22. Resgate

Shayara… Tenho a sensação de ter ouvido esse nome antes. Pelo olhar do Quatre a situação deve ser terrível, preciso achar a Had logo. Não me perdoarei jamais se algo acontecer com ela.

_ Heero… Você não se lembra dela?

Quatre me olha ansioso, virando para mim a pasta com a foto da mulher com traços indianos, Cabelo cumprido escuro, olhos puxados negros, lábios grossos, bonita… Nada de especial. Convivo com mulheres mais bonitas que ela, mas ela tem seus encantos. Shayara…

_ Refresque minha memória…

Encaro meu amigo de forma inexpressiva e o vejo suspirar pesadamente, enquanto olha para mim exasperadamente. Depois aperta os lábios formando uma linha e abre a boca para falar.

_ Shayara… Índia… A três anos atrás… Quando conhecemos Hadja, ela é quem causou a explosão.

Acho que acabei de expressar algo diferente no meu rosto, além do meu olhar neutro, porque Trowa me encarou surpreso. Sim… Agora tudo faz sentido. Ela e Hadja faziam parte da mesma equipe - Uma equipe de agentes especiais particular, formada pelos melhores de cada país - e Shayara se voltou contra o grupo, matou um por um e quando tentou matar a Hadja, um último integrante se interpôs no tiroteio e morreu tentando defender a Had, que escapou do local. Mas, quando ela já estava no aeroporto para sair do país, Shayara colocou uma bomba no corredor de embarque. Hadja conseguiu escapar por pouco e por um acaso do destino estávamos no mesmo local e Quatre e eu a salvamos… Ela estava jurada de morte e não poderia voltar para casa, mandei buscar sua irmã e consegui asilo politico para elas. Desde então elas trabalham conosco e Hadja e Quatre se apaixonaram.

_ E o passado volta a atormentar…
_ Temos que achar a Had agora mesmo… Se essa mulher machucar a Had…

Quatre não termina a frase, vejo nele uma dor tão genuína, que tenho certeza que estaria vendo no olhar da Had se estivéssemos de papel invertido aqui… Onde essa a levou e porque ela esta envolvida com David?

–/-/-

Olhou para frente e apesar de sua situação desvantajosa, sorriu com deboche.

_ Como eu gostaria de arrancar esse sorriso irritante seu…

Shayara expressou seu incomodo com a forma despreocupada que a morena, amarrada, a encarava. Hadja deu de ombros e manteve seu olhar para a mulher a sua frente.

_ Você se acha muito superior não é mesmo?

A raptora perguntou com a voz embargada de ódio, enquanto a sequestrada apenas assentiu veemente com a cabeça, divertindo-se com a situação.

_ De verdade... Não sei se você notou, mas você está em desvantagem aqui…

Hadja olhou para um lado, o local era amplo e pode notar ao longe alguns homens fazendo a ronda, virou para o outro lado, a Parede estava a uns sete metros dela, era de concreto, sem nenhum tipo de pintura, dois homens de preto estavam encostados, eretos, de cabeça erguida. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer na outra extremidade do armazém, que devia estar a uns cinquenta metros dela. O local possuía dois andares, mas a diferença de altura era de uns quatro degraus. Elas estavam na parte superior. A morena voltou a encarar a indiana e com mais um movimento de ombros, assentiu, declarando que sim, sabia perfeitamente que existia uma desigualdade ali, mas não estava preocupada.

_ Já contou quantos homens tem no local, a sua vista?

Hadja afirmou com um olhar cheio de orgulho.

_ Vejo que apesar de não estar em campo há algum tempo, não perdeu o jeito.

A morena amordaçada não expressou nada dessa vez. Apenas continuou encarando sua velha conhecida. Shayara já estava ficando incomodada de olhar para a mulher a sua frente, julgando-a extremamente arrogante, apesar da situação em que estava. A indiana se lembrava, perfeitamente, de Hadja, quem por muitos anos foi sua parceira de trabalho. Ambas cumpriram inúmeras missões juntas, e a morena podia ser muito convencida, mas tinha razão, afinal sempre foi eficaz em serviço, motivo que sempre despertou a inveja em Shayara, mas o que sempre a incomodou, era o fato de Igor, seu grande amor, ter sido apaixonado por Hadja.

_ Lembra-se dele?

Hadja deitou a cabeça para o lado, um pouco confusa com a pergunta repentina.

_ Igor…

A sequestrada suspirou e assentiu.

_ Ele morreu… - Recordou melancólica. - Ele era lindo… Alto, muito alto. Forte… Olhos cinza e cabelo castanho claro. Suas feições eram sérias. Tinha um jeito duro, mas um coração tão puro e doce. Cansei de me perguntar o porquê ele havia escolhido a nossa profissão… Mas, sempre que o via em combate… Ele era o melhor dos homens…

Shayara narrava com um olhar nostálgico, que brilhava ao recordar o citado, mas se desmanchava em tristeza e mágoa, sempre que terminava as frases. Hadja a encarava de forma impassível. A indiana olhava para o chão quando uma lágrima solitária caiu.

_ E então havia você… - Olhou para a morena sentada a sua frente com ódio, desprezo e secou a lágrima com brusquidão do próprio rosto. - Sempre tão… Tão altiva. Tão metida e arrogante… Sempre se exibindo… Querendo se mostrar ao mundo… - Hadja ergueu uma sobrancelha para a mulher, surpresa com as acusações que estava recebendo. - Deixando todos pensarem que você era a melhor, a mais bonita, a superior… Não era assim?

A pergunta saiu em um grito, mas Hadja se manteve calma, sem esboçar nenhuma reação a mais que um suspiro pesado. Shayara levantou a mão e deu sinal para o homem em pé ao seu lado. Este por sua vez caminhou até a sequestrada e retirou a mordaça, deixando o lenço em volta do pescoço dela. Hadja moveu a mandíbula para todos os lados, bocejou, fechou a boca, fez careta tudo para poder tentar massagear o rosto, aliviando-se da dor que sentiu de estar a tanto tempo com um açaimo apertado.

_ Ufaa… Isso incomoda mesmo… - Reclamou com deboche. - Onde estávamos? Ah sim… Você estava narrando sua dor de cotovelo com respeito a mim. Continue Shayara…

Hadja sorriu de canto, da forma mais irônica que conseguiu e viu a raiva da outra aumentar.

_ Seu atrevimento não tem limites não é mesmo?
_ Que atrevimento? Eu ainda não falei nada. Apenas constatei um fato. - Enfatizou a palavra final. - Você sempre, sempre… Teve inveja de mim. E pelo que vejo, isso não mudou.
_ Ora… Por favor… - Forçou a risada. - Eu? Com inveja de você? De algo tão insignificante?

Olhou com desprezo para a que ainda estava amarrada e recebeu um olhar como resposta, cheio de pena.

_ Você precisa de tratamento Shayara…
_ Eu preciso da sua cabeça pendurada na minha parede! - Esbravejou.
_ Você se vendeu… Você se vendeu e matou todos. Éramos uma família. - A voz de Hadja ganhou uma consistência de puro ressentimento. - Era para proteger-nos uns aos outros e você… Você nos Vendeu! - Gritou o final, com o desprezo assumindo seu olhar.
_ Quer que eu sinta remorso? - Foi sua vez de olhar com descaso. - Não vai acontecer… Encarei as mortes deles, como se fossem um bando de formigas esmagadas…
_ Você é doente…
_ Mas não mude de assunto… Estávamos falando de Igor…
_ Igor morreu por tua culpa! Não me venha falar dele. Você não tem esse direito.

Hadja acusou e Shayara a encarou assombrada. Algo novo ligou na mulher a sua frente, que sentiu o sangue ferver, fechou os olhos assimilando as palavras que tinha escutado e ao abri-los novamente, eles eram opacos, sem vida e era como se ela tivesse abandonado o próprio corpo. Era uma visão assustadora, até mesmo para a morena.

_ Não… - Sua voz saiu baixa, quase um murmúrio, dito de forma muito controlada. - Ele morreu por sua causa?

Hadja arregalou os olhos e teve certeza que a mulher havia surtado.

_ Ele morreu no tiroteio… Tiroteio causado por você e seus novos amiguinhos, um bando de bandidos… Você se vendeu tão baixo…
_ Não… Foi Sua culpa… Era para você ter morrido e não ele… A culpa é sua, sua… Sua Hadja… Você o enfeitiçou, o seduziu… Fez ele se apaixonar e depois o jogou para morte.
_ Você tá tão louca quanto o David… Porque vocês não dão as mãos e vão formar uma família dentro do hospício?

A morena já estava perdendo a paciência. Revirou os olhos e falou com verdadeiro descaso para a indiana.

_ Você vai negar que o tirou de mim?

Shayara gritou se aproximando de Hadja, e ficando com seu rosto a poucos centímetros de distância do da morena, que no reflexo, jogou o corpo para trás, colando-se totalmente ao encosto da cadeira.

_ Eu não tirei nada de ninguém… - Declarou.
_ Ele queria você… Ele amava você e não a mim… - Relatou com desespero no olhar.
_ Eu nunca o amei como um homem e ele sabia disso. Éramos amigos, eu sempre o vi como meu irmão. Se ele não te queria o problema é seu. - Atacou sustentando o olhar da outra.
_ Eu vou destruir tudo aquilo que você ama… - Informou.

Shayara se endireitou e deu as costas para Hadja que relaxou o corpo com a distância entre elas. A indiana pegou uma cadeira e puxou para perto da outra, mantendo um espaço de dois metros. Sentou e cruzou as pernas com delicadeza, olhou com superioridade para sua refém e continuou.

_ Como vai Quatre? Eu gostaria de saber se ele é bom na cama…
_ Ele é ótimo. Ele causaria inveja no próprio Eros¹! - Afirmou com sinceridade e orgulho, seguindo o ritmo da mudança abrupta de assunto.
_ Talvez eu experimente… Após matar você.
_ Duvido. Quatre tem um gosto muito seletivo. Ele não transa com qualquer uma. - Alfinetou.
_ E mesmo assim ele transa com você? - Provocou.
_ Não tente me menosprezar, você sabe que não consegue. - Atestou e viu o sorriso de sua algoz desaparecer à medida que o seu próprio aumentava consideravelmente.
_ Vou te contar uma história…

Shayara ignorou a alegação de Hadja e anunciou o começo de um longo monólogo. A morena se ajeitou como pode na cadeira em que estava amarrada com as mãos nas costas e manteve seu olhar fixo na ex-colega de trabalho.

_ Era uma vez… Uma jovem secretária, de longos cabelos ruivos ondulados, e olhos verdes… Ela era linda. Foi para o trabalho essa manhã usando um conjunto de terninho com calça preta e uma camisa verde. Estava formal e simplesmente elegante...

Hadja encarava a mulher a sua frente de forma fria, seu olhar era vazio, nenhuma emoção escapava, mas por dentro seu coração começou acelerar, um frio na barriga começou a crescer dentro dela. Não era necessário citar nomes. Era de Cléo, sua amada irmã mais nova, sua única família de quem a outra falava. E ela conhecia Shayara. Se ela narrava é porque já aconteceu ou estava acontecendo naquele instante. Ela sempre gostou desse tipo de joguinho psicológico real.

_ Ela foi trabalhar como sempre fazia em uma empresa considerada a mais segura do país. Cercada pelos melhores agentes, um verdadeiro forte. Mas, só estaria segura enquanto estivesse dentro do prédio, porém hoje é quarta-feira e é o dia em que ela leva os documentos para protocolar no cartório a quatro quarteirões da empresa, e nesse percurso ele sempre está sozinha, pois até hoje não houve necessidade de uma escolta para sua segurança…

Cléo já estava a dois quarteirões do prédio base do Preventer’s a caminho do cartório, quando seu telefone tocou, retirou o aparelho da bolsa e ao olhar o visor, sorriu ao ver o nome de Duo no écran.

_ Olá…

Atendeu toda animada. Apesar de estar preocupada com sua irmã desaparecida, falar com seu amor, era uma fonte de calmante.

_ Como a mulher mais linda do mundo está?

Ela podia sentir o sorriso dele do outro lado da linha. Obviamente o juiz ignorava os acontecimentos sobre o desaparecimento de Hadja, mas ela não podia revelar nada, então manteve sua voz tranquila e continuou a jogar o jogo de: Nada está acontecendo.

_ Com saudades…
_ Eu estava pensando se poderíamos jantar juntos hoje… O que você acha?
_ Acho uma…

Cléo olhou para o outro lado da esquina, havia um prédio espelhado, pelo reflexo ela pode notar que não estava sozinha, havia três homens a seguindo, que pararam na hora que ela parou. Por suas vestimentas, não passavam de bandidos comuns, mas por suas feições e forma de se portarem, eram assassinos profissionais, que estavam tentando passar a sensação de pessoas comuns. Anos de convivência com sua irmã e logo depois trabalhando com a melhor equipe de segurança do país lhe ensinou alguns truques na hora de reconhecer o perigo. Olhou ao redor a fim de ver se havia alguém mais por perto que fizesse parte do bando, mas não encontrou nenhum vestígio de “extras”. A voz incessante de seu namorado no telefone, a chamando a despertou de seu transe momentâneo.

_ Cléo… O que houve... Cléo…
_ Estou sendo seguida… - Sussurrou, tentando se manter o mais tranquila possível.
_ Como?

A voz exasperada do juiz veio seguida de um barulho, que ela julgou que deveria ser de uma cadeira caindo, supôs que ele levantou bruscamente.

_ Onde você está?
_ Indo para o cartório a quatro quarteirões do prédio do Preventer’s…
_ Vou chamar a policia!
_ Não… Se quer me ajudar, avise o Heero…
_ O Heero? - Perguntou confuso e com uma entonação para questionar.
_ Duo… Faz o que eu digo e não discuta. Se eu tentar ligar para ele agora, serei abordada. Ligue para o Heero, ele saberá o que fazer. Te amo.

Após dar a sentença final, desligou a chamada deixando Duo com a palavra na boca. A ruiva continuou seu caminho, embrenhando-se pelo meio da multidão, tentando despistar seus perseguidores, o cartório estava logo à frente…

_ A pergunta é… Será que ela alcançará o cartório? - Shayara olhava atentamente para Hadja que se mantinha tranquila, fria.
_ Você não conseguirá nada. Cléo não é boba… Não será facilmente capturada.
_ Quem quer captura-la? - A indiana se inclinou em direção a outra. - Eu a quero morta e desfigurada… E se meus homens quiserem se divertir um pouco antes… - Deu de ombros. - É com eles.
_ Hum… - Hadja se inclinou o quanto pode, imitando o ato da mulher e com uma expressão fria e desprovida de qualquer bondade, alertou. - Se tocarem em um fio de cabelo dela… Eu juro! Que te matarei de forma lenta e muito, muito dolorosa.

Shayara engoliu em seco, pois sabia que não era uma ameaça e nem uma brincadeira, e sim uma promessa. Mas, não tinha intenção nenhuma de mudar de ideia.

–/-/-

Acabamos de chegar ao escritório, tenho tudo o que a Had nos deixou em mãos e Quatre esta lendo incessantemente o arquivo da Shayara, a procura de alguma pista que nos leve a Had. Temos certeza que ela está por trás do desaparecimento. Se ela fizer mal… Meu celular está gritando e não tocando.

_ Yui.
_ Heero… É o Duo. A Cléo está em perigo!

Sinto meu corpo todo gelar… Não… Primeiro Hadja e agora Cléo? Grito ordens para os agentes que estão conosco na minha sala, para que vasculhem todo o prédio e encontrem a Cléo, surpreendendo a Quatre e Trowa quem me olham estupefatos, Duo está gritando no telefone me chamando e levo um tempo para assimilar o que ele está falando.

_ Ela não está no prédio… Ela não está no prédio…
_ Você sabe onde ela tá? Então fala de uma vez. - Rosno para ele. Minha paciência esta no limite.
_ Ela está a caminho do cartório perto do prédio de vocês, quando viu uns caras a seguindo. Me mandou te ligar.

Ele mal completou a explicação e desliguei o celular, não é hora pra educação, sai correndo em direção à porta de minha sala e Quatre me gritou, perguntando o que estava havendo, parei por uma fração de segundos para encarar meu amigo e meu primo, que me olhavam ansiosos, e expliquei o mais rápido que pude, para mim isso pareceu uma eternidade. Eles se levantaram em um pulo com o intuito de me seguirem, mas os impedi e falei para encontrarem a Hadja. Eu cuido disso.

Saí em disparada e o elevador está parado a dois andares a baixo. Desci pelas escadas, quase pulando os degraus. Não vão tocar em mais ninguém… Não permitirei que nenhum dos meus sejam feridos. Desço dois andares e saio das escadas, vejo o elevador a minha frente e pulo para dentro, antes das portas se fecharem, aperto o térreo e em poucos segundos estou saindo pelas grandes portas de vidro. Muitos me encaram curiosos e sigo correndo a toda velocidade em direção ao cartório, ligo para Cléo e ela atende.

_ Cléo onde você…

Me calo, ela não está falando, ou melhor, está, mas não comigo. Não consigo entender direito e paro. Corri tanto e tão rápido que estou vendo o cartório do outro lado da rua, mas ela não está ali. Tampo o outro ouvido, puxando o ar com força para acalmar minha respiração ofegante e tento me concentrar na conversa a fim de descobrir seu paradeiro. Escuto fragmentos de frases.

_ Eu… Você está presa… Alguém… Estamos… Beco… Socorro…

As vozes são misturadas, mas a palavra beco se destacou. Olho ao redor a procura de algum lugar onde eles poderiam ter se embrenhado, para não serem descobertos. O telefone sempre no meu ouvido. Vou te achar Cléo… Você e a Had voltaram para casa hoje, sãs e salvas! E faço uma promessa particular.

–/-/-

Cléo estava encurralada contra uma parede de cimento cinza em um beco estreito e sem saída. Os três homens a encaravam com olhares cheios de malicia. Ela ouvia o próprio coração bater desesperadamente, dentro de seu ouvido. Engoliu em seco. Quando estava prestes a entrar no cartório um deles a segurou pelo braço e colocou uma arma em sua costela, obrigando-a andar pra longe dali. Assim que encontrou uma oportunidade, Cléo pisou no pé do homem e bateu na mão dele, afastando a arma, deu uma joelhada e correu a toda velocidade, mas, infelizmente caiu nesse beco pequeno, e sentiu o celular vibrar, viu e leu o nome de Heero no visor, atendeu, mas antes que pudesse dizer algo à voz dos bandidos pode ser ouvida.

Se virou e deu de cara com os três homens e um visivelmente mais irritado que os demais. Ela não desligou a chamada e continuou a andar para trás, até encostar-se ao muro, tropeçando em algumas latinhas de refrigerante no chão, pedaços de comida estragada, lixos em geral. Seu olhar era como o de uma leoa. Ela os encarava agressivamente e mesmo que soubesse que não era capaz de lutar contra os três, já que não era treinada para isso, não se daria por vencida tão facilmente. Heero ficou quieto e ela lançou um olhar rápido para o celular. A chamada continuava e ela ligou o viva voz, discretamente, então continuou falando em voz alta, afim de que ele pudesse ouvir a conversa. Instintivamente, por suas palavras saírem quase gritadas, os três homens a imitavam.

_ Quem mandou vocês?
_ Shayara manda noticias…

O Nome da indiana causou calafrios na ruiva, quem engoliu em seco, surpreendida por um passado esquecido.

_ Então… Aquelazinha voltou. - Rosnou entredentes, com os olhos cheios de cólera.
_ Então você se lembra dela? - O que apanhou perguntou, recuperando o bom humor.
_ Não lembrava até você falar o nome feio daquela nojenta… - Sua frase morre, ao se lembrar de Hadja. - Minha irmã… Ela está com Hadja não é mesmo?

Os três começam a rir.

_ Você é esperta…
_ Soltem-na agora! - Bramou.
_ Gostaria de lembra-la que não esta em posição de negociar nada… Sua irmã há essa hora, já foi informada que você será morta. Mas, de acordo com Shayara, podíamos fazer o que quiséssemos com você… Você é tão linda, que será um desperdício. Por isso, vamos te dar uma canseira antes de te desfigurar e matar, como foi ordenado.

Cléo respirou fundo e estreitou o olhar para seus algozes. Não importava mais, se ninguém aparecesse naquele momento, estava perdida. Mas não se renderia. Começou a olhar ao redor, a procura de algo que pudesse ser usado como arma. Não era uma completa ignorante em defesa pessoal, alguma noção tinha e não perderia a chance de uma boa briga. Um deles notou o interesse dela em se armar e tentou avançar em direção da ruiva.

Para a surpresa dos bandidos e o alivio da ruiva, antes dele alcança-la uma voz gélida e ameaçadora pode ser ouvida, de forma alta e nítida.

_ Dê mais um passo em direção dela e verei você morrer aos poucos, sangrando lentamente…

Os três se viraram para me olhar, acho que se assustaram comigo, já que de repente ficaram brancos como papel. Um deles engoliu em seco quando me viu. Não devo estar com uma feição muito boa mesmo. Odeio que ameacem as pessoas que prezo. Principalmente mulheres. Bando de covardes… São bons para ameaçarem a Cléo, quero ver o quão valentes são comigo.

_ Então… Pelo que vi, estavam prontos para machuca-la. E agora? Eu estou aqui… Sozinho. Vocês são três. Venham me pegar!

O mais próximo era o da minha esquerda a um metro e meio de mim, o da direita em mais ou menos dois e meio e por fim, o do meio era o mais próximo a Cléo, e o único que me preocupa, pois pode tentar pega-la como refém. Não posso permitir isso. Fico parado, atento aos movimentos, estamos no estudando. Eu tenho minha arma no cós da calça, em minhas costas. Mas, quero que pensem que estou desarmado. Nossos olhares se cruzam o tempo todo, e seria um momento de total silencio se não fossem os sons externos, das avenidas, carros, a gritaria da cidade grande, os pombos…

O do meio virou o corpo todo em minha direção, Cléo os encara atentamente. Garota esperta... Está tão atenta a tudo quanto eu. Ela está em uma posição de ataque/corrida, pronta pra avançar em qualquer um que tente pega-la. Não posso permitir isso, tenho que dar um jeito de inverter nossas posições, quero ficar em frente ela.

_ O que houve? Estão com medo de um homem desarmado? - Provoco.
_ Como sabemos que está desarmado? - O do meio me pergunta.
_ Venha conferir…
_ Idiota metido… Peguem ele!

O do meio com certeza é o líder, o da esquerda avançou em minha direção e eu disparei um chute médio frontal que o acertou no estômago, obrigando-o se curvar para frente, com a mão em volta do local e o derrubo com um soco de direita. O da direita me atacou com uma faca, desviei, o desarmei e utilizando a mesma arma dele, a finquei de atravessado em seu pescoço, a retirei e dei mais uma facada no peito, sobre o coração. Um morto, um ferido e um me encarando. O ultimo está assombrado com o que viu, minha expressão continua imutável. Não tenho paciência para esses bandidos. Quero muito acabar com eles e voltar para descobrir o que aconteceu com Hadja e levar Cléo sã e salva para o prédio.

_ Vejo que subestimei você… - O líder fala e eu apenas olho. - Acho que terei que te dar uma lição pessoalmente.

Esboço um sorriso de canto, era exatamente o que eu queria, ele se afasta de Cléo e vem em minha direção. É mais alto que eu, e mais forte, mas nunca me impressionei com tamanho, não vou começar agora. Ele toma velocidade e se lança sobre mim, desvio. Ele é rápido. Ele da à volta e vem para cima de novo, consigo desviar do soco e acerto um gancho em sua costela direita, ele reclama, mas não desiste, contra ataca e me acerta um soco no estomago, mas jogo meu corpo para trás, fazendo com que o impacto seja menor. Estou sem tempo, preciso terminar logo com isso. Olho para Cléo e ela, muito inteligente, está dando a volta pelo lado livre, alcançando as minhas costas. Ótimo, ela ficará fora de perigo, dessa forma.

_ Agora chega…

O homem me olha confuso, me lanço sobre ele com um chute giratório alto, fazendo-o cair ao chão, continuo atacando e acerto uma joelhada em sua cara, ele está grogue e sangrando. Me aproximo e solto a faca. Agarro sua cabeça por trás, como se eu fosse dar um mata leão e quebro seu pescoço. Agora falta o que levou o primeiro chute, quem está com os olhos arregalados.

_ Quem te mandou? - Ele fica olhando para os comparsas mortos e pergunto de novo. - Quem te mandou?
_ Shayara…
_ Não existe lealdade mesmo. Ligue para ela agora.

Entrego meu celular e ele digita o número. Eu e Cléo trocamos um olhar cúmplice e ela me entende. Volto minha atenção para ele e alguém atende porque ele fala que a missão falhou, na hora que ele diz isso, eu pego a faca e enfio na garganta dele. Ele engasga e antes que o celular caia no chão, eu o seguro e levo ao ouvido.

_ Alô… Alô…
É uma voz feminina.

_ Shayara?
_ Quem está falando? - sua voz se torna calma e apreensiva.
_ Aqui é Heero Yui. Solte a Hadja agora! - ordeno,
_ Ouvi muito falar de você senhor Yui… E também sei que é muito bonito… - qual é a dessa louca? - Podemos fazer negócios juntos… O que acha?
_ Acho que se você não a soltar em cinco minutos, me encarregarei de dar a você o mesmo fim que dei aos três idiotas que você mandou para pegar a Cléo…
_ Ela ainda esta viva? – esse sotaque está me irritando.
_ Esta surpresa? Acha mesmo que eu permitiria que algo acontecesse a ela? Não seja idiota.

Olho para Cléo e ela me da um sorriso, seguido de um sinal de jóinha. Pronto. Conseguimos o que queríamos e Quatre cumpriu com sua parte.

_ Eu vou matar Hadja de uma forma, que será preciso de um exame de arcaria dentaria para confirmar que é ela...
_ Você agora tem três minutos para soltá-la. - Desligo.

Cléo solta o ar aliviada e me abraça com força, devolvo o carinho. Nos separamos e passo os braços pelos ombros dela, e começamos a caminhar de volta para o prédio.

_ Quatre vai mandar a equipe de limpeza e conseguiu rastrear a chamada. - Ela anuncia.
_ Ótimo! Agora você vai ficar dentro do prédio, comportada, Duo já deve estar lá há essa hora e nós... Vamos buscar sua irmã.

Anuncio e ela sorri amplamente para mim, com os olhos brilhantes. Me abraça com mais força e seguimos de volta para nosso destino.

–/-/-

Estou me sentindo tonta, minha cabeça, meus membros, tudo em mim está pesado… O que está acontecendo. Tentei levantar do sofá e cai sentada de volta. Olho para a caixa de bombons… Será que… Não… Não pode ser. Estou ficando mole e caio deitada, e meus olhos se forçam a fechar… Minha última visão é da porta de entrada se abrindo e um homem alto e desconhecido, entrando com um sorriso maldoso nos lábios. Está tudo embaçado e não consigo gritar e nem focar a vista. Meus olhos se fecham e a última coisa que sinto antes de perder a consciência totalmente é que alguém, provavelmente o estranho, está me segurando, puxando-me para os braços…

–/-/-

Hadja mantinha os olhos estreitos, fixos em sua sequestradora. Viu as expressões dela, mudarem de surpresa, para ódio, ficar pálida e depois seus olhos inflamarem com algum sentimento nocivo do qual ela não soube decifrar. Shayara desligou a chamada e encarou a morena sentada a sua frente. Incomodava lhe a forma confiante e arrogante com a qual sua refém lhe encarava, mesmo estando a mercê do que ela quisesse fazer a ex-colega de equipe.

_ É… Me parece que sua irmãzinha é tão escorregadia quanto você…

Shayara comunicou, ao entregar o celular para o guarda que estava em pé ao lado dela. Hadja esboçou um sorriso de canto, cheio de satisfação e sarcasmo.

_ É uma qualidade de família. - Anunciou.
_ Você ainda continua com esse topete, né?
_ Certas coisas nunca mudam… Mas, pelo fato de você ter tentando matar minha irmã… Irá pagar!
_ E como pretende fazer isso? Ou ainda não percebeu que você está amarrada e eu estou pronta para te matar?

Hadja alargou o sorriso, mas era um sorriso maldoso, frio e cheio de significados. Shayara não mudou sua expressão, continuou a encarar a moça sentindo que algo estava errado. Olhou para o homem que estava ao seu lado e não precisou dizer nada para ele retirar uma faca de caça de suas costas. Voltou a olhar para Hadja, quem continuava tranquila, olhando para a indiana.

Marcos, o braço direito de Shayara, caminhou a passos lentos em direção a Hadja, que focou no homem e deitou a cabeça para o lado, analisando-o. Desfez o sorriso e observou. Ele chegou ao lado dela e levantou a faca, preparando-se para apunhala-la, e quando ele desceu a arma em direção à moça, Hadja retirou as mãos de trás do corpo, segurou o braço dele e em um movimento rápido, se colocou em pé, torcendo o braço do homem e enfiou a faca no estômago de Marcos, depois retirando a mão dele do caminho, voltou a pegar a arma e abriu a garganta dele em um sorriso de ponta a ponta.

O homem caiu inerte e ensopado de sangue no chão. Todos os olhares estavam nela. A morena virou o rosto lentamente em direção à indiana, quem já estava em pé, olhando para a cena com olhos arregalados em assombro. Ela não entendia. Era para Hadja estar amarrada, como ela havia se soltado?

_ Acho que temos um assunto pendente. - informou a agente do Preventer’s.
_ É… Acho que sim.

Shayara levantou a mão para que seus homens não se intrometessem, e retirou sua jaqueta de couro marrom, revelando uma blusa colada ao corpo, um conjunto de calça jeans escura e uma bota preta cano baixo. Hadja continuava com seu conjunto de short curto e colado e uma blusinha de alcinha, que colocou para dormir na noite anterior, o cabelo longo, solto caído pesadamente em suas costas. Ela jogou a faca, deixando-a cair ruidosamente no chão, as mãos manchadas com o sangue de Marcos. Ela encarou sua rival com um olhar frio, mas que deixava claro sua ânsia em mata-la. Os olhos de Shayara viajaram da mulher a sua frente, para o corpo de seu homem de confiança, jogado com descaso aos pés, descalços, da jovem.

_ Eu gostava dele… Era um bom parceiro. - Analisou monotonamente.
_ Hum. - Hadja deu de ombros. - Posso providenciar para que se junte a ele.

Elas ficaram se encarando por um segundo que mais pareceu uma hora. A luz que iluminava o ambiente entrava por grandes janelas posicionadas no alto, rente ao teto, nas enormes paredes de tijolo atrás de cada uma delas. A cadeira onde a agente estava sentada está ocupada pela corda que antes a prendia. A morena levou a mão até o pescoço e retirou o lenço que lhe serviu de mordaça, jogando-o por sobre os ombros. Os bandidos não abandonaram suas posições, mas voltaram suas atenções para a cena que se formava frente eles.

Uma gota a mais caiu na poça, reverberando o som, como um eco, pelo local vazio, que estava preenchido apenas pelas respirações dos presentes. Shayara se lançou para cima de Hadja com um chute alto e a agente, desviou com maestria. A luta começou. Ambas se analisavam em frações de segundos, contra-atacando em seguida.

Hadja desviou de mais um golpe, um soco e aproveitando o braço estendido da indiana, o agarrou em uma chave, mas a velocidade em se livrar fez com que o ataque fosse inútil. Afastaram-se novamente e a indiana se lançou sobre a agente, quem vendo a brecha acertou um chute alto rodado, que pegou em cheio no rosto da outra, que foi parar no chão com o impacto. Shayara caiu atordoada e tentou levantar, tateando algum lugar para se apoiar. Hadja estava ao lado dela.

_ Como se sente, estando no chão?
_ Você pode descobrir…

Em um golpe baixo, ela pegou um pedaço de madeira que estava coberto por uma lona, mas ficou visível, quando ela caiu, e virando rapidamente, acertou o pedaço na lateral do corpo da agente, que mal conseguiu se defender, recebendo boa parte do golpe e soltando um grito estrangulado, com a dor que sentiu. Hadja perdeu o equilíbrio e também foi de encontro ao piso de cimento.

_ Eu vou matar você a paulada.

Shayara se levantou e quando a agente percebeu, ela já estava ao seu lado, e baixou o pedaço e pau na direção dela, que rolou no chão para se desviar, a moça não desistiu e continuou a investir contra a mulher caída. Hadja não conseguiu desviar de todos os golpes, mas conseguiu proteger a cabeça, defendendo-se como podia com os braço e pernas. Shayara parou suas investidas, com um sorriso no rosto, pronta para conta vantagem, e foi quando a outra encontrou sua brecha.

Hadja chutou com força o joelho da outra, deslocando-o e se não fosse a mulher soltar a perna, provavelmente teria quebrado. Agora era a vez da indiana estar novamente no chão. Hadja levantou com o corpo todo machucado, marcas roxas de pancadas por sua pele branca, alguns locais cortados e sangrando. Ela estava repleta de ódio. As imagens de seus antigos companheiros sendo assassinados cruelmente pela traidora. Igor, o russo, que morreu para protegê-la. Sua irmã Cléo que quase foi assassinada e sabe-se lá mais o que. Tudo e todos passavam por sua mente. Quatre, seu amor, para quem ela tanto deseja voltar. Heero seu amigo, seu irmão de coração, e sua família que foi tão lesada por aqueles malditos. Não… Cabia a ela vinga-los e acabar com o fantasma do passado.

Hadja se ajoelhou ao lado da mulher quem agonizava de dor, segurando o joelho e girando o corpo de um lado ao outro, tentando achar uma posição, inutilmente. A agente acertou um soco tão forte que obrigou a outra cuspir sangue e a soltar a perna. Praticamente sentou sobre a mulher e começou a desferir golpes, incessantes, com toda sua força, sem pausa. Vários socos, a cabeça da mulher bateu algumas vezes sobre o cimento e o sangue começou a pintar o chão.

_ Isso é por cada um que você feriu ou tentou ferir…

Shayara já havia desmaiado, seus membros não se moviam, os braços caídos como gelatinas na extensão de seu corpo, as pernas esticadas relaxadamente, e Hadja não parou de bater. Seu ódio inflamando seu peito. E ela estava prestes a dar o golpe final e terminar de matar a mulher imóvel, com o rosto inchado e ensanguentado, estendida ao seu lado, quando um par de braços a enlaçou puxando-a de cima da indiana.

Hadja recebeu a investida e para sua surpresa foi imobilizada, custou um pouco para sair de seu transe e se apercatar que o local estava rodeado de agentes do Preventer’s. Heero a encarava seriamente em pé a sua frente. E quem a segurava com tanto carinho, mas ao mesmo tempo, força, era Quatre, que a chamava pelo nome incessantemente. A realidade veio aos poucos para ela. E pode sentir lágrimas saindo de seus próprios olhos.

Ela ficou tão presa em sua mente, em sua sede de vingança que não notou o local sendo invadido e os agentes prendendo cada um dos bandidos. Ignorou o fato de estar chorando, não percebeu Quatre se aproximando e chamando-a, e voltando sua atenção para a rival, tão pouco havia notado que estava batendo em alguém que já não respirava. Shayara estava morta e ela não viu quando isso aconteceu, quando a luz se apagou dos olhos da indiana. Heero a encarava com uma expressão nova. Não era raiva, não era reprovação, nem sua habitual frieza, parecia algo como compaixão e alegria. Ele olhou para o cadáver e deu sinal para que alguns soldados o retirassem dali.

_ Hadja… Had meu amor... Você consegue me ouvir? Acabou… Acabou!

Finalmente ouviu a voz agoniada de seu noivo e olhou para dentro dos olhos doces e preocupados do loiro que ainda a acolhia em seus braços.

_ Quatre…
_ Ai graças a Deus… Não sabe o medo que senti…

Ele a abraçou com desesperação, seu corpo dolorido e machucado, sendo envolvido pelo abraço possessivo de seu amor. O colete a prova de bala, áspero a machucava, mas ela ignorou a dor, devolvendo o carinho que tanto sentiu falta. E por alguns momentos teve medo de não experimentar mais. Deixou as lágrimas escorrem por seu rosto, molhando a camisa branca de seu noivo.

_ Eu senti tanto sua falta…

Ele disse e ela o abraçou com mais força. Ainda estavam no chão e demoraram alguns segundos em se separarem e depois de um beijo cheio de amor e alívio, algo apaixonado e suave ao mesmo tempo, ele a ajudou levantar do chão. Já em pé, ela olhou para Heero e soltando Quatre se lançou nos braços do moreno que a recebeu de bom grado.

_ Você e sua irmã precisam parar de me assustar…

Ele anunciou e ela riu.

_ Heero Yui fazendo piada… O mundo vai acabar… Acho que você precisa para de conviver com o Duo.

Anunciou e ele riu. Quatre se juntou a eles no abraço, ambos envolvendo aquela que não era apenas uma agente, mas era amiga-irmã e noiva.

_ É bom tê-la de volta Hadja.

A voz de Trowa os interrompeu e ela sorriu para ele e Treize que vinha logo atrás.

_ Que bom saber disso, porque não pretendo ir a lugar algum…

Eles sorriram e ela os abraçou ao mesmo tempo, com cada braço ao redor do pescoço de cada um. Depois da alegria do reencontro, e a satisfação de terem a recuperado, com alguns machucados, mas inteira, voltaram para o prédio do Preventer’s, logo depois de Heero dar as ordens do que deveriam fazer com os presos e os corpos.

–/-/-

Chegamos ao prédio, Hadja insistiu que queria ser atendida por um enfermeiro na sala do Quatre ou na minha, porque ela não iria a lugar nenhum sem antes ver Cléo. Obedecemos obviamente. Ela consegue ser muito convincente, quando quer. Quatre pegou a jaqueta dele e colou sobre ela, para cobrir um pouco a roupa indecente que ela esta usando, de acordo com ele…

Chegamos e não vimos Cléo em sua mesa, Quatre abriu a porta da sala dele e lá estava ela, em pé, com o celular na mão, parecia estar tentando ligar para alguém. Duo atrás, esfregando os braços dela, como quem tenta acalmar a outra pessoa, o barulho de nossa chegada, chamou a atenção deles e Cléo abriu seu mais magnifico sorriso ao ver Hadja, quem devolveu o mesmo carinho.

As irmãs foram uma de encontro à outra e se juntaram em um abraço apertado, uma cena realmente linda e comovente, para quem é emotivo. Quatre e Duo estão com um sorriso bobo em seus rostos. Trowa esta como eu... Sério. Porém estamos muito satisfeitos por vê-las se reencontrarem. Hadja se afasta e mantendo a irmã na distancia de um braço a analisa meticulosamente, a fim de confirmar que ela está inteira e sem nenhum arranhão.

_ Hadja… A única esfolada aqui é você. - Cléo solta uma fingida reclamação.
_ Ai… Essa doeu. - E Hadja faz beicinho, fingindo-se de magoada.

Finalmente ambas caem na risada e voltam a se abraçar. São realmente lindas e a amizade entre elas é algo tão sincero e doce. Admirável de se presenciar. Mas, algo está errado. Apesar de ver o alivio de Cléo, ainda sinto-a um pouco tensa. Pelo visto não sou o único…

_ Cléo desembucha… O que está acontecendo…

Had perguntou com seu famoso olhar inquisitivo, exigindo uma resposta verdadeira e rápida. Cléo ficou inquieta instantaneamente e desviou o olhar da irmã, voltando-se para mim. Senti meu sangue gelar.

_ É a Relena… - Pronto, meu medo se tornou real. - Eu não tive a oportunidade de te contar mais cedo. Mas, ela foi ver David ontem… Eu a salvei dele…
_ E… - É tudo o que consigo pronunciar.
_ Eu estou tentando falar com ela a um tempão aqui, porque queria saber se ela estava bem, mas… Ela não atende. Nem o celular, nem na sua casa, nem na casa dela e ninguém tem noticias dela.

Acho que meu mundo esta desmoronando sobre minha cabeça de novo. Não espero ela dizer mais nada, saí correndo do prédio e entrei no meu carro. Dirigi o mais rápido que o transito me permitiu, costurando entre os carros, uma multa realmente não é algo que me preocupa nesse momento. Ao avistar meu prédio estaciono de qualquer jeito, acho que meu carro ficou um metro longe da guia… Dane-se.

A porta do prédio está aberta… Por quê? Olho para a guarita e o porteiro está adormecido? Não… Me aproximo e vejo um dardo tranquilizante no pescoço dele. Subo os três degraus correndo e para minha sorte o elevador está no andar… Cada segundo o medo aumenta, a dor no meu peito se torna mais aguda. As portas se abrem e disparo para o meu apartamento, encontrando a porta aberta, e o local vazio. Na mesa de centro uma caixa de bombons e um bilhete, leio o recado. Não mandei isso… E finalmente a realização do que está ocorrendo cai sobre mim como um balde de água gelada.

_ Relena… Minha Relena foi sequestrada… David!

Não preciso ser adivinha para saber quem foi o mandante.

Continua...

¹Eros - Também conhecido como o deus do sexo, deus grego do amor, muito belo e irresistível, levando a ignorar o bom senso. Filho de Afrodite e de Hefesto ou Zeus, Hermes ou Ares, conforme as versões.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.