Eu e mamãe logo saímos do elevador. Era um corredor comum, de um prédio comum. Nada demais. Logo, a porta 12. Mamãe não entrou comigo, enfim, um alívio.

Era uma sala bonita, com uma escrivaninha e duas cadeiras acolchoadas. Tinha uma janela com cortinas de tecido grosso e uma estante cheia de livros. E ali, no meio da sala, um belo divã vermelho de veludo. Ao lado dele, uma poltrona e uma mesinha de mogno, que eram ofuscadas pela beleza daquela peça incomparável. Eu não pude me conter. Aquela peça tão bela, de cerdas tão macias e quentes, tão lindo, tão acolhedor...

– Confortável, não? - uma voz assustou-me.

Era uma mulher realmente bonita: alta (puxa, como é alta), cabelos negros bem presos em um coque, rosto sério de uma mulher de 30 anos, mas curvas de uma musa grega. terno lhe cai bem.

Ela olhou para o divã com certa ternura.

– Ganhei de meus amigos quando me formei. Me traz muitas lembranças...

– Me desculpe! Eu não fazia ideia... - eu me afastei rapidamente.

– Que é isso! É só um divã! Foi feito para relaxar! - ela riu.

Isso fez eu me sentir melhor também.

– E então, quando o doutor chega???? - eu i, mas ela me olhou séria. Minha piadinha não foi bem colocada.

– Eu sou a doutora! - ela me estendeu a mão - Sou Diana!

Eu empalideci. Que gafe monstruosa!

– Vamos apenas fingir que isso não aconteceu... - ela se dirigiu à escrivaninha, pegando uma prancheta e lendo-a - Bom então, Srta McMillian, aqui diz que você tem pesadelos, sente calafrios, vê vultos...

– Que droga, mamãe! - eu me irritei, que mania de exagerar! - Nada do que está escrito aí é verdade! Minha mãe tem a péssima mania de querer "enfatizar" o que eu digo para ela!

– Mas, se está escrito aqui, - ela falou - é porque é real.

– Mas não é a verdade! - eu retruquei.

– Então, o que é verdade afinal? - ela falou, filósofa.

A verdade... Se o que mamãe disse é mentira, qual é mesmo a minha verdade?...

– Não são pesadelos, nem vultos, nem calafrios... - eu disse, sem olhá-la - É apenas um único sonho, que se repete todas as noites...

– Um...único...sonho... - ela escreveu na ficha - Certo. Poderia me contar este sonho, para que eu possa registrar?

Eu não respondi. Esse sonho é tão... pessoal. Talvez até meio ilusório. Eu deveria...

– Você se sente desconfortável em falar neste assunto? - ela colocou a prancheta na mesinha de mogno.

– Não... tudo bem... - eu disse, ainda não conseguia encará-la - Talvez, seja melhor contar para alguém o que eu vejo toda noite.

– Certo, ao menos, eu deveria gravar? - ela tinha um gravador antigo, muito engraçado.

– Pode, tudo bem. - eu permiti.

– Certo. - ela ligou o gravador - Paciente: Evelyn McMillian. Narrativa de sua autoria. - ela se virou para mim - Pode começar.