Doce Tentação

Que atitude irei tomar?


Que atitude irei tomar?

Oito horas da manhã...

O incessante tocar da campainha acorda uma jovem, que depois de longas horas chorando, apenas tinha pegado no sono. Relena levanta ainda tonta de tanto cansaço e vai tateando até a porta pra saber quem era o visitante insistente.

– Quem é? – Pergunta ela ainda com voz de sono.

– Abre logo essa porta Relena!

Não é possível? Será que estou ouvindo coisas? Não pode ser... Como me encontraram? Quem contou que eu estava aqui?

– ABRE A PORTA RELENA!

– Sim...

Relena abriu a porta com receio. Sabia muito bem quem estava do outro lado dela. Uma pessoa muito valiosa pra ela, a quem ela queria muito bem e que também gostava demais dela.

Quando Relena abriu a porta, deu de cara com esse rosto tão familiar e que nesse momento estava tão bravo com ela.

– Ola Noin...

– Relena Darlian... Será que pode me explicar o que está acontecendo?

– Entra Noin... Vou contar tudo.

Noin entrou me encarando. Se ela estava ali, é porque alguém contou que eu estava há um mês escondida na casa sem falar com ninguém. Com certeza deve ter sido o zelador. Toda vez que vou pra casa de campo e me tranco, ele corre avisar ela e meu primo. Alias, não sei como ele não veio com ela.

Noin caminho com elegância até o sofá da sala e se sentou com muita classe, como sempre. Ela cortou o cabelo. Esta curto, com franjão e me parece mais azulado que antes. Sempre muito bonita e elegante dentro de seus terninhos de linho, com camisete de seda por baixo do blazer. Calmamente ela colocou sua bolsa no assento do lado, tirou os óculos de sol da Versace e me encarou a espera de uma resposta.

Eu caminhei na direção da poltrona que se situava a frente dela, de cabeça baixa. Noin e meu primo sempre cuidaram muito de mim. Ela esta casada com Zechs há sete anos, e quem os vê pensa que são recém casados, do tato que se amam. Quando meus pais morreram, eu tinha quinze anos. Meus tios, Anne e Richard Marquise, me levaram pra morar com eles e com meu primo Zechs. Dês dessa época ele já namorava Noin. E eles sempre cuidaram de mim como uma irmãzinha caçula.

Relena se sentou de frente pra Noin e respirou fundo, procurando coragem e um começo por onde iniciar a conversa.

– Bem... Tudo bem com você Noin? – Perguntei sem graça, na esperança que ela aliviasse sua mirada feroz, a qual ela me lançava.

– Zechs e eu estamos tentando falar com você há um mês. Ligo direto na sua casa e sabe o que eu ouço?

– O que?

– Caixa de mensagem lotada.

– Serio? – Sorri meio tímida. Queria desaparecer dali.

– Sim... – Ela falava ironicamente. E visivelmente, muito irritada. – E sabe o que significa caixa de mensagem lotada?

– Que eu não ouço minhas mensagens há muito tempo?

– EXATAMENTE!

– Desculpa... – Baixei a cabeça com medo.

– E você tem noção do quanto Zechs e eu ficamos preocupados? Ligamos no seu serviço e falamos com Duo... E sabe o que ele disse?

– O que?

– QUE VOCÊ DESAPARECEU SEM DAR NOTÍCIAS!

– Eu... Eu...

– Você o que Relena? Aí, ficamos malucos. Ligamos em todos seus amigos dos quais tínhamos o numero de telefone e ninguém sabia de você.

Eu me senti como um cãozinho que fez arte levando bronca da dona. Quando Noin se enfezava, era sinal de que Zechs já tinha matado metade do mundo.

– Aí, pego e ligo pro seu noivo. E sabe o que descubro?

– O que?

– Que David já não é mais seu namorado. Que você terminou tudo com ele, por causa do filho do padrasto dele, um rapaz chamado Heero. Beleza, ai eu ligo pra esse tal de Heero e o que ele me informa? Que você desapareceu e que até ele está como um louco atrás de você!

– Ele disse isso? – Eu a olhei esperançosa. Fazia tempo que não tinha noticias do Heero. Estava com saudades.

– Sim. – Ela me encarou, decifrando meu olhar. – Ai, eu recebo uma ligação do Jack falando que você estava escondida aqui e não saia pra nada. Agora... Quer me explicar o que esta acontecendo?

– Como está Zechs? – Noin respirou fundo antes de me responder.

– Está nervoso. Preocupado e querendo matar alguém. Ele vem amanhã, eu consegui fazer ele me dar um dia de vantagem com você. Não quero estar na sua pele amanhã.

– Imagino...

Noin continuou me encarando, mas já estava mais calma. Ela tinha me encontrado e viu que eu estava bem. Mas ela não me dirá nenhuma palavra amorosa, sem antes saber toda a história. Respirei fundo, antes de começar a narração.

– Bem... Você já conhece o resumo.

– Agora eu quero a integra da história!

– Tudo começou com o dia do meu noivado...

As horas foram passando, enquanto eu narrava minha vida para Noin. Eu pude observar as inúmeras expressões que minha querida amiga e quase irmã tinha. Vi ela relaxar, estressar, se horrorizar, se apaixonar e odiar, durante toda a minha história. Contei tudo. Cada detalhe, cada momento. Cada tristeza e alegria que passei. Não escondi nada dela... Noin ficou sem palavras. Não disse nada durante todo o meu monologo. Nas partes mais assustadoras a vi estremecer e morder o lábio inferior de ódio.

Após cinco horas...

– E agora eu descubro que estou grávida do Heero!

– Grávida? Relena? Você disse grávida? – Ela estava com o tom da voz alterado.

– Sim... Eu estou realmente grávida.

– E... – Ela levantou e caminhou um pouco pra depois continuar. – E agora?

– Bem... Não sei...

– Não sabe? E esse Heero? O que ele pretende fazer quanto a isso?

– Ele não sabe de nada!

Noin me olhou assustada. Eu a encarei determinada. Ela caminhou até mim se sentou na mesinha de centro de madeira clara, e me olhou bem dentro dos olhos.

– O que você disse Re?

– Que ele não sabe.

– Você não contou nada pra ele?

– Não.

– ISSO É UM ABSURDO! Relena Darlian, ele tem o direito de saber. É o pai dessa criança. – Ela estava muito irritada.

– Eu... Eu... – Abaixei a cabeça com vergonha. – Não tive coragem de contar nada. Por que eu não estou com coragem de vê-lo.

De repente, eu já não ouvi mais nenhum grito e nenhuma bronca. Senti Noin me abraçado. Aquele abraço de amiga, confidente, irmã e mãe tudo numa só pessoa. Ela me puxou pra perto e começou a brincar no meu cabelo, assim como ela fazia nos dias em que eu chorava.

Nesse instante, só pude me aconchegar mais nos braços de minha querida amiga e chorar. Era exatamente isso que eu precisava. De colo, carinho, amor e compreensão. Noin me dava tudo isso e segurança. Era como se eu sentisse que minha mãe estava ali, e apoiando. Sempre...

– Chora princesa... Chora... Vai te fazer bem! – Noin começou a cantar pra mim.

– Eu me lembro... Eu dormia ao som dessa cantiga.

– Sim... – Ela sorriu. – Agora relaxa.

Não sei o que aconteceu. Mas pela primeira vez dormi. Relaxei como há tempos não fazia. Fechei os olhos, e acho que não sonhei, por que fiquei calma. Não me lembro de nada. Quando abri os olhos, ainda sonolenta, pude ver Zechs. Ele me colocou na cama. Olhou pra mim e com um olhar doce, me deu um beijo na testa dizendo: - Dorme minha princesa! Não se preocupe com nada. Estou aqui! – Depois disso, o vi saindo e fechando a porta do meu quarto. Voltei a fechar os olhos e dormir.

Dessa vez sonhei. No começo foram sonhos agitados. Onde se passava pela minha mente cada um dos pesadelos que vivi. Cada momento ruim e cada tristeza que sofri. Mas, logo isso desapareceu, minha tensão desapareceu junto com meus medos. Acho que sorri. Mesmo dormindo. Lembrei de cada momento feliz e cada carinho e amor que Heero me proporcionou.

Lembrei-me das vezes que aquele olhar frio, brilhava pra mim... Mas só pra mim. Às vezes que ele me chamava atenção por ser descuidada e as que ele me enchia de beijos, quando eu acertava, ou somente pelo fato de eu estar ali, ao lado dele. Aquele sorriso irônico que ele fazia quando estava aprontando algo. E o quanto ele era romântico quando estávamos a sós.

Das vezes que acordei no meio da noite e fingia que estava dormindo pra ele não disfarçar o fato de ficar velando meu sono. O amor que fazia com Heero. Não era simplesmente sexo, não. Nunca. Era amor, carinho, compreensão e lealdade. Ele fazia eu me sentir amada.

A ultima coisa que lembro, antes que minha memória se apague, era dele gritando o quanto me amava. E o quanto me queria.

–/-/-

O barulho dos pássaros acorda uma jovem que havia dormido horas...

Relena se levanta ainda sonolenta e olha no despertador. O relógio marcava 8 horas da manhã. Olha ao redor e se pergunta como havia ido parar ali. Então ela começa a lembrar.

– Zechs... Ele chegou ontem à noite. Tenho que me arrumar, pra ver ele!

Bom, vou começar tomando um ótimo banho quente cheio de sais. Depois vou colocar esse vestido branco que ele ama me maquiar bem, colocar essa sandália branca pra combinar e vou descer pra vê-lo. Tenho que me apressar. Quero dar logo um super beijo nele.

–/-/-

Na cozinha...

– Então Zechs... Foi isso que te contei.

– Mas Noin... É grave. Por que ela não nos chamou? Não nos contou nada?

– Medo.

– Não faz sentido...

Zechs e Noin estavam sentados à mesa, tomando o café da manhã esperando Relena acordar. Noin já havia contado toda a história a Zechs e ele tava tentando entender e digerir tudo o que tinha acabado de escutar.

– O que acha que devemos fazer Zechs?

– Bem... Quero conhecer esse tal de Heero. Ter uma conversa bem seria com ele.

– E quanto ao David?

Zechs lançou um olhar ameaçador, o qual Noin entendeu de imediato. Ela sabia bem que a coisa não estaria bem pro lado de David.

– Eu e ele vamos nos entender.

Os dois param a conversa quando ouvem passos apressados descendo a escada.

– ZECHS... – Gritei e me joguei no colo dele.

– Relena...

Ele me pegou e me aninhou no colo dele. Como sempre Zechs continuava bem maior que eu e isso o dava uma vantagem enorme quanto a mim. Ele me beijou e acariciou meu cabelo enquanto eu o abraçava com força. Tinha muitas saudades dele e de Noin. Ela sorria pra mim, me incentivando. Ele sorria pra mim, me apertando mais contra ele.

– Dormiu bem minha princesa? – Minha princesa... Era como ele e Noin sempre se dirigiram a mim.

– Sim. Obrigada por me levar pra cama!

– Imagina!

Levantei-me e fui pra cadeira ao lado dele. Sentei-me e comecei a comer. Eles me observavam sorrindo. Depois que nós três terminamos, antes de nos levantarmos da mesa, Zechs me encarou e perguntou serio.

– Bem Relena... A Noin já me contou tudo. Agora... Que atitude você irá tomar?

Eu o olhei incrédula, com a direta. Confesso que me senti meio perdida. Por que eu esperava uma bronca dele depois que ele soubesse toda a verdade. Mas, em vez disso ele me cobrou uma atitude. Seu olhar além de intimador, também era protetor e sustentador.

– Que atitude irei tomar?

– Exato... – Disse Noin.

– Bem...

...Continua...