Dois Mundos - Revoltosos

1-Bem vindos à Hogwarts.


Dias atuais:

Como vou dizer, morar em Hogwarts foi muito emocionante, ficamos pouquíssimo tempo ali, mas foi o suficiente para evitar uma das maiores guerras da história mundial. Não uma guerra normal, com armas de fogo e tiro pra todo lado, e sim, uma guerra mágica, entre duas grandes potências que nunca haviam se visto.

Quando chegamos naquela noite, no castelo-escola, eu pensei que seria peleia braba acalmar os ânimos daquele monte de bruxos revoltados. Primeiramente pelo fato que, nós eramos do lado ‘inimigo’, ao invés de bruxos, somos magos.

Passamos pouco menos de duas semanas lá. Eu, Douglas e Pedro moramos e convivemos diariamente com os bruxos. Acabamos com alguns hematomas, por exemplo: por alguns breves momentos, eu tive dois narizes, e Douglas sofreu uma grande alergia.

Seis meses atrás:

-Venham por aqui. O castelo é muito grande, vocês não vão querer se perder. –Disse a senhorinha que nos conduzia para dentro do castelo.

Andamos por um hall enorme, do lado direito, duas portas de carvalho reluziam na luz fraca dos pedestais. Uma escada grande conduzia ao segundo andar, e um corredor levava para as masmorras.

Subimos pela escada e nos encontramos em um labirinto de escadas, que sem mentira, se moviam, trocando de lugar. O teto ficava a tantos metros de altura, que foi meio difícil de enxerga-lo. A luz bruxelante da varinha iluminava pinturas nas paredes, onde seus componentes se moviam e reclamavam da claridade.

Depois de alguns minutos nas escadas, chegamos em um corredor paralelo, e paramos na frente de uma porta negra. A mulher abriu-a mostrando uma sala de aula. Pelo menos parecia uma sala de aula. Na parede havia uma porta, e foi para lá que ela nos levou.

Era uma salinha mais reservada, com uma mesa, lareira e cadeiras.

-Sentem-se. E vamos resolver nossas questões. –Ela disse sentando-se na cadeira do outro lado da mesa.

Nos sentamos e esperamos. A sala era iluminada por um lampião, o que eu achei meio estranho. A professora nos olhava por cima dos óculos de meia-lua, nos estudando. Comecei a ficar preocupada, Pedro segurou minha mão e me acalmei um pouco.

-Contem-me sua história. –Ela falou quebrando o silêncio.

-Por onde começar: desde que descobrimos quem somos ou desde que descobrimos da guerra? –Perguntei.

-O começo de tudo.

Eu suspirei mas foi Douglas quem contou. De vez em quando eu ajudava em alguma coisa. Não havia motivos para omitir alguma parte, então falamos tudo. Ela nos olhava com atenção. Pareceu meio nervosa quando terminamos. Por fim, ela balançou a cabeça em concordância.

-Realmente estamos vivendo uma crise. Uma guerra desse porte poderia acabar com a população em um continente.

-Então deixo-nos ajudar. –Suplicou Pedro.

-Não vejo como isso poderia acontecer. A simples chegada de vocês poderá acarretar uma manifestação na escola.

-É só ninguém saber quem somos de verdade. Nós podemos apenas viver como estudantes aqui. Quando acabar nosso período, nós voltamos e convencemos a Casa a não atacar. –Pedi.

Ela pareceu ponderar a ideia.

-Ok. Mas precisaremos providenciar coisas básicas, como os materiais e uniforme. Fiquem aqui um momento. –Ela levantou-se e saiu da sala.

Nós três nos olhamos. Resolvi clarear um pouco. Convoquei uma bola de luz para o teto e a sala ficou toda iluminada. Consegui ver tudo. O que não era muita coisa.

-O que vocês acham que ela vai fazer? –Perguntou-me Douglas, visivelmente nervoso.

-Espero que não nos denuncie. –Disse Pedro.

-Nós precisamos fazer isso dar certo. Talvez seja nossa única chance de evitar a guerra. –Falei tentando parecer confiante.

-Nós não podemos falhar. Simples. –Completou Douglas. Eu assenti.

Logo a professora já estava de volta. Ela carregava um chapéu tão velho, que na época onde não existia rádio, ele já era velho. Um exemplar marrom amarrotado, todo rasgado e estropiado, foi colocado sobre a mesa. E tomei um susto quando ele bocejou.

-Vamos fazer a seleção de uma vez. Eu estava no meio de um sonho. –Disse o chapéu.

-Douglas, por favor. Coloque-o. –Disse a professora.

Eu senti pena dele, porque parecia que o chapéu não era lavado a décadas. Douglas colocou-o na cabeça e esperou.

-Vejo muita coisa aqui. Cabeça forte a sua. Você se da bem com tecnologia, é inteligente, mas também gosta de agir. Super protetor, bom, bom. Colocaria o destino do mundo na frente dos seus deveres. É discreto, mas adoraria a chance de mudar o mundo. Acho que vou coloca-lo em Corvinal. –Disse o chapéu e Douglas retirou-o da cabeça e pôs na mesa.

-O que isso que dizer? –Perguntou ele.

-Espere, é a casa de onde ele participa, não é? Tipo um time. –Eu disse.

A professora assentiu com a cabeça.

-Agora você Luiza.

Eu gostaria de recuar, mas era uma situação difícil. Olhei para Pedro e ele assentiu, encorajando-me. ‘Tudo bem, é só um chapéu velho’, pensei e coloquei o chapéu.

Por um instante não percebi nada, mas logo ouvi uma voz do chapéu.

-Muito interessante. Vejo algumas coisas muito interessantes. Coragem, inteligência e vontade de mostrar ao mundo suas habilidades. Mas também vejo preguiça, teimosia, revoltas e uma grande facilidade de gerar raiva a partir de coisas poucas. Você não consegue ficar de boca fechada. Isso pode ser um de seus piores defeitos. Mas vejo um espirito de liderança, e tentar aproveitar todas as oportunidades. Pensar no futuro. Muito interessante. Quem sabe Sonserina? Ou talvez Grifinória. Muito difícil. –O chapéu fez silêncio por um tempo. A essa altura, eu já estava preocupada, nem eu sabia tudo aquilo sobre mim. –Já decidi, você ficará muito bem na Sonserina. –Disse ele. –Você tem uma qualidade que mudará todo o destino da guerra. Só cabe a você descobrir qual é.

Eu retirei o chapéu e coloquei-o na mesa. Minhas mãos tremiam. Douglas segurou minha mão, enquanto Pedro colocava o chapéu. A luz fraquejou na sala, provavelmente porque eu ainda estava meio abalada.

-Há. Você é muito leal, garoto. Isso com certeza é uma qualidade, vejo que você desempenhará um papel muito importante. Você tem muita coragem e vontade de mudar o mundo. Você tem muita inteligência e força interior. Muito criativo, e posso ver que a maior qualidade que está em você, não é nada disso. Você tem muito amor dentro do coração. E isso vai causar uma reviravolta muito grande. Mas reconheço que você não é muito violento, mas seria capaz de matar para proteger. Você é calculista e sabe aproveitar as oportunidades. Sei onde coloca-lo. Não seria justo separar o casal. Sonserina. –Gritou o chapéu e Pedro colocou-o de volta na mesa.

A professora aproximou-se e pegou o chapéu. Ela tinha um brilho triste no olhar. Como se aquilo não foi o que ela esperava. Fez um movimento com a varinha e três kits de livros e uniformes pretos apareceram em cima da mesa.

-Aqui estão seus horários, seus materiais e o uniforme. Não se atrasem para a aula. E com relação as varinhas, amanhã nós resolveremos isso. Agora, esperem um pouco. –Ela saiu da sala e nos deixou sozinhos com os materiais novos.

Pelo menos quatro livros grossos estavam em cada kit, rolos de pergaminhos e penas de escrever. Um pequeno caldeirão e o uniforme.

Eu peguei o uniforme e desdobrei-o. Uma calça social preta, uma saia (bem capaz que eu usaria saia!), um colete cinza, camisa social branca e uma capa preta. Vesti a camisa por cima da minha e ela coube perfeitamente. Adoro magia!

Douglas estava mexendo em seus materiais também. Ele abriu um dos livros e olhava atentamente para as páginas amareladas.

Pedro ainda parecia não ter se recuperado da seleção. Ele olhava para o chão, cabisbaixo.

-Hey, não fique triste, pelo menos estamos na mesma casa, não é? –Eu falei num tom de voz calmo e carinhoso. Afaguei seus cabelos e segurei suas mãos.

-É que eu não conhecia nada daquilo sobre mim. –Ele disse e eu assenti. Podia falar a mesma coisa.

-Pessoal, olhem isso. –Douglas apontou para um desenho no livro.

Eu olhei e me assustei ao ver. Uma pirâmide do Egito e com as seguintes palavras em baixo: “vestígios de magia encontrados pelo mundo, em grande quantidade nas ruínas egípcias, apesar de não serem encontrados mais dados”.

-Eles já sabiam uma da outra...

Douglas não conseguiu terminar de falar, a professora entrou na sala com dois rapazes, que aparentemente haviam sido arrancados da cama.

-Esses são Peter Johnson, monitor da Corvinal, e David Boomer, monitor da Sonserina. Eles os conduzirão para seus aposentos.

Eu olhei mais atentamente para eles. David era um cara magricela, baixinho e com cabelos negros emaranhados na altura dos olhos. Ele usava um alargador na orelha esquerda e um piercing no nariz. Parecia um adolescente normal da minha escola. Peter parecia mais civilizado, o cabelo castanho era curto, ele era da minha altura e tinha um rosto cheio. Dava a impressão de que era um nerd viciado em jogos, me lembrava muito um colega da escola.

Nós seguimos de volta para o corredor. Douglas foi para um lado com Peter, enquanto nós descemos de volta com David. Ele parecia ser um cara legal, quando não estava caindo de sono. Ele tentou puxar assunto, para afastar o sono, mas nós não sabíamos como responder.

-Então você é nascida trouxa? –Ele perguntou.

-Desculpe, como assim trouxa? –Perguntei.

-Se seus pais são bruxos, você já nasce bruxa, se seus pais não são, você é trouxa. Esse tipo de coisa acontece. E então? O que você é?

-Minha mãe estudou aqui, portanto acho que não sou trouxa, e minha irmã está no ultimo ano, eu acho. –Respondi.

-Sério? Qual o nome dela? –Perguntou-me ele subitamente interessado.

-Bruna Villares. Você deve conhecê-la. –Respondi.

David parou na escada. Eu tive certeza que ele não gostava de Bruna, só de ver a reação dele.

-Aquela retardada é sua irmã? Ela me odeia, ela odeia toda a Sonserina, ela se acha superior só porque está na Grifinória. Ela causou uma das piores infestações de piolho da história de Hogwarts, só pelo fato de que nós havíamos ganhado a taça das casas no ultimo verão. –Ele respondeu com a voz tremendo.

Eu não sabia o que fazer. Apenas eu tinha o direito de xingar Bruna, mas não acreditei no que ele disse.

-Como é possível causar uma infestação de piolhos? –Perguntou Pedro tentando mudar de assunto ao ver a situação complicada em que eu estava.

-Não sei. Pergunte para ela. –Respondeu ele secamente.

-Cara, desculpe, mas eu não tenho nada a ver com minha irmã. Porque não vamos para o dormitório de uma vez? Eu sei que você deve estar com sono, e esses livros são pesados.

Ele voltou a caminhar, mas não emitiu som algum até chegarmos ás masmorras. Paramos em frente a uma porta marrom lustrada.

-Sangue Puro. –Disse David, e a porta abriu-se com um estalo.

Lá dentro, uma sala grande e confortável estendia-se, com lareiras, sofás de couro, mesas para estudo e luzes que emitiam uma luz esverdeada. No fundo, um corredor levava para dois lados.

-Aqui é o salão comunal da Sonserina. Nunca se esqueçam da senha, só com ela vocês poderão entrar. O corredor da esquerda é o feminino, o da direita é o masculino. O café da manhã é as oito no grande salão. Eu esperarei vocês amanhã para a primeira aula. Agora, com licença porque eu vou dormir. –Ele disse se encaminhando para o corredor e sumindo lá dentro.

Eu dei uma volta pela sala, me atirei em um sofá, passei os olhos pelas mesas e vi alguns trabalhos incompletos. Por fim, decidimos que já era hora de ir dormir. Eu não sabia se tinha uma cama reservada para mim no dormitório, mas decidi arriscar. Despedi-me de Pedro e entrei no quarto.

O quarto era uma sala grande, com vários beliches, decorados com cortinas verde e prata. Malas espalhadas por todos os lados, sapatos, uniformes, livros e roupas jogadas nos cantos. Parecia que um furacão havia passado ali.

Em cada cama, dormia uma menina. Algumas que deveriam ter uns dezessete anos, outras que deveriam ter uns doze ou treze. No fim da segunda linha de camas, uma estava vazia, arrumada com uma colcha verde, com o símbolo da Sonserina, presumi. Uma cobra dentro de um brasão. Eu não tinha muita coisa, mas coloquei minha mochila em cima da cama, junto com os materiais. Eu só conseguia enxergar pela má iluminação que vinha de uma lâmpada.

Convoquei uma bola de luz, e joguei-a para o teto, eu realmente estava ficando boa nisso! Arrumei minhas coisas. Consegui convocar um pijama do Duat (nunca se sabe quando você vai precisar dormir fora de casa), eu tinha muita coisa guardada no Duat. Como por exemplo, meu notebook, um kit de higiene pessoal, roupas extras, e comida, muita comida, afinal, uma pessoa precisa se alimentar.

As coisas inúteis no momento foram parar no Duat, enquanto só sobraram meu pijama e meu arco ainda no pescoço, junto com o colar de contas do acampamento.

Deitei-me na cama e desfiz a luz. O quarto entrou em um breu novamente. Adormeci rapidamente e não tive sonhos.

Acordei no outro dia com uma pessoa me cutucando. Abri os olhos e vi uma garota que deveria ter dez anos. Tinha cabelos castanhos curtos, com olhos marrons e um rosto maléfico.

-Quem é você? –Perguntou-me ela com um sotaque francês forte que ficava estranho na língua inglesa.

-Desculpe, o que? –Respondi levantando-me da cama, e confesso, não havia entendido muito bem.

-Quem é você e o que faz aqui? –Ela repetiu, visivelmente irritada.

Eu olhei em volta e percebi que todas as garotas estavam em pé, já arrumadas e terminando de arrumar as camas.

-Me chamo Luiza. E até aonde sei, estou aqui para estudar. Isso é uma escola, certo?

A garota levantou uma sobrancelha.

-Tudo bem. Meu nome é Joanne. É melhor você se arrumar, a aula começa em quinze minutos. Qual sua primeira aula hoje?

Eu pensei um pouco. Realmente não tinha me ligado nesse ponto. Eu tenho um horário em algum lugar. Mas não poderia mexer no Duat ali, no meio de um bando de gurias altamente poderosas e que me atacariam sem hesitar.

-Não sei. Aonde fica o banheiro? Eu adoraria escovar os dentes e tomar um banho. –Falei tentando sumir dali o mais rápido possível.

-No fim do corredor. A porta da direita. –Ela respondeu apontando para o lado oposto.

-Obrigada. Você pode me esperar? Vou acabar me perdendo nesse castelo. –Eu disse procurando minha mochila em baixo da cama, e consegui convoca-la ali, para não levantar suspeitas.

-Claro, sem problemas, mas ande logo. –Ela disse consultando o relógio.

Eu sai em direção ao banheiro. Antes de entrar, dei uma olhada no quarto, quase todas as meninas já tinham saído.

Eu abri a porta e entrei em um banheiro retangular, todo de lajota verde, com portas de madeira. Uma menina ainda estava ali, fazendo maquiagem. Ela nem notou quando entrei em um dos boxes.

Concentrei-me e consegui retirar meus pertences do Duat. Coloquei o uniforme, que caiu muito bem em mim. Apesar de ser um pouco justo, ficou bom. Olhei o horário que McGonagall havia me dado na noite anterior. Primeira aula de hoje: Transfiguração. Arrumei minhas coisas de novo na mochila e sai. Escovei os dentes rapidamente e sai.

Joanne me esperava impaciente, sentada em uma cama.

-Vamos logo, e ainda não tomamos o café da manhã. –Ela disse me arrastando para fora.

Pedro estava sentado em um dos sofás, verificando o horário. O cabelo estava bagunçado um pouco, do jeito que eu gostava. Fazia-o parecer entre o ‘sério’ e o ‘rebelde’. A camisa estava para fora da calça e a gravata arrumada perfeitamente. Eu adoro o efeito que a camisa branca folgada faz nele.

Ele sorriu ao me ver e levantou-se para vir ao meu encontro. A mochila estava jogada no ombro.

-Você demorou. Fui até o salão e trouxe um pouco de comida para você. –Ele disse beijando-me na bochecha, e me entregou um prato com bolo de chocolate e um copo de suco de abóbora. Até que era bom, apesar do nome.

Apresentei os dois. E enquanto saiamos para as aulas, eu engoli o café da manhã. Pedro tinha todos os horários iguais aos meus. E pude presumir que estávamos no primeiro ano. Ou seja, aula com as crianças de onze ou doze anos.

Encontramos Douglas na sala, sentado ao lado de uma menina ruiva, sardenta. Eles estavam calados, mas pude ver que ele estava constrangido. Sua gravata azul estava torta.

Nos sentamos na frente dele, um segundo antes de a professora McGonagall aparecer. Havia um gato sentado na frente da mesa. E de um momento para outro, o gato se tornou a professora. Ela deu bom dia e uma série de ordens. Eu tentei me ajustar com aquele monte de livros, mas era difícil.

No fim do dia, parecia que minha cabeça fosse explodir.

-Quem poderia imaginar, que eu fosse estudar nas férias. E eu ainda nem vi a Bruna. –Reclamei durante o jantar, quando já havia tomado um banho e trocado de roupa.

-Vamos fazer uma recapitulação do dia. –Disse Pedro ao meu lado. Era bom ter ele ali, pois eu não conhecia as pessoas, e todas elas me olhavam como se eu fosse um fantasma. –Primeiro tivemos uma aula de transfiguração super agradável, onde você deixou escapar que tinha facilidade com magia, e sem querer puxou a varinha de dentro da mochila, revelando nossa identidade. Depois, aula de poções, quando o professor adorou saber que você era irmã de Bruna, ‘a melhor aluna de poções de toda a escola’. Logo após isso, nós já tínhamos formado alguns inimigos, o que causou seu segundo nariz na aula de defesa contra as artes das trevas. –Ele ia contando nos dedos tudo o que eu fiz de errado. O que só aumentava minha vergonha. –Mas tirando tudo isso, foi um dia bom.

-Você está bravo comigo? –Perguntei.

Ele me olhou confuso.

-Não. Porque estaria? Só pelo fato de termos sido descobertos no primeiro dia, mas isso não é importante. Até que foi engraçado. –Ele respondeu.

Olhei para o pedaço de frango meio comido no meu prato. Eu não estava com muita fome, o que não era normal. Depois encontrei o olhar de Douglas, ele estava sentado na minha frente, na mesa da Corvinal, ao lado da mesma garota que havia visto antes. Douglas deu um sorrisinho e apontou para a porta. Eu virei e vi minha irmã entrando a lado de John.

Eu dei um pulo na cadeira, Pedro assustou-se quando levantei-me e corri até minha irmã. Ela só me viu quando parei na frente dela.

-Lú! –Ela deu um grito e me abraçou. Todo mundo parou para nos ver. –O que está fazendo aqui? A Minerva me disse que você estava em Hogwarts mas não acreditei.

-É bom ver você também. –Eu respondi. –Estou aqui em uma missão, e vamos precisar de sua ajuda.

-Não podemos conversar aqui. E por que você está usando o uniforme na Sonserina? –Ela disse, só então percebendo as cores da minha roupa.

-Longa história.

Depois disso, Pedro e Douglas se juntaram a nós.

Após o jantar, nós fomos em direção ao salão comunal da Sonserina, mas como eu imaginava, pessoas de outras casas não podem entrar nos salões comunais de outras. Muito chato isso. Então nos reunimos em um corredor vazio, sentamo-nos perto de uma janela, sentindo a brisa quente que vinha de fora.

-Agora conte o que você precisa. –Disse ela.

Eu e Douglas nos revezamos para contar a história, desde a visita de Hera até ali. Bruna ouviu com atenção, e quando terminamos, ela quis me matar.

-Você sabe a quanto tempo eu estou tentando esconder que sou maga? Agora já devem ter descoberto nossa relação.

-Mas e aquela vez que você nos ajudou no Rio? Eles não sabiam? –Perguntei desafiando-a.

-O pessoal da Grifinória não tem problema em contar. O complicado é as outras casas. Agora precisaremos trabalhar dobrado. –Ela gritou.

-Não seria melhor abrirmos o jogo? –Perguntou Douglas.

-Se falarmos agora, vão levar a Bruna como traidora. Temos que nos preocupar em proteger ela. –Disse Pedro pensativo.

Eu refleti sobre aquilo.

-Então não podemos falar nada agora. –Eu disse.

-Exato. Vamos deixar como está. Começaremos a lançar a ideia de paz aos poucos. –Complementou Bruna. –A única maneira de não causar uma guerra aqui dentro, é difundir a ideia de paz. E você, tente não estragar mais as coisas. –Ela disse pra mim.

-Vou me controlar. –Prometi.

-Vamos? Está ficando tarde. –Disse Pedro.

Nos despedimos e cada um foi para seu lado. Ao chegar à sala comunal, muitos garotos ainda estavam espalhados pelos sofás. Arrumei um espaço em um sofá perto da lareira. Pedro sentou-se no chão, ao meu lado. Aos poucos, as pessoas perceberam que nós estávamos ali. A maioria era do quarto ou quinto ano, e deveriam ter a nossa idade.

Um menino grandalhão, alto e musculoso, com a pele escura e um olhar feroz no rosto, nos cuidava de um outro sofá, na nossa frente.

-Então você é a maga infiltrada. O que faz aqui? –Ele perguntou, e seu sotaque dava a noção de que ele era de algum lugar da África.

-Estou estudando aqui. Isso é uma escola, certo? –Perguntei.

-Sim, mas você não é uma de nós. Como chegou aqui? –Ele revidou.

Pedro mexeu-se desconfortável no chão. Ele estalou os dedos e uma coluna de fumaça invadiu a sala e ele começou a falar.

-Nós estamos aqui desde o início do ano. Não se lembra? Eu sou o Pedro e ela é a Luiza.

Todos na sala piscaram confusos. Apenas uma garota, sentada em uma cadeira, fazendo algum trabalho, pareceu indiferente com a Névoa.

O grandalhão mexeu-se desconfortável no sofá. Depois piscou os olhos e olhou em volta. Ele parecia não entender o que estava acontecendo. Até que levantou-se e foi para o quarto. Os outros seguiram-no, logo nós estávamos sozinhos na sala com a menina sentada.

Eu olhei para Pedro e ele pareceu igualmente confuso. A menina arrumou os cabelos castanhos, e guardou os materiais dentro de uma mochila. Antes de ela levantar-se, deixou cair um estojo roxo, com as letras SPQR bordadas em dourado na lateral. Ela pegou o estojo e guardou-o na mochila.

-Não fiquem tão surpresos, era de se esperar que os romanos também tenham alguém infiltrado aqui, não é? –Ela disse abrindo um sorriso brincalhão.

Meu queixo caiu e deixei sair um ruído baixo. Por instinto, puxei o arco do pescoço e ele tomou o tamanho normal. Em questão de segundos, havia uma flecha apontada para a cabeça da garota, que estava parada na entrada do corredor, sorrindo para nós.

-Você realmente vai querer me matar aqui? Não vai ser legal. Manipular a Névoa de novo, talvez não te ajude. Eu sou a única romana aqui, e eu acho que Quíron não falou para vocês, e talvez nem Carter ou Amós. Mas não são só vocês, gregos, que jogam para os dois lados, tanto meio-sangue, quanto mago. Prefiro que trabalhemos juntos, aquele episódio no acampamento de vocês, mexeu profundamente com os conceitos de Octavian. E todos nós sabemos que uma guerra entre bruxos e magos pode abalar profundamente as fundações do Duat. –Disse a menina tranquilamente. De perto, ela parecia ter quinze anos, era meio difícil de saber. Seus olhos negros pareciam penetrar, e fazia uma combinação estranha com a pele clara. Ela era menor que eu e possuía um cortezinho em cima do lábio. Ela abriu um sorriso de lado.

-Qual é o seu nome? –Perguntou Pedro aproximando-se lentamente e empunhando a varinha, para poder se proteger de um possível ataque,

-Me chamo Olivia. Sou filha de Mercúrio, ou Hermes para vocês.

-E você quer uma aliança para evitar a guerra? –Perguntei baixando lentamente o arco.

Ela assentiu.

-E porque vocês, romanos, estão fazendo isso? –Perguntou Pedro.

-Cara, você é meio lento né? Eu já disse, essa guerra pode abalar todo o mundo que conhecemos, e não estou fazendo isso pelo Acampamento Júpiter apenas. É uma missão secreta, vinda de Juno...

Meu coração parou. A mesma coisa que aconteceu com Douglas. Ela também é uma escolhida de Hera-Juno.

-Alguém mais sabe sobre você? –Perguntei desconfiada.

Ela riu.

-Não. Diferentemente de você, eu sei como ocultar um segredo.

Senti o sangue ferver, talvez fosse meu cabelo entrando em combustão. Mas logo acalmei-me e o fogo sumiu.

-Acalme-se. O negócio é o seguinte: nós trabalhamos em equipe. Evitamos a guerra, saímos como heróis. Eu não delato vocês e vice-versa. Mostraremos ao mundo outra vez, que romanos e gregos podem trabalhar em conjunto. –Ela disse esticando a mão.

Eu pensei um pouco. Tive uma conversa visual com Pedro e ele pareceu assentir. Apertamos as mãos. Agora havíamos formado uma aliança. Uma aliança muito perigosa, e que corria o risco de dar muito errado.