28 de julho de 1712

Jesse desceu para falar com os criados e eu fiquei na cama, acho que fico mais na cama do que em qualquer parte da casa, mas hoje eu precisava esticar minhas pernas. Coloquei uma roupa e desci para o jardim. Eu não sentia mais tanta necessidade de sangue já que eu bebia de Jesse todos os dias e ele gostava. O sangue dele era forte, gostoso me fazia me sentir melhor a cada gota.

Distanciei-me da casa durante minha corrida, mas conforme eu me aproximava eu ouvia a voz de Kurt.

_Você só pode estar louco Jesse?!

_Kurt não importa o que você acha.

_ Vocês dividem sangue feito dois morcegos e você acha isso normal?Quanto você está precisando beber para alimentar vocês dois? Isso vai acabar com você Jesse.

_ Cale a boca!

_Estou mentindo?

_Cale a boca!

Eu entrei na casa e é claro que Jesse me ouviu.

_Lea?!

_Oi!

_Como foi o passeio?_ Jesse perguntou com um sorriso no rosto.

_Bom!_ Kurt não me olhou, não sei por que ela estava tão diferente, tirando o fato de eu ter tentado beber seu sangue, acho que não tinha motivo._ Kurt?! _ Eu a chamei, precisava me desculpar.

_Sim Lea! _ Ela não se virou.

_Me desculpe, por ter tentado lhe morder.

_Não precisa pedir desculpas, afinal eu estou bem. _ Kurt se virou e me encarou. Jesse estava tenso do meu lado.

_Venha Lea tem algo que eu quero lhe mostrar._ Ele me puxou.

Eu não conseguia parar de pensar no que Kurt havia dito para Jesse “ Isso vai acabar com você Jesse”.

Ele me levou para trás da casa, tinha uma trilha, andamos devagar de mãos dadas.

_Para onde está me levando?

_Um lugar onde gostava muito de ir quando eu era criança! _ Ele disse sorrindo sem vontade, parecia não querer falar, era como se aquele caminho o fizesse lembrar-se de coisas boas e ruins, pois sua expressão intercalava entre um leve sorriso e trancadas de maxilar. Fiquei calada, a casa ficava distante e um barulho de água invadia meus ouvidos.

_Esse barulho é de uma nascente?

_É pode se dizer que sim! _ Ele começou a correr e eu o segui. Chegamos a um lugar magnífico, águas transparentes com um brilho azul maravilhoso, pequeno raios de sol batiam na água deixando o cenário ainda mais perfeito e lindo. As árvores eram grandes e faziam sombras nas pedras em volta da queda d’água.

_Aqui é lindo!

_Imaginei que fosse gostar, talvez faça você se sentir mais em casa._ Ele sentou em uma pedra, olhando para a queda d’água que formava um poço no fundo que lembrava o lago onde eu mergulhava com minha mãe.

_Obrigada!

_Você merece muito mais! _Fiquei olhando para a água e sentindo aquele cheiro tão delicioso. Então percebi o olhar distante de Jesse.

_O que estar acontecendo?

_Nada!

_ Porque Kurt está bravo?

_Porque você tentou mordê-lo?! _ Ele riu.

_Não é por isso. _ Eu sentei ao seu lado, ele passou o braço em volta dos meus ombros._ Não quer me contar?

Ele ficou em silencio o que me deixou irritada.

_Porque ele disse que me dar seu sangue vai acabar com você? _ Ele não me olhou, e mordeu o canto da boca. O silêncio continuou e eu me levantei.

_Aonde vai?_ Ele perguntou.

_Para casa. Você não quer conversar.

_Não me leve a mal Lea, é que falar sobre isso é muito chato.

_Somos casados certo? Vamos dividir uma eternidade, nada mais justo que você dividir comigo seus problemas._ Ele soltou um sorriso e me puxou para seus braços, em um puxão que quebraria meu braço se eu fosse humana.

_Por isso que eu amo você. _ Nossos lábios se encaixaram, mas eu me afastei quando o arrepio começou a tomar conta de meu corpo, não queria deixar aquele momento passar.

_Fale-me_ Ele focou novamente a água.

_Minha mãe era uma sacerdotisa, ela era casada com a natureza. Ela dizia que éramos filhos da terra e a terra era nosso pai.Vivíamos nós seis nessa casa.

_Seis?

_Eu, Noah, Kurt, Emily, Joe e minha mãe.

_Joe?

_Joe era o filho mais velho, ele cuidava de mim e dos gêmeos. Minha mãe nunca foi de ficar conosco, ela dizia que a natureza a esperava. Ela ficava dias, às vezes meses fora, a natureza nos criou, as árvores nos davam comida, os animais muitas vezes suas vidas e os rios suas águas.

_Mas... _Desisti de falar, pois Jesse focava na água como se tudo aquilo estivesse sendo tirado do fundo de sua memória. Calei-me.

_Uma vez ela demorou demais, era no fim do outono as arvores já estavam sem frutos e os animais haviam sumido, estávamos com medo. Então junto com uma chuva ela voltou grávida de Noah. Naquele dia eu sabia que tudo mudaria. Os dias passaram e Noah nasceu, um bebe lindo que encantou todos nós, então achamos que com a chegada de Noah tudo seria diferente e nossa mãe ficaria conosco para sempre, sem esses encontros com a natureza, porém nos enganamos e suas saídas voltaram assim que Noah começou a andar. Pelo menos as viagens eram mais curtas, ela nunca falava o que ela fazia somente dizia que ela pertencia à natureza.

Nossa família sempre ficou afastada da civilização, se é que se pode chamar aquilo de civilização. _ Jesse soltou um sorriso. _Crescemos, ficamos adolescentes, adultos e cuidávamos bem de nossas vidas, Noah tinha uma namorada, uma camponesa muito doce e gentil, eles se casariam assim que nossa mãe voltasse.

Tudo caminhava muito bem até que Noah ficou doente, muito doente,curandeiros não sabiam dizer o que ele tinha, tentamos ervas, flores, orações, magia e nada. Ele continuava mal, todos ficamos desesperados, Noah era o caçula eu tinha a obrigação de cuidar dele, todos nós tínhamos. Quando minha mãe voltou era tarde demais a doença tinha estragado seu corpo, ele não comia, não bebia, mal conseguia respirar.

A culpa tirou completamente a razão de minha mãe, ela culpou a natureza, por não avisá-la da doença do seu filho e isso a fez fazer um feitiço que era contra as leis que ela mesma sempre protegeu a vida inteira. Ela deu vida eterna a Noah e a todos nós. Kurt e Emily se recusaram a aceitar, eles foram embora de nossas vidas, pois para que o feitiço não os envolvesse eles precisariam negar nossa família e foi isso que eles fizeram. Negaram todos nós e se foram, eu não poderia fazer isso, pois amava demais Noah para deixá-lo sozinho a eternidade, pedi que Joe não fosse me sentia mais seguro com ele ao meu lado, ele como irmão mais velho não negou meu pedido.

O que não esperávamos era que a natureza ficasse tão brava conosco, ervas e frutas não nos alimentavam, eram como vento em nosso estomago, a água não matava mais nossa sede, os animais tinha medos de nós e o sol queimava nossa pele. Tudo estava errado, minha mãe nos amaldiçoou sem saber. A fome nos transformou em predadores de nossa própria espécie._Jesse tinha os olhos tristes eu o abracei.

_Cadê Noah e Joe?_ Me arrependi da pergunta em seguida.

_Nós brigamos há muitos anos.

_Por quê?_ Me arrependi novamente.

_ Noah me culpou por ter deixado nossa mãe nos amaldiçoar com a vida eterna. Joe também me culpou por ter pedido a ele que ficasse então nos afastamos para sempre.

_Que triste Jesse!_ Eu beijei seu pescoço e rosto, mas ele não parecia perceber meus beijos.

_Kurt e Emily voltaram anos depois, eles nunca falavam como e nem porque voltaram, mas acredito que seja para poder cuidar de nós, eles se dividiram. Emily foi para casa de Noah e Kurt ficou comigo.

_Kurt e Emily se falam?

_Talvez, não sei. Kurt nunca fala nada.

_Porque vocês se tratam de um jeito tão formal, se ele é seu irmão?

_Ele não é mais Lea, eles negaram a família e só voltaram para não deixar que nós fizéssemos muito estrago na humanidade._ Ele soltou um sorriso.

_Mas Kurt se preocupa com você!

_Tenho certeza que sim. Mas ele prefere ser tratada desse jeito e eu respeito.

_Você deveria pedir desculpas para seus irmãos. Diga a eles que você teve medo de perdê-los, eles vão entender!

_Talvez um dia.

_Eu posso ir com você.

_Não! Melhor não! _ Ele falou rápido e indócil.

_Você quem sabe. _Disse me jogando no seu colo, ignorando seu tom, ele me deu um beijo e ficamos ali ouvindo aquela água durante algumas horas. Eu queria perguntar muitas coisas, mas preferi me calar.

29 de julho de 1712

Passamos a noite fora de casa com o barulho da água se misturando com nossos gemidos.

30 de julho de 1712

A vida com Jesse é melhor do que eu poderia imaginar, seu sangue me faz querer mais vida.

01 de agosto de 1712

Jesse saiu novamente para caçar, eu queria muito ir com ele, mas não me sinto pronta para tirar a vida de ninguém. Jesse diz que podemos morder sem matar a pessoa, é só ter controle. Mas preferi ficar em casa.

05 de agosto de 1712

Jesse saiu para caça novamente, suas caçadas estão cada dia mais frequentes, ele diz que tem a ver com minha fome que aumenta cada dia mais. Começo a pensar na frase de Kurt, será que ela tem razão?

06 de agosto de 1712

Não aguentei meus pensamentos e fui falar com Kurt.

_Kurt! Preciso falar com você.

_Pode falar senhora.

_Porque disse que se Jesse continuar me dando seu sangue isso vai acabar com ele?

_Eu não disse isso!_Kurt me olhou nos olhos de um jeito assustador.

_Disse sim!_ Confirmei encarando-o.

_Lea a senhora sempre se sente mal quando Jesse está fora, tente subir que já vou lhe preparar um banho.

_Kurt se algo faz mal a ele eu preciso que você me diga, afinal ele é seu irmão.

Kurt ficou em silencio durante alguns segundos então abaixou a cabeça desviando o olhar do meu, em seguida voltou a me olhar.

_Quanto mais sangue um vampiro ingere menos humano ele fica, Jesse está ingerido sangue o suficiente para manter vocês dois vivos, daqui a pouco o Jesse que você conhece vai sumir. Agora, por favor, vá para seu quarto.

_Porque ele não me contou?_ Kurt me deu as costas como resposta.

_Pensei que você gostasse de mim.

_Eu pensei que você fosse cuidar dele e não transformá-lo em um mostro. _Ele falou dando ombros.

_Eu não sabia que isso poderia acontecer, ele não me falou nada.

_Lea vá para seu quarto, por favor, não quero que Jesse nos veja conversando.

Eu queria me recusar, mas preferi fazer exatamente o que ele disse.

Jesse não demorou muito para chegar depois que eu fui pra o quarto. Mas eu não consegui falar com ele, o sangue dele me deixava louca e eu não estava preparada para parar de tomar.

07 de agosto de 1712

Kurt tem razão, se eu o amo eu não posso deixá-lo fazer isso, não quero que o Jesse que eu conheço vire um desumano.

Estávamos deitados, Jesse estava de olhos fechados quando eu disse:

_Me ensina a caçar?

_O que?_ Ele abre os olhos_ Está com fome?

_Não! Quer dizer, estou.

_Pode beber._ Ele leva seu pulso até a sua boca eu o seguro antes dele morder.

_Pare! Quero sangue humano.

_Por quê?Não estou sendo o suficiente?_ Ele debochou.

_Quero sair para caçar com você, não quero ficar mais em casa sozinha.

_Não acredito que você quer beber sangue humano só para poder sair comigo, está muito possessiva Lea._ Ele riu.

_Você deixa?

_ Claro amor!Mas isso vai fazer você parar de beber meu sangue? _Ele morde meu dedo chupando as gotas que saem.

_Não! Mais você vai poder beber mais o meu._ Nos entrelaçamos...


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_De novo?! Eles só faziam isso? _ Rachel exclama fechando o diário. Ela anda até a porta para ver se escuta algum barulho. E ri sozinha pensando que ela não tem uma super audição e que não adiantaria nada ela tentar ouvir alguma coisa. Ela vira para voltar para cama quando olha para o quarto, percebe que ele é exatamente do jeito que Lea descreveu no seu diário. A cama enorme, só que sem o véu em volta, a mesa perto da janela, a portinha do banheiro ao lado esquerdo da janela bem longe da cama, a cor vermelha nas cortinhas e no tapete.

Já fazia mais de uma hora que Rachel estava lendo aquele diário e nada de respostas, seu tempo estava acabando e Jesse iria a transformar em vampira logo, logo.

Ela senta novamente na cama e passa rapidamente as páginas do diário parando em:

12 de dezembro de 1712

Nunca pensei que iria dizer isso, entretanto cada dia eu saboreio mais o sangue humano, depois daquele dia que Jesse me fez perceber que não era tão ruim assim matar as pessoas e que elas morreriam de um jeito ou de outro, acho que isso me fez sentir feliz e a melhor parte é que o sexo fica cada dia mais gostoso.

15 de dezembro de 1712

Vamos caçar de novo, isto é maravilhoso!

18 de dezembro de 1712

Voltamos da caçada! Atacamos algumas pessoas, não sei se elas sobreviveram, mas acho que isso não é da minha conta. Em pensar que um dia eu não queria nem provar essa maravilha que é o sangue humano.

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_Meu deus, ela virou um mostro, como? _ Rachel dizia sozinha querendo voltar às páginas e descobrir como Lea começou a beber sangue de pessoas, mas o tempo não estava ao seu favor, ela precisava arrumar um jeito de desfazer o feitiço que a ligava a Jesse.

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01 de janeiro 1713

Eu pensei que não fosse capaz de mudar, mas eu sou. Torno-me a cada dia mais poderosa!

09 de março de 1713

Eu e Jesse somos o casal mais unido que existe. Estou incrivelmente feliz com a nova Lea que me tornei.

07 de julho de 1713

Hoje é meu aniversario. É estranho saber que nunca mais vou envelhecer. Jesse me fez uma festa, mulheres e homens em um cômodo da casa, umas cinquenta pessoas perderam a vida em meu aniversário. Eu queria me sentir culpada, mas acho que não consigo. As pessoas estavam aqui porque queriam dinheiro e sexo, eram pessoas que mereciam a morte. Não vou me sentir culpada por elas, até porque não tenho sentido muitas emoções.

_//_//_

_Meu Deus o sangue fez uma lavagem cerebral em Lea! _ Rachel passa as páginas com pressa e com medo de Jesse voltar a bater a porta.

14 de julho de 1713

Hoje faz um ano que estou casada com Jesse, se meus pais estivessem vivos eles iriam pedir um neto. Talvez uma criança fosse boa, ajudaria a recuperar a antiga Lea, mas filhos são impossíveis em um corpo morto como o meu. Jesse entrou no quarto e atrapalhou meus pensamentos.

_Lea meu amor, eu tenho um presente para você.

_O que?_ Eu digo saindo da janela em que eu olhava para o sol.

_Você é feliz comigo?_A pergunta dele me causou uma dor estranha no peito, uma espécie de sufocamento.

_Sim!_ Respondi rápido com um sorriso, não poderia ter dúvidas, afinal eu era feliz.

_Então refaça seus laços de casamentos! _ Seu sorriso era de uma felicidade incrível.

_Como? O que está aprontando? _ Eu me aproximei jogando os braços em seu pescoço.

_Vamos nos casar para sempre! _ Ele me beijou.

_Não somos casados para sempre? _ Perguntei olhando para o embrulho que estava entre nós e distanciava meu corpo do dele._ O que é isso?

_Vamos nos casar de novo. _ Jesse sorriu e me deu o embrulho, olhei e puxei um vestido azul com detalhes brancos._ Se vista, estou te esperando na sala. Hoje vamos a uma festa.

Eu não perguntei que festa era e nem por que ele dizia que casaríamos de novo. Jesse sempre brincava com as palavras dizendo coisas que ele gostaria que acontecesse, eu já tinha me acostumado com seu jeito. Vesti-me e quando estava pronta desci até a sala onde Jesse estava sentado em sua poltrona com um copo de sangue na mão, Kurt estava na sua frente.

_Já disse para você não se preocupar Kurt!

_Jesse vocês estão matando pessoas como quem mata inseto, você sabe o que isso faz com vocês.

_O que? _ Eu perguntei descendo a escada e Kurt olhou para mim e em seguida Jesse se levantou.

_Não ligue para ele amor, Kurt tem muito amor a vida inútil dos camponeses.

_Pensei que você tornaria Jesse mais humano e não...

_Kurt! _ Jesse levantou o tom de voz e seus olhos ficaram deformados na direção de Kurt. _Cale a boca e se retire. _ Kurt não falou mais nada, porém seu olhar em minha direção era tão forte que quase me fez sentir culpada pelas mortes que eu cometia. Peguei o copo da mão de Jesse, quando eu me sentia nervosa o sangue me acalmava.

_O que está acontecendo? _ Perguntei limpando os lábios e vendo Kurt sumir do meu campo de visão.

_Nada amor, venha! Não vamos deixar que Kurt estrague a sua surpresa._ Ele colocou o braço em volta de minha cintura.

Chegamos a uma festa, tudo bem bonito, pessoas bem arrumadas e decoração muito elegante, nunca Jesse tinha me colocado junto com tantos humanos, o cheiro deles me fascinava, era incrível. Olhei para Jesse e ele sorriu como quem soubesse o que eu estava pensado, sentamos em uma mesa, muitos homens vinham cumprimentar Jesse e ele me apresentava como sua esposa, cada mão que eu apertava meu estomago se revirava. Bebíamos vinho para amenizar a fome, pena que para mim parecia inútil.

As apresentações começaram, homens falando de café, agricultura, gado e monte de coisas que pouco me interessava, eu olhava para todos na festa, queria escolher o melhor prato. Poucos minutos depois Jesse foi para lá se juntar aos homens então todos os cumprimentaram pelo casamento com a linda dama, que era eu, fingi morrer de vergonha a cada olhada deles, mas no fundo estava louca para beber todo sangue das artérias daqueles homens e mulheres sem a menor timidez.

Quando todo aquele discurso acabou e Jesse voltou a se sentar ao meu lado, segurei sua mão e disse:

_Estou ficando com muita fome. Essas pessoas tem um cheiro..._ Ele tampou minha boca, suas sobrancelhas se curvaram e seu maxilar trancou. Antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo Jesse diz:

_O que faz aqui?_ Fiquei confusa e olhei para trás, um homem forte se aproximava de nós, Jesse ficou de pé e o encarou.

_ Será que nunca vou conseguir te surpreender!_ Diz a voz debochada bem próxima de mim, virei o rosto par Jesse.

_O que está fazendo aqui Noah? _ Disse Jesse não tirando os olhos dele.

_Sente-se Jesse, não queremos chamar atenção, queremos? _Olhei Noah, ele era aparentemente bonito, com olhos claros e cabelos escuros, pele morena e um tom debochado no rosto.

_Com licença senhorita. _ Ele se curva em minha direção. _Deixe-me apresentar, sou Noah e você?

_Deixa-a em paz! _ Jesse diz sentando-se novamente. Noah pega minha mão e a beija dizendo:

_Não sabia que existiam vampiras tão lindas e charmosas como você. Posso me sentar ao seu lado? _ Meus olhos encontram os deles, não falei nada, mas ele sorriu puxando a cadeira e se sentando ao meu lado.

_ O que faz aqui? _ Perguntou Jesse intercalando o olhar entre eu e Noah. Eu temia muito mais a fome que eu sentia do que a presença do irmão de Jesse.

_ Festa dos fundadores uma tradição da família.

_Você não é bem vindo!

_Na verdade nenhum de nós era até você comprar metade da cidade e passar a ser querido por eles. _ Noah fechou seu sorriso, trancou o maxilar e voltou a sorrir novamente.

_O que você veio fazer aqui? _ Perguntou Jesse para Noah novamente.

_Um banquete. Afinal não estou nas suas terras Jesse, posso comer a vontade, até porque na sua terra só tem gente morta. –Ele sussurrou de um jeito engraçado as últimas palavras. Eu sorrio chamando sua atenção._ Creio que você mora lá._ Ele me encara e uma voz surge atrás de nós.

_ Não lhe contei Noah, ela é esposa de Jesse! _ Olhei para trás, a voz era parecida com a de Kurt e para minha surpresa a mulher também. Ela vestia um vestido preto, assim como Kurt parecia estar de luto, se não fosse pelo cabelo solto e cumprido poderia dizer que era Kurt. Voltei o olhar para Jesse que levantava a sobrancelha de um jeito impaciente.

_Emily! Vejo que não anda sozinho mesmo Noah. _ Disse Jesse encarando dessa vez Emily que segura em meus ombros me causando um arrepio.

_Casado?! _ Noah me olhou, eu tirei as mãos de Emily de meus ombros.

_Com licença, creio que isso é uma reunião de família. _ Me levantei, e Noah me puxou com uma força que mesmo sendo uma vampira me assustou.

_Não! Quero conhecer melhor minha cunhada!

_Largue ela agora. _ Disse Jesse se levantando e me puxando pelo braço para seu corpo.

_Protetor?Isso torna nossa brincadeira muito melhor sabia._ Disse Noah olhando para Jesse em seguida para Emily que sorri para mim segundos antes de minha cabeça explodir de dor.

_Aaaaaaaaaah! _ Caí nos braços de Jesse que me sentou na cadeira onde ele estava antes de se por de pé.

_Largue ela Emily! Agora _ Disse Jesse me segurando, mesmo depois de eu estar sentada suas mãos ainda era firmes em mim. A dor era muito forte e parecia que meu cérebro queimava. _Emily agora!

_Se não vai fazer o que Jesse? _ Ela diz em tom que para mim parecia feliz, não vi sua expressão, porque minha cabeça estava abaixada entre as minhas mãos. O barulho da música era alto, porém mesmo assim eu mordia os lábios para não chamar atenção.

_Para Emily! _ Disse Noah e logo a dor passou.

_Como desejar. _ Eu não entendo porque Kurt e Emily ficavam com eles se no fundo elas pareciam sentir muito prazer em torturar os vampiros.

_Obrigada! Vamos Jesse a festa já perdeu a graça._ Disse olhando para Noah.

_Insisto que fique. _Noah se levantou e pegou em minha mão e eu a puxei.

_Muito obrigada, mas acho que não gosto da companhia de vocês, vamos Jesse.

_Gostei de você! Talvez possamos ser amigos. Qual é seu nome mesmo?

_ Não use seus truques com ela._ Disse Jesse.

_Por quê? O que você vai fazer? Matar-me? _ Noah solta uma gargalhada _Jesse, Jesse, querido irmãzinho eu não vou fazer nada diferente do que você fez com minha noiva.

_Foi um acidente e você sabe disso.

_Não Jesse, eu não sei! Mas podem ir embora, afinal a eternidade é muito longa, nos encontraremos. Foi um prazer conhecer a senhorita. _ Noah me olhava com uma expressão não muito simpática, mas ele tinha o sorriso no rosto. Jesse me puxou e juntos viramos as costas para eles e saímos da festa.

_Amor? Você está bem?_ Ele me perguntou quando estávamos um pouco distantes do salão.

_Sim! Mas porque não me disse que Noah te odeia?_Disse ainda sentindo os olhos de Noah em mim e uma sensação de raiva que a fome me causava._ Porque eu tenho que ficar sentindo aquelas dores toda vez que essas bruxas idiotas acham que eu mereço?

_Venha vamos para casa. _ Jesse disse ignorando minha reclamação.

Não demorou muito até que chegássemos em casa, os cavalos da carruagem correram tanto que eu quase senti náuseas, ainda bem que não era mais humana! Mal descemos e Jesse já estava dentro da casa gritando:

_Kurt, Kurt!

_Ele não está senhor. _ Disse a vampira que limpava a sala.

_Encontre-a _ Disse Jesse olhando para mim. _Lea vá para o quarto.

_Que?

_Suba e vai descansar.

_Não estou cansada.

_Por favor, suba._ Seus olhos eram de raiva e rancor. Eu insisti em ficar, precisava saber o que ele queria falar com Kurt.

_O que quer com o Kurt? _Perguntei encostando-me à escada.

_Não estou a fim de conversar Lea, suba agora.

_Não!_ Sorrio debochadamente.

_Agora! _ Ele grita fazendo meu sorriso se fechar e uma raiva aparecer.

_Não sou um cachorro Jesse, nem sua empregada. Você não manda em mim. Diga-me porque toda essa raiva, afinal quem teve dor de cabeça fui eu._ Debochei _ O que aconteceu com a noiva de Noah? Pensei que ele tivesse a matado?

_Lea, não quero conversar agora. Suba e logo conversaremos.

_ É melhor ouvi-lo senhora, já que Jesse não está o mais controlado dos vampiros desde que vocês se casaram. _ A voz de Kurt dominou a sala. É horrível a sensação de impotência que Kurt causa em mim, eu nunca conseguia perceber a presença dele. Jesse olhou por cima dos meus ombros e suspirou.

_Onde você estava?_ Kurt terminou de descer a escada.

_Ora, ora, quantos anos eu tenho mesmo?Acho que esqueci! Mas com certeza é mais que quinze. _ Kurt debochou de um jeito estranho, não parecia o mesma Kurt de sempre.

_Noah e Emily estavam na festa dos fundadores.

_Deve ter sido um grande encontro. _ Jesse sacudiu a cabeça e a encara.

_Isso não é hora para deboche, porque não me avisou?

_Eu não sabia.

_Você sabe que Noah não podia saber de Lea.

_Deveria ter pensado nisso antes de caçar pessoas como se fossem animais. _ Kurt olhou para mim e em seguida mexeu no pescoço.

_Kurt isso é serio! _ Disse Jesse.

_O que ele pode fazer com ela? Ela é uma vampira! _ Kurt se aproximou de Jesse. Não conseguia entender o que Jesse temia.

_Me expliquem o que está acontecendo?_ Será que Noah poderia me matar?

_Depois _ Disse Jesse, sem ao menos olhar para mim.

_Jesse acha que Noah vai matar você na primeira oportunidade que ele tiver, isso vai fazer ele se vingar de Jesse por ele ter...

_Cale a boca Kurt!_ Disse Jesse com tom firme.

_Termine. _ Disse me aproximando de Kurt que encarava Jesse. Mas ela se calou._ Fale! O que Jesse fez com a noiva de Noah? _Ninguém me respondeu Kurt brincava com os dedos e Jesse respirava fundo como um humano._ Está mentindo pra mim Jesse? _ Me aproximei dele, Kurt se afastou, segurei em seus ombros.

_Não! _ Ele me olhou.

_Então qual é a verdade?

_Eu lhe disse, Noah me odeia por ter deixado nossa mãe transformá-lo em imortal.

_Quem matou a noiva dele?

_Eu!_ Jesse abaixa a cabeça_ Foi um acidente eu não sabia me controlar. Estávamos dias sem comer, minha mãe nos trancou em casa então ela foi lá... Foi um acidente, não tive a intenção.

_Porque não me contou?

_ Tive medo de você me achar um mostro.

_Ela te achar um mostro?! _ Kurt ri _ Ela mata criancinhas! _Kurt se vira indo para cozinha. Suas palavras faziam sentindo, eu não podia julgar Jesse. Eu matei meu pai, e matei diversas famílias. Não me sentia culpada por nada disso apesar das palavras de Kurt serem duras e penetrarem em minha cabeça, eu não as sentia no coração.

_Do que você tem medo Jesse?_ Eu levantei seu rosto e vi seus olhos de raiva passarem para olhos de tristeza e preocupação.

_De perder você!

_Eu posso morrer?_ Aquela possibilidade me assustou.

_Pode!Uma estaca no coração te mataria.

_Então Noah, você e todos os vampiros podem morrer?

_Não! _ Diz Kurt da cozinha de um jeito critico e compulsivo.

_Só eu?

_ Na verdade, só eu e meus irmãos que não podemos morrer.

_Por quê?

_A morte é algo natural e como já lhe disse a natureza nos amaldiçoou

_Então eu posso morrer como um humano?

_Lea, por favor, não pense nisso! _ Jesse pegou minha mão e a beijou.

_O que podemos fazer?

_Eu não sei! _ Jesse me agarrou. _ Só não quero te perder. Kurt! _ Jesse me largou e foi até Kurt.

_Nem pensar! _ Ele disse antes mesmo de Jesse falar alguma coisa.

_Kurt eu quero!

_Não!

_Do que estão falando? _ Perguntei entrando na cozinha e vendo Jesse olhando para Kurt que negava com a cabeça.

_Isso poderia matar você!

_Um dia todos nós morreremos certo?

_Não você Jesse! Estou aqui para...

_Sem ela eu não quero viver._ Jesse interrompeu Kurt que me olhou.

_Lea você tem certeza que ama Jesse? _ Os olhos de Kurt me diziam mais que palavras, ele não perguntava somente aquilo, era como se ele soubesse de algo que eu não sabia.

_Amo._ Disse me sentindo muito perdida dentro daquela conversa sem palavras deles.

_Lea você aceita se juntar comigo para toda eternidade?_ Perguntou Jesse meio longe.

_De novo essa pergunta! Quantas vezes no dia eu vou ter quer responder a mesma pergunta?_ Kurt curvou as sobrancelhas._ Sim, já disse que sim.

_Jesse quer..._ Ele parou de falar e respirou _Mesmo que você morra sua alma vai estar junto de Jesse para sempre. _Kurt me olhava como se lesse minha alma. _ Lea se você morrer e reencarnar daqui a duzentos anos, você terá que voltar a ser vampira e assim Jesse nunca te perderá para sempre.

_Que? _ Fiquei confusa com aquelas palavras. Eu não entendia o que ela dizia. _ Se eu morrer e voltar, como assim?

_Reencarnação Lea todos nós temos, menos... _ Kurt olha para Jesse e volta o olhar para mim._Você estará destinada a ser de Jesse para sempre, caso aceite.

_Você aceita? _ Jesse me encara._Eu não entendia porque, porém algo na expressão de Kurt dizia para eu não aceitar, talvez ele estivesse percebendo dentro de mim algo que nem eu sabia, tive medo de dizer sim.

_O que isso tem haver com Noah? _ Tentei desconversar.

_Se ele por alguma razão tentar nos separar, você volta para mim sempre. _ Diz Jesse se aproximando e me puxando para seu corpo.

_Então esta dizendo que eu vou morrer?_ Eu o empurro.

_Não!

_Jesse, vocês estão agindo como se eu fosse morrer?

_Não!

_Sim!Eu me tornei vampira para não morrer e você quer que eu morra outra vez. Você não pode me deixar morrer Jesse!

_Eu não quero nada disso Lea, se depender de mim você não vai morrer nunca.

_Então não me deixe morrer._ Eu saí da cozinha me sentindo traída. Jesse estava sendo egoísta. Como assim para ele não ficar sem mim ele ligava minha alma a ele. Mas e minhas escolhas? Subi pra o quarto e ainda pude ouvir Kurt dizendo:

_É melhor...

_Cale a boca! _ Jesse gritou.

Passei a noite sozinha Jesse não veio ao quarto.