Doce Tentação

Enfrentando conseqüências


Enfrentando conseqüências

– Fico feliz em informar, que nessa noite... Tomei minha decisão!

Zechs e Noin se entreolharam. Acho que não esperavam uma resposta tão direta minha. Sorri pra eles com segurança, isso os fez relaxar. Logo depois eu lhes contaria toda a minha decisão.

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Acho que nunca caminhei tão rápido em toda minha vida. Espero sinceramente que meu mocassin de veludo não quebre o salto. Noin me ajudou a me preparar, obviamente que eu não escolheria um sapato desse porte e de salto fino pra correr, mas ela achou que estar bem vestida seria essencial. Combinando com um sapato dessa classe, meu vestido branco e de microfibra fez o par perfeito. A maquiagem bem estruturada, combinando com o dourado do conjunto de brincos e colar, também foram idéias dela.

– Finalmente cheguei...

A entrada do prédio não mudou nada. Nem mesmo um cisco de poeira mudou o local que decorei com minha mente. Olhei para a guarita e lá estava o mesmo porteiro de sempre. Engraçado, não faz tanto tempo assim, mas sinto como se fossem anos.

James, o porteiro, sorri pra mim e vem rápido ao meu encontro. Abre o portão e me da passagem, ao mesmo tempo, que simpaticamente me pergunta como eu estava. O agradeci retribuindo o sorriso. Logo, me dirigi até o elevador, este não demorou a chegar e entrei. Apertei o botão de meu destino e respirei fundo tentando me acalmar, enquanto a porta do elevador se fechava.

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A campainha era incessante. Como era dia de folga da maioria dos empregados e Hiko e sua esposa estavam fora, quem abriu a porta foi David.

– O que deseja?

Disse ele ao abrir a porta. A surpresa tomou conta dele imediatamente. Não esperava essa visita. Muito menos agora, depois de tudo o que aconteceu entre ele e Relena.

– O que foi David? Não me convida a entrar?

A voz grave e seria de Zechs assustou ainda mais o David. Ele estava elegantemente vestido, com um conjunto de calça social com blazer e camisa pretos, uma gravata de seda vermelha, sapato e cinto pretos de couro. Seu longo cabelo liso, cor platina preso em um rabo de cavalo baixo. Zechs ainda de óculos de sol da versase, mantinha-se com as mãos no bolso, esperando a permissão para entrar.

– Zechs? O que faz aqui?

– Nossa... Vejo que sua educação ta cada dia pior David! – Agora ele tirou os óculos de sol encarando assim o homem a sua frente.

– Desculpe-me! Entre por favor... – Disse sem graça.

– Obrigado!

Zechs com passos firmes entrou decidido. A presença dele não agradava em nada a David. Este sabia que quando Zechs aparecia é porque tinha um motivo serio pra resolver. E na maioria das vezes, nada bom.

– Onde está sua mãe e o senhor Hiko?

– Sairão... Veio falar com eles?

Zechs esboçou um sorriso irônico, virou-se para David com um olhar assassino e disse com ânimo.

– Não! Vim falar com você mesmo!

– Sobre? – O nervosismo se apoderava cada vez mais dele.

– Minha prima. Relena... Se lembra dela David?

– Claro... Eu a amo!

– Ama?

O loiro começou a rir. Balançou a cabeça em negação, enquanto caminhava até a sala. Guardou os óculos no bolso do Blazer e em seguida o tirou, colocando-o delicadamente sobre o sofá, de forma que não amassasse. David o observava com cautela.

– É claro que amo! – Ele engoliu em seco.

– Sim, sim... Claro que ama! Isso, inclusive, justifica o fato de você a ter “estuprado”...

– Estuprado? – David estava amedrontado... – Ela disse isso?

– Não... De forma alguma! – Ele estava cada vez mais irônico. – Minha priminha jamais me contaria algo assim. Ela tem medo de minhas atitudes. Mas... Ela contou a minha esposa, que você a forçou e a machucou... E é claro... Noin jamais deixaria algo assim passar batido!

– Não é bem assim!

– Ah não? Então... Como seria? – Zechs caminha calmamente até ficar cara a cara com David. – Me explica...

– Bem... Ela... É... Estava... Estava me trocando... E eu...

– Desculpe! Resposta errada!

Zechs segurou David com as mãos no colarinho e o jogou contra a mesa de centro da sala. Quando o rapaz se chocou na mesa, esta se quebrou. O loiro voltou a levantá-lo completando com uma seqüência de socos, começando pelo estomago até o rosto, fazendo com que o rapaz caísse ao chão todo ensangüentado.

David começou a tatear, tentando a todo custo se levantar. Zechs o chutou na costela, fazendo com que ele caísse novamente e soltasse um gemido de dor.

– Levanta covarde! É bom pra machucar mulheres não? Pra estuprá-las, né? LEVANTA! – Gritou Zechs.

David se levantou com dificuldade, se apoiando nos lugares. Girou tentando acertar um soco na cara de Zechs, atitude que foi facilmente esquivada pelo próprio, que no embalo acertou mais uma seqüência de socos, seguido de uma giratória. Novamente, David vai de encontro ao solo, mas, não fica muito tempo nele. O loiro o levanta, jogando-o em cima da mesa de jantar, e acertando mais socos ainda nele.

A casa estava inteira marcada pelos rastros de sangue de David. Zechs continuava ileso. Sem nem ao menos amassar a camisa. Continuava a bater no rapaz com ansiedade. Visivelmente se divertindo. Era a hora que ele se vingaria pelo que o ex-noivo de sua prima fez a mesma.

– PARE ZECHS, POR FAVOR... COMO PODE CHAMAR DE ESTUPRO SENDO QUE ELA ERA MINHA NOIVA? – David só faltava chorar. Pro azar dele, não tinha empregados por perto, e os seus gritos de dor se espalhavam pela casa.

– Pra sua informação, seu inútil. Estupro, também pode se dizer se você fizer alguém ter relações sexuais com você à base da força, ao ponto de até mesmo de machucá-la. Quando uma mulher não quer... VOCÊ NÃO OBRIGA! SEU IDIOTA! – Zechs estava calmo, só alterou a voz na ultima frase.

Ele voltou a bater em David a tal ponto que ele não agüentava mais a dor. David ficou estirado ao chão, imóvel. Não conseguia mais se mover, nessa hora foi o golpe final... O loiro acertou um chute na cara de David, fazendo com que o rapaz desmaiasse.

Ao ver que David desmaiou, Zechs respira fundo, pega o casaco e enquanto o vestia e se ajeitava, observava o local, que antes estava organizado, agora estava inteiro quebrado, bagunçado e sujo pelo sangue de David. Com satisfação e um sorriso irônico nos lábios, Zechs terminou de se ajeitar. Olhou para David no chão e disse.

– Por hoje é só! Idiota!

Colocou seus óculos de sol, tirou um par de luvas de couro do bolso, as colocou, certificando-se antes que não tinha nenhum sangue nas mãos, para não sujar as luvas. Pois uma das mãos no bolso e deixou a outra solta. Caminhou elegantemente até a porta, abrindo-a com a mão livre, sorrindo. Fechou-a ao sair, entrou em seu volvo C30 prata e saiu cantando pneu a toda velocidade.

– Noin... – Falou Zechs no celular. – Já acabei por aqui! Beijo... Estou indo pra casa! – Desligou.

–/-/-

A campainha tocou acordando um Heero ainda adormecido. Ele se levantou, ainda de calça de pijama e sem se preocupar em colocar um roupão ou mesmo, em perguntar quem era, foi abrindo a porta. Ainda esfregando os olhos demorou um pouco pra olhar e ver quem era. Quando o moreno olhou pra porta. Sentiu que seu chão tinha se perdido.

– Relena? – Disse ele com a voz rouca, quase falhando.

– Bom dia Heero... – Ela o olhava apreensiva.

– Você voltou...

– Sim! Posso... Posso entrar?

– Claro! – Disse dando espaço pra ela passar.

Sinceramente, acho que estou sonhando... Mas se eu estiver... Por favor, peço que ninguém me acorde. Ela está na minha sala. Tenho vontade de pega-la em meus braços e beija-la como se fosse à primeira vez. Como se estivéssemos acabado de nos apaixonar.

Ela continua a mesma pra mim. Engraçado... Parece que o tempo nunca passou, e que ela nunca partiu. Parece que esteve o tempo todo aqui, ao meu lado. O perfume dela encobriu o ambiente no momento em que cruzou a porta. Esse cheiro doce, que pra mim é como a mais forte das drogas... Tal qual, nunca conseguirei me livrar.

Ela caminha delicadamente até o sofá, se senta nele e me olha... Com esses olhos de safira. Olhos que são pedras preciosas. Pergunto-me se eu estava morto...

Se estava, acabei de ressuscitar. O que faço? Vou até ela e digo o que sinto? Espero que ela me de a brecha necessária? O olhar dela me hipnotiza. De repente me dou conta que estou me apoiando em algo pra não cair. Quando olho, vejo que a porta continuava aberta e era ela que me dava o sustento.

Fecho a porta com cuidado pra não bater. Não sei porque, mas não estou dono de minhas funções motoras nesse momento. Só espero não estar demonstrando isso... Espero que ela não veja minha fraqueza. Caminho até ela, tentando controlar meus impulsos o máximo possível. Me pergunto, onde ela esteve... Com quem, fazendo o que? Pronto. Consegui chegar e sentar no sofá de frente pra ela. Agora não corro mais o risco de cair no chão... Isso até parece comedia, mas acho que ela não notou.

É incrível... Como pode cada dia que passa Heero estar mais bonito? Sua beleza e seu charme me embriagam. Pensei que minha raiva por ele nunca cessaria, que quando o visse, o motivo que tive pra ir embora, cairia sobre mim como uma bomba atômica, a tal modo que eu despejaria sobre ele todas minhas frustrações e tristezas, o culpando por tudo...

Mas, não... Não. Nem ao menos, me lembro do motivo de ter fugido. A única coisa que quero é que ele me abrace e diga que me perdoa que me ama igual antes. Vendo-o caminhar em minha direção, posso dizer que sua elegância em nada foi afetada. Continua forte e superior a tudo. Nem ao menos cambaleou, coisa que me deixa ainda mais insegura.

Mas tudo bem, esse tempo me fez ver que o amo, mais que tudo! Será que ele sentiu minha falta? Sou uma covarde... Só consigo pensar. Estive tanto tempo em frente o espelho, treinando as palavras pra que agora minha voz desaparecesse definitivamente. Será que ainda a recuperarei? Será que um dia voltarei a falar? Boa pergunta...

Seu cheiro é tão forte pra mim. Um cheiro másculo, amadeirado, forte, embriagante. Ele estava dormindo... Fui eu que o acordei? Será que alguma mulher o espera lá em cima? Será que ele notou o meu medo de andar e cair? Ótimo, não consigo evitar e me pego olhando ao arredor pra ver se encontro vestígio feminino no apartamento e obviamente me vejo olhando a escada pra ver se não tem ninguém descendo.

– Estamos sozinhos!

A voz rouca e aveludada dele me tirou de meus pensamentos. Ele me olha penetrantemente. Parece que fui hipnotizada por ele. Seu olhar, gelado e quente ao mesmo tempo entra em mim. Parece que ele consegue ler meus pensamentos.

– Quer beber alguma coisa?

Ele me pergunta... Mas, minha voz não sai, limito-me a abalançar a cabeça positivamente. Então ele se levanta e vai à cozinha. Eu tento nesse tempo, controlar minha respiração e acalmar meu coração. Sinto que irá sair pela boca. Parece até que estou tremendo.

Ouço o barulho dos passos dele. Ele volta com um copo de água gelada... Ele não esqueceu. Sempre que eu ficava muito ansiosa ou nervosa eu pedia um copo de água gelada, que me acalmava. Então ele notou meu nervosismo. Óbvio, como isso sairia despercebido por alguém que é dono do The Preventers?

– Obrigada... – Minha voz saiu fraca... Mas consegui falar. Dei o primeiro gole.

– De nada... – Que silêncio... O que será que ela está pensando? – Onde esteve?

– Bem... Estive numa casa de campo, que é propriedade dos meus tios.

– Certo... E como foi?

– Bem... Nada de excepcional. O povo lá não faz muita coisa.

– Legal... – Legal? É só isso que consigo dizer? Acho que vou me matar depois.

– E você?

– Fiquei aqui mesmo... Trabalhando!

– Certo... E... Conheceu gente nova? – Não acredito que eu perguntei isso pra ele.

– Se quer saber se arrumei outra garota, é só me perguntar diretamente!

– Desculpa... Não tenho que me intrometer na sua vida...

– Mas?

– Encontrou?

– Não! Ninguém... E você?

– Não!

– Por quê? – Agora quero saber tudo, o que ela andou fazendo.

– Bem... Por que... Por que...

– Por quê?

– Por que eu não consegui te esquecer nem mesmo um minuto que fosse Heero! - Senti meu rosto sendo molhado pelas lagrimas, enquanto ele me olhava ainda sem reação. – E alem de te amar... Ainda estou grávida de um filho seu! – Não sei como, mas de repente, falei tudo!

...Continua...