Dragon School

Adeus Férias! Feliz novo ano letivo!


Era uma linda manhã. Alguns raios de sol conseguiam penetrar pela brecha da janela e tocavam o rosto de uma garota de cabelos castanhos.

– Ah... U-i-i-i...

Yui passou a mão pelos cabelos extremamente armados e involuntariamente olhou para o despertador ao lado da cama.

– Ahhh! Estou atrasada!

Yui Hirasawa, 18 anos. Irmã mais velha de Ui Hirasawa, 17 anos. Acordara mais uma manhã para seu primeiro dia de aula na faculdade! Exatamente: fa-cul-da-de! Ela mesma não acreditava que passara na prova de admissão com todas suas amigas.

E também não conseguia acreditar que já fazia 4 anos que acordava todos os dias atrasada. Até agora? Mas confusões a parte, Yui saiu mastigando uma torrada feita por sua irmã mais velha nova e correu para o ponto de ônibus. Sentou-se em um banco e ao sentir novamente os raios de sol em seu rosto, abriu o sorriso mais largo da sua vida e praticamente gritou:

– Brigadu vida! - exclamou Yui.

No pátio da faculdade...

– Hunf... Como sempre... atrasada... - resmungou Mio.

– Aquela cabeçuda! - apoiou Ritsu.

– Meninaaaas!

Todas arregalaram os olhos ao verem Yui se aproximando correndo descabelada e suada. Mas seus olhos não se arregalaram de horror e sim de alegria. De alegria por acreditarem que estavam mais um ano juntas... e dali pra uma vida inteira juntas seria muito pouco.

Enquanto todas conversavam animadas sobre as férias e Ritsu admirava o cabelo de Yui que crescera muito desde a última vez que se viram, Mio corou e abaixou a cabeça com olhar de tristeza. Mugi ao perceber, interrogou a amiga:

– Mio-chan? Aconteceu alguma coisa?

Mio se assustou e ainda tímida respondeu:

- Não, é que... Bem, eu já sou tão tímida perto de meninas... E agora, com meninos também, sinto que irei desmaiar...

E Mio desmaiou.

– Mio! – gritou Ritsu.

Ritsu segurou a amiga. E então, as três se tocaram do que Mio havia dito. Ritsu deixou Mio se estabefar no chão e parou para olhar ao redor com as outras duas: havia centenas de adolescentes e adultos, homens, mulheres, garotas, garotos... Diferentes cores, diferentes aromas, diferentes jeitos, falas, sotaques, estilos... Era uma explosão de variedade. E pra quem estava acostumada a conviver apenas com meninas do mesmo gosto, estilo e pensamento, aquilo foi como uma explosão de realidade.

Todos começaram a entrar no prédio e andarem pra lá e pra cá. As garotas sentiram-se perdidas, mas estavam juntas e isso era o que importava, afinal, elas já se sentiram assim inúmeras vezes.

– Perdidas?

As meninas se assustaram. Um garoto de cabelos negros desfiados parou ao lado delas com um ar meio metido. Ele usava um uniforme diferente, com mais detalhes. Seus olhos negros olharam de uma a uma, parecendo codificar suas identidades:

– Sou Leigh, monitor dos primeiros anos. Estou aqui para ajudar a todos em suas dúvidas e inseguranças. Se procuram a sala de vocês, eu poderei ajudá-las se me mostrarem seus cartões.

Todas entregaram apressadas e assustadas seus cartões. Leigh se assustou e começou a ler todos.

– Bem, vejo que todas se matricularam no mesmo curso, então um cartão bastava – continuou o monitor – Mas, enfim... É no primeiro andar, sala 45. Boa Sorte!

Leigh saiu e mais adiante abordou um garoto tímido que levou um baita susto. As meninas seguiram as ordens do monitor e encontraram sua sala.

As meninas sentaram-se próximas uma da outra, do outro lado da sala, ao lado das janelas. Com uma olhadela rápida Mio deu uma geral em todos da turma: nas primeiras fileiras, na parede havia um grupo de garotos que conversavam animados, pareciam se conhecer há muito tempo; Nos fundos tinha um grupinho de roqueiros meio calados e discretos; no meio havia um pessoal mais colorido; e em vários cantos tinham meninas e garotos meio termo.

– Que tipo de grupo nós seríamos? – Mio perguntou pra si mesma, bem baixinho.

Uma senhora idosa e com o rosto retorcido entrou na sala. Todos se calaram imediatamente.

– Olá. Eu serei a professora Minerva de teoria musical de vocês. Em minhas aulas não admito barulho, suspiros, piscadas, sorrisos, risadas, materiais que não pertencem a aula e perguntas de mesmo caráter. Espero que passemos um ano agradável. Apenas para iniciarmos esta aula, peço que escrevam uma redação sobre o porquê de terem escolhido este curso. Em menos de dois meses lhes mostrarei o contrário: que música não é brincadeira! Música não é para fracos... Música não é para qualquer um.

– E em menos de dois meses vou fazer ela mudar de ideia... – Ritsu cochichou para Mio.

Mio quase desmaiou de medo da audácia da amiga. Mas para sua sorte, ninguém notara. Todos passaram a aula concentrados em suas redações. E todos passaram o tempo pensando no quanto realmente estavam enganados sobre o curso.

Terminada a aula, Yui foi designada para recolher as redações, e a menina realizou tal tarefa com uma expressão de desafio, como se fosse a selecionada para representar seu país nas Olimpíadas de Ame-furi...

– Sinceramente, me senti no Ensino Médio outra vez! Redação? - Mugi exclamou - Sobre o porquê de blá, blá, blá? Ah, me poupe! Achei que já fôssemos estudar Derivados Vetoriais!

– Eu concordo quanto a redação... mas Mugi: não tem como estudarmos Vetores no curso de Música - disse Mio calmamente.

– Ah é, tem razão... Eu me esqueci disso... - Mugi murchou.

– Mugi, você tem certeza de que quer mesmo fazer este curso? - Mio perguntou - Depois que você desabafou naquela história de "se matar na escola pra estudar música", eu tenho me sentido insegura por você!

– Bom, eu quero fazer isso com vocês! - disse Mugi - Além disso, eu posso pensar em fazer outras coisas depois.

Mugi levou um susto. A porta foi quase derrubada por um homem que estava com um sorriso monstruoso! O sujeito foi até o centro da sala, abriu os braços e gritou. Sim! Ele gri-tou:

– Oláaaaa! Beeeem vindooos a veeerrrrdaaadeeeira Musicaa!

Ele suspirou para recuperar o fôlego e com as mãos na cintura, passou o olhar por toda classe.

– Hm, vejo rostos brilhantes! Iluminados pela chama da juventude! Vejo orgulho! Esperança! Inocência! Curiosidade! Eu amo os alunos novos!

E ele continuou:

– Eu sou Sekai! E serei o professor de aula prática de vocês! Eu lhes ensinarei a prática de todos os instrumentos básicos. Depois, quando quiserem se especializar em determinado instrumento, seguirão os cursos extras e... O que você disse?

O professor estava se dirigindo a um dos rapazes da parede. O garoto se assustou.

– Vamos! Não tenha medo! Revele seus sonhos! Seus medos! Seus segredos! - o professor falava como louco.

– Ah... Eu, bem... Eu apenas disse que gostei mais do senhor do que da outra professora...

– Ah sim... A professora Minerva - o professor ele fez uma careta de que concordava com o rapaz - Confesso que ela me assusta um pouco - e todos os alunos riram - Mas não se esqueçam garotos, de que ela tem um bom coração e muuuuita, muuuuuuita experiência! Podem notar só pelos olhos... as pálpebras caídas - e ele piscou fazendo a sala gargalhar.

– Bem, apesar de ser o primeiro dia, vamos por a mão na massa! - exclamou Sekai erguendo as mangas.

A aula passou bastante animada com o professor contando sobre sua vida e sobre o porquê de ter escolhido o curso. Todos riram do mesmo garoto que comentou algo sobre "Se ele tivesse aparecido antes da redação...”.

A hora do intervalo chegou e todos da escola saíram de suas salas. As garotas ainda sentiam-se meio perdidas.

– Isso é muuuito diferente do que eu imaginava! - exclamou Ritsu.

– Sim! É mais fácil do que eu pensei! - Yui acompanhou-a.

– É porque hoje é o primeiro dia! - Mio cortou as duas.

- Tsumugi Kotobuki? – uma senhora apareceu atrás do grupo com cara de poucos amigos. Mugi gelou: nunca fora de ser chamada por superiores.

- S-sim...

- Andei verificando as fichas dos alunos e a da senhorita é a única que encontra-se incompleta.

- Eu peço perdão, senhora diretora. Se eu puder fazer algo para consertar...

- Bem, vá à sala dos professores. Alguém irá ajuda-la lá. Quanto as demais: saibam que sou extremamente rigorosa com os alunos desta instituição e não tolero gracinhas e mal comportamento.

E a idosa saiu bufando em direção a um grupo de garotos que parecia estar fazendo guerra com bolinhas de papel.

- Assustador... – Ristu comentou e as demais concordaram.

- Bem, vou procurar o treinador do time de basquete. Quero me inscrever logo no início dos testes! Me desejem sorte!

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- Ah, olá?

- Pois não. – Mugi deu de cara com um rapaz que se encontrava sozinho na sala. A sala era bem espaçosa, com uma grande mesa no centro repleta de cadeiras. Havia ainda um balcão com cafeteira e um armário semiaberto, onde era possível ver diversos papéis soltando. Foi basicamente isso que Mugi conseguiu ver numa rápida olhada – Em que posso ajuda-la?

- Bem – Mugi desviou sua atenção da sala para o rapaz a sua frente – eu só estava precis... – e sua voz engasgou. O garoto era bem mais alto que Mugi. Tinha cabelos loiros parecidos com os seus, porém curtos. Sua franja tocava-lhe levemente os olhos. Sua pele era um pouco mais escura que a de Mugi, chegando a um tom quase bronzeado. Seus olhos eram castanhos e bem serenos.

- Sim?

- Eu só queria saber sobre minha ficha... – disse Mugi corando e tentando se recompor, o que conseguiu muito bem – A diretora me disse que estão faltando alguns dados...

- Ah sim. Vou verificar para você – o rapaz deu as costas e começou a revirar o monte de papel – Peço desculpas pela sala estar nesse estado. As férias mal acabaram e já tenho muito que fazer...

- Você é monitor da escola? – a menina perguntou notando que seu uniforme era um pouco diferente, com mais detalhes, e claro, muito impecável.

- Ah você é nova? – ele perguntou largando os documentos e virando-se para ela.

- Sou.

- Então peço desculpas novamente por não ter me apresentado. Sou Nathaniel – ele estendeu a mão e a menina apertou de leve. Mugi sempre teve problemas em apertar mãos: nunca sabia se deveria apertar forte ou de leve; a única coisa que sabia era que dava pra saber muita coisa sobre uma pessoa com apenas um aperto de mão, e Mugi sentiu que a mão de Nathaniel era fria e comprida, e mãos assim ela reconhecia de longe.

- Nathaniel, você é pianista?

O rapaz ficou surpreso com a pergunta e respondeu:

- Sim. Reparou pelas minhas mãos, né? – ele sorriu – Você também deve ser. E me arrisco a dizer que das boas – ele sorriu mais ainda.

Mugi sorriu e encarou os pés; e ficou balançando-se enquanto aguardava. Nathaniel voltou a remexer nos papéis e finalmente pareceu encontrar

- Aqui está! – e ao se virar, sua franja já cobria parte do rosto. O rapaz assoprou-a para cima e entregou os papéis a Mugi – É só você preencher com uma foto 3x4 e assinar nos locais indicados.

- Obrigada. Vou agora mesmo fazer isso!

E ela se virou para sair:

- Ah! – o rapaz chamou. Mugi virou-se surpresa – Bem-vinda a escola – ele disse sorrindo. Mugi fez que sim com a cabeça:

- Obrigada.

E saiu às pressas, sentindo sua perna querer falhar.

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- Yuuuiii! – a menina virou para ver quem a chamava e arrependeu-se na hora – Ah não! O Ken não!

O rapaz chegou tropeçando em alguns pés, empurrando algumas pessoas, ajeitando os gigantes óculos que lhe davam um ar de inseto gigante.

- A-ah... O-oi Ken... – Yui sorriu amarelo pro garoto e virou-se para Mio, implorando sua ajuda. Mio simplesmente virou o rosto, zangada. Ken era irmão de Ristu e desde que vira Yui a primeira vez, se apaixonara instantaneamente. O problema era que o garoto era, como se já notara, extremamente... diferente.

- Eu estava querendo saber se você não gostaria de passar o intervalo comigo! Eu posso te apresentar a escola!

- Ah... He, he... Sabe o que é, Ken...? É que eu tenho umas coisinhas pra fazer e... Mugi!!! – Yui acenou freneticamente para a loirinha que se aproximava de forma pensativa. Esta chegou até o grupo:

- Oi gente... Eu estava...

- Procurando por você Ken!

- Estava? – Mugi, Ken e Mio perguntaram em uníssono.

- Sim, sim! – Yui respondeu confiante – Não era Mugi? Você não queria que o Ken a ajudasse a conhecer a escola?!

- Mas eu...

- Então aí está ele! Vão logo vocês dois ou perderão o intervalo!

Yui empurrou uma confusa Mugi e um apaixonado Ken. Os dois saíram para o pátio e Mugi apertou os olhos devido a claridade. Ao se acostumar com a forte luz, a menina pode observar o quanto era lindo aquele lugar.

O pátio era todo gramado, com postes de luz ao estilo francês. Alguns grupos caminhavam, outros estavam sentados no gramado; outros ainda andavam de skate ou treinavam o equilíbrio segurando bolas de basquete em órbita na ponta do dedo. Aqueles que não tinham bolas usavam o próprio caderno.

- Nossa... É grande mesmo, né?

- O que você quer conhecer primeiro?! – Ken perguntou animadamente. Mesmo Mugi não sendo Yui, o rapaz parecia realmente feliz em ajudar uma das amigas de sua “amada”.

Mugi sorriu carinhosamente para o rapaz que era uma cabeça abaixo dela, extremamente franzino, o cabelo castanho de tigelinha por cima dos óculos gigantes. E nada melhorava com o figurino do rapaz, sob aquele suéter verde listrado. O rapaz era um estereótipo perfeito de um “nerd” americano. Mas Mugi não sentia pena do rapaz; sentia extremo carinho. Ela lembrou-se de poucos anos atrás, quando adotava a mesma aparência desengonçada de Ken. Sabia que poderia mudar o garoto assim como mudara a si mesma. E isso não demoraria a acontecer.

- Que tal a estufa? Adoro plantas!

Ken abriu um sorriso e puxou Mugi pelo braço.

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- Foi muito feio o que você fez, Yui! – Mio a repreendeu enquanto guardava os inúmeros livros em seu armário.

- Ora Mio! O que eu posso fazer se ele vive no meu pé?!

- Deveria conversar com ele! Se você não explicar-lhe que entre vocês dois não há nada mais que amizade, talvez ele te deixe em paz um pouco, ou até desista de você e comece a encher o saco de outra. A Mugi é uma boa opção.

Yui pôs a mão no queixo e pareceu medir bem essa opção.

- É uma boa, Mio-chan...

- Mas olha lá o que você vai fazer, Yui! Não vá magoar o rapaz porque ele é muito sensível! E apesar de tudo, é um bom garoto!

- Tá, tá... Quer saber de uma coisa? Vou procurar a Ri-chan! Ela sim sabe me dar conselhos bons!

Uma veia latejou na testa de Mio que achou melhor ficar calada e ignorar tal comentário. Ao terminar de guardar tudo a morena fechou o armário e suspirou profundamente: como será sua vida num colégio grande, com pessoas de todos os tipos e principalmente, com garotos de todos os tipos. Foi pensando nisso que ela se virou e no mesmo segundo um punho forte socou o armário ao lado de sua cabeça e uma silhueta alta e grande.

A dona da silhueta era uma garota muito alta e esguia. Seus cabelos cacheados tomavam-lhe metade de seu rosto arredondado. Duas garotas encontravam-se atrás dela, com cara de poucos amigos:

- Olá novata... – ela disse.

- “Não sou eu” – foi só o que pensou. Mio não conseguiu falar nada, tamanho susto que sentiu.

- O que está fazendo aí?

- E-este é meu armário...

- “Este é meu armário” – Amber imitou Mio distorcendo a voz – Este é MEU armário! Sempre foi!

- Desculpe, mas me deram ele.

- Então trate de devolver!

- Mas o que está acontecendo aqui?

A voz do monitor ecoou pelo corredor e instantaneamente tudo silenciou. Amber apenas revirou os olhos e afastou-se de Mio.

- Eu perguntei o que está acontecendo aqui... – um rapaz encarava Amber de cima abaixo, com ar de superioridade. Mio olhou pra ele e notou que de fato ele tinha superioridade. Leigh usava o uniforme de monitor com um lenço roxo no pescoço. Seus cabelos desfiados eram extremamente negros, assim como seus olhos pequenos e penetrantes.

- O que foi agora Leigh? – Amber questionou com desdém.

- Olha como fala comigo, garota. E sou eu quem está perguntando.

- Não está acontecendo nada, não é novata?

Mio engoliu seco. Sentiu-se encurralada. Sinceramente não sabia o que responder. No entanto, o olhar seco de Ambre lhe entregou a resposta:

- Está tudo bem. – foi só o que conseguiu dizer. Leigh a encarou. Mio não sabia dizer se o pior era imaginar o que Ambre planejava para si mesma ou se era o modo como Leigh a fitava. Os olhos do rapaz eram pequenos e estavam semifechados de forma misteriosa. Ele parecia analisa-la por completo, como se estivesse tentando ler sua mente.

- Não consigo acreditar muito nessa resposta, mas não posso fazer muito agora. Saiba, Amber, que você está na minha lista desde o ano passado, então procure medir bem os seus passos. Quanto a você – e olhou para Mio – venha comigo.

Mio acanhou-se por um momento, mas então jogou a mochila nas costas e seguiu Leigh. Os cochichos começaram:

- Aos demais: voltem para suas salas. O intervalo acabou.

Os cochichos tornaram-se mais fortes.

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