Dragon School

Encontros e desencontros


Ritsu andava apressada em direção à quadra quando algo tocou seus pés. Uma bola grande e laranja a encarava no gramado, em frente ao seu Vans.

— Manda pra gente, bonitinha! – um garoto gritou.

— Se conseguir... – outro comentou rindo. Ritsu notou a ironia na fala do menino e arremessou a bola com tamanha perfeição que acabou por acertar a lixeira ao lado de um dos rapazes.

— C-caramba...

A menina bateu as mãos para limpá-las e continuou seu trajeto. Ou pelo menos tentou:

— Ai!

Dois corpos caíram de bunda contra o chão:

— Olha por onde anda garota! – um garoto resmungou esfregando a cabeça.

— Eu é que digo! Seu destrambelhado! – Ristu o encarou e instantaneamente quis mudar sua última fala. Seu obstáculo era um rapaz de cabelos ruivos compridos até o ombro. Vestia uma jaqueta de couro preta por cima de uma camiseta, que Ristu reconheceu na hora ser dos X, uma de suas bandas favoritas.

— Do que me chamou? – ele perguntou irritado. Seus olhos castanhos escuros estavam fuzilando-a com indignação.

— Hunf! Nada! – e Ristu preparou-se para se levantar. No entanto, o rapaz que ainda estava no chão puxou seu braço.

— Mas você é mal educada, hein! Será que posso ao menos saber o nome da menina que quebrou meu joelho?

— Hum... É Ritsu.

— Ritsu... Hm... Sou Castiel.

— Prazer.

— E aí? Pra onde ia tão apressada? – ele então se levantou.

— Estou indo pra quadra. Vou me inscrever pro time de basquete. – ela respondeu sonhadora. Castiel a encarou esperando que ela se explicasse e então gargalhou.

— Você?! Time de BASQUETE?! Até parece!

— Ora! O que está dizendo?! Acha que não consigo?

— Garota... Eu nunca acho as coisas. Eu sempre tenho certeza das coisas.

Ritsu fechou a cara e começou, mais do que nunca, a achar esse tal de Castiel realmente um idiota.

— Pelo menos alguém tornou meu dia mais feliz. Bem, vou indo nessa. E boa-sorte nesse lance de basquete – e ele saiu ainda rindo.

— Seu idiota! Imbecil! Vai ver só quem ri por último!

E saiu em direção a quadra, pisando forte.

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— Sente-se.

Leigh indicou a cadeira em frente a sua mesa. Mio ficou surpresa pelo fato de um mero monitor ter sua própria sala. Sentou-se timidamente e largou a mochila no chão. Leigh terminou de arrumar algumas coisas sobre a mesa e então cruzou as mãos na frente da boca e apoiou os cotovelos na mesa.

Mio sentiu-se intimidada mais do que nunca. Leigh realmente sabia como fazer isso.

— Então...? – ele perguntou.

— Então o que?

— Como “o que”? Conte-me! O que houve entre você e Ambre.

— Não houve nada, senhor monitor— Mio disse as últimas palavras com mais ênfase do que gostaria. E pra sua infelicidade Leigh pareceu notar isso.

— Entendi.

— Entendeu? Entendeu o que?

— Não há, de fato, nenhum problema entre Ambre e você. Estou vendo que ambas são iguaizinhas.

— O que? Não!

— Senhorita Mio, já estou acostumado a lidar com todos os tipos de alunos. Posso perceber nas suas mínimas ações como você é, como se comporta...

— Mas o que está dizendo? Você fala como se fosse alguém importante! Você também é um mero estudante!

Leigh ofendeu-se ao extremo. Mio notou e fechou os olhos. O rapaz ergueu-se da cadeira e abriu a porta para a garota:

— Saia desta sala.

Mio pegou sua mochila e se quer olhou para ele.

— Akyama – ele a chamou. Ela se virou – Detenção às três horas.

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Ritsu entrou na quadra e sentiu-se incomodada com todos aqueles olhares masculinos sobre si mesma. Ainda estava se acostumando com o fato de ter amadurecido e agora chamar tal atenção. Andou em direção a um homem de moletom que anotava em uma prancheta.

— Ei garotinha... Se está procurando seu namorado é melhor esperar lá fora... Meninas são proibidas durante os treinos.

— Não estou procurando meu namorado – ela respondeu ofendida. O homem a encarou e então parou de anotar na prancheta – Então deve estar atrás das líderes de torcida. Elas ficam na...

— Também não estou atrás delas.

— Então diga logo o que é porque não tenho o dia todo!

— Vim fazer os testes para o time.

Todos. Absolutamente todos que estavam na quadra viraram seus rostos. A voz de Ritsu havia ecoado pelo salão. Alguns rapazes riram. Outros consideraram uma brincadeira sem graça e voltaram sua atenção para o jogo.

— Desculpe, eu não entendi direito.

— Eu vim fazer os testes. Quero entrar para o time.

Ao reparar que Ritsu de fato falava sério, o homem passou a medir suas palavras:

— Olha garotinha, eu não sei de que escola você vem, mas aqui é diferente. Meninas e meninos não competem no mesmo time. Você precisa procurar esportes que outras garotas praticam.

— Olha, sei que parece absurdo, mas estou falando sério. Não estou pedindo pra entrar pro time; estou pedindo pra fazer os testes. Quero que me avalie e se eu realmente não for boa, eu vou embora. Mas posso garantir-lhe de que não tomarei seu tempo a toa.

O homem pareceu pensar:

— Ah! Que isso treinador! – um garoto entrou no meio – É ridículo! O senhor não pode fazer isso!

— Eu discordo – um rapaz intrometeu-se. Era um cara muito alto, magro, de pele branca e cabelo rastafári – Não custa nada testá-la. Além disso, estamos precisando de gente no time.

— Cale a boca, Mike! Não saia espalhando isso por aí ou os adversários vão ouvir, idiota!

— Chega vocês dois! – o treinador ordenou – Ok garota. Apresente-se amanhã na quadra, as três e meia. Vamos ver se meu precioso tempo será bem aproveitado.

— Obrigada senhor! Garanto-lhe que não irá se arrepender disso!

— Certo, certo! Vocês! Dispensados!

Todos foram saindo da quadra. Ritsu também ia quando alguém se aproximou gritando:

— Ei! Ei! – ela se virou e viu o garoto, Mike, correndo em sua direção – Você acha mesmo que pode ter chances?

— Se veio aqui pra zombar de mim fique sabendo...

— Não! – e ele riu – Não, eu só vim dizer que, se você quiser, posso te ajudar com umas dicas. Quero dizer... Pode te ajudar a ir melhor no teste.

A menina sorriu:

— Iria ser muito bom.

— Mike – ele estendeu a mão.

— Ritsu.

— Bem, vou indo nessa. Amanhã te procuro pra gente treinar. Falou...

E ele voltou correndo.

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Ritsu voltou pra sala e encontrou as demais sentadas de formas estranhas. Havia uma Yui entediada cutucando a cabeça de uma Mugi que arrumava freneticamente sua franja com um pequeno espelhinho e uma Mio completamente cabisbaixa, jogada de qualquer jeito na carteira.

— O que houve com vocês?

— Eu não tenho nada pra fazer! Mugi tá tentando ficar bonita pra uma foto e Mio levou detenção.

— O queeeee?!!!

— Nem vem, Ritsu. Não quero falar sobre isso.

— Claro que quer! Mio, isso é impossível! VOCÊ!

— Hunf, tudo não passou de um mal entendido!

— Então vamos desentendê-lo agora!

— Não Ritsu! Não dá! Você não entende...

— É... Realmente não entendo porque Akiyama Mio está recebendo conselhos de Tainaka Ritsu quando deveria ser o contrário. E por que Mugi quer tanto sair bonita numa foto?

— É que um carinha vai receber a foto e Mugi quer estar bonita pra ele... – Yui contou sorrindo maliciosamente o que fez a menina loira se virar irritada.

— Não é nada disso! Só não quero ter meu rosto exposto de qualquer jeito na ficha da escola!

— E você Ri-chan? – Yui perguntou ignorando a amiga loira e voltando sua atenção para a amiga de cabelos caramelo.

— Bem, consegui autorização pra fazer os testes do time! Será amanhã!

Todas largaram suas coisas para parabenizar a amiga.

— Sei que irá arrasar, Ri-chan! Sei sim!

— Tomara, Yui... Não tenho que impressionar apenas o treinador.

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O final do dia chegou. Todos os alunos foram saindo para direções diferentes. O sol ainda estava forte, afinal, eram apenas três horas.

— Bem, vou indo para a detenção... – Mio disse amargurada.

— Vamos espera-la, Mio-chan – Mugi confortou-a – Vamos esperar aqui.

— Obrigada.

E saiu cabisbaixa. As três sentaram-se na sombra de uma grande árvore. Yui e Ritsu começaram a jogar no celular e Mugi embarcou em um livro.

A poucos metros dali, um grupo de rapazes conversava desanimadamente.

— Temos que arrumar alguém logo, cara... O concurso é daqui a um mês e não temos nada pronto pra demo!

— Eu já entendi Marcos! Não precisa ficar repetindo! – respondeu mal humorado um rapaz ruivo de jaqueta preta. Apesar de o amigo estar reclamando a meia hora, sua atenção não se desviara desde que chegaram naquele lugar.

— Castiel...? Cara, por que você tanto olha pra lá?!

— Por nada, Marcos! Cala a boca!

— Quer saber! Fui, tá ligado? Cansei de ficar tentando correr atrás das coisas! Quando estiver realmente me interessado você fala comigo... Caso contrário, esquece!

O garoto jogou a mochila nas costas, pegou a alça da guitarra e foi embora. Castiel permaneceu encostado a árvore, observando um grupo de garotas que jogava, lia e conversava animadamente.

Algo lhe dizia para se aproximar, para falar com alguma delas. Mas ele não queria ir.

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— Leigh? Estou aqui.

Mio entrou na sala do monitor e encontrou o rapaz dormindo em cima de vários papéis amontoados.

— Leigh... – ela o chamou e o chacoalhou de leve. Este despertou assustado, sem saber ao certo onde estava – Leigh sou eu, Akiyama Mio. Vim cumprir a detenção.

— Ah sim, claro. Me acompanhe.

Mio o seguiu pelos corredores vazios da escola até chegarem a biblioteca.

— Aqui está. Pode começar.

— Começar o que?

— A por os livros no lugar. Irá organizar todos.

Mio pensou em replicar, mas não era disso. Simplesmente concordou com a cabeça e começou a árdua tarefa.

Uma jorrada de poeira inundou seu nariz fazendo-a espirrar fortemente:

— Saúde.

— Obrigada... Ah! – Mio assustou-se: uma cabeça estava debruçada sobre o parapeito da janela. Tratava-se de um menino de cabelos azulados com um chapéu engraçado – Quem é você?!

— Oh, te assustei? Perdão... Estava regando as plantas aqui fora... Sou Jade, jardineiro do colégio. Prazer – e ele estendeu a mão que Mio apertou timidamente.

— Prazer Jade. Mio...

— Detenção? – ele perguntou indicando os milhares de livros.

— Sim... E acredite: foi um total engano!

— Engano?

— É, uma garota estúpida me aborreceu no intervalo e acharam que eu estava envolvida...

— Hum... Ajuda?

— Oi?

— Quer ajuda? Eu não estou fazendo nada... posso ajuda-la?

— Ah, seria bom.

E o rapaz simplesmente saltou pra dentro da biblioteca.

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Mio não conseguia parar de gargalhar. Jade a divertia ao extremo enquanto organizavam os livros. Já estavam no último quando uma voz grave e cortante invadiu a sala:

— O que está havendo aqui?

Ambos pararam de rir na mesma hora. Leigh os encarava fuzilando-os com o olhar:

— Jade estava me ajudando...

— Isso é uma DETENÇÃO! Não é pra você receber ajuda! Saia Jade. Você deve ter muito trabalho pela escola.

— Na verdade não, senhor monitor – o rapaz respondeu se levantando.

— E eu também não Leigh, já terminei tudo.

O moreno avaliou tudo ao redor e constatou para sua infelicidade que de fato estava tudo organizado. Engoliu as palavras presas em sua boca e abriu espaço para que Mio saísse.

— Obrigada pela ajuda, Jade.

— Foi um prazer. E será um prazer maior ainda se aparecer qualquer dia desses na estufa da escola pra me visitar.

— Eu irei.

O rapaz sorriu e seus olhos semifecharam, tornando-se apenas tracinhos em seu rosto. Mio notou que era um belo sorriso. Encantador. Jade tinha a pele bastante bronzeada de quem toma muito sol, e seus cabelos cor de anil destacavam seus olhos verdes. Era bem diferente de um certo moreno tão pálido quanto a neve e tão frio como a mesma. Mio notara isso em seu primeiro dia de aula.

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