Sequestro

A morena estava adormecida, sua cabeça tombada para frente, deixando o peso todo no pescoço, pelo fato de estar sentada. O som de gotas de água pingando de uma torneira mal fechada ou quebrada ia a despertando lentamente. Hadja já não mais estava com sua peruca de disfarce, agora tinha seus cabelos soltos jogados de qualquer jeito, com a maior parte para frente. Deu uma pequena gemida ao tentar acordar, não podia se mover e seus olhos estavam muito pesados.

O ambiente era muito claro, a jovem abriu os olhos, voltando a fecha-los varias vezes seguidas, tentando acostumar com a luz. Tentou levar as mãos ao rosto e não pode, Sentiu que algo a machucava e se deu conta de que estava amarrada a uma cadeira. Na boca uma mordaça. Olhou para os lados tentando identificar o local, e notou estar em um galpão, cheio de contenderes. Olhou para si e notou que ainda estava de babydoll. Olhou para frente e apesar de sua situação desvantajosa, sorriu com deboche.

–/-/-

Vinte horas antes…

– Já tenho um bom motivo para incriminar você e sua mãezinha! Bingo... Heero vai adorar isso!

Hadja sorriu de satisfação e continuou vasculhando o computador de David. Ele sempre foi um cara escorregadio, pois sua habilidade na advocacia sempre foi muito boa, mas dessa vez a espiã do The Preventer’s encontrou a brecha que tanto queria. Depois de copiar tudo para o pendrive, o retirou. Já ia desligar tudo para sair da sala, mas algo lhe chamou atenção sobre a mesa.

Havia uma pasta com o nome Shayara, a morena sentiu um frio passar por sua espinha. Pensou que poderia se tratar de outra mulher, mas ao mesmo tempo achou que seria coincidência demais. Pegou a pasta e abriu. Para seu assombro a foto que viu era exatamente a da mulher que ela não queria encontrar.

Parou para pensar um pouco sobre aquilo, se David estava envolvido com aquela mulher e seus comparsas, as coisas eram muito mais sérias do que ela poderia imaginar. Pensou em o que deveria fazer com aquela informação e decidiu que era valiosa demais para abandonar ali.

Foi até o xerox e tirou copias de todo o arquivo em suas mãos. Depois colocou a cópia em uma pasta junto com o pendrive de informações e levou de volta a pasta original para deixá-la sobre a mesa. Desligou o computador e verificou que tudo estivesse impecavelmente de volta no lugar, quando sentiu a uma presença atrás dela, respirou fundo e virou para a porta a fim de lançar a pessoa seu mais inocente sorriso, mas para sua surpresa e alivio era Treize.

_ Você tem que sair agora!

Ordenou visivelmente preocupado.

_ Por quê?

_ Alicia acabou de entrar no prédio e ela pode te reconhecer…

A morena concordou e em passos apressados, saiu e fechou a porta do escritório como estava no inicio, pegou todas suas coisas e foi em direção ao elevador, havia dois, um do lado do outro, apertou o botão e viu os números subirem. Treize voltou a seu posto e observava a cena de canto de olho, estava apreensivo, mas não deixava transparecer.

O som do elevador tocou para informar que ele tinha atingido o piso desejado, quando ela pensou em entrar nele viu Alicia conversando com um homem engravatado que mais parecia um advogado. Ela sorria amigavelmente e charmosamente para o homem calvo de estatura média, o fato da mulher não estar olhando para frente foi a chance de Hadja escapar, derrubou alguns papéis no chão propositalmente e agachou para pegá-los. Conhecia bem a arrogância daquela mulher e sabia que ela jamais se daria ao trabalho de ajudar alguém a recorrer alguma coisa que tenha derrubado.

Alicia olhou com desprezo para mulher abaixada a sua frente, quando saiu do elevador, o máximo que fez foi chutar com o pé um papel, que havia caído mais longe, em direção da moça, depois segurou no braço de seu acompanhante e seguiu caminho rumo à sala de seu filho. A espiã pegou tudo rapidamente e aproveitando o elevador aberto saiu por ele.

Quando chegou à rua deu sinal para o primeiro taxi que viu e entrou nele. Havia um carro parado no sinal que viu Hadja entrar no táxi, no carro havia um homem mal encarado dirigindo o veiculo, com suas luvas de couro e no passageiro, uma mulher de pele indiana, cabelos longos e escuros, retirou seus óculos de sol, revelando olhos negros, levemente puxados, olhou fixo para mulher que acabou de entrar no taxi. Ela reconhecendo de imediato à moça e sorriu.

_ Ela é quem eu penso que seja senhorita Shayara?

_ Sim, Marcos… É ela sim. Finalmente nos encontramos… Hadja.

O sinal abriu e o carro estacionou frente o prédio de advocacia, do qual a moça tinha acabado de sair. Marcos deu a volta no carro e abriu para a mulher sair, que após por seus pés para fora, caminhou confiantemente para dentro do local.

–/-/-

Relena ainda estava no chão com Lúcius em frente dela, ele segurava uma mexa do cabelo dela e cheirava, parecia drogado com algo, depois debruçou mais sobre ela e tentou beijá-la, a loira virou o rosto e os lábios dele encostaram o rosto dela, ele começou a beijá-la e desceu para o pescoço da moça.

Relena tinha cara de nojo, e resmungava, ao passo que o empurrava tentando livrar-se de seu agarre, mas o homem não parecia sentir isso, continuou em suas investidas. O celular da loira começou a tocar, ela tentou agarra-lo a fim de pedir socorro para quem quer que fosse do outro lado da linha e ficou alegre ao ver que se tratava de Cléo.

Cléo… É ela, se ao menos eu puder dar um jeito de atendê-la sem que ele note. Os beijos dele estão me nauseando. Como um dia pude querer me casar com ele… Odeio você com todas minhas forças David. Me solta, como pode, ele parece que está mais forte que antes, empurro e ele nem se move. Se Heero soubesse onde estou… Heero… Ah não, Relena, isso não é momento de chorar, vamos atenda o telefonema da Cléo.

David parou de beijá-la ao sentir que a resistência havia cessado um pouco, olhou para loira e viu ela retirar da bolsa aberta o celular que estava tocando e passar o dedo para atendê-lo, quando ele viu isso se irritou.

_ O que pensa estar fazendo?

Arrancou o aparelho da mão da moça e o jogou sobre a cama, mas não tomou o cuidado de desligar a chamada que foi atendida por ela. Cléo ouviu os gritos ao longe sem poder identificar corretamente o que ali se passava, porém reconheceu a voz da amiga e pelo que pode concluir, a do outro homem era a de David. Sem pensar duas vezes, abandonou seu posto, pegou sua bolsa e correu para o hospital, que por estar separado apenas por vias rápidas do the preventer’s não seria difícil chegar rápido a seu destino.

_ Me solta David, eu imploro, me solta!

_ Nunca… Você é minha e terei você novamente nem que seja a força!

Seus olhos são assustadores, estão vermelhos de ódio, nunca o vi dessa forma. Está me assustando… Será que você sempre foi assim? Será que eu fui a única inocente que não vi isso antes? Nunca deveria ter aceitado ser sua namorada, e jamais sua noiva. Mas, desse pesadelo eu tirei algo bom: Heero… Vem por mim!

_ Aiiii…

Ele rasgou a alça do vestido dela, a loira não tinha percebido sua intensão, pois ficou distraída com a lembrança de seu amor. Suas lágrimas escorriam, mas sem se entregar a situação, ela o chutava sem se importar de onde pegassem os golpes, ao passo que se perguntava onde estavam os enfermeiros do hospital que ninguém a escutava gritar. Soltou-se do agarre dele e engatinhando foi para o outro lado do quarto e levantou do chão, encarou ao ex-noivo com fúria no olhar.

_ Você nunca mais vai tocar em mim… Nunca!

Gritou. Mas ele ignorou e sem se importar lançou-se sobre ela impedindo-a de pegar o abajur para se defender e a beijou a força, dessa vez nos lábios. Seu beijo era agressivo e tentava a todo custo continuar de onde havia parado, a moça mordeu a boca dele com toda sua força e David foi obrigado a se separar dela, passando a mão e vendo o sangue que saiu. Relena estava ofegante o encarando como uma leoa. Cuspiu o sangue que tinha dele em sua boca e passou a mão limpando o beijo.

David se enfureceu ao ponto de perder a noção de certo ou errado, virou um tapa no rosto dela com a parte de trás da mão. Relena quase caiu com a força que recebeu, então ele a puxou e a jogou sobre a cama e deitou sobre ela, tentando continuar com o que havia planejado. Nessa hora a porta se abre bruscamente e a ruiva vê a situação com assombro, David tinha os olhos fechados e Relena não podia vê-la, pois estava com o rosto virado para o lado oposto da porta, mas ouviu o som e desejou que fosse alguém para salva-la.

A cena acendeu uma coragem misturada com ira na moça de olhos verdes que sem se importar do homem ser o dobro de seu tamanho se lançou sobre ele e o empurrou de cima da loira. Cléo o encarava como uma felina e passou a mão em tudo o que encontrou de pesado na sua frente, lançando sobre o homem.

_ Se se aproximar dela novamente, garanto que não vou apenas te machucar!

_ Quem demônios, é você?

_ Ah é… Creio que não fomos apresentados… Eu sou Cléo, a irmã de Hadja… A mesma que vai acabar com você.

A ruiva falava com ironia na voz e prestando atenção na reação do psicopata.

_ Ora… Cléo. Você veio aqui provar um pouco do quanto eu posso te fazer se sentir mulher?

_ Como se atreve seu nojento?

_ Que isso… Adoro mulheres ariscas para eu domar.

David passou a língua sobre os lábios e quando pensou em se aproximar delas, a ruiva pegou em mãos o suporte para soro e o jogou sobre o homem. David abaixou bem a tempo de desviar do metal.

_ Como se atreve?

_ Aproxime-se de mim novamente e garanto a você que minha irmã virá arrancar sua cabeça. Literalmente falando!

Ele riu com deboche.

_ O que uma mulherzinha como Hadja pode fazer comigo? Hein… garota?

_ Por que não espera para ver?

_ Cléo... Vamos embora…

Relena chamou, aflita. Já havia recuperado tudo que lhe pertencia e agora chamava desesperada pela amiga. David as encarava ainda como um animal.

_ Você foi alertado! Não se aproxima dela!

A ruiva ergueu a cabeça e caminhou de costas até a porta sem tirar os olhos dele para não ser pega de surpresa, quando saíram do quarto, fecharam a porta e viraram para partir, trombaram com Julia que vinha apressada em direção ao quarto de seu amor. A advogada se surpreendeu ao ver Relena e olhou para Cléo a encarando de cima a baixo.

_ Julia?

Relena foi a primeira a falar, com um pouco de surpresa na voz

_ Relena… - Falou com descaso. - E quem é você?

_ Ninguém que seja da sua conta. - Cléo devolveu o olhar.

_ Veio ver David? – A loira voltou a perguntar.

_ Sim… Agora ele é meu. - Falou cantando vantagem daquilo e Cléo riu. A moça se enervou e perguntou. - De que você ri?

_ De como o lixo atrai o lixo! Agora sai da minha frente.

A ruiva empurrou a advogada e passou acompanhada de Relena que nem se deu o trabalho de olhar para trás. Ambas foram fazer uma reclamação formal à administração do hospital pelo ocorrido e Relena foi receber atendimento médico para melhorar os machucados. Cléo jurou que o hospital seria processado por falta de socorro em uma situação daquela.

–/-/-

Hadja entrou no prédio em que estava morando de fachada, e pegou rapidamente uma pasta de couro preto que se fechava por um zíper.

_ As coisas são mais complicadas do que você imagina, Heero…

Ela guardou dentro da pasta as copias do arquivo da mulher chamada Shayara e o pendrive contendo toda a armação de David e Alicia. Fechou a pasta e trocou de roupa, optou por algo bem justo, um macacão branco de calça bem colada ao corpo com um decote avantajado na parte de cima que se assemelhava a uma camisete, nos pés colocou uma sandália de salto com strass, brincos de argola grandes e uma maquiagem forte nos olhos. Não tinha certeza se havia sido seguida e resolveu se disfarçar novamente, para completar o visual escolheu uma peruca loira platinada de cabelo liso que ia até o meio de suas costas. Colocou seus óculos de sol, e dentro de uma bolsa grande e branca Victor Hugo, deixou o quarto. Saiu do prédio e deu uma boa olhada ao redor, disfarçadamente e sentindo que estava sozinha foi caminhando de forma petulante pela rua até que chamou um taxi.

Pediu ao motorista que parasse no hotel Hilton e pediu que ele esperasse. Desceu e solicitou a recepcionista um quarto, a recepcionista fez o chek-in da mulher a sua frente com o nome de Relena Darlian. O cartão de acesso ao cômodo foi entregue a mulher e o numero do quarto, impresso nele era 513. Sem tirar os óculos, Hadja agradeceu e seguiu em direção ao elevador, subindo para o quinto andar. Entrou no quarto e certificou-se de que tudo estava bem trancado, sentou na cama e fechou os olhos refletindo em onde seria o melhor lugar.

Pensou um pouco sobre o assunto, tentando se concentrar em o que Heero faria. Depois abriu os olhos e olhou para o armário, abriu a primeira gaveta e a tirou, depois a segunda e a tirou, por fim, escolheu a última e a tirou, virou a gaveta ao contrario e retirou de sua bolsa a pasta e uma silver tape junto, posicionou a pasta em baixo da gaveta e a grudou com a fita, certificando-se de que estava bem firme para não cair. Depois desvirou a gaveta a devolveu ao lugar assim como todas as demais. Olhou ao redor e conferiu que não haviam câmeras. Deixou tudo perfeitamente organizado de como quando entrou e saiu. Trancou a porta e colocou o aviso de não perturbe para que nem a camareira entrará.

Olhou de um lado ao outro do corredor e voltou para o elevador. Seguiu até a recepcionista e entregou o cartão e pagou o quarto por vinte e quatro horas adiantadas. A mulher agradeceu e Hadja ainda deu-lhe uma generosa gorjeta e deixou explicado que ninguém deveria entrar no quarto, que provavelmente o namorado dela, Heero Yui viria procurar por ela e a mulher deveria entregar-lhe o cartão de acesso apenas sob a apresentação da identidade. A recepcionista assentiu e Hadja partiu, alegando que voltaria depois. A espiã entrou no taxi que a esperava e pediu que ele seguisse para a rodoviária. O homem chegou ao seu destino e ela pagou pela corrida toda e se despediu ao descer.

Hadja foi até um armário e colocou outra pasta nele, depois o trancou e guardou a chave em sua bolsa, novamente olhou para os lados e a multidão de gente se misturava a seu redor. Ela então caminhou até uma cabine telefônica e discou um numero que foi respondido por uma voz masculina do outro lado da linha.

_ Barton. - Apresentou-se o homem ao contestar a chamada.

_ Trowa sou eu.

A voz lhe pareceu muito familiar, mas como fazia muito tempo em que o homem não falava com a mulher de seu amigo não a reconheceu de pronto.

_ Eu quem?

_ Preste muita atenção…

Notando que o assunto seria sério, preferiu apenas escutar e depois descobrir de quem se tratava.

_ “O que procura está com Hilton, seu grande amor que deixou e somente ele pode encontrar.”

_ A quem vai a mensagem?

_ Seu primo…

_ Entendo… A que horas será o encontro?

_ “Terá até ao meio dia… Se caso o grande amor não estiver presente… É porque ele foi retirado do coração.”

_ Muito bem… Já sei quem é. Tome cuidado.

_ Sim.

Ela desligou. Trowa parou um instante pensando sobre aquelas palavras, levantou do sofá de seu apartamento e pegou as chaves de sua moto, decidiu que daria a noticia a Heero, pessoalmente.

Hadja fez mais cinco ligações a esmo à números desconhecido para ela, de pessoas que nunca ouviu falar, que ela pegou na lista telefônica de três anos atrás que estava dentro da cabine onde ela se encontrava. Depois saiu dali e parou, retirou os óculos e olhou de um lado ao outro fazendo com que seu rosto pudesse ser visto por todos que passavam. Viu os olhares de inúmeras pessoas que a miravam, homens desejosos por sua beleza, mulheres que a invejaram, outras que admiraram e outros que pensavam se havia oportunidade de roubá-la… Ela colocou de volta os óculos de sol e partiu. Passou em uma padaria e comprou algo de lanche para comer em casa e um suco de laranja, depois foi à procura de um novo taxi. Voltou para casa sem problemas e entrou no prédio logo quando a noite começava a chegar.

–/-/-

Trowa chegou ao prédio do The Preventer’s bem a tempo de Heero partir. Passou pela sala do Quatre e pediu que ele se reunisse com os dois na sala do Heero, que já estava apagando as luzes quando viu o primo entrar sem bater na porta. O presidente da empresa ergueu uma sobrancelha em confusão com a visita abrupta.

_ Boa noite?

O que Trowa faz aqui? E porque Quatre também foi chamado? Pela cara dele, também ignora os motivos dessa reunião urgente. Trowa deu sinal para que ele tranque a porta. Muito bem, conseguiu me deixar muito curioso, vamos sentar aqui e aguardar a noticia.

Heero sentou na ponta de sua mesa e viu Quatre e Trowa ocuparem as poltronas em frente a ele, Trowa respirou fundo sob os olhos atentos do primo e do amigo que ficaram calados até que o agente da Euro force resolvesse falar.

_ Recebi uma ligação hoje…

_ E? - Heero continuava com sua face neutra.

_ De inicio eu demorei em reconhecer a voz…

_ Trowa pode ser mais direto? - Quatre se impacientou.

_ Era Hadja.

Quatre e Heero se interessaram pela conversa e se entreolharam confusos.

_ Por que ela te ligou?

Perguntei. Aquela situação me inquietou. Ainda bem que consigo permanecer frio, não queria preocupar o Quatre, mas se Had entrou em contato com o Trowa e não conosco, é sinal de que estava sendo vigiada.

_ Ela mandou um recado…

_ Qual?

Quatre estava tão desesperado que não deixou Trowa terminar de falar.

_ Ela disse: “O que procura está com Hilton, seu grande amor que deixou e somente ele pode encontrar.” - Trowa encarou Heero. - A mensagem era para você!

Mas que raios essa mensagem significa? Ela estava me enviando uma dica, mas como?

_ Mais alguma coisa? - Perguntou Quatre se sentindo muito preocupado.

_ Sim. Ela finalizou assim: “Terá até ao meio dia… Se caso o grande amor não estiver presente… É porque ele foi retirado do coração.”

Quatre se pôs pálido como papel. Sentiu um medo inundar seu ser e sem pensar duas vezes pegou o telefone e discou um numero a demora em contestarem a chamada estava deixando o loiro muito incomodado. Depois de alguns toques, uma voz grave responde o telefone.

_ Treize… Onde você está?

_ Ainda no escritório…

_ Hadja está ai?

_ Não. Ela saiu cedo e ligou avisando que teve que levar alguns documentos no fórum.

O loiro do outro lado do telefone falava quase sussurrando.

_ Mas qual o real motivo dela ter ido embora?

_ Alicia apareceu.

_ Entendo…

_ Quando sair daí pode passar onde ela está morando e confirmar que tudo esta bem?

_ Conte com isso.

_ Obrigado.

_ Boa noite.

Quatre desligou e olhou para os amigos, explicou tudo o que o agente havia contado. Os ouvintes prestaram atenção e em seu interior, ambos tiveram certeza que algo estava errado.

_ Bom… Creio que tudo que podemos fazer agora é descobrir o que significa as mensagens. - Trowa concluiu.

Heero deu a volta na mesa e discou um numero e encomendou jantar para três, afinal a noite prometia ser longa.

–/-/-

Cléo entrou com Relena no apartamento da loira.

_ Obrigada por me acompanhar até aqui...

_ Lena, da pra parar de me agradecer?

A loira sorriu sem graça.

_ Como não te agradecer depois de tudo o que você fez por mim?

_ Fiz o que qualquer amiga faria.

_ Mesmo assim... Muito obrigada.

Relena foi até seu quarto, jogou a bolsa sobre a poltrona e tirou seu sapato antes de cair na cama. Cléo se aproximou e sentou na cama ao lado da amiga. Olhou para suas mãos e depois se voltou para loira.

_ Lena... Você irá contar o ocorrido de hoje para o Heero?

_ Não... Acho que não.

_ Deveria.

_ Para que? Quer que Heero mate o David?

_ Bom... Ele tem permissão para matar quem quiser, e nem preso vai.

Relena encarou a amiga de forma incrédula, não podia acreditar que ela cogitasse a ideia de Heero matar a David, mas para sua completa surpresa, a ruiva havia falado a sério. Cléo estava com sua face neutra e tranquila e não se alterou em nada ao ver a estranheza no rosto da loira.

_ Você realmente fala sério?

_ Pensa... Você finalmente estaria livre.

_ David é um canalha, mas ainda é uma pessoa... Não posso permitir isso... Não quero que Heero suje suas mãos.

Cléo ergueu uma sobrancelha desacreditando no que ouviu. Suspirou por fim e resolveu mudar um pouco o foco do assunto.

_ Bom... Você não vai ligar para o Heero?

_ Preciso... Mas não quero.

_ Por quê? - A ruiva estranhou.

_ Porque tenho medo de não o fazer entender que quero ficar sozinha hoje... Não posso permitir que ele veja esses hematomas.

_ Liga para ele e diga que eu vim dormir aqui com você e vamos ver filmes...

_ Acha que vai funcionar?

_ É sua melhor opção.

_ Tem razão.

Peguei o telefone e disquei o número do apartamento dele. Não respondeu... Tentei mais umas três vezes e nada, até que resolvi tentar no escritório dele. Tocou um pouco e atendeu. Não têm como não reconhecer aquela voz forte e sensual, me derrete só de ouvi-lo.

_ Heero... Ainda no escritório?

_ Relena... Onde você está?

_ Estou em meu apartamento... Cléo está comigo. Vamos fazer uma sessão de filmes... Tudo bem se eu não for te ver hoje?

_ Não. Na realidade fico mais tranquilo, porque ainda não sei se irei para casa hoje. Estou resolvendo uns assuntos de trabalho... Fico feliz que Cléo esteja ai com você.

_ Ótimo. Nos vemos amanhã então, meu amor.

_ Sim. E diga para Cléo, que amanhã ela me deve uma justificativa.

_ Pelo que?

_ Ela sabe o que. Descanse... Amanhã quero te ver.

_ Sim... Boa noite.

_ Boa noite... - Quando ele estava para desligar, ouviu a moça o chamar de volta.

_ Heero...

_ Sim...

_ Eu te amo! - Ela o sentiu sorrir do outro lado.

_ Eu também te amo.

Heero desligou e eu fico me perguntando se fiz bem em não contar o que houve hoje. Cléo fica me olhando com essa ternura nos olhos... Realmente tenho sorte de ter amigas como ela e as demais. Perai... Ela ameaçou David com a Had hoje... Por quê?

_ Cléo... Hoje você falou para o David que a Had acabaria com ele... - A ruiva gelou por dentro. - Como ela poderia enfrentar ele?

_ Você conhece minha irmã... Ela é muito protetora. Ela acharia um jeito... O que acha de pediremos uma pizza? Estou morrendo de fome.

Essa desculpa não me convenceu e ainda por cima ela saiu do quarto quase correndo. Com certeza existe algo da Had que não quer me contar... Cedo ou tarde vou descobrir, agora, vamos comer. Também estou com muita fome. Cléo já estava desligando o telefone quando cheguei à sala. Sério a velocidade dela em agir às vezes me impressiona.

_ Relena, eu estava pensando... Como você se sente?

_ A que se refere?

_ Bem, você está grávida... Está se sentindo bem?

_ Não se preocupe... Meu bebê está ótimo.

Ela acariciou a barriga sorrindo, imaginar que uma vida crescia dentro dela a emocionava. Cléo observou a amiga com alegria e satisfação.

–/-/-

A noite era avançada, a mesa estava coberta por embalagens vazias de comida chinesa e os três já estavam à vontade, Heero e Quatre haviam retirado seus paletós e gravatas, desabotoado os primeiros botões da camisa e subido as mangas para ficarem mais folgados. Trowa retirou sua jaqueta de couro e ficou apenas de camiseta.

_ Bom... Você e Hadja conhecem algum Hilton? - Perguntou Trowa.

_ Não. Ao menos não que eu conheça ou saiba. - Quatre respondeu ainda pensativo.

Heero pegou o telefone e fez uma ligação, não demorou muito uma voz doce respondeu.

_ Pode falar? - Ele perguntou.

_ Sim. Aconteceu alguma coisa?

_ Cléo, acaso Hadja conheci alguém com o nome de Hilton?

A ruiva ficou pensativa e Heero até mesmo parou de escutar a respiração dela. Cléo se trancou no banheiro do apartamento da amiga quando viu o chefe ligando, afinal algo devia ter ocorrido para ele ligar tão tarde.

_ Cadê a Had?

_ Não sabemos... Ela nos mandou uma mensagem, e parte dela era: "O que procura está com Hilton..." - Heero esperou mais um pouco e não tendo resposta voltou a chamar. - Cléo?

_ Não é uma pessoa...

_ Não é uma pessoa? O que quer dizer?

_ Me ponha no viva voz...

Heero apertou um botão no aparelho e devolveu o fone ao gancho.

_ Você está no viva voz...

_ Quatre, você está aí? - A voz da ruiva foi ouvida.

_ Sim Cléo... Pode falar.

_ Lembra-se de Nova Deli?

_ Você se refere de quando conheci a Had? Lembro.

_ Exato... Recorda das circunstâncias em que se conheceram?

_ Sim... Foi em um tiroteio... Mas porque você está lembrando isso?

_ Certo... Foi dentro de um hotel.

_ Sim... Hotel Hilton se não...

Heero começou a falar e parou bruscamente ao perceber que havia descoberto.

_ Não é uma pessoa, é o hotel. Agora a pergunta é, porque esse hotel? Ela esta mandando outra mensagem dentro dessa.

A ruiva concluiu seu raciocínio.

_ Obrigado Cléo. Se pensar em algo que possa ser útil nos avise, por favor.

_ Sim... Se precisarem de mim, ligue... E Heero?

_ Fala...

_ Encontre minha irmã.

A moça não esperou por uma resposta e desligou. Os três começaram imediatamente a procurar no computador, quantos hotéis Hilton existiam na cidade e encontraram três. Nesse momento o celular de Quatre toca e ele atende rápido.

_ Treize?

_ Demorei em ligar, porque não foi fácil encontrar o endereço que ela deu no escritório. Estou aqui no apartamento que ela alugou... Quatre as notícias não são boas...

_ O que aconteceu?

O loiro sentiu um aperto no coração, e o agente continuou a falar com pesar na voz.

_ Ela foi sequestrada.

Quatre se pôs branco feito papel e Trowa tomou o celular da mão dele sem nenhuma resistência. Colocou o aparelho no viva voz, sobre a mesa e começou a falar.

_ Treize, você está com Heero e eu continue... O que aconteceu?

_ Pelo que vejo, não ouve luta, mas com certeza reviraram o local a procura de algo e pela forma que empregaram em bater a porta ao saírem, digo isso pelas marcas recentes e informações dos vizinhos, eles não acharam.

_ Certo... Va para sua casa e esteja em alerta, podemos te chamar a qualquer momento. Avise nossos melhores agentes que temos um código 56. - Heero deu a ordem.

_ Sim. Boa noite... Desligo.

Trowa e Heero olharam para o amigo, que ficou calado e sem nenhuma expressão.

_ Quatre... Sinto muito.

As palavras de Heero fizeram o amigo encara-lo, depois de alguns segundos olhando o moreno, sem falar nada Quatre pegou o telefone e digitou o primeiro hotel da lista.

_ Boa noite, gostaria de saber se vocês têm uma reserva no nome de Hadja Rosenberg?

_ Deixe-me verificar senhor… - Quatre estava sério e não mostrava nenhuma emoção. - Senhor…

_ Sim.

_ Obrigada por aguardar, acabo de verificar no sistema e não possuímos nenhuma hospede com esse nome.

_ Obrigado.

_ Boa noite senhor.

Quatre desliga e liga no próximo, repetindo as mesmas falas e mesma atitude com os três números. Sem sucesso ele volta sentar e continua com sua expressão fria, quem visse, pensaria que a convivência com Heero não lhe estava fazendo bem.

_ Bom… Pelo visto Cléo estava errada. Não é nenhum hotel Hilton. - Disse Trowa.

_ Ou não é o nome dela que abriu a reserva. - Falou Heero.

_ Qual era mesmo o restante da mensagem? - Perguntou Quatre, mirando o nada.

_ “O que procura está com Hilton... seu grande amor que deixou e somente ele pode encontrar.” - Respondeu Trowa.

_ Para quem ela disse que era a mensagem? - Quatre confirmou.

_ Para o Heero. - Trowa concluiu.

Heero estava de olhos fechados, analisando aquela situação. Ele sabia que a resposta estava com ele, mas qual seria? Era a pergunta que passava pela mente dele, estava quase amanhecendo, a mente deles já estava muito cansada, mas não podiam abandonar o caso. Hadja estava desaparecida e ninguém pretendia deixar isso para mais tarde. Dormir, não era uma opção para nenhum dos três, mesmo que o cansaço não os fizesse raciocinar direito.

Porém o sono ganhou a parada, sem perceberem o cansaço tomou conta deles e os três adormeceram involuntariamente. Mas, o sono não durou muito, assim que o sol raiou, acordou os três que dormiam, como era noite, Heero não havia fechado as persianas, por tanto o sol pode entrar impondo toda sua presença naquele escritório. O trio acordou confuso, mas logo se deram conta do ocorrido e se maldisseram mentalmente por terem se rendido ao sono.

Levantaram rapidamente e começaram a trabalhar de novo na mensagem. Apesar de dormirem muito pouco foi o suficiente para que seus cérebros voltassem com carga total ao assunto. Foi quando Heero se pôs a pensar e viu o quão fácil era a resposta para aquilo.

_ Ela é esperta…

Sussurrou, mas os amigos puderam ouvir e prestaram mais atenção nele. Heero não comentou nada, pegou o telefone e voltou a ligar para o primeiro da lista.

_ Hotel Hilton, Bom dia?

_ Bom dia. - Pela manhã a voz dele parecia ainda mais rouca que de costume. - Eu estou procurando por uma hospede de nome: Relena Darlian.

_ Um minuto senhor, por favor, que vou verificar no nosso sistema.

_ Aguardo…

Trowa e Quatre estranharam o que o amigo estava fazendo, mas pensaram um pouco no assunto e chegaram à conclusão de que o raciocínio dele estava correto.

_ Senhor, obrigada por aguardar… Acabei de verificar no sistema e sim, temos uma hospede com esse nome em nosso hotel. Deseja falar com ela?

Heero soltou um ar de alivio e olhou para os amigos fazendo um sinal de cabeça que confirmava que havia acertado.

_ Pode me ligar com ela, sim?

_ Aguarde na linha senhor…

O telefone tocava desesperadamente e ninguém contestava. A recepcionista voltou para linha.

_ Senhor, ninguém responde no quarto, devo deixar algum recado?

_ Poderia me passar o endereço de vocês?

_ Com certeza, senhor…

O presidente apontou o endereço no bloco de notas e depois de agradecer, desligou.

_ Vamos… Precisamos ir até lá… - Eles se entreolharam. - Mas antes vamos nos trocar e nos encontramos nesse endereço.

Heero mandou uma mensagem de texto para o celular dos dois amigos e todos se despediram, correndo para seus lares a fim de tomarem banho e trocarem suas roupas por algo mais confortável, todos sabiam que poderiam acabar tendo ação naquele dia, então escolheram roupas semelhantes, mesmo sem combinarem entre eles. Todos puseram calça jeans preta e coturno, na parte de cima escolheram camisetas justas, para melhor mobilidade, sempre nas cores neutras. Cada um se armou corretamente e depois de estarem preparados saíram a caminho do hotel.

–/-/-

Cléo acordou e depois de preparar um excelente café da manhã para ela e Relena, com direito a panquecas, ovos mexidos, bacon, frutas, suco de laranja, leite e pão quentinho que ela havia buscado na padaria da esquina, se despediu da loira. Pediu que ela ficasse em casa naquele dia e Relena concordou. A ruiva passou a noite em claro praticamente, preocupada com a irmã mais velha. Cléo saiu do apartamento da amiga e seguiu rapidamente para sua casa, a fim de tomar um banho e ir logo para o trabalho, ansiosa por novidades de Hadja.

Relena estava lavando a louça do café, quando escuta a campainha tocar. Estranha, mas pensa por um minuto que poderia ser Cléo que havia esquecido algo. Abre a porta sem perguntar e se surpreende com um entregador.

_ Bom dia…

Ela cumprimenta toda sorridente ao homem.

_ Bom dia, senhorita. Tenho uma entrega para Relena Darlian.

_ Sou eu.

_ Assine aqui, por favor…

Ela agradece e assina o papel. O homem entrega-lhe uma caixa e vai embora. A loira entra e fecha a porta, mas estava tão compenetrada com seu presente inesperado, que se esquece de trancar com chave. Abre a caixa e encontra uma caixa de bombons amarrada com um laço vermelho. Ao lado dela tinha um bilhete com os dizeres:

“Para que nunca se esqueça do quanto eu te amo”

Não tinha assinatura, mas ela não pôde imaginar que fosse de mais ninguém a não ser seu amado Heero, não esperou muito e abriu, pegando o primeiro bombom e o mordeu. O doce era saboroso e derretia na boca, algo realmente de qualidade e a fez imaginar quanto deveria ter custado, porque pela embalagem, não era nada de supermercado. Comeu outro, e suspirou pensando em Heero.

–/-/-

O trio estacionou em frente do hotel e entrou. Heero logo se dirigiu ao balcão de recepção.

_ Estou à procura de uma mulher chamada Relena Darlian.

Falou antes mesmo da recepcionista o cumprimentar.

_ O senhor seria?

_ Heero Yui.

_ Poderia me mostrar sua identidade?

Que estranho… Para que tenho que mostrar minha identidade? Bom, veremos no que isso vai dar. Aparentemente não tem ninguém suspeito aqui.

_ Aqui está.

A mulher olhou para o documento, depois para ele, novamente para o documento e por fim para a tela do computador, depois devolveu a ele o documento e sorriu.

_ Aqui está senhor…

_ O que é isso? - Ele olhou para o cartão de acesso em sua mão e estranhou.

_ Tenho ordens da senhora Relena de deixa-lo passar assim que chegasse.

Heero esboçou um sorriso, realmente Hadja havia pensado em tudo.

_ Obrigado.

Deu sinal para os amigos e o trio subiu para o andar indicado. Sem muita demora, encontraram o quarto correto e entraram, viram o aviso de não perturbe na porta e deduziram que ninguém devia ter entrado ali. Olharam ao redor e tudo parecia estar em seu devido local.

_ Onde ela pode ter escondido?

Trowa falou abrindo os armários e olhando dentro. Quatre começou pelo banheiro, olhando cada canto e Heero procurava sob a cama e nas cômodas.

_ Quatre… Você que conhece bem a Had. Onde ela esconderia algo?

Perguntou Heero e o loiro saiu do banheiro, olhou para o amigo e começou a pensar, sentou na cama, exatamente no lugar onde ela havia sentado no dia anterior, e fechou os olhos tentando imaginar o que sua noiva faria. Quando voltou a abri-los olhou diretamente para o armário e resolveu começar por ali.

_ Eu acabei de olhar esse lugar. - Falou Trowa de braços cruzados.

_ Não custa olha de novo.

_ Também abri as gavetas…

O comentário do amigo fez Quatre ter uma ideia. Tirou as três gavetas e as virou de boca pra baixo e achou o que procuravam.

_ Aposto que não olhou embaixo.

E riu satisfeito para Trowa que apenas ergueu uma sobrancelha para ele, Heero ignorou as alfinetadas brincalhonas entre os dois e foi correndo pegar a pasta de couro. Abriu e encontrou um pendrive e alguns papéis. Leu o nome e pronunciou.

_ Shayara…

Quatre olhou assustado para o amigo que vendo o assombro estampado no rosto do loiro, entendeu que aquilo não era bom sinal.

_ Problemas? - Perguntou Trowa, retoricamente.

_ E dos grandes…

Sussurrou Quatre. Trowa e Heero se entreolharam…

Continua...