Diário De Uma Adolescente Tímida

Problemas com nota e negócios


Hiashi saíra cedo àquela manhã. Andava muito agitado e não conseguia ter uma boa noite de sono há alguns dias já. Sua aparência não deixava dúvidas quanto a isso. As olheiras abaixo dos olhos eram visíveis, o cansaço não passava despercebido e a falta de atenção do homem já estava afetando na hora do trabalho.

Ele pegou a xícara de café ainda quente à sua frente e a encarou.

Como estava acontecendo nos últimos dias, tudo a lembrava. Sua agitação, distração e más noites de sono eram todas por culpa da data que, daqui a uma semana, chegaria. Era tudo por causa dela. Sentia-se angustiado e agoniado, principalmente por que aquela não era a primeira vez mais que sentia isso. Era a terceira.

Daqui exatos seis dias, 19 horas e 56 minutos completaria o segundo ano de falecimento da sua amada Hiromi.

Aquele escritório, aquela decoração, o cheiro do café, tudo o fazia se lembrar e se culpar por aquilo. E o pior é que ele sabia das coisas que o fariam lembrar-se dela, mas mesmo assim não se desfazia delas. Não consegui e nem podia. Apesar de parecer forte e decidido para seus filhos e pessoas de sua convivência, Hiashi sabia o quão fraco e ferido estava.

A batida na porta o tirou de seus devaneios e o fez pensar por quanto tempo ficara fora do ar olhando para a xícara em suas mãos. Colocou-a na mesa e ordenou que, seja lá quem for que estivesse do outro lado, entrasse.

– Ohayo, Hiashi-san – a contadora da empresa trazia a papelada do mês. Era uma moça muito bonita. Uma jovem de cabelos negros curtos e lisos, calma e gentil, que, na opinião de Hiashi, era completamente madura para sua idade.

– Ohayo, Shizune.

– Kizashi-san mandou que lhe trouxesse esses papéis, pois estava ocupado. Disse que saberia o que fazer. – lhe estendeu os mesmos.

– Arigatou – o Hyuuga agradeceu – Terá de sair mais tarde hoje, Shizune. – ele emendou o assunto. – Teremos uma reunião aqui pela tarde para discutir os negócios futuros. Dessa forma, na sexta dispensar-te-ei mais cedo.

– Sem problemas. Ficarei o quanto precisar. – ela reverenciou o mesmo e retirou-se do escritório.

O outro, por sua vez, apressou-se em olhar a papelada. Tirou-a do envelope e começou a folhear.

Não prestou muita atenção nas páginas que tratavam de imposto de renda, gastos mensais nem mesmo quando aos lucros. O que o prendeu foi ver que não estava mais em primeiro lugar na classificação das melhores empresas para receberem em capital. Passara para o segundo colocado. E o que o deixou mais bravo ainda, foi constatar os Uzumaki ocupavam o primeiro lugar.

~

Naruto, novamente não estava entendendo absolutamente nada do que Asuma estava falando. Matemática já era chato e agora estava ficando impossível em sua opinião. Nunca fora bom na matéria e cada vez ficava mais complicada. Por mais que tentasse prestar atenção, aquilo não fazia sentido nenhum.

Faltava meia hora para que as duas aulas acabassem e o sinal tocasse, e durante todo esse tempo não entendera nada. Como vai conseguir passar nas provas desse jeito? E voltar a sair com seus amigos? Será que seu pai o deixaria continuar no basquete? Ele duvidava que só estivesse treinando basquete ainda, pois já havia se comprometido com o campeonato contra a Spence High School.

Suspirou longamente. Asuma deixou alguns exercícios no livro para fazer e começou a passar outros na lousa. Naruto começou a copiar, ainda que estivesse preocupado com seu desempenho.

Seus pais já haviam tentado lhe explicar de todos os modos possíveis, procuraram vídeo aulas na internet, páginas que explicassem, até um professor particular contrataram, mas nada adiantou nem 10% do problema.

Seus pensamentos continuaram a flutuar pela sua cabeça até o sinal tocar. Juntou suas coisas e guardou na mochila, logo em seguida seguindo para a porta, cabisbaixo e sem esperar por ninguém, afinal, era um dos únicos que ficara na sala. Nas circunstâncias atuais, nem se importou com isso.

Caminhou pelos corredores pouco movimentados da escola sem prestar atenção por onde andava até esbarrar em um corpo frágil que teria caído no chão junto com suas coisas se não o tivesse segurado.

Ao encontrar os olhos perolados da garota, sentiu-se perdido por um instante, como se não existisse mais nada além deles. Balançou a cabeça levemente para se livrar daquela sensação incômoda.

– Gomem – ele disse, abaixando e pegando o livro “As Vantagens De Ser Invisível” do chão (já que derrubara) e entregando de volta a ela. – Hina. – completou inconscientemente, fitando-a novamente.

Se não fosse graça à Síndrome de Naruto, por ele ser lento e desatento, a face extremamente corada de Hinata teria a denunciado seu nervosismo. Sorte a dela que estava sozinha e ninguém saberia do ocorrido.

Ele caminhou até o portão da escola. Parou ao avistar uma cabeleira rosa e, em seguida, foi em sua direção.

~

Hinata ficou alguns minutos parada para se recuperar. Quando disse que era extremamente tímida, não estava exagerando em nenhuma parte.

Naruto a havia chamado por um apelido? Desde quando ele a chama de “Hina”? Aquilo foi o suficiente para fazer a mesma sentir o coração saltar pela boca e ficar sem nenhum vestígio de que suas cordas vocais ainda funcionavam e/ou produziam algum som.

Inspirou e expirou algumas vezes até conseguir se recompor (pelo menos sua respiração voltar ao normal, pois ainda sentia seu rosto queimar).

Terminou de pegar as coisas do seu armário e colocar na mochila. Seguiu pelo mesmo caminho que Naruto até achar o portão de saída da escola. Hoje seu primo não teria treino, logo não demoraria muito para que Mitsuo chegasse.

Decidiu então, procurar pelo primo. Andou pelo gramado da frente da escola procurando-o no meio dos estudantes.

– Hinata! – Kiba estava encostado na parede ao lado de Shino.

– Yo – cumprimentei-os – Fazia tempo que não via vocês por aqui. O que houve? – perguntei, aproximando-me deles.

Ambos eram um dos poucos amigos que eu tinha na escola. Há alguns anos nos conhecíamos. No Fundamental II estudávamos na mesma sala.

– Eu arranjei um trabalho de meio período – explicou Kiba – Estou ajudando no Pet Shop aqui de Konoha.

– Criando insetos – Shino não era de muitas palavras mesmo que se tratasse dele.

– Que legal – disse a garota sinceramente. Gostava de ver os amigos empolgados, principalmente depois de ficar um tempo sem falar com eles.

– Qualquer dia eu levo você para conhecer os filhotinhos de lá – prometeu o Inuzuka.

– Vou adorar – respondeu a Hyuuga simpática. – Vocês viram o Neji? – questiona.

– No pátio – Shino respondeu.

Hinata despediu-se dos garotos e foi procurar o primo.

~

– Sakura – Naruto chamou a garota que conversava com a Yamanaka. – Você viu...

– O Sasuke passou aqui agora a pouco – adivinhou. Sasuke sempre dava um perdido em Naruto para agarrar as calouras do primeiro ano caidinhas por ele. Era sempre assim. – Naruto – ela percebe a preocupação do mesmo – O que aconteceu? Por que está com essa cara?

– Eu ainda estou com problemas com as notas e ainda por cima não estou conseguindo entender nada do que os professores explicam – ele fez um beicinho. Antes que a outra pudesse responder, ele disse – Eu preciso ir. Ja ne, Sakura. Ja ne, Ino.

Ambas ficaram sem reação e se olharam como se perguntassem "O que houve aqui?", mas logo esqueceram e voltaram a conversar.

Naruto finalmente sai pelo portão da frente da escola. “Ela não precisa se preocupar comigo” pensou. Ele era apaixonado por ela há um bom tempo, e achou que era melhor não compartilhar com ela seus problemas. Afinal, ela provavelmente tinha os próprios para cuidar já.

Ficou parado, recostado na parede e observando a sua volta, procurando por Sasuke. Tinha que perguntar quando ficariam na escola novamente para treinar.

Foi quando encontrou novamente a Hyuuga. Ela estava ao lado de Neji e seguiam em direção a um carro preto parado quase na esquina da escola. Ambos pareciam não proferir nenhuma palavra. Naruto, por alguma razão desconhecida pelo mesmo, correu em direção aos dois.

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Hiashi estava furioso. Desde que se tornara sócio dos Haruno, os Uzumaki estavam tento uma taxa de crescimento mensal muito alta. Ele avisara Kizashi mais de uma vez que isso poderia acabar se tornando um problema futuramente por serem do mesmo setor que eles. Mas ele escutou? É óbvio que não!

Pela primeira vez depois de muito tempo estava se sentindo assim. Até as lembranças de Hiromi haviam ficado para trás depois de ver a posição da empresa no ranking. Era um absurdo!

Bateu com força na mesa e pegou o telefone, discando o número de Hizashi.

– Alô, Hizashi?

– Hiashi?

– Compareça na empresa em vinte minutos para a reunião. Não falte. – e sem esperar uma resposta, desligou o telefone.

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– Neji-chan! Hina-chan! Esperem! – o ar de tristeza dele já havia sumido.

A menina já começou a corar violentamente enquanto ele se aproximava.

Chegou ofegante.

– Neji, quando vai ter outro treino?

– Amanhã depois da aula. – ergueu uma sobrancelha - Pensei que o Gai-sensei tinha dito isso ontem.

– Ele disse, mas eu esqueci – Naruto colocou uma das mãos atrás da cabeça e riu sem humor. Enquanto isso a Hyuuga apenas observava sentindo seu rosto queimar. – Acho que eu não vou poder ir – disse ele depois de uma pausa.

– Por que não?

– Problemas com as notas. E como o jogo vai ser no período de provas...

– Hum – Neji bancou o monossilábico. Ficaram em silêncio até o mesmo quebrar o silêncio – Por que não pede ajuda para alguém e não estudam juntos? – sugeriu.

– Não sei... Meus pais já fizeram de tudo e não conseguem fazer com que a matéria entre na minha cabeça. Até um professor particular já contrataram.

– Mas e com algum amigo? Já tentou? – Naruto o olhou com uma cara de interrogação – Um amigo às vezes consegue te explicar melhor do que um professor. – explicou Neji visivelmente impaciente. – No Fundamental Hinata me ensinava à matéria quando eu ficava doente. Tenho certeza que ela explicou melhor do que qualquer professor faria. – esse comentário fez com que o Uzumaki se voltasse para a menina. Ela, por sua vez, colocou a mão em cima da boca, desviando o olhar e corando ainda mais.

Não demorou muito tempo para que Naruto saísse correndo como alguém que acabara de ter uma ideia genial.

– Aonde você vai? – gritou Neji.

– Procurar a Sakura de novo – berrou de volta – Vou pedir para ela me ajudar. Vai que assim ela presta mais atenção em mim. E também... – ambos não conseguiram escutar o final da frase, pois o loiro já estava longe. É claro que isso fez a Hyuuga se sentir um pouco mal.

~

Já era noite quando Hinata escutou a campainha tocar. Nunca recebiam muitas visitas, ainda mais agora.

Parou de fazer a lição e foi em direção à saída do quarto, a fim de descer e atender a porta. Porém, ao chegar ao corredor, quase é atropelada pelos rápidos passos do pai, como se fosse fazer o mesmo que a filha, porém com uma diferença: parecia bravo e preocupado com alguma coisa.

Ela ficou na ponta da escada, observando Hiashi.

Ele atendeu a porta. Por alguns segundos, Hinata não teve visão de quem eram os visitantes, mas logo depois pode reconhecer as três figuras que adentravam a casa.

Haruno Kizashi e seu tio Hizashi passaram pela porta de entrada, logo após cumprimentar seu pai. O clima não era um dos mais agradáveis. Apenas pelo olhar, Hinata pode deduzir que vieram tratar de negócios.

Ela caminhou em direção a eles, cumprimentou-os gentil e educadamente.

– Hinata, tire sua irmã da sala. Vamos ficar aqui. – a garota anuiu e chamou Hanabi, subindo com ela para seu quarto.

Ao adentrarem o cômodo, a menor questionou:

– Por que o pai da Sakura está aqui?

– Acho que eles vão conversar sobre a empresa, Hana.

– Oh... – foi o que pronunciou.

– Quer ver um filme? – sugeriu a mais velha, pois sabia que a noite seria longa, tanto para elas, quanto para o pai e o tio.

~

– Os Uzumaki nos passaram Kizashi! – começou Hiashi. – Eu avisei mais de uma vez! Que tipo de sócio você é? – tentava não perder a compostura.

– Eles nos passaram, mas vamos ganhar deles novamente! – o outro retrucou – Estamos passando por momentos delicados, eu sei, mas eu achei um bom investidor. – comentou – Ele ficou interessado na nossa empresa e achou que nós valemos a pena – Kizashi estava confiante de suas palavras.

– Que tipo de investidor você encontrou? – Hizashi se pronunciou.

– Um dos melhores no ramo tecnológico que pretende compartilhar a própria experiência e avanços conosco. – ele fechou os olhos como se estivessem pensando.

– Não me diga que...

– É isso mesmo que você acha Hiashi. – a calma já tomava conta dos três – Os Uchihas.

~

Hinata não escutava mais nada. Nem um sinal de vida vindo da sala. Já havia tomado banho, colocado o pijama, feito sua higiene pessoal e estava assistindo já ao segundo filme da noite. Isso tudo e ainda não eram nem 22h00.

Hanabi adormecera em sua cama enquanto a irmã terminava a lição. Apesar de ter 12 anos, Hana não era uma das garotas que ficava acordada até tarde da madrugada, principalmente durante a semana.

Hinata desceu as escadas até o último degrau, mas depois parou. Queria ir para a cozinha tomar água antes de dormir, porém achou que pareceria intrometida ou que pareceria estar escutando a conversa deles. Assim, desistiu da ideia.

Começou a subir os degraus de volta quando algo a fez parar novamente.

– Provavelmente os Uzumaki também vão atacar... – Ao escutar aquele sobrenome, seu coração acelerou e a fez parar para escutar. – Quando declararmos guerra, mesmo que indiretamente, eles vão revidar... – eles falavam muito baixo, por isso muita coisa ela não conseguia entender.

Sentiu-se mal por um momento. Estava espiando o próprio pai! Ela não fora criada para fazer coisas nesse estilo. Mas algo a prendia ali e a fazia continuar a escutar.

– ... Eles podem acabar usando meios sujos também... – deduziu que fosse o tio falando – Quem sabe como eles podem atacar e quais são os seus sócios?!

– Tem razão – Kizashi concordou um pouco mais alto, mas logo baixou a voz - ... Nem sabemos quem são os sócios dos Uzumaki, então não fazemos ideia de quem é amigo ou não....

– Seremos cautelosos – depois disso, Hinata resolveu subir ao ouvir eles se levantando de suas respectivas cadeiras.

Seguiu até o quarto sem fazer barulho. Abriu a porta com calma para não acordar a irmã e fechou da mesma forma. Iria dormir agora, mas não podia. Sentia-se obrigada a escrever.

Acendeu o pequeno abajur em cima da escrivaninha e deixou com uma luz baixa. Pegou seu mais novo diário, abrindo-o para começar.

Mamãe,

Eu ia dormir, mas eu preciso muito falar com você duas coisas essenciais.

A primeira é sobre o que ocorreu na escola... O Naruto me chamou por apelido duas veze! Isso nunca aconteceu nenhuma vez em todos os anos que eu estudo com ele! Foi algo tão idiota, que só serve para me iludirem cada vez mais. No entanto, eu não consigo não sentir nada, mesmo pelas coisas mais imbecis como essa. Enfim...

A outra coisa: Mamãe, daqui alguns dias fará dois anos desde sua partida. Estou preocupada com o papai. Além desse detalhe, algo nos negócios está ficando bem tenso. Eu sei disso. Eu sinto isso. A reunião aqui de casa me fez ter certeza quando a isso.

Eu estou de certa forma com medo. Por favor, mamãe, me ajude em qualquer que seja os problemas que podem surgir daqui para frente, onegai.

Eu preciso descansar. Amanhã será um dia cheio. Mas prometo que escreverei mais nos próximos dias sobre os acontecimentos. Afinal, tem coisas que não se conta nem para melhores amigos.

Beijos com muito amor e carinho.

Hinata Hyuuga.”