Uma garotinha caminhava pelas noites. Mitsue Noboyuki dizia em sua mochila.

- Tenho que ir logo... Eles devem estar preocupados comigo... – a menina caminhava desavisada.

Naquela noite, ia encontrar seus parentes queridos que há muito não via.

- Estou com tanta saudade de vocês... – suspirou.

Passou entre lugares interessantes, passou entre praças bonitas. Até avistou a torre que continha o relógio. Nada, nada poderia chamar mais a atenção que aquilo. Fora dado à cidade como presente. Talvez colocado ali para que todos pudessem ver se algo aconteceria.

Parou por um instante para fitar a coisa. Era grande, estranha, como se fosse até mesmo demoníaca. Decidiu tocar nela. Nesse momento, uma forte luz branca encheu o ambiente. A menina então acabou desmaiando, talvez pela irradiação de tanta luz.

Depois disso, só se lembra de acordar no hospital.

- Sabe seu nome, mocinha? – disse uma gentil doutora.

- Mitsue Noboyuki, senhora. – disse a menina esfregando os olhos para ter certeza de que estava enxergando.

- Quantos anos você tem? – a doutora ouvia a jovem e anotava numa prancheta suas respostas. - 14. – dizia a garota parcialmente entediada.

- Bom, me parece que está bem. Aquela garotinha que veio na ambulância é sua amiga ou parenta? - Quem? A garota a quem a médica se referia, desaparecera como que por mágica.

- Oh... Deve ter ido embora... Se não passou aqui para vê-la, provavelmente eram desconhecidas. Bom, por via das dúvidas, você ficará aqui essa noite, para entrarmos em contato com seus pais.

- Mas meus pais estão na América... Só estou aqui para morar com meus tios por uns tempos.

- Entendo. Passe-nos o telefone deles e iremos entrar em contato com eles. A jovem Mitsue apenas ficou observando enquanto a médica anotava seus dados. Olhou para o vidro da janela. Viu-se refletida. Era uma jovem comum de cabelos castanhos na altura dos ombros e olhos escuros. Tinha um corpo magro e quase sem curvas. Olhou-se profundamente e por um instante viu um outro rosto refletido, um rosto que não era o dela. Pode fitar com clareza olhos púrpura no vidro. Assustada, voltou-se para a médica, tentando esquecer o ocorrido.

A certa distância dali...

- O filme foi maravilhoso. Tinha de tudo...

- Sim... Nem o romance foi uma parte chata... Um doce e jovem casal de namorados vinha conversando sobre o seu encontro.

Caminhavam sem pressa. Sabiam que em breve teriam que separar-se. Mesmo que fosse só por uma noite, pareceria uma eternidade. - Bem, parece que é isso, Riku... – disse o jovem ao chegar numa casa imensa.

- Sim... – disse a garota um pouco envergonhada. Beijaram-se então. Um beijo doce, romântico e carinhoso. - Nos vemos na escola amanhã, Daisuke... – disse a jovem acenando.

- Até amanhã... – disse ele a deixando na porta. De súbito, sentiu um calafrio. Esfregou um pouco os braços descobertos e correu para casa. Voltou para casa contente. Em breve, faria um ano que estava namorando sua querida Riku Harada.

- Riku... Você me faz tão bem... – era o pensamento dele. – Um dia, pretendo pedir que fique comigo para sempre... Que seja... Minha... Esposa... – suspirou enfim. Ao chegar a sua casa, foi na ponta dos pés. Tinha certeza que o resto da família estava dormindo. Puro engano. A casa estava vazia. Olhou para os lados. Nem sinal de sua mãe, ou pai, ou avô... - Onde estão todos? – perguntou a si mesmo enquanto andava pelos corredores escuros – Eles devem voltar logo... – subiu para seu quarto e voltou a pensar em sua amada. Seu coração acelerou mil vezes talvez. Sentiu uma dor em seu peito. Uma agonia familiar... Tanto quanto sentiu há um ano antes. Um ano antes... As noites em que ainda se tornava ladrão fantasma... Mas não poderiam ser as mesmas dores... Dark agora estava selado dentro do famoso monumento Asas Negras... Ele e seu rival branco, Krad. Seria impossível que ele ou eles estivessem livres novamente...

Ainda que pudessem se libertar, precisariam de tempo para recuperar as forças... Muito tempo. Mas seus membros estavam crescendo, estava tornando-se adulto novamente. Tornando-se: Dark Mousy, o lendário ladrão fantasma outra vez... Os olhos e cabelos púrpuros que bem conhecemos... Um torneado corpo esguio. Asas negras que lhe rasgaram as costas. Esse era de fato, Dark, que por alguma razão, não fazia idéia do porque de estar vivo novamente. Ainda mais tão cedo assim...

- O que está acontecendo? Onde estou? Krad? – o anjo olhou em todas as direções procurando pelo rival, mas não encontrou ninguém. – Essa é a casa de Daiki... Mas... Eu pensei que tinha acabado... Eu o derrotei! Como posso ter voltado para cá? Será que se passou uma geração? Será que estou no corpo do filho de Daisuke?

- “Dark?” – disse o garoto perdido em seu interior

– “O que houve? Por que está aqui?” – o menino também encontrava-se perdido.

- Não faço idéia. Mas se eu estou aqui... É provável que seu amigo comandante também esteja com o maldito... Agora, mudando um pouco o assunto... – disse num debochado sorriso malévolo – O que você estava fazendo antes de voltar pra casa? Daisuke teria ruborizado se estivesse no controle do corpo.

- “Passeando com Riku, por quê?”.

- Porque seu coração estava batendo desesperadamente... Está tão apaixonado assim?

- “Sim...”. – disse Daisuke com um leve brilho no olhar.

- Que gracinha... – disse num deboche. – Ainda bem que você se encontrou.

- “Éh... Dark, estou pensando numa coisa...”.

- O que?

- “Como vamos destrocar?”.

O anjo pensou por um instante. Bom, agora que já percebera que não sentia nada por Risa, olhar a fotografia dela não resolveria muita coisa. Riku também não lhe inspirava paixão como fazia à Daisuke.

- Acho que não vamos destrocar... Ficaremos assim eternamente.

Uma voz grita das escadas lá embaixo:

- Dai-chan! – a voz de Emiko, agradável e vibrante ecoava pela casa. – Ela chegou!

- Ela? Ela quem? – disse Dark todo curioso. Quando se tratava de senhoritas ele era o primeiro a querer se envolver no assunto.

- “Minha prima Mitsue veio para morar conosco durante um tempo, já que os pais dela foram pra América”.

- Sua prima, é? E ela é bonita? – disse o anjo já pensando mil e uma coisas.

- “Pare de pensar essas coisas. Minha prima é muito mais nova que eu… Deixe de ser pervertido...”.

- Ok, ok... Mas se quiser vê-la, terá que descer assim...

- “Oh, Santo Deus... Você tem toda a razão... Não posso deixar que me vejam assim...”. – Passos na escada. – “Rápido, Dark, debaixo das cobertas!”. O jovem obedeceu. Escondeu-se dentro das cobertas, mantendo apenas os olhos de fora.

- Primo! – disse a jovem abrindo a porta. – Por que tá se escondendo de mim? – disse com um tom até meio triste.

Dark forçou uma tosse. E falou da forma mais Daisuke que conseguia:

- Estou um pouco doente. Deve passar logo. – olhou para a garota analisando-a. Viu o relance do que parecia ser um anjo. Mas um anjo fêmea. Como poderia? Isso não poderia ser verdade... Não houve tempo para que pudesse continuar pensando sobre o assunto.

- Então você está aí, maldito rato! – era a voz de um anjo orgulhoso, até mesmo insano, poderia dizer-se sobre ele. Invadiu a casa pela janela. A jovem Mitsue caiu sentada no chão ao ver aquele anjo de cabelos longos e louros apanhar seu primo pelo pescoço.

- Dai-cha... – Quando a menina olhou direito, pode notar que aquele não era seu amado primo... Era um... – Anjo? Dois anjos no quarto do meu primo? Ahhhhhhhhhhhh! – gritou a menina. O resto da família subira as escadas para ver o que se passava.

Qual não foi sua surpresa ao ver Dark e Krad prontos para a luta. O anjo branco atirou o ladrão fantasma janela a fora. A garota estava estática. Quem poderia ser aquele? Na parte dela da família, jamais se ouvira falar sobre o ladrão fantasma, muito menos que esse tinha um rival branco.

- Hoje você vai deixar de existir! – disse o anjo branco sacando sua pena.

- Céus, você nunca desiste? – perguntou Dark num deboche – Você já está derrotado... – disse seu rival negro sacando sua própria pena.

Continua no próximo episódio...