida. Com essa confusão toda eu ainda não tinha falado com ela. Tentei esboçar um sorriso e voltei a me deitar, com ela sentada ao meu lado. - Como se sente?

- Péssimo.

- A culpa não foi sua. - Tentou me consolar enquanto enrolava meu cabelo no dedo. Neguei e ela suspirou cansada, sabia que não adiantava insistir nisso. - Ela que pediu para não te contar quando soube que estava grávida.

- Ela também disse que daria um jeito? - Harriet assentiu e eu ri brevemente, deixando que as lágrimas caíssem. - Sabia.

- Tomás o que você sente por ela?

- Eu amo a Alice.

- Então vai lá, ela tá trancada no meu quarto, não abre a porta pra ninguém. Mas duvido se ela não vai abrir pra você.

Respirei fundo e me levantei, mais uma vez. Alice podia muito bem fechar a porta na minha cara. Fui quase me arrastando silenciosamente até o quarto de Harriet, bati na porta bem devagar, esperando que ela tenha adormecido e não escutasse.

- O que você quer? - Peguntou seca assim que abriu.

- Podemos conversar? - Ela pareceu um pouco pensativa e deu espaço para que eu entrasse. - Me desculpa.

- Eu já falei que você não tem culpa de nada.

- Então porque não quis falar comigo quando eu cheguei?

- Você atrapalhou minha vida outra vez! Já estava tudo certo, eu era feliz até dois dias atrás.

- E você quer mesmo continuar nessa mentira de que aquele cara é o pai da nossa filha?!

- Nossa filha o caralho, você nunca vai ver essa menina, entendeu?

- Você não pode me impedir de fazer isso.

- Não se eu sumir antes dela nascer. Olha que legal, todo mundo fica bem, você se livra de nós duas e nós nos livramos de você.

- E ainda fala como se isso fosse bom.

- Isso é bom para mim, ficar longe de você me faz bem, sabia?

- Mentira sua.

- Ah é? E quem foi mesmo que falou que tinha saudades de mim, que não via a hora de voltar pra cá, mas pintou e bordou com um monte de meninas em Cardiff e se brincar namorou até uma lá. Quem mentiu mesmo? - Falou ironicamente.

- Foi você que terminou comigo, lembra?

- Então não reclama que eu estou mentindo, porque eu não tô. - Alice começou a chorar silenciosamente. Aquele conversa/briga já estava confusa demais e eu sei que ela odeia confusões e derivados. Alice se sentou numa poltrona apoiando os cotovelos no joelho e pôs as mãos no rosto. - Sai daqui.

- Você está bem? - Me agachei perto dela.

- Não, Tomás, eu nunca tô bem. - Falou com a voz embargada quase inaudível. Automaticamente a abracei, mas ela não retribuiu o abraço. Me sentei ao seu lado a envolvendo mais e coloquei meu rosto perto do seu. Alice enxugou as lágrimas e olhou de canto para mim, logo após encostou cabeça em meu ombro, soltando uma respiração pesada.

- Eu te amo.