A chuva caía lá fora. É bonito ver a chuva cair, respingando gotas brilhantes no vidro do carro. Mamãe dirige ao meu lado, falando sem parar. Eu não quero prestar atenção ao que ela diz; mesmo que seja sobre mim, não quero ouvir. Ninguém nunca me escutou, por que eu deveria ouvir?

- Querida, sei que é difícil para você, mas falar com um especialista vai fazer essa sua fase de loucura passar sem muitos problemas... - ela dizia.

- Eu não sou louca! - eu rebati - Não acredito que disse isso pra mim!

- Não foi isso que eu quis dizer... - ela tentou parecer gentil - Olha filha, ter pesadelos aos 10 anos é normal e até saudável, mas aos 16 é sinal de que tem alguma coisa errada...

- Dá pra parar de falar nisso! - eu disse, zangada - Não tenho "pesadelos", tenho UM sonho! E não acho que um cara que é pago para desenhar nuvens e unicórnios em uma caderneta vá me ajudar!

- Mas ajudou Lucy! - ela apelou desta vez.

Lucy era a priminha superprotegida. Qualquer espirro que ela desse, Tio Artur e Tia Vivian levavam ela prar um hospital fazer 20.000 exames para descobrir aquilo que a família toda já sabia!

- Lucy tinha complexo! O que não me surpreende... - eu disse - Mas eu não tenho nada disso, ele não vai me ajudar em nada!!!

Mamãe dirigiu em silêncio por 1 hora. Bateu o recorde. Então chegamos ao tal consultório. Era um prédio pequeno, em comparação aos arranha-céus ao redor dele. Na recepção tinha uma jovem moça, de cabelos compridos e loiros.

- Nome, por favor. - ela disse, sem tirar os olhos da tela do computador.

- Evelyn McMillian. - disse mamãe, apoiando suas mãos no balcão de granito.

A recepcionista tirou as mãos do teclado e olhou para mim timidamente. Era como se ela me esperasse ansiosa há muito tempo. Mas logo olhou para a tela.

- Ah, aqui está! Srta McMillian, por ali! Sala 12, andar 3. - e ela deu um papelzinho escrito o que ela disse, para que não esquecêssemos.

Enquanto entrávamos no elevador, não pude deixar de notar que ela me observava atentamente. E sorria.