Dois Mundos - Revoltosos

2-Hogwarts sofre um atentado ‘maguista’.


A semana seguinte passou sem muita empolgação. Aos poucos, consegui fazer todo mundo esquecer os incidentes nas aulas, e logo eu já estava aprimorada na magia. A professora levou-nos até Londres, no Olivaras para comprar nossas varinhas. Escolhi uma feita de carvalho, trinta centímetros, com núcleo de pelo de unicórnio, flexível. Aos poucos, fui convencendo que os magos não eram tão ruins, mostrei alguns encantamentos simples, como convocar um esfregão e uma vassoura para limpar o quarto. E percebi que as pessoas começaram a entrar em duvida, e questionar o motivo da guerra.

Aos poucos fui adaptando-me com a rotina. As coisas começaram a ficar favoráveis para nós, arrumei alguns amigos lá dentro, que nos ajudaram a convencer os outros. Mas foi apenas nos últimos dois dias que estivemos lá, que tudo deu errado.

Durante o café da manhã de uma terça-feira, o correio matinal chegou. Um bando de corujas entra voando pelo teto e solta as cartas em cima dos respectivos donos. Ao meu lado estava Joanne, e ela recebeu o Profeta Diário, o jornal dos bruxos.

Na manchete, uma foto de um homem gorducho, baixinho e atarracado caminhando, estava exibida. Junto com a frase ‘Guerra se aproxima. Ministro da magia pede que todos os bruxos preparem-se para a maior guerra de todos os tempos.’ Eu pedi emprestado o jornal e abri. Pedro estava do meu outro lado e leu comigo.

–Eles não podem fazer isso! –Gritei ao ler a noticia. Aparentemente, todos os mais poderosos bruxos estavam sendo mandados para o Egito, a fim de combater a Casa da Vida na sua fonte. Só que se isso acontecesse, os magos atacariam Londres, o ministério e Hogwarts. E eu não poderia deixar Londres ser destruída.

–Está na hora de partir para o Plano B. Vamos ter que nos oficializar aqui dentro, e assumir os riscos. Precisamos chamar a atenção do ministro para nós. –Disse Pedro baixinho, e eu assenti.

Encontrei o olhar de Douglas, na mesa da frente. Ele já havia lido a notícia, e tivemos uma conversa visual rápida, porem eficiente. Havíamos nos especializado nisso durante os últimos meses. Ele entendeu meu olhar rapidamente e começou a procurar nossos aliados na multidão.

Bruna estava sentada do outro lado do salão. A mesa da Grifinória era a mais animada. Por sorte, ela estava sentada de frente para mim e me viu rapidamente. Fiz uma linguagem de sinais rápida que havíamos treinado antes. Ela também entendeu. Logo, todos os nossos dez participantes do movimento estavam reunidos do lado de fora do castelo. Tínhamos pouco tempo antes da aula. Talvez dez minutos.

Nosso grupo era nós três, minha irmã e seu namorado, Olivia, uma outra menina do sétimo ano da Grifinória, chamada Leslie, um garoto alto do sexto ano da Lufa-Lufa, chamado Edgar e dois gêmeos da Corvinal, do quinto ano, chamados Harry e Peter.

–Está na hora de começar o plano B. Ministério vai atacar o Egito em poucos dias. Nós temos que conversar com eles. –Eu disse.

–Como vamos fazer isso? –Perguntou Harry. Esse cara era muito estranho, ele tinha olhos verdes escuros, cabelos negros e cortados em um estilo militar (provavelmente para diferenciar do irmão) e uma estatura mediana.

–Vamos chamar a atenção do ministério para nós. Eles vão ficar bem doidos ao saber que tinham inimigos infiltrados na escola. –Disse Douglas.

Eu assenti.

–O plano é o seguinte: -Bruna explicou o plano e o que cada um iria fazer. Tínhamos esperança de dar tudo certo, se não, estaríamos muito encrencados.

***

Estávamos no terceiro período. Hora de começar o plano. Era aula de História da Magia. Se você já teve sono em uma aula, você simplesmente não conseguia ficar acordado nessa aula. O professor Beans era um fantasma que não sabia que tinha morrido (pelo menos era isso o que falavam). Ele falava muito lentamente, deixando todos entediados e com os olhos pesados. Ninguém podia perguntar alguma coisa ou interromper a aula. Mas esse dia, História da Magia nunca foi tão interessante.

–Professor? –Perguntei levantando a mão.

Ele levantou a cabeça branca e olhou-me irritado.

–Sem perguntas, senhorita Villares. –E continuou dando aula.

–Professor?! –Chamei de novo, mais insistente.

–Já disse que é sem perguntas! –Ele gritou e virou-se para o quadro novamente.

Eu olhei para Pedro, que estava sentado um pouco mais a frente. Ele entendeu o que tinha que fazer.

–Professor! –Gritei com toda a força. Todos que estavam dormindo, acordaram com o grito.

–Agora já chega! Você está expulsa da minha aula! Vou leva-la para a direção agora mesmo! –Ele vinha vindo em minha direção.

Eu puxei meu cajado do Duat e convoquei o símbolo da Casa da Vida na ponta. Todos olharam boquiabertos:

–Alguém já lhe disse que essa aula é muito chata e completamente inútil? –Provoquei.

As veias começar a inchar, e mesmo ele sendo um fantasma, pude perceber o rosto dar um leve toque avermelhado.

–Você não pode falar isso! –Bradou ele.

Pelo canto do olho pude ver Pedro sair correndo em silêncio da sala.

–Cara, te liga meu, essas paradas de História da Magia, isso é muito chato. Ninguém merece ficar uma hora por dia ouvindo esse lixo todo saindo da boca de um fantasma patético. –Eu falei, e meu plano começou a dar certo. A turma começou a se animar, e pelo jeito, ninguém nunca havia desafiado um professor antes. Bem na real, eu nunca havia falado assim com algum professor antes.

–Como ousa...

–E não acabei ainda. Eu sei que todos os alunos dessa escola falam mal de ti. Já vi muitos chamando-o de velho babão e bafo de cobra. E o que realmente é interessante você ensinar, tu não ensina. –Falei mais alto ainda, para que todas as pessoas do corredor ouvissem. Nessa altura, Pedro já deveria ter cumprido sua parte no plano. Convocar um esquadrão de shabtis para andar pela escola, e ainda causar alguma confusão nas outras salas, espalhando as noticias. –Por exemplo, cara. Alguém aqui nessa porcaria já ouviu falar sobre o Egito Antigo? Sobre a Casa da Vida? –O hieróglifo brilhou mais forte. E ninguém se pronunciou. –Alguém sabe sobre a maldita guerra que ocorrerá em poucos dias no Egito, entre os bruxos e os magos da Casa, e que poderá destruir o mundo como conhecemos? –Alguns levantaram as mãos. E eu comecei a caminhar em direção a porta, lentamente. Percebi que alguns alunos estavam parados do lado de fora, assistindo. –Ninguém sabe o motivo real da guerra. É apenas uma frescura do seu ministro da magia. Que não pode suportar a ideia de outros tipos de magias por ai.

–Como assim outros tipo de magias? –Murmurou uma garotinha assustada.

–Esse tipo. –Eu disse e convoquei uma luz forte o suficiente para cegar uma pessoa. O cajado iluminou todo o corredor, que já era bem claro, mas acabou inundado com uma luz muito clara.

Muitos gritaram e se esconderam, mas eu não sou tão ruim assim, ninguém ficou cego. Ouvi um baque surdo no outro corredor e uma menina saiu voando da sala. Bruna foi arremessada por John, espero. Era essa a parte deles. Simular uma briga entre o casal quando ela tentasse nos defender. Agora Douglas deveria entrar pelo corredor e protege-la convocando uma coluna de fogo em seu cajado. Dito e feito.

Agora o show estava quase completo. Só faltava uma coisa, todos os alunos e professores tinham que assistir. Eu agitei a varinha com um feitiço simples, o primeiro que havíamos aprendido. O feitiço para fazer levitar funcionou perfeitamente em Bruna. Joguei-a pela janela, esperando que ela conseguisse fazer o resto sozinha. Eu precisava levar todo mundo para fora.

Pedro surgiu em um avatar de guerra de 3 metros de altura, humanoide com cabeça de falcão, segurando uma espada, e imitava todos seus movimentos, que flutuava no peito do avatar. Ele assustou todo mundo, o que foi bom, pois todos desceram as escadas correndo.

–Todo mundo para fora! Agora! –Gritou o professor esganiçadamente.

Ninguém hesitou em seguir a ordem. Todos desceram, mas agora eu precisava chegar lá em baixo rápido o suficiente. Pedro seguiu-os de perto, certificando que todos desceriam. Os outros integrantes do grupo foram batendo de porta em porta, fazendo arruaça e informando que deveriam todos descer, pois um gigante havia invadido a escola.

Eu quase fui empurrada junto com a massa. Então corri para a janela e saltei. Mas só depois percebi a besteira que havia feito. Por sorte, Bruna estava atenta e ajudou-me a chegar no chão sem arranhões.

–Obrigada. –Eu disse e ela assentiu.

–Agora é com vocês, boa sorte.

Eu consegui abrir um sorriso leve antes que os primeiros alunos chegassem ao pátio.

Douglas estava ao meu lado já, e convocou uma parede de fogo entre os alunos e o pátio. Deixando-os presos. A medida que eles chegavam, o círculo de fogo aumentava, mas eu sabia que meu primo não aguentaria muito tempo mais, então tinha que ser rápida.

–Prestem atenção! –Eu gritei, fazendo-me ser ouvida.

Todos ficaram quietos. Pedro surgiu com seu avatar dentro do castelo, todos estavam apavorados de mais para falar. Bruna fez um círculo protetor em volta de nós. O que me dava uma certa segurança;

–A guerra precisa ser evitada. Se essa guerra ocorrer, toda a civilização pode morrer. São duas grandes forças, que não podem se enfrentar, devem trabalhar unidas. –Eu disse. Não conseguia ouvir nada, nenhum som além da respiração de mais de 400 pessoas. –Vocês não podem lutar a favor do ministério. Eles não têm ideia do que pode ocorrer.

–Como você tem tanta certeza disso? –Perguntou um menino da Sonserina, que nunca tinha gostado de mim, eu sempre soube.

–Cara, eu sou filha de Apolo, consigo prever o futuro com coisas óbvias. –Respondi.

–Filha de quem? –Perguntou Ian Thomps. Um menino ruivo e sardento, do sexto ano, que tinha a maior cara de nerd e eu sabia que Juliana não poderia ver ele, se não ela se apaixonaria.

–Apolo, deus grego da musica, beleza, profecia, cura, sol, doenças e tiro com arco. –Respondi.

Ele começou a rir, e quase como um reflexo, puxei o arco do pescoço e encaixei uma flecha da aljava, que crescia automática como o arco. A flecha com a ponta chata, apenas para derrubar, bateu em cima de Ian, jogando-o para trás. Ninguém mais deu um sorriso.

–O que você quer que façamos? –Perguntou Peter, como o planejado.

–Vocês devem convencer seus pais a não lutar. Fazer o máximo para que a guerra não aconteça. Nós magos, não somos seus inimigos. –Respondeu Douglas.

Como o combinado, ele e Pedro se juntaram a mim, com os cajados e varinhas em punhos. Todos emitiram sons de surpresa. Consegui ver a professora McGonagall atrás de muita gente.

–O ministério já foi avisado sobre essa revolta de vocês aqui. –Disse ela. Como eu suspeitava.

Só que o ministério teria que vir nos prender aqui. E não poderiam demorar muito. Nosso tempo estava acabando. E tudo que estava indo bem, deu errado.

Carlos, um menino da Lufa-Lufa, lançou um feitiço de desarme em nós, que ricocheteou no escudo e bateu em alguém da primeira fila, eles começaram a brigar entre si, o que não foi muito efetivo. Pois tivemos que entrar na luta também.

Tivemos que desviar de raios de luz colorida e gritos que vinham de todos os lados, até que chegamos na única opção possível para nós: fugir.

Como fugiríamos de Hogwarts? Boa pergunta. Por sorte, já tínhamos elaborado um plano para isso. Freak, o grifo psicótico de Carter, estava a nosso serviço. Depois de uma breve Mensagem de ìris para a Casa do Brooklin, explicando nosso plano, Carter aceitou nos emprestar ele como uma maneira de escape. E desde o dia anterior, ele estava dormindo na floresta. Agora ele voava em nossa direção, puxando um barco egípcio voador, tripulado apenas pelo babuíno Khufu.

Nos três pulamos dentro do barco, deixando a confusão para trás, e senti a náusea de entrar no Duat. Em pouco tempo, flutuávamos sobre o rio Tâmis, no centro de Londres, em direção ao ministério, para a abordagem direta.

Olhar a cidade ali de cima, fez com que a saudade apertasse em meu peito. Eu havia passado quinze dias ali, em intercambio, mesmo em tão pouco tempo, foi um período marcante para mim. Conheci pessoas incríveis, que já devo ter mencionado, e agora dava muita saudade mesmo.

Fiquei tão distraída que não percebi que já havíamos chegado à sede do Ministério da magia. Um prédio velho e sujo, no centro de Londres. A entrada era uma cabine telefônica daquelas clássicas. Nós pousamos Freak sobre construção e descemos por uma corda fazendo rapel.

–O que fazemos agora? Não podemos simplesmente entrar ai e enfrentar um batalhão de bruxos. –Perguntei.

Douglas pensou um pouco. Ele mexeu na mochila, que inteligentemente guardará no Duat, enquanto a minha provavelmente estava na sala de história da magia. Puxou um iPad branco de dentro da mochila e começou a mexer.

‘Seus poderes podem não funcionar aqui. Bruxos não usam tecnologia. ’ Pensei, mas não falei alto.

–Ótimo, tem uma entrada subterrânea, mas fica do outro lado do quarteirão. E não me pergunte como sei disso, e sei que bruxos não usam tecnologias ou maquinas, se for isso que você está pensando. Mas eles deixaram alguns rastros, por exemplo, alguém lá dentro usa computadores. –Douglas explicou guardando novamente o iPad.

–O que estamos esperando? Vamos lá! –Disse Pedro seguindo em frente.

–Espere, o que exatamente vamos fazer lá? A essa hora, eles já sabem quem somos, e se entrarmos lá, assim, vão nos prender e talvez, nos matar. –Eu falei, tentando parecer convincente. Por sorte, os dois concordaram comigo.

–Então vamos os fazer virem até nós, onde somos mais fortes. –Douglas parecia muito entusiasmado com essa ideia, e Pedro concordou.

–Querido, como que vamos chama-los até o Long Island? Ou até mesmo o Brooklin? –Perguntei sarcasticamente para Douglas.

Ele sacudiu a cabeça negativamente.

–As vezes me esqueço o quanto você é tonta. Nós não vamos leva-los até o Brooklin, muito menos para Long Island. Eles estão indo para o Egito em poucos dias. Vamos armar a emboscada lá.

–Tecnicamente, nós seriamos mais fortes lá. Quero dizer, teríamos mais poder mágico, já que é a ‘fonte’ de nosso poder. Faz sentido. –Concordou Pedro.

Eu pensei um pouco, mas algo surgiu na minha mente.

–E dai nós vamos embora agora? –Perguntei.

–Eu acho que não temos mais motivos para ficar aqui. –Respondeu Douglas.

–Mas então nós não tivemos sucesso em nossa missão. –Eu disse.

–Você sabe que não temos uma missão oficial. Juno apenas me mandou para apartar a briga. Vamos lá, você também estava naquela floresta, naquela noite. Você lembra do que ela disse. –Disse Douglas.

É claro que eu lembrava.

–A guerra só pode ser impedida por aquele que enxerga os dois lados. Ser tanto mago, quanto bruxo. –Respondi, lembrando-me daquela noite, algumas semanas atrás.

Ele assentiu.

–A guerra ainda não começou. Ainda pode ser impedida. Vamos ter que tomar providencias. Talvez tentar o contato direto com o ministro, não de certo. Vamos voltar para Porto Alegre. Falaremos com Carter e Amós, eles devem saber o que fazer.

–Claro, eles estão preparando o Egito contra um ataque iminente. Ainda mais agora, um exército de bruxos enraivecidos, porque um bando de moleques inimigos invadiu sua escola. –Disse Pedro olhando para os lados.

–Enfim. Nós temos que voltar de qualquer jeito. As aulas começam em alguns dias. –Respondi. –Se esses bruxos nos quiserem, terão que ir nos procurar.

–Certo. Resolvido. Voltaremos ao Brasil. Hoje? –Perguntou Douglas esfregando as mãos, ansioso. Eu sabia que ele não tinha gostado de Hogwarts, apesar de ser algo importante para ele.

Eu refleti sobre aquilo. Era óbvio que eu queria ficar em Londres mais tempo. Visitar novamente a cidade, quem sabe dar uma volta até o colégio onde havia estudado por pouco tempo. Eu senti tanta saudade dessa cidade, que estar ali, sem as pessoas que participaram comigo, não parecia certo.

–Eu acho que sim. –Suspirei. Eles assentiram e subimos o prédio de novo.

Você deve pensar ‘como três adolescentes, vestidos de preto, escalando um prédio no movimentado centro de Londres, no meio da manhã, não foram percebidos?’, eu respondo. Já devo ter falado que existe a Névoa. Um véu que mascará tudo o que é mágico, dos olhos mortais, fazendo-os acreditar na opção mais fácil de entender. Adoro a Névoa!

Enfim, nós subimos de volta ao terraço. Freak divertia-se tentando comer os pombos. Enquanto entramos no barco novamente, olhei uma vez para o rio Tâmis, atrás de nós, ao fundo, na outra margem, enxerguei a London Eye, e o parlamento mais a direita. Eu estava fazendo a coisa certa.

Fechei os olhos e deixei Pedro abraçar-me. A viagem pelo Duat foi rápida e tranquila. Chegamos a Casa do Brooklin no começo da manhã americana. Todos estavam dormindo ainda, então tivemos que fazer o menos silêncio possível ao descer.

Consegui convocar meu cajado e minha varinha do Duat, guardei o uniforme e a varinha de Hogwarts e tentei desesperadamente conseguir minha mochila, mas não foi possível. Consegui deixa-la lá. Só esperava que Bruna recupera-se ela para mim.

A casa estava silenciosa ainda, o sol não havia nascido direito e o café da manhã aparecia magicamente na mesa da varanda.

–O que vocês acham de outro café da manhã? –Perguntei levantando a sobrancelha.

Eles concordaram e juntos, nos servimos e sentamo-nos à mesa, observando o Filipe da Macedônia, o crocodilo albino de estimação, pular na piscina.

À medida que o tempo passava, os magos foram aparecendo. Primeiro Cleo, nossa conterrânea do Brasil, surgiu na varanda, nos deu um bom dia rápido e se juntou ao café. Depois, Jaz, a curandeira apareceu, logo em seguida, Félix e Julian. E pouco tempo, só faltavam Carter e Sadie.

Zia sentou-se ao meu lado. Apesar de todo aquele tempo que ela ensinava como ser uma elementalista do fogo e ser minha mentora do caminho de Rá, eu achava que ela não gostava de mim.

Walt estava por ali também. Esse cara era estranho, ele era o hospedeiro de Anúbis, deus dos funerais, ou seja, havia um deus sentado à mesa conosco.

–Então, como foi a missão? –Perguntou-me Zia.

–Interessante. Descobrimos algumas coisas importantes, mas acho que vamos ter problemas. –Respondi.

–Foi difícil adaptar-se ao outro estilo de magia? –Perguntou-me ela ansiosa.

–Mais ou menos. Eu tive que usar um pouco de magia egípcia na maioria das vezes, para disfarçar que eu não conseguia fazer aquilo. –Falei.

Ela fez mais algumas perguntas, e eu respondi da melhor maneira possível. Depois de alguns minutos, Sadie apareceu, dessa vez, ela usava mechas vermelhas no cabelo loiro, e juro que ela não ficou muito feliz em nos ver.

–A missão foi um fracasso, suponho. –Disse ela fazendo todo mundo ficar quieto.

–Não exatamente. –Respondeu Douglas passando Nutella no pão. –Apenas uma mudança de planos, que teremos que discutir com vocês.

–Por isso estamos aqui. –Completou Pedro.

–Carter já vem, ele deve estar se trocando. Passei no quarto dele agora, mas ele não abriu a porta. –Disse ela sentando-se ao lado de Walt.

–Espero que tudo esteja bem, temos algumas informações. Informações muito interessantes e importantes. –Eu disse, o que aumentou a curiosidade de Sadie.

Ela me olhou por cima da panqueca de chocolate e franziu o lábio.

–Eu acho que não gostaremos nem um pouco disso.

Eu assenti. Comemos em silêncio por um tempo, os outros magos se divertiam, bolando planos para mais uma manhã de aulas.

Depois de uns quinze minutos, Carter chegou à varanda. Ele vestia uma camisa de botões branca, calça social cáqui e sapatos. Não pareceu surpreso aos nos ver, apenas balançou a cabeça em saudação.

Eles fez alguns anúncios para a manhã, o que não nos importou muito, e depois de todos estarem satisfeitos, nós fomos para a biblioteca, o cômodo mais seguro da mansão.

–Recebi uma mensagem de Amós agora. As coisas não estão muito boas. -Carter disse logo que entramos.

–Sabemos. Acabamos de chegar de Londres, e temos algumas informações, que podem mudar os rumos da guerra. –Disse Pedro, puxando um rolo de jornal amassado de dentro da mochila.

–O que é isso? –Perguntou Sadie agarrando o jornal.

–Esse é o jornal mais conhecido do mundo bruxo. O Profeta Diário. Aqui estão algumas notícias importantes. –Respondi sentando-me em uma cadeira.

Nós estávamos em nove ali. Zia estava em pé, ao lado de Carter, que estudava o jornal retirado das mãos da irmã.

–Amós disse que viu movimentos suspeitos nas fronteiras mágicas. Como se alguém estivesse tentando entrar no Egito. –Disse Carter sem retirar os olhos do jornal.

–Eles estão convocando os melhores bruxos que possuem, e logo estarão atacando com força total. –Falei.

–Mas vocês não conseguiram falar com eles? Quero dizer, convence-los a não atacar? –Perguntou Walt.

–Cara, se você visse o circo que se transformou em Hogwarts, eu diria que todo o mundo já sabe sobre nós. E deixamos uma forte impressão neles, eu acho que ninguém da escola vai atacar. –Disse Douglas, tentando convencer eles e a si mesmo.

–De qualquer maneira, não poderemos fazer nada. Estamos proibidos de entrar nessa guerra. –Completou Pedro, trocando o peso de um pé para o outro.

–Porque ? –Questionou Zia.

–Somos metade semideuses, metade magos. Se entrarmos na guerra, os semideuses nos seguiriam, e teria uma grande desvantagem mágica, causando assim, muito mais mortes. –Expliquei.

–O único que pode lutar é Douglas. –Disse Pedro, e meu primo começou a corar.

Carter levantou os olhos do jornal, intrigado.

–Porque apenas você?

Meu primo endireitou o corpo pegou um pedaço de papel de cima da mesa. Ele retirou uma caneta da mochila e começou a desenhar.

–Diferentemente dos outros, eu sou um bruxo também. No acampamento, somos doze semideuses-magos, mas eu sou o único bruxo. Sou capaz de ver os dois lados da guerra. –Ele desenhou três círculos, como um conjunto daqueles que aprendemos em matemática, e na interseção dos círculos, e ele desenhou um boneco palitinho escrito ‘EU’.

–Então você é o único capaz de resolver isso? –Perguntou Walt aproximando-se.

Meu primo assentiu.

–É bem provável que sim. Mas a guerra não pode começar, se não, ela não parará até que um dos lados seja destruídos.

–E o que faremos? –Perguntou Sadie olhando para o irmão.

Carter olhou para cada um de nós e depois refletiu um pouco. Até onde eu pude presumir, ele era um cara inteligente, Sadie caracterizava ele como ‘wikipédia ambulante’ ou algo assim. Ele sempre tinha os planos. No mundo grego, ele passaria certamente como um filho de Ares, com as benções de Atena. Ou vice-versa.

–Eu tenho uma ideia, mas tem muitas chances de dar errado. –Ele disse finalmente.